sexta-feira, 31 de julho de 2015

A questão dos quilombos em Capão do Leão

Nos meus inúmeros anos de pesquisa sobre a história do município de Capão do Leão, várias pessoas já me procuraram por meio das redes sociais, e-mail ou pessoalmente para perguntar a respeito da existência de quilombos aqui. Sendo muito sincero respondo que não tenho conhecimento sobre nenhum registro de quilombos no território do município e me apoio também nos trabalhos dos pesquisadores Arthur Victória Silva e Bruno Farias - que são meus contemporâneos e desenvolvem um trabalho similar ao meu.

Todavia, o que quero dizer é que a ausência de registros sobre quilombos em Capão do Leão, não significa que não possa em algum momento do século XIX ter existido algum aqui. Entretanto, por vários fatores sou levado a pensar que é bem pouco provável. Mesmo considerando que possa ter existido algum, possivelmente ele teria sido efêmero.

Vamos às ponderações. Os dois locais que historicamente tem ligações com a escravatura em Capão do Leão são a região do Pavão e a Fazenda da Palma. Também podemos apontar na região do Cerro das Almas e no Passo das Pedras alguma população escrava significativa durante o século XIX, mas não tão numerosa quanto nos dois primeiros locais citados. Seguramente, houve fugas de escravos desses locais em alguns momentos dos séculos XVIII e XIX. Mas a questão que se apresenta é a seguinte: onde esses escravos fugitivos poderiam se refugiar?

A região do Pavão é uma planície, coberta por extensas campinas, entremeadas por alguns caponetes e capões de mato, além de várias várzeas alagadiças e banhados permanentes. Não penso que seria lógico se esconder num relevo assim. Cruzar o São Gonçalo a nado ou fugir atravessando o rio Piratini seriam opções realistas, mas arriscadas. Seguir a nordeste em direção à Pelotas então seria alternativa suicida. O mais provável seria fugir em direção a oeste, rumo à Serra dos Tapes e regiões como o Descanso, o Cerro das Almas, o Passo das Pedras de Cima, o Boquête. A mesma rota serviria para um fugitivo da extensa Fazenda da Palma. 

Mesmo assim, esse primeiro "paredão" de morros da Serra dos Tapes não seria o mais propício para fixar-se em refúgio permanente. A vegetação fechada das encostas até favorece alguns locais como esconderijos. Entretanto, devemos lembrar que toda a zona ocidental de Capão do Leão é cortada desde seus primórdios no século XVIII por diversos corredores, caminhos, estradas e trilhas, povoadas durante décadas por tropeiros de gado que se dirigiam à Tablada, em Pelotas, para negociar rebanhos, ou para a própria região do Pavão, para invernadas de engorda. Se partirmos do princípio que um quilombo é um acampamento de vários escravos fugitivos, talvez na casa de uma ou duas dezenas de pessoas, no mínimo, num espaço não tão extenso, fatalmente sua presença seria logo notada em pouco tempo.

Penso que o caminho de fuga situava seu destino um pouco mais além. Na própria Serra dos Tapes, porém quilômetros mais adiante, nas regiões que seriam mais tarde sedes das primeiras colônias europeias pelotenses e no próprio município de Morro Redondo (encontrei uma notícia de 1885 no jornal pelotense A Discussão que confirma esse fato).

Ressalvo porém que a região de serras e morros que começa no Cerro Santanna (a primeira elevação do município que todos podem perceber a partir da zona central do município) e se desenrola pelo Cerro das Almas, Descanso, Cerro do Lombilho, Cerro da Paulina, Passo das Pedras de Cima, Cerro dos Cabritos, etc., pode ter sim registros arqueológicos da presença de fugitivos escravos de séculos passados. Mas seriam mais seguramente esconderijos individuais ou de pequenos bandos, sem serem locais que agregaram um número mais expressivo de pessoas como os quilombos. Devemos lembrar que, como comparação mais quantitativa, toda a região supracitada foi também covil de abigeatários e criminosos no século XIX, que também se escondiam de modo individual ou em pequenos grupos.

Creio, em suma, que essas observações não esgotam a discussão sobre o assunto. Além disso, a própria questão da escravatura no município é alfo que ainda precisa ser estudado com muito mais atenção em nosso município.


segunda-feira, 27 de julho de 2015

O Caminho Assombrado da Palma


O Centro Agropecuário da Palma, também conhecido como Fazenda Experimental da Palma ou simplesmente Fazenda da Palma, juntamente com o Horto Florestal e Botânico Irmão Teodoro Luiz, compõem uma grande porção de terras contínuas à margem meridional da rodovia BR-116 no município de Capão do Leão, pertencente à Universidade Federal de Pelotas. Pois bem, existe uma estrada de chão batido que liga a Vila do Horto Florestal à sede da Fazenda da Palma, que também é área da universidade. Neste caminho, que não é muito longo a pé, podemos ver às suas margens o campo de futebol da Sociedade Recreativa Palmeiras, alguns pequenos bosques de eucaliptos e de outras árvores de lenha e alguns pomares de pereiras, macieiras e pessegueiros - que são projetos agronômicos na fazenda.

O tal caminho é evitado por andarilhos à noite, pois desde muito tempo, conta-se ali várias histórias sobre assombrações e visagens. Uma das mais comuns é a aparição de uma mulher vestida inteiramente de branco, que muitos traduzem como uma noiva. Quem já presenciou a aparição, diz que a mulher passa pelo andarilho sem dizer nada ou esboçar nenhuma reação, mas parece que está flutuando e, quando passa próximo ao andarilho, o sujeito sente uma sensação de frio arrepiante. Quando olha para trás, não vê mais a noiva, fato que leva muitos a fugirem correndo apavorados. Diz-se também que a tal mulher possui uma pele bem clara e tem cabelos loiros bem claros também e o corte de cabelo parece "daqueles antigos". cujos fios caem aos ombros e são longos.

Outras histórias falam das risadas de bruxas em altas horas da noite, normalmente acompanhadas de cavalos que relincham desesperadamente e correm trôpegos. O folclore da região narra que as bruxas adoram enrolar as crinas e colas (rabos) dos cavalos e é possível constatar o fato nos próprios animais logo que amanhece. Um relato curioso sobre as tais bruxas foi me contado por um antiga moradora do local na década de 1980 que dizia que, quando era "novinha" (época de infância/adolescência), havia uma bruxa que rodeava sua casa e durante a madrugada dava batidas na porta e nas paredes de madeira, como se estivesse querendo entrar a qualquer custo. Segundo ela, sua mãe tinha por hábito colocar uma carreira de sal no chão junto às portas da casa para impedir que a bruxa entrasse, ritual acompanhado de muitas orações protetivas.

Tal como existe o relato da mulher vestida totalmente de branco, também existe o relato de um homem vestido de preto ou homem preto que aparecia nos caminhos perto da meia-noite. Trata-se de uma visagem, pois nenhum relato informa que o tal homem interage com os passantes de alguma forma. Ele simplesmente aparece e logo desaparece, sem ninguém saber quem é, de onde veio ou para onde vai. Alguns comentam que ele traja igualmente um longo chapéu de aba reta e capa de tropeiro.

Por fim, talvez a mais enigmática e assustadora história envolva a grande figueira de longos e retorcidos galhos que se depara não muito longe do portão da fazenda. Os relatos são diversos, mas indicam que em noites escuras é possível avistar vultos dependurados nos galhos mais altos, como se fossem espíritos de enforcados e, mais precisamente, de escravos enforcados. Sempre acompanhada a visão de uma espécie de litania muito macabra que aterroriza qualquer um que passe por ali altas horas da noite.





sábado, 25 de julho de 2015

Qual o significado da palavra capão?

Trecho extraído de: SOUZA, Bernardino José de. Dicionário da Terra e da Gente do Brasil. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1939, p. 101-102.


"Capão: grafado por outros caapão, vocábulo de origem tupi, que designa porção de mata que surge em meio dos campos. De feito, nos imensos campos brasileiros surgem, de quando em quando, quebrando a monotonia da paisagem, tratos de mata, quais ilhas verdejantes em meio da terra semelhante ao oceano: estas ilhas de mato são os capões. Quase sempre, diz Beaurepaire-Rohan, para evitar equívocos, se chama capão de mato e não simplesmente capão. Theodoro Sampaio, versando a etimologia do termo, diz ser oriundo de caa-paû, — a ilha de mato em campo limpo. E ensina o mestre: "algumas vezes se diz também capuão, mas já derivado de outro vocábulo tupi caa-apoan, mato redondo, e podendo significar um oásis''. Encontra-se também o diminutivo capãozinho. A respeito deste termo lemos no Visconde de Taunay, à pág. 28 do seu vol. Marcha das Forças: "Ninguém ignora a origem dessa palavra, que hoje está introduzida na língua do Brasil — caá-poam, ilha de mato — perfeita denominação aplicada a núcleos de vistosa vegetação, que semelha verdadeiros oásis no meio dos campos e nos encontros de outeiros, onde há sempre umidade. Nesses capões reúne-se muita caça, de modo que o viajante, que quer ter essa distração, deve ir sondá-los, o que na fraseologia do sertanejo chama-se furar". O contrário de capão chamam em Minas — saco."

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Antiga casa de comércio de Pedro Behocaray na Vila Gabriela Gastal



Hoje temos as ruínas daquela casa comercial que foi referência durante um largo tempo na região, ponto de parada de tropeiros e espécie de centro vital de um espaço que há três, quatro, cinco décadas atrás era cercado de campos por todos os lados e uma ou outra casinha se avizinhava ao longe.

Pedro Luiz Beohocaray, de ascendência basco francesa, foi dono durante um bom tempo deste lugar, desde a primeira metade do século XX. O prédio se encontra na esquina da Rua Alexandre Gastaud com a Estrada da Hidráulica, na Vila Gabriela Gastal. Aliás, a atual Rua Alexandre Gastaud tinha o antigo nome de Corredor Behocaray, devido à antiga casa comercial. 

O armazém do Sr. Behocaray era de tamanho mediano, mas ostentava grande sortimento de produtos, desde secos e molhados de consumo cotidiano, a peças de louça, tecidos, cereais, ferramentas, produtos veterinários, etc., em outras palavras o típico armazém de campanha. No campo anexo, havia um campo para corridas de cavalo (cancha de carreiras). Normalmente aos domingos ocorriam disputas parelhas no local, com grande afluxo de público dos arredores, desde a Vila do Capão do Leão, Hidráulica, Passo da Micaela e Várzea do Fragata (Jardim América).


domingo, 19 de julho de 2015

Capela Santa Luzia no Cerro do Estado













Capela dedicada à Santa Luzia no Cerro do Estado, em Capão do Leão. 

Além de ser uma construção de esmerada arquitetura, a capela erigida no ano de 1947, possui uma razão ligada ao ofício dos graniteiros que lá trabalharam durante décadas. A veneração à Santa Luzia (ou Lúcia) de Siracusa advém, além da fé católica local, do fato dos graniteiros estarem em seu trabalho expostos a vários acidentes. Os principais que aconteciam estavam relacionados com os olhos. Como Santa Luzia é invocada como protetora daqueles que tem problema de visão, sua veneração não poderia ser mais propícia àquela comunidade. 

Na ocasião de sua construção, teve papel principal como incentivador da obra o Sr. Vasco Acunha, antigo administrador da Pedreira do Cerro do Estado na década de 1940.

Veja também: Festa de Santa Luzia em 1970  

sábado, 18 de julho de 2015

Curato e Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Boquête

Trecho extraído de: RUBERT, Arlindo.História da Igreja no Rio Grande do Sul - volume 2. Porto Alegre: Ed. PUCRS, 1997, p. 106-107.

"Na região de Pelotas, na Serra Buena, cedo existiu um Oratório de Na. Sra. da Conceição, do qual era capelão nos inícios do século XIX o Pe. Francisco José Pereira. Formada uma pequena povoação, os moradores dirigiram-se ao Vigário Geral interino Cônego João Baptista de Oliveira Salgado, que a 5 de setembro de 1827 concedeu licença para construir a Capela de Na. Sra. da Consolação da Serra Buena, depois chamada Boquete. Mas já era capela curada desde 1824. O 1o. cura foi o Pe. Antônio Maria Pacheco (1825-1827), oriundo da Ilha da Madeira, depois transferido para Piratini. O 2o. cura foi o italiano Pe. Jerônimo Raggo que em 1828 escreve: 'nesta capela curada de Na. Sra. da Consolação da Serra Buena." 

Freguesia de Nossa Senhora da Consolação do Cerro da Buena

Trecho extraído de: COSTA PEREIRA, José Saturnino da. Diccionario topographico do imperio do Brazil. Rio de Janeiro: R. Orgier, 1834, p. 212. 

"SERRO DA BUENA. - Freguezia da Provincia do Rio Grande no districto da Villa de Pelotas, donde dista 3 legoas ao poente. Seus moradores semeão trigo, milho, e outros grãos, e crião algum gado. O orago he N.Sra. da Consolação."

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Canal São Gonçalo

Canal São Gonçalo
Trecho extraído de: COSTA PEREIRA, José Saturnino da. Diccionario topographico do imperio do Brazil. Rio de Janeiro: R. Orgier, 1834, p. 165

"S. GONÇALO (Rio de). - Na Provincia do Rio Grande, chamado tambem de Sangradouro de Merim, por ser com effeito hum grande e espaçoso canal de communicação entre a Lagoa Merim, e a Lagoa dos Patos; com fundo sufficiente para navegarem sumacas em toda a sua extenção; mas em ambas as barras só podem passar hiates, e por isso estas embarcações sómente ali navegão; desagoão nelle muitos rios, e alguns navegaveis, suas margens pela esquerda são muito ferteis, e de grandes pastagens em que se cria bastante gado vacum, cavallos, e ovelhas; a direita porem he palodosa, e susceptivel de innundações, que tem lugar em muitos annos."

Trecho extraído de: MILLIET DE SAINT-ADOLPHE, J.C.R. Diccionario geographico, historico e descriptivo, do imperio do Brazil, obra colligida e composta.  Paris/França: J.P. Ailaud, Monlon & Cie., 1845, p. 548.

"SÃO GONÇALO. Nome que se dá vulgarmente, com a qualificacção de rio, a um canal largo pelo qual a lagôa Mirim communica com a dos Patos, na provincia de São Pedro do Rio Grande. Poderá têr este canal 14 legoas de lagôa a lagôa, e recolhe varios rios e ribeiros pela margem occidental que é pantanosa e alagadiça na estacção das chuvas; tem em geral bastante fundo, mas mui pouco em sua juncção com a lagôa dos Patos, de sorte que só barcos podem nella entrar. Se acreditarmos no que diz Nicolao Dreys, existe um rio de São Gonçalo que, nascendo da parte do norte do Jaguarão, corre primeiro entre as mattas e logo depois por terras pantanosas, atravessando-as do nascente ao poente até se incorporar com este canal, cujas aguas farião ainda 5 legoas mais de caminho antes de ajuntarem-se com a lagôa dos Patos. Talvez seja engano do autor e que o que elle chamava rio de São Gonçalo, não seja outro senão o Piratinim."

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Arroio Pavão

Confluência do arroio Pavão e o rio Piratini
Fonte desta imagem:http://flotilha.blogspot.com.br/2009/12/as-entradas-do-arroio-pavao.html

Trecho extraído de: COSTA PEREIRA, José Saturnino da. Diccionario topographico do imperio do Brazil. Rio de Janeiro: R. Orgier, 1845, p. 156. 

"PAVÃO - Rio da Provincia do Rio Grande do Sul, no Districto de Pelotas; tem origem em hum pantano no logar que tem o mesmo nome, e desagoa por duas boccas distantes entre si, formando huma Ilha, no rio de S. Gonçalo, em frente do Registo chamado Paço do Beca."

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Vista Aérea da Fazenda da Palma em 1947


Imagem extraída do site da Fototeca Memória da UFPel 

Vídeo narrando a fotografia - projeto "Fotografia para Ouvir" da Fototeca Memória da Universidade Federal de Pelotas do Departamento de Museologia, Conservação e Restauro do Instituto de Ciências Humanas/UFPel. Canal do vídeo no YouTube: Fototeca Memória da UFPel

sexta-feira, 10 de julho de 2015

"Figueira" Assombrada da Vila Gabriela Gastal

Árvore antiga e talvez centenária num campo da Vila Gabriela Gastal, nas proximidades da rua Alexandre Gastaud. Os moradores antigos do local contam que é uma "figueira assombrada" que é cercada de mistérios. Verdadeiramente, a dita "figueira" é na verdade uma árvore conhecida como orelha-de-macaco, timbaúva ou tamboril (Enterolobium contortisiliquum).

Conta a lenda da "figueira assombrada" que, em noites de lua cheia, uma moça vestida de branco aparece no local num choro compulsivo e lamurioso. A moça era moradora de um sítio da região que era namorada de um rapaz também dos arredores. Posteriormente, a tal moça conheceu outro rapaz e acabou se apaixonando por ele. O antigo namorado da moça não aceitou o fim do relacionamento e vingou-se assassinando o novo namorado da moça. A moça inconformada com o trágico desfecho do triângulo amoroso, teria se suicidado na dita "figueira" e, desde então, passado a assombrar o local.

Localidades de Capão do Leão e arredores no século XIX segundo a obra de Domingos de Araújo e Silva

Trecho extraído de: ARAÚJO E SILVA, Domingos. Diccionario historico e geographico da provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Eduardo & Henrique Laemmert, 1865.

"BOQUETE. (Nossa Senhora da Conceição do - ). Pequena freguezia do municipio de Pelotas creada em 11 de Dezembro de 1830; existe nella uma escola de instrucção primaria para o sexo masculino creada pela Lei Provincial n.127 de 22 de Março de 1848." (p. 11)

"MINUANOS. Nação indigena que outr'ora habitava as margens septentrionaes e occidentaes das lagôas dos Patos e Mirim, e que, quando os Portuguezes começárão a estabelecer-se na provincia, forão occupar as dos rios Batovi, Cacequey e Vaccacahy, e hoje errão pela Serra Geral." (p. 57)

"MOREIRA ou FRAGATA. (Arroio do - ). Nasce na vertente oriental da Serra dos Tapes, e faz barra na margem occidental do rio S. Gonçalo." (p. 62)

"PAVÃO. (Serra do - ). Ramificação da Serra dos Tapes que demora junto á cidade de Pelotas, e segue uma direcção parallela á do rio S. Gonçalo." (p. 70)

"PAVÃO. (Rio). Nasce na serra do Padre Doutor no municipio de Pelotas, ao sul da Serra do Pavão, e lança-se no rio S. Gonçalo." (p. 70)

"PEDRAS. (Arroio das - ). Nasce na Serra de Santa Thecla, divide o municipio de Pelotas do de Piratiny, e precipita-se no rio Camaquam-Chico." (p. 70)

"PEDRO SEGUNDO. Colonia fundada em 1853 com 100 habitantes, e situada na margem do arroio S. Thomé a duas legoas da cidade de Pelotas; hoje pode ser considerada extincta por existir apenas cinco familias, sendo isto devido ao máo terreno em que foi plantada." (p. 71)

"S. THOMÉ. (Arroio de - ). Pequeno arroio tributario do rio S. Gonçalo, tendo a fóz junto a cidade de Pelotas; sobre sua margem descansa a decadente colonia de Pedro II." (p. 175)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

As Freguesias da Cidade de Rio Grande no século XIX

Trecho extraído de: MOURE, Amédée; MALTE-BRUN, Victor Adolphe. Tratado de geographia elementar, physica, histórica, ecclesiástica, e política do império do Brazil. Paris/França: J.P. Ailaud, Monlon & Cie., 1861, p. 237-238.

Obs.: reedição do original que acredito, por pesquisa, seja da década de 1830.

"II. O segundo districto tem por cabeça a cidade de Rio Grande, forma um só collegio e comprehende as parochias:
1o. S.-Pedro do Rio-Grande, no canal O., estabelecendo a communicação da lagoa dos Patos com o Oceano; em 32o. L.S. 53o. 27' Longit, na ponta do isthmo;
2o. Na. Sa. Conceição do Tahim, na lagoa Mirim, margem E;
3o. Na. Sa. Nececidades do Povo-Novo, no Marisso, Costa do Oceano;
4o. S.-Francisco de Paula de Pelotas, na juncção de Pelotas no S.-Gonçalo, perto da barra do Sangrador, poente da lagoa dos Patos;
5o. Na. Sa. da Conceição do Serro da Buena, no pé do Serro da Buena;
6o. Na. Sa. da Conceição do Boqueirão, na margem E. da lagoa dos Patos;
7o. S.-José do Norte, no canal E. do Rio-Grande, na ilha;
8o. Na. Sa. da Conceição do Estreito, no estreito, mais perto do mar que da lagoa dos Patos;
9o. S.-Luiz de Mostardas, na lagoa de Mostardas, entre a lagoa dos Patos e o Oceano."

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Descrição da cidade de Pelotas em 1851

Charqueada em Pelotas no ano de 1904
Fonte da imagem:http://www.vivaocharque.com.br/interativo/artigo21 
Trecho extraído de: CAMARA, Antonio Manoel Corrêa de. Ensaios Stattisticos da Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul, volume 3. Porto Alegre: Typographia do Mercantil, 1851, p. 67-69.

"CIDADE DE PELOTAS
Tem esta praça relações commerciaes com S. Catharina, Santos, Rio de Janeiro, Bahia, e Pernambuco; sendo maior e mais vantajoso o commercio que faz com o Rio e Bahia, do que com as outras em grande parte feito por intermedio da praça de Rio Grande.
Raras são as negociações, directas de Pelotas com as praças estrangeiras, porque essas tem seus agentes em Rio Grande. Todavia alguns carregamentos se preparão em Pelotas para Montevidéo, Buenos-Ayres, Estados-Unidos da América, Havana, Portugal, França, Hamburgo, e outros portos.
Consistindo a maior parte do commercio da cidade em productos de charqueadas, negocio susceptivel de prompta effectiva permutação, é provavel que não seja grande o alcance d'esta com as praças com que se corresponde. Não acontece assim com o commercio das fazendas sêcas e molhadas, pelo qual é esta praça devedora á do Rio Grande, e Rio de Janeiro.
Não é facil determinar a divida de Pelotas, tanto a respeito dos nacionaes como de estrangeiros. Nas mãos destes ultimos está hoje por metade o negocio chamado retalho.
Em todos os tempos diz a memoria que consulto e tenho diante dos olhos neste momento, foi Pelotas, devedora ao Rio Grande, Rio de Janeiro, e Bahia; mas esta divida augmentou-se com os transtornos da ultima guerra como Estados lemitrophes, e com a fluctuação dos cambios pelo depreciamento de nossa moeda: com tudo seus recursos a restabelecerão em poucos annos, e florecia seu commercio quando appareceu a guerra civil q'occasionando perdas consideraveis fez desertar capitaes e capitalistas.
Exporta a cidade com destinação á pórtos nacionaes e estrangeiros, couros de novilho, vacca e de terneiro, charque, aspas, cabello, couro de egua, clina do mesmo animal, carne embarricada, sebo, graixa, canellas, erva-matte, lã; e para Montevidéo e Buenos-Ayres madeiras de construcção, eixos e taboados.
Em todo o municipio de Pelotas o milho, o feijão, e outros farinaceos que produz em pequena escala por falta de braços, mal chega ao consummo dos habitantes.
Apenas de tres annos para cá principiarão as charqueadas de Pelotas á salgar os couros, uns descarnados, outros por descarnar. A experiencia tem mostrado que sendo bem salgados chegão aos portos para onde navegão livres da ponilha e sem perda de pello; todavia Portugal e os Norte-Americanos preferem o couro sêco e de pouco peso.
E' nas charqueadas de Pelotas onde se consomme a maior parte do sal que entra para a Provincia, e occasiões se apresentão em que sua escacez força o charqueador a empregal-o tal qual o encontra no mercado, sem q' lhe seja dado escolher.
Poucas casas nobres tem Pelotas proprias para o commercio, as que existem para este fim vencem por aluguel annual de 500$000 á 1:200$000 reis. O aluguel annual de um armazem é de 400$000 á 600$000 reis. O de uma sala para loja é de 250$000 á 300$000 reis.
Nem sempre cobra a praça de Pelotas promptamente as suas dividas de campanha; as grandes distancias, a falta de officiaes de justiça capazes de prehencherem seus deveres, arrostando grandes incommodos e ás vezes perigos, a morosidade nos processos, a difficil exhibição das provas ou dos documentos comprobativos, e a immoralidade por parte de alguns devedores, tornão essa cobrança bastante trabalhosa e penivel.
Bastante se queixa o commercio desta praça da prompta remessa e entrega de cartas pelo correio. Este clamor é geral na Provincia, e parece q'além de outras causaes de tão grave tortura, muito concorrem para aggraval-a os mesquinhos vencimentos dos empregados da administração dos correios, o resumido numero desses empregados, e a falta de fundos applicaveis a sustentação de seus agentes no interior. << Aqui: diz-me o meu correspondente de Pelotas: ha um agente que se diz do correio, vivendo n'uma pequena loja velha, tão mal pago que não tem quem lhe traga e leve as malas de bordo do Vapor d'onde resulta extravio em nossas cartas, e prejudicial demora na entrega.>> Mais valeria a meu ver augmentar o já oneroso direito imposto sobre as cartas, com tanto que fossem ellas entregues a seus donos prompta e fielmente. Os correios publicos não foram instituidos como um meio de augmentar o rendimento, este objecto é inteiramente secundario: o interesse commercial, a segurança da correspondencia privada é seu primeiro objecto; sacrificar pois o principal ao accessorio, é fraudar, é escarnecer a confiança publica, é desnaturar em seus effeitos um estabelecimento santissimo, de cujas operações certas, regulares e invariaveis dependem os prosperos sucessos das grandes especulacções e transacções comerciaes, e a fortuna social q' nellas assenta."

sábado, 4 de julho de 2015

Descrição do relevo e geologia da metade sul do Rio Grande do Sul no século XIX

Trecho extraído de: SOARES, Sebastião Ferreira. Notas estatisticas sobre a producção agricola e carestia dos generos alimenticios no imperio do Brazil. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Companhia, 1860, p. 139-144.

"As terras porém que demorão á esquerda da lagôa Mirim são docemente onduladas, e insensivelmente se elevão no centro da provincia para depois baixarem para o Uruguay. Bellas collinas e amplissimas varzeas existem para o sul da provincia, e nellas se descobre uma frondosa vegetação, e uberrimos pastos, em que retoção milhares de gado de diversas especies. Os matos não formão naquelas localidades serrados bosques, porém grupos dispersos, que se figurão ilhas no centro da terra.
Quem percorre a provincia do Rio-Grande do Sul, a cada instante fica sorprendido pelas bellezas que aos olhos se lhe apresentão a cada passo que marcha!... Aqui descobre campinas sem fim, e observa os fantasticos effeitos da - mirage - figurando-se-lhe ver lagos ondulantes em redor de si!... Acolá vè os hiates navegando pelo meio dos campos sem que descubra os rios que as quilhas sulcão!... Mais adiante avista mansos ribeiros, e tenues regatos de limpidas aguas, que em tortuosas voltas bordadas de luxuriante vegetação fogem a reunir-se aos caudaes rios que alimentão!... Por toda a parte que seus olhos se dirijão descobre, o quanto a vista alcança, quantidade immensa de gados bovino, cavallar, muar e lanigero que pastão ou descansão, e no meio delles os veados e servos em quantidade, bem como os bandos de avestruzes e seriemas, que, como os animaes domesticos, não fogem dos viandantes!...
(...)
Fôra por demais audacia da minha parte fazer a descripção geologica da provincia do Rio-Grande do Sul, porque além de me faltarem os conhecimentos especiaes deste vasto ramo das sciencias naturaes, quando por diversas vezes percorri aquella provincia jamais a observei sobre este ponto de vista senão mui passageiramente; pelo que vou reproduzir nesta parte o que escreveu o sabio naturalista Frederico Sellow, que nada deixa a desejar. Diz elle:
<<A natureza e formação do solo varião conforme as situações: a cordilheira geral do Brazil que reparte esta provincia em duas fachas quasi iguaes, e lá onde principia a mergulhar-se no Uruguay, é encontrada por outra semelhante serrania escalvada, que, partindo das vizinhanças do Salto grande deste rio, separa de um lado aguas para o Daiman e rio Negro, e de outro para o Arapehy e Quarahy: estas serras e todo o territorio ao N. e O. dellas, isto é, quasi todo o districto de Entre-Rios, de Missões, de S. Martinho, da Cruz-Alta, da Vaccaria, Cima da Serra, constão inteiramente de terreno basaltico.
Na parte meridional da provincia, subdividida em oriental e occidental pelas serras do Herval e dos tapes, e pelo Albardão, que acompanha a margem occidental da lagôa Mirim, são primitivas estas montanhas; e são de alluvião as planicies ao nascente das grandes lagôas, e não parecem ter outra base que o mesmo granito, e grés ou cré de que aquellas são compostas; porém a parte occidental é de estructura mais variada. Ao poente das frondosas serras do Herval se encontra o territorio elevado, transversalmente cortado pelo rio Camaquam, composto de granito, de schisto primitivo, alternado com mica-schisto, e coberto de grés-carvoeiro, entre Santa Barbara, Encruzilhada e Caçapava; e depois de granito e grés, sustentando schisto primitivo com gabro, schisto-schlorotico e talcoso, serpentina e calcareo granuloso, no grupo dos montes de Caçapava e S. Gabriel. Os logares mais baixos desta subdivisão, o valle do Guayba, o territorio banhado pelo Vaccacahy e pelo Santa Maria, são cobertos de um formação composta de argila schistosa, calcareo e grés; e toda a fralda meridional das serras basalticas é occupada por um grés de formação terciaria, frequentemente interrompida, ora coberta ora não de basalto.>>
(...)
A' vista do que acabo de transcrever, me parece que fica demonstrado á plena luz que a provincia do Rio Grande do Sul tem os terrenos mais appropriados que se podião desejar para a agricultura de qualquer especie, e principalmente da dos frumenticios, em que ainda em epochas não mui remotas tanto abundou; além de que, sendo as terras em maior parte despidas das grossas e colossaes raizes, com facilidades se podem applicar os instrumentos aratorios, que tanto auxilião ao agricultor.
(...)
A bacia da lagôa Mirim é formada pelas aguas dos diversos rios que para ella correm, e tem uma extensão de 41 legoas, a contar da barra do rio S. Miguel até á bocca do Sangradouro de S. Gonçalo; e sua maxima largura é de quasi oito legoas, a partir da barra do rio da Canôa até á foz do Jaguarão, tendo uma profundidade média de 9 a 10 braças no canal; pelo que esta lagôa póde ser navegada em toda a sua extensão, mesmo por navios do maior calado; assim pudessem elles transpôr a barra do S. Gonçalo e o Sangradouro, que se achão obstruidos; aquella por bancos de arêa, e este pela accumulacção de lodo e arêas: nem mesmo acho muito difficil essas desobstrucções, assim como não serião muito despendiosas."

quinta-feira, 2 de julho de 2015

A juventude de Hipólito José da Costa e suas ligações familiares com a região

Trecho extraído de: LARANGEIRA, Álvaro Nunes. Mapeamento documental dos anos dourados de Hipólito José da Costa com a coroa portuguesa. In: INTERCOM - SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DE COMUNICAÇÃO, XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Caxias do Sul, 2 a 6 de Setembro de 2010.


"A história da história do Hipólito José da Costa remonta à segunda década do século 18, quando em 18 de fevereiro de 1718, na Colônia do Sacramento, desembarcaram 60 casais oriundos da região portuguesa Trás-os-Montes. Portugal intensificava a colonização daquele protetorado encravado no estuário latino e razão das freqüentes discórdias com a Espanha. Faziam parte do grupo Vicente Pereira e Madalena Martins Pinto de Mesquita. Natural de São Pedro de Alfândega da Fé, freguesia pertencente a Bragança, o casal teve onze filhos, sendo Ana Josefa Pereira de Mesquita o último.

A caçula dos Pereira nasceu em 5 de setembro de 1741 e em Sacramento mesmo casou em junho de 1773 com o militar fluminense – natural de Saquarema – Félix da Costa Furtado de Mendonça. No ano seguinte, em março, dia 25, paria o primeiro dos quatro filhos do casal, e em homenagem à irmã Luiza Hipólita de Almeida, falecida em 1771, batizou o primogênito como Hipólito. O menino ficou na terra natal por pouco tempo. 

Em 3 de junho de 1777 a Colônia de Sacramento capitulou diante do exército espanhol. O general Pedro Seballos descumpriu a promessa de enviar todos os moradores de Sacramento ao Rio de Janeiro e remeteu para Buenos Aires quem não tivesse dinheiro para pagar a propina da viagem à capital do Brasil. Na capital platina, dois meses depois, nasceu Felício, o primeiro irmão de Hipólito, e as famílias Costa e Pereira ficaram sob o julgo espanhol até 1778, quando Portugal e Espanha colocaram em prática o Tratado de Ildefonso e a delimitação territorial no sul da América. A Colônia do Sacramento passou em definitivo para a Espanha, restando aos antigos moradores as terras conturbadas do Continente de São Pedro. 

O governo português, para garantir o território demarcado entre Laguna e a Colônia do Sacramento, concentrou a realocação dos conterrâneos expulsos nas regiões do rio Camaquã, do canal São Gonçalo e da lagoa Mirim, localizados na parte meridional do Rio Grande do Sul. A vila de Rio Grande, recém-reconquistada dos espanhóis, acolheu a maior parte da diáspora da Colônia de Sacramento e por ali e arredores aportaram as famílias Costa e Pereira, esta constituída pelos irmãos Pedro Pereira Fernandes de Mesquita (sobrenome por parte da avó materna), Antônio Pereira Fernandes de Mesquita, Antônia Pinto de Mesquita e Maria Pereira de Mesquita, além da mãe do Hipólito. 

O nascimento de José Saturnino em Rio Grande, em novembro de 1780, e a cessão de datas de terra em fevereiro de 1781 selaram a permanência do grupo na região. Obtiveram as porções de terra o pai de Hipólito José da Costa e os dois tios clérigos. O alferes da infantaria da praça da Colônia do Sacramento Félix da Costa Furtado de Mendonça recebeu o terreno nas primeira e segunda forquetas do rio São Gonçalo e aos padres Antônio Pereira e Pedro Pereira foram concedidas propriedades no Rincão de Pelotas.

A concessão da segunda leva de terras à família teve a participação do agora estudante da Universidade de Coimbra. Preparado para a única universidade do império pelo tio Pedro Pereira, chamado de padre doutor por causa do bacharelado em Cânones obtido em 175211, Hipólito saiu de Rio Grande em direção a Coimbra no início de 1792, realizou os exames de Latim e Filosofia Racional e Moral – exigidos para ingressar na universidade – e em 29 de outubro do mesmo ano ingressou no primeiro ano de Filosofia, procedimento obrigatório para cursar Leis.

Em janeiro de 1793 a Casa da Provedoria da Fazenda Real, em Porto Alegre, recebeu a justificação do pedido de sesmaria por parte de Hipólito José da Costa e mais as do pai e do tio Pedro Pereira. Em 13 de novembro de 1794 foram oficializados os registros de sesmaria. Os três receberam propriedades contíguas na parte setentrional do sangradouro da lagoa Mirim.
A segunda recorrência de Hipólito José da Costa na questão das terras familiares ocorre em abril de 1801, quando o já bacharel e servidor da coroa solicita ao príncipe-regente D. João ordem para o governador do Rio Grande do Sul confirmar as cartas de sesmaria dele, do pai e do tio, em função do questionamento da posse “por pessoas que, em razão da falta de clareza de títulos, que há nas terras de todo aquelle continente, poderião perturbar a posse das mesmas fazendas”. (p. 3-5)


"O interrogatório seguinte dá-se na prisão do Limoeiro, decorridos dois meses da detenção, entre o inquisidor e Hipólito, na sessão denominada in genere pelo Regimento do Santo Ofício19: 
“Em que idade começou a estudar?
- Não poderei dizer com certeza.
Fixe ao menos com probabilidade a época em que deixou o mestre de ler e escrever, para passar ao estudo da gramática latina?
- Seria aos nove anos.
Sabe ou suspeita a razão por que de tão tenra idade o fizeram entrar para o estudo da gramática latina?
- Não. 
O compêndio da gramática latina era o antigo dos jesuítas ou algum dos modernos?
- O Novo Método do Padre Antônio Pereira. 
Que línguas mortas estudou além da latina?
- Grega. 
Que línguas vivas estudou?
- Todas aquelas que na Europa são mais necessárias... 
Que motivos teve para estudar estas línguas?
- O desejo de me pôr em estado de poder aprender as ciências, o que não poderia bem fazer sem entender os livros que nessas línguas estão escritos.”

A conversa ilustra bem a intenção do interrogador em associar o réu ao jesuitismo e ao jacobinismo, por meio da educação e da leitura dos livros estrangeiros, e reforça a formação precoce e consistente do interrogado graças ao privilégio de conviver com dois tios formados em Coimbra – Antônio Pereira também se formou em Cânones. Em Rio Grande, por exemplo, Pedro Pereira reservou uma peça na casa e contratou um professor de Porto Alegre específico para lecionar gramática latina a quem se interessasse, enquanto o religioso ensinava outras disciplinas aos sobrinhos, com vistas a Coimbra." 
(p. 7-8)





quarta-feira, 1 de julho de 2015

Primo do Papa Francisco trabalhou e tinha negócios em Capão do Leão

Papa Francisco I, Jorge Mario Bergoglio
Victor José Bergolio, italiano radicado na Argentina, mudou-se para Pelotas na década de 1930, para trabalhar na Compañia Americana de Construcciones y Pavimentos, S.A., que explorou as pedreiras do Cerro do Estado, em Capão do Leão, entre os anos de 1926 e 1939. A companhia produzia pedras para os Molhes da Barra do Rio Grande, bem como para a manutenção do porto daquela cidade. Além disso, a companhia produzia paralelepípedos e artigos de pedra de granito para calçamento e obras de viação pública que eram exportados para todo o Estado, bem como para os países do Prata (Uruguay e Argentina). Aliás, o que pude constatar que Victor Bergoglio, por meio dos estatutos da dita companhia, era um dos acionistas de mesma e, é bem possível, que tenha vindo para o Brasil na condição de diretor.

Já desligado da Compañia Americana, que encerrara suas atividades, sabedor das ricas reservas de granito existente em Capão do Leão, Bergoglio juntamente com o também italiano radicado em Pelotas, Francisco Caruccio, fundou a Companhia Bergoglio & Caruccio S/A em 1942. A companhia dos dois italianos explorou a pedra existente no Cerro das Almas durante a década de 1940 até aproximadamente o ano de 1955. No seu auge, a companhia chegou a ter cerca de 300 funcionários e vendia pedras e artigos de granito para várias cidades do Rio Grande do Sul em obras de calçamento. Dizia-se que o rústico Cerro das Almas daquela época parecia uma "cidade" e "caminhões e mais caminhões cortavam as estradas de terra todos os dias, num ruído ensurdecedor".

Saiba mais:
Reportagem da Zero Hora 

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