sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Feliz Ano Novo 2022!


Um Feliz Ano Novo de 2022 a todos os leitores, seguidores e colaboradores do blog. Desejamos um ano de muitas realizações, saúde e paz! Gratidão por nos acompanhar sempre!

 

Vila Nova, Porto Alegre

 



Para quem passa por Porto Alegre, ou vive na capital gaúcha, é difícil imaginar que a cidade já tenha abrigado um dos mais autênticos redutos da imigração italiana no Rio Grande do Sul. Um lugar onde se cultivaram parreirais, onde durante muito tempo se falou o dialeto vêneto, e onde foram realizadas pequenas Festas da Uva, muito antes deste conhecido evento ter subido a Serra Gaúcha. Tudo isso se passou na localidade de Vila Nova D'Itália, hoje um bairro de Porto Alegre.

A história de Vila Nova começa no ano de 1897. O imigrante italiano Vicente Monteggia, agrimensor e renomado técnico em construção de estradas, deixa a colônia de Alfredo Chaves (hoje Veranópolis) e se estabelece nos arredores de Porto Alegre, a convite do intendente José Montaury de Aguiar Leitão. Monteggia compra vinte hectares de terra e funda a colônia Vila Nova D'Itália.

A terra mostrava-se boa para o cultivo de uvas. Monteggia estimula a vinda de novas famílias do Norte da Itália e constrói um moinho de farinha de milho, aproveitando as águas do arroio Cavalhada. "A construção do moinho torna-se um fator de progresso para a vila, que passa a abastecer Porto Alegre", dia Lia Monteggia, neta do fundador de Vila Nova. Em pouco tempo, a localidade torna-se um centro de italianos, com vida própria. 

O mesmo fator de desenvolvimento da pequena colônia, no entanto, se encarrega de isolá-la nas décadas seguintes. O avanço da metrópole de Porto Alegre sufoca Vila Nova. Distante das demais colônias italianas do Estado, o povoado acaba perdendo suas referências culturais.

Hoje, pelas ruas do bairro Vila Nova, são tênues os traços de uma imigração outrora tão visível. Do dialeto restou apenas um leve sotaque. Do moinho construído por Monteggia ainda resistem alguns mecanismos de madeira. Outros sinais podem ser vistos no estilo da igreja e em duas casas: uma, de pedra, outra, decorada com lambrequins, ao melhor estilo da arquitetura colonial italiana.

Além destas marcas, restam apenas os sobrenomes italianos inscritos nas lápides do cemitério de Vila Nova.

Fonte: CORREIO RIOGRANDENSE (Caxias do Sul/RS), 11 de Junho de 1997, pág. 07

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Bolinhas de gude


 ...na região do Minho, antiga província no norte de Portugal, havia pedrinhas redondas e lisas às quais as pessoas chamavam "godes". Com o tempo, os minhotos foram fechando a boca e passaram de "gode" para "gude". Quando por lá chegou o jogo de bolinhas de vidro que correm no chão, o povo não teve dúvida: chamou de "bolinha de gude", o que é quase "bolinha de bolinha", mas tudo bem. O nome se espalhou por Portugal, de lá veio para o Brasil.

Fonte: DE SANTI, Alexandre & VAN DEURSEN (edição).Oráculo. São Paulo: Abril, 2014, pág. 23

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Sobrenomes Poloneses - Parte 54

 



1326. Grocholski - sobrenome toponímico relativo aos seguintes locais: Grocholice, anotado nos antigos condados de Szubin, Turek, Piotrków, Opatów e Sandomierz; Grocholy, no antigo condado de Sochaczew.

1327. Grochowalski - sobrenome toponímico referente a Grochowalsk - topônimo perdido que se encontrava outrora próximo a Bidgoszcz.

1328. Grochowski - sobrenome toponímico relativo aos seguintes lugares: Grochowo, verificado nos antigos condados de Varsóvia, Sokolowski, Turek, Kutnow, Maryampolski, Dzisienski e Rzeczyca; Grochowa, observado nos antigos condados de Zabkowicki e Grójecki; Grochowe, anotado nos antigos condados de Mielec e Trzebnica; Grochowy, no antigo condado de Konin.

1329. Grochulski - sobrenome com duas acepções possíveis: um tipo de chocalho de madeira pendurado no pescoço do gado; uma mistura de diferentes tipos de ervilhas (ou grãos, genericamente) vendida por preço baixo em tempos idos.

1330. Grod, Grodkiewicz, Grodzielik - sobrenome patronímico do nome eslavo Grodzislaw.

1331. Grodkowski - sobrenome toponímico relativo a diversos lugares na Polônia com as denominações de Grodków, Grodkowo, Grodkowice e Gródki.

1332. Gromacki - sobrenome toponímico relativo aos seguintes lugares: Gromada, vila e feudo outrora na freguesia de Bilgoraj, comuna de Puszcza, condado de Bilgoraj; também Gromadki, nas mesmas localidades citadas anteriormente.

1333. Gromny, Gromula, Gromysz - sobrenome metonímico que tende a significar enorme, grande, alto. Porém, pode também corresponder a barulhento, trovejante, estrondoso, chocante.

1334. Gron, Gronek - sobrenome que significa verde, mas pode ser estendido sem contradição para clareira, prado, área verde em espaço rochoso, montanha verdejante.

1335. Grondek - um lugar elevado e seco entre áreas pantanosas; solo mormente mais seco numa região úmida.

1336. Gronicki - cogumelos, porém mais acertadamente um toponímico relativo à aldeia de Gronitta (nome alemão Gronitten), no antigo condado de Olsztyn.

1337. Gronkowski - cachos (de uva, de fruta), bagas, videira. Mais provavelmente um toponímico referente à aldeia de Gronków, no antigo condado de Nowy Targ, e à aldeia de Górce, no antigo condado de Varsóvia.

1338. Gronostajski - arminho (animal), porém mais acertadamente um toponímico relativo a Gronostaje-Puszcza, aldeia no antigo condado de Łomża.

1339. Gronowski - sobrenome toponímico relacionado ao nome de local Gronowo, duas antigas vilas nas proximidades de Lidzbark.

1340. Gronowski (2a. vertente) - sobrenome toponímico relacionado a Gronów, no antigo condado de Sieradz, Gronowice, no antigo condado de Olesina, e Gronowo, nome de aldeia percebido nos antigos condados de Torun, Lubawa, Licbarski, Malbork, Elblag e Zadzbourski.

1341. Gropp - sobrenome toponímico relativo a Gropp (ou Grapa), uma antiga localidade na Silésia.

1342. Gros - sobrenome patronímico hipocorístico dos nome eslavos Grodzislaw e Gromislaw; também um patronímico do nome alemão arcaico Grausus; um metonímico para gordo, grande, avantajado.

1343. Grosendorf, Grossendorf, Grossendorff - sobrenome toponímico relativo à aldeia de Grossendorf, no antigo condado de Lidzbark.

1344. Gross - gordo, grande, avantajado; bruto.

1345. Grot - bulboso; pico volumoso de uma montanha que é difícil de contornar; pessoa cuja cabeça grande e pontuda e corpo magro assemelhasse a uma lança.

1346. Grotek - sobrenome silesiano para vendedor de lâmpadas, lamparinas; ou por extensão, o artesão que fabrica este tipo de produto. Também pode corresponder ao item anterior.

1347. Gröten - sobrenome associado aos dois itens anteriores, porém também pode ser um matronímico para Margaretha. Ainda, também se assemelha a uma palavra para gruta, caverna no baixo-alemão.

1348. Growe - sobrenome patronímico do nome alemão dialetal Growe (significa crescido, enaltecido, que se amplia).

1349. Groz - sobrenome patronímico curto do nome eslavo Grodzislaw.

1350. Gruca - corresponde a um cereal, porém dependendo da região, o termo foi usado para aveia (Avena L.) ou para trigo-sarraceno (Fagopyrum esculentum). Corresponde a um metonímico para um agricultor que cultiva um destes dois cereais. Também pode ser um toponímico relacionado à aldeia homônima que outrora existira próxima ao antigo condado de Vilnius.

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

O Tesouro do Cerro Partido


 Curiosa história da descoberta de algumas peças de prata na localidade do Cerro Partido, hoje no atual município de Herval/RS, em Outubro de 1889

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

João Ignacio de Vargas



"Em Sapucaia falleceu hoje, ás 6 horas da manhã, o nosso amigo venerando ancião João Ignacio de Vargas.

O finado era pai do tenente-coronel Serafim Pereira de Vargas e avô do negociante d'esta praça João Vargas, ambos tambem nossos co-religionarios.

O morto era um veterano da gloriosa revolução de 1835, em que tomou parte como official das forças republicanas.

Apresentamos os nossos pezames á sua exma. familia.

(...)

Falleceram em Uruguayana Feliciano Persano e Trajano L. da Silva.

✤✤✤✤✤

Em Jaguarão morreu d. Maria José de Moraes, filha do tenente José Alves de Moraes.

✤✤✤✤✤

(...)

Morreu em Bagé, aos 70 annos de idade, d. Anna Joaquina Nunes."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 06 de Maio de 1893, pág. 02, col. 05

João Julio Capdeville



"As cerimonias do enterramento do escripturario aposentado da extincta thesouraria de fazenda, Francisco Fernandes da Silva, que era capitão da guarda nacional, compareceu uma guarda de honra do 1o. batalhão de infantaria da mesma milicia, sob o commando do capitão Ildefonso Móra.

✤✤✤✤✤

Ante-hontem finou-se n'esta capital d. Olivia Paula da Conceição, irmã do sr. José Paulino de Azurenha, auxiliar da redacção do Jornal do Commercio.

Pezames.

✤✤✤✤✤

Em Santa Victoria do Palmar falleceu João Julio Capdeville, de nacionalidade francesa, ex-capitão de navio.

✤✤✤✤✤

No Rio Grande cessou de viver Pedro João Lacroix, natural da França e brazileiro naturalisado.

✤✤✤✤✤

Finaram-se em Pelotas:

D. Maria Izabel de Azevedo, de 80 annos de idade, solteira;

Augusto Ignacio Leal, de 60 annos, morador de Piratiny;

Luiz Lopes Siqueira, de 19 annos, filho da viuva d. Carolina Lopes Siqueira."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 27 de Maio de 1895, pág. 02, col. 02

domingo, 26 de dezembro de 2021

Jabuticaba

 



O padre Francisco Soares, que tinha corrido todas as vilas de São Vicente até Pernambuco, era um entusiasta da jabuticaba (Myrciaria cauliflora): "É das melhores frutas do Brasil". Ao descrever doze frutas brasileiras, o jesuíta a elegeu como a número um. E eram enormes as jabuticabas em 1590: "Em São Vicente as vi boas, são como limões pequenos" dizia Soares, ecoando o que Fernão Cardim, também da Companhia de Jesus, escreveu: "É do tamanho de um limão seitil". Os dois concordavam sobre o sabor, que hoje nos parece meio improvável: "O sabor é como de uvas" afirmava o primeiro, "no gosto, parece de uva ferral", descrevia Cardim.

As jabuticabas não eram abundantes como os abacaxis, os cajus ou as bananas. Segundo Cardim, era "fruta rara", sendo encontrada somente pelo sertão adentro da capitania de São Vicente (a fruta é nativa da mata atlântica de São Paulo e Minas Gerais). Ao que tudo indica, os colonos ainda não tinham descoberto o licor de jabuticaba, que talvez viriam a aprender inspirando-se nos índios, que faziam "vinhos" com a fruta, "que cozem como vinho de uvas".

Curiosamente, em tupi, jabuticaba quer dizer "comida de cágado".

Fonte: HUE, Sheila Moura. Delícias do Descobrimento: a gastronomia brasileira no século XVI. Rio de Janeiro; Zahar, 2009, pág. 37

sábado, 25 de dezembro de 2021

Natal no Club Caixeiral


 Club Caixeiral

Brilhantes festas

Revestiram-se do maior brilhantismo as festas com que o distincto Club Caixeiral solemnisou hontem o Natal e seu 31o. anniversario.

Os salões da correcta sociedade, artisticamente ornamentados e profusamente illuminados, apresentavam um aspecto deslumbrante e feerico.

A affluencia de Exmas, familias e cavalheiros era avultadissima, tornando-se pequenos os referidos salões para comportar a enorme concorrencia que ali se premia.

No centro do salão Belmondy erguia-se alterosa Arvore de Natal, da qual pendia grande numero de brinquedos, lampeõsinhos, doces, etc.

Ás 9 horas da noite, estando presentes várias commissões de sociedades, o sr. Francisco V. Villela, presidente da directoria transacta, abrio a sessão, dando em seguida a palavra ao orador official da solemnidade do Sr. Dr. Joaquim Luiz Osorio.

S.S. pronunciou longo e substancioso analogo ao acto, sendo, ao terminar, estrondosamente applaudido.

Logo após foi dada posse á nova directoria, cujos membros foram acclamadissimos.

Finda a sessão solemne, teve inicio a festa infantil, constante de cantos, recitação de poesias, etc.

Ás gentis creanças que tomaram parte na festa infantil foram distribuidos brinquedos e doces.

Ás 11 horas começou o sumptuoso baile, que prolongou-se com grande animação até ás primeiras horas da madrugada de hoje.

Merece louvores a commissão organisadora das festas composta dos Srs. Guilherme Wetzel, Octacilio Menezes e Raul Braga.

Fonte: A OPINIÃO PUBLICA (Pelotas/RS), 26 de Dezembro de 1910, pág. 01, col. 03-04

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Quando o Papai Noel chegou ao Brasil?

 

Papá Noel na revista "O Malho"  do Rio de Janeiro em 1903

Antecipando que esse é um pequeno e modesto ensaio, com base em algumas fontes históricas disponíveis na internet, procurando delimitar uma época para a chegada da figura do Papai Noel no Brasil e seu uso tradicional e comercial nas comemorações natalinas.

A primeira menção que encontramos está na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, no dia 09 de fevereiro de 1881, num artigo que identifica o Father Christmas inglês ou Santa Claus estadunidense e o traduz como Papá Natal. Pois bem, o Papá Natal é descrito com ar bonachão e amável, tal qual os dias de hoje, bem como sua hora e dia de visita às crianças é à meia-noite do dia 25 de dezembro. Descrito como ancião, com uma enorme barba branca e trajando vermelho, sua roupa, entretanto, é apresentada como roupas de frade o que lhe confere um capuz. Aprecia uma boa taça de prata cheia de hydromel quente. Contudo, a tradição do Father Christmas/Papá Natal é colocado como típica de algumas famílias anglófonas (sejam elas inglesas, irlandesas ou estadunidenses), completamente desconhecido à sociedade brasileira. 

A mesma Gazeta de Notícias, mais adiante em 1898, numa crônica justamente no dia do Natal, já descreve o Father Christmas/Santa Claus não como Papá Natal porém com uma forma mais próxima da atual: Papá Noel. O jornal é categórico em afirmar que o Papá Noel não se aventura por estas callidas regiões do Brasil (...), pois o Papá Noel ama o frio. A tradição dos sapatinhos ou meias colocadas para receber os presentes do bom velhinho é apresentada. A mesma crônica identifica o local de moradia do Papá Noel os bosques da Noruega, onde embrulha os presentes. Um ano depois, na sua edição de véspera de Natal, o periódico volta a aludir ao personagem natalino, mas usando o termo Papai Natal.

Parece-nos que a chegada do Papai Noel (Father Christmas/Santa Claus/Papai Natal/Pai Natal) ao Brasil se consolida principalmente a partir da primeira década do século XX, embora não tenha se tornado tradicional e enraizado na cultura nacional de forma ampla até à década de 1940. 

Na edição de 24 de dezembro de 1900, o jornal Cidade do Rio publica um pequeno conto natalino, curiosamente escrito por um brasileiro (assina como "B.C."), em que os personagens são crianças nacionais. No conto verifica-se o uso da árvore de Natal para comemoração do festejo. Tratando-se de um artigo cômico, pois as crianças rezam ao Papá Noel. O fogão da família é o lugar indicado para colocar os sapatinhos e receber o presente. Pensamos que isso talvez faça referência ao fato da chaminé das famílias brasileiras ser justamente aquela que expele a fumaça dos fogões à lenha e não de lareiras. O mesmo Cidade do Rio na sua edição de 26 de dezembro do mesmo ano, registra que bem mudados correm os tempos, pois se verifica o novo costume de deixar o sapatinho de guela aberta para receber os brindes de Papá Noel. Acreditamos que isso aponta que o costume de esperar o Papá Noel esteve se arraigando em famílias da sociedade brasileira, possivelmente mais letradas e financeiramente mais estabelecidas, na capital da República, durante o final do século XIX. Um pseudônimo denominado Carmen Dolores, numa folha fluminense de 1907, afirma ter esperado o Papá Noel na fazenda de seu veneravel pae num dezembro de 1887.

As primeiras representações do Papai Noel

Festa natalina infantil no Rio de Janeiro em 1910
Na extrema direita uma criança representa o Papá Noel (seta amarela)


Durante a primeira década do século XX, menções ao Papá Noel/Papai Noel são encontradas como figura natalina no próprio Rio de Janeiro, no Recife, em Porto Alegre, São Paulo, Curitiba, São Luís do Maranhão, Penedo (Alagoas) e em Belo Horizonte (ainda conhecida na época como Cidade de Minas). Em 1901 são percebidos um Sabat de Natal, no Rio de Janeiro, e uma festa natalina no interior de Minas Gerais entre os empregados de uma companhia inglesa de mineração, onde encontramos o Papá Noel. E nos parece também que a adesão brasileira ao senhor gordo e bonachão de grande barba branca ocorreu de forma muito rápida, mesmo para os padrões daquele período histórico. O Correio Paulistano em sua edição de 13 de novembro de 1907, lamenta que Hoje, em vez do reizado e do bumba, as senhoras ensinam aos filhos que Papá Noel vai pôr na chaminé os brinquedos e fazem a árvore do Natal. O mesmo Correio segue e acrescenta que estavam substituindo o tradicional vatapá no Natal pelas carnes adocicadas do allemão e os molhos envenenadores dos franceses. Mesma impressão tem o Diário do Maranhão de 20 de dezembro de 1909 que ataca veementemente o pinheiro de Natal e a exótica preocupacção de imitar o estranjeiro do brasileiro. Curvello de Mendonça, escritor carioca, ataca-o violentamente em uma crônica de 1910. Apesar disso, o Papá Noel já era visto sendo esperado em algumas fazendas do interior do estado do Rio de Janeiro em 1907, bem como na mesma época sendo utilizado como figura atrativa de associações de caridade para garantia do Natal das crianças pobres. O Jornal Pequeno de Recife, em sua folha de 21 de dezembro de 1909, identifica a chegada do Papá Noel ao Brasil à influência francesa, o que faz sentido, pois Noel é Natal naquela língua. Enquanto que em Portugal, o Father Christmas/Santa Claus é conhecido como Pai Natal.

A maioria das tradições associadas ao Papai Noel já aparece nesta década, exceto o costume de presentear as crianças más com carvão. O que difere bastante não é sua representação física (gordo, simpático e amável), mas o tipo de roupa que usa. Ora sua vestimenta assemelha-se muito à sua forma clássica (calças vermelhas, cinto, casaco vermelho, gorro vermelho), ora ele é descrito usando roupas vermelhas e verdes, ora usando azul. Bem verdade, numa ilustração que encontramos o Papai Noel lembra muito mais o Gandalf de O Senhor dos Anéis, com uma espécie de túnica pesada e capuz, botas mais simples e um cajado rústico de madeira. O sino é percebido fixado junto ao cinto. Noutra representação ele aparece usando ramos de azevinho nas orelhas e um gorro mais assemelhado a um quepe do que a uma touca. O Paiz de 26 de dezembro de 1909 o coloca chegando de balão (aeróstato, uma das maravilhas da época!) e não de trenó. Um detalhe incomum é que um conto da época é assertivo em apontar que Papá Noel adora vinho do Porto.

De modo geral, a imprensa direcionada ao público infantil serve para popularizar a figura do Papai Noel, com diversas histórias que mesclam quadrinhos, ilustrações e crônicas, onde o bom velhinho extrapola suas funções natalinas e é inserido em lendas e histórias mágicas com animais e seres folclóricos.

O Natal Brasileiro versus o Natal "Europeu"

A primeira nota que achamos sobre o Papá Noel sendo performado no Brasil situa-se no ano de 1910 no bairro carioca do Botafogo, em salões de festa que procuram celebrar o Natal de acordo com os ditames europeus, com o uso de frutas secas e a constante presença da árvore de Natal (mesmo cena encontrada no bairro das Laranjeiras). Todavia, no mesmo ano, diante desta exibição de um Natal europeu na capital da República, o mesmo jornalista que o assim o registra, o contrapõe lembrando das festividades natalinas brasileiras em outras localidades da cidade como a Gávea, em Vila Isabel, em São Cristóvão, na Avenida do Mangue, na Praça Onze de Junho e no Campo de Sant'Ana, como o reisado, os ranchos de pastorinhas, o boi, as cançonetas em honra ao Menino Jesus, as diversas representações populares do presépio e as tradicionais barraquinhas pela data que vendem toda sorte de produtos até quase à meia-noite. O único fator de união entre estes dois Natais é a Missa de Galo, prestigiada igualmente pela elite, classe média e pobres.

O Papai Noel "avança"

Durante as décadas de 1910 e 1920, apesar das críticas a figura do Papá Noel (agora já aparecendo também com a grafia Papai Noel) avança como símbolo natalino no Brasil e passa a constar de modo cada vez mais frequente na imprensa e na sociedade. Aqui e ali também se documenta seu uso comercial. A Casa Tem Tudo, sediada em Santos/SP, anuncia que Papá Noel a encarregou de expor aos papaes a completa colleção de brinquedos que destinas estas festas às creanças santistas! para o Natal de 1918. 

Durante a década de 1910, o Papai Noel já aparece no interior do Rio de Janeiro, Minas Gerais e de São Paulo. No Club 12 de Agosto de Florianópolis/SC em 25 de dezembro de 1911, o Papai Noel aparece de surpresa numa festa infantil distribuindo presentes e doces para alegria da criançada. No Natal de 1913, o Papai Noel é visto em Belém do Pará e em Cuiabá, e do ano seguinte, nas ruas de Salvador, na Bahia. Uma livraria em Manaus o representa tradicionalmente num grande quadro à entrada do estabelecimento no Natal de 1913, embora o periódico que guarda tal informação o chama de figura exotica aos trópicos. O Quartel de Polícia de Teresina/PI  promove uma festa em 1914 para os filhos de officiaes e praças (cerca de 750 brinquedos foram distribuídos) em que encarregam o cabo Antônio Celso de ir caracterizado do bom velhinho. Em 1917, no Ceará o escritor Herman Lima admoesta as crianças a irem dormir, do contrario não ha de vir Papá Noel. No distante Acre, na Vila Seabra, o Papai Noel faz sua estreia em 1918 numa festividade natalina. Em 1919, o Papai Noel é observado numa festa da colônia italiana em São Paulo para desespero dos mais conservadores que proclamam que quem traz presentes para os bambinos é o Menino Jesus e não aquele velho gordo de vermelho!

Durante a década de 1920 os registros sobre o Papai Noel abundam na Imprensa brasileira e já contamos cerca de 400 citações de festividades, escritos, peças comerciais e notícias diversas. Principalmente a partir de 1924, podemos concluir que sua figura já está bem inserida nas principais capitais e centros urbanos do País. Na Porto Alegre de 1927, homens promovem ações beneficentes de Natal vestidos a caráter e com uma cesta distribuindo castanhas.. Na mesma capital gaúcha, no dia 21 de dezembro de 1929, assistimos talvez aquilo que vai ser a primeira chegada do Papai Noel documentada no Brasil com inúmeras celebrações, música, distribuição de doces e presentes, onde estiveram presentes mais de duas mil crianças!  No interior mais agrário, as informações são mais escassas. 

Durante as décadas de 1930 e 1940, o Papai Noel torna-se predominante no Brasil como figura natalina bondosa que distribui presentes às crianças bem-educadas. As mamães e papais começam a falar dele de forma mais frequente durante o ano, principalmente como personagem incentivador de boas práticas morais, caso contrário os rebentos podiam ter a desagradável surpresa de não ganhar nada de bom na noite de 25 de dezembro ou, pior ainda, um monte de cocô (conforme o registro de um periódico paulista de 1947) por causa de suas malcriações. 

As antigas tradições natalinas brasileiras foram se tornando cada vez mais escassas, principalmente a partir da crescente urbanização iniciada na década de 1950. 

Fontes:

GAZETA DE NOTÍCIAS (Rio de Janeiro/RJ), 09 de Fevereiro de 1881, pág. 01

GAZETA DE NOTÍCIAS (Rio de Janeiro/RJ), 25 de Dezembro de 1898, pág. 01

GAZETA DE NOTÍCIAS (Rio de Janeiro/RJ), 24 de Dezembro de 1899, pág. 01

GAZETA DE NOTÍCIAS (Rio de Janeiro/RJ), 28 de Dezembro de 1901, pág. 02

GAZETA DE NOTÍCIAS (Rio de Janeiro/RJ) - outras edições: 16/12/1905, pág. 01; 25/12/1905, pág. 01; 19/12/1906, pág. 03; 26/12/1906, pág. 02; 05/01/1908, pág. 02; 19/12/1909, pág. 02; 14/04/1910, pág. 02; 24/12/1910, pág. 04; 25/12/1910, pág. 06; 26/12/1910, pág. 03

CIDADE DO RIO (Rio de Janeiro/RJ), 24 de Dezembro de 1900, pág. 02

CIDADE DO RIO (Rio de Janeiro/RJ), 26 de Dezembro de 1900, pág. 01

DIÁRIO DE MINAS (Belo Horizonte/MG), 28 de Março de 1901, pág. 04

DIÁRIO DO MARANHÃO (São Luís/MA), 20 de Dezembro de 1909, pág. 01

A REPUBLICA (Curitiba/PR), 14 de Novembro de 1905, pág. 02

CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 13 de Novembro de 1907, pág. 01

JORNAL DO BRASIL (Rio de Janeiro/RJ), 07 de Abril de 1907, pág. 08

CORREIO DA MANHÃ (Rio de Janeiro/RJ), 30 de Dezembro de 1908, pág. 04

JORNAL PEQUENO (Recife/PE), 11 de Dezembro de 1907, pág. 02

JORNAL PEQUENO (Recife/PE), 12 de Dezembro de 1907, pág. 02

JORNAL PEQUENO (Recife/PE), 21 de Dezembro de 1907, pág. 03

JORNAL PEQUENO (Recife/PE), 24 de Dezembro de 1909, pág. 01

JORNAL PEQUENO (Recife/PE), 24 de Dezembro de 1910, pág. 04

O PAIZ (Rio de Janeiro/RJ), 24 de Novembro de 1901, pág. 02

O PAIZ (Rio de Janeiro/RJ), 07 de Janeiro de 1907, pág. 01

O PAIZ (Rio de Janeiro/RJ), 24 de Dezembro de 1909, pág. 05

O PAIZ (Rio de Janeiro/RJ), 26 de Dezembro de 1909, pág. 02

O PAIZ (Rio de Janeiro/RJ), 31 de Dezembro de 1909, pág. 01

CORREIO DA MANHÃ (Rio de Janeiro/RJ), 30 de Dezembro de 1903, pág. 04

CORREIO DA MANHÃ (Rio de Janeiro/RJ), 24 de Dezembro de 1908, pág. 01

CORREIO DA MANHÃ (Rio de Janeiro/RJ), 25 de Dezembro de 1911, pág. 01

CORREIO DA MANHÃ (Rio de Janeiro/RJ), 29 de Dezembro de 1913, pág. 01

FON-FON (Rio de Janeiro/RJ) - edições:  Ano II número 38, 24/12/1908; Ano III número 02, 09/01/1909; Ano III número 43, 23/10/1909; Ano III número 45, 06/11/1909; Ano III número 52, 23/12/1909; Ano IV número 01, 01/01/1910; Ano IV número 48, 26/11/1910

DIÁRIO DE PERNAMBUCO (Recife/PE) - edições: 15/12/1908, pág. 03; 24/12/1908, pág. 03; 18/01/1909, pág. 01

A NOTÍCIA (Rio de Janeiro/RJ) - edições: 23/11/1901, pág. 02; 31/07/1907, pág. 02; 25/12/1909, pág. 01

O TICO-TICO; JORNAL DAS CRIANÇAS (Rio de Janeiro/RJ) - 125 ocorrências entre 1907 e 1955.

O MALHO (Rio de Janeiro/RJ) - 106 ocorrências entre 1904 e 1953.

A PROVINCIA (Recife/PE), 25 de Dezembro de 1909, pág. 01

KÓSMOS: REVISTA ARTÍSTICA, SCIENTIFICA & LITTERARIA (Rio de Janeiro/RJ), 1904, edição 012

KÓSMOS: REVISTA ARTÍSTICA, SCIENTIFICA & LITTERARIA (Rio de Janeiro/RJ), 1907, edição 012

O FILHOTE (Rio de Janeiro/RJ),  Ano I número 15, 23 de Dezembro de 1909

O FILHOTE (Rio de Janeiro/RJ),  Ano II número 36, 24 de Dezembro de 1910

O MONITOR (Penedo/AL), 21 de Junho de 1909, pág. 01

A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 01 de Janeiro de 1906, pág. 01

A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 24 de Dezembro de 1909, pág. 02

JORNAL DAS MOÇAS (Rio de Janeiro/RJ), Ano I número 15, 14 de Dezembro de 1914

O GATO: ALBUM DE CARICATURAS (Rio de Janeiro/RJ) - 06 ocorrências entre 1911 e 1917

GAZETA DO POVO (Santos/SP), 23 de Dezembro de 1918, pág. 04

REVISTA DA SEMANA (Rio de Janeiro/RJ), Ano XIII número 659, 28 de Dezembro de 1912

ILLUSTRAÇÃO PAULISTA (São Paulo/SP), Ano II número 65, 20 de Abril de 1912

ESTADO DO PARÁ (Belém/PA), 25 de Janeiro de 1914, pág. 01

A NOTICIA (Salvador/BA), 24 de Dezembro de 1914, pág. 06

JORNAL DO COMMERCIO (Manaus/AM), 25 de Dezembro de 1913, pág. 04

A NOTA (Fortaleza/CE), Ano II número 89, 24 de Dezembro de 1917

O DIA (Florianópolis/SC), 27 de Dezembro de 1911, pág. 02

DIÁRIO DO PIAUHY (Teresina/PI), 27 de Dezembro de 1914, pág. 02

A REFORMA (Vila Seabra, Departamento de Taranacá, Acre), 29 de Setembro de 1918, pág. 02

O DEBATE (Cuiabá/MT), 25 de Dezembro de 1913, pág. 01

Diversos periódicos de 16 estados brasileiros entre 1920 e 1949.


Feliz Natal 2021!


 Feliz Natal a todos os leitores e amigos do blog!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Ded Moroz - o Papai Noel da Rússia

 



A Rússia e outros países eslavos, particularmente na Europa Oriental, têm sua própria versão do Papai Noel, chamado Ded Moroz.

Ded Moroz é muito semelhante em muitos aspectos ao Papai Noel, mas pode ser muito diferente. Por exemplo, Ded Moroz carrega um bastão e usa uma longa barba branca. Sua roupa às vezes é vermelha, mas na maioria das vezes é azul. Ele usa botas altas de valenki (espécie de bota tradicional de feltro) para protegê-lo do frio. Em vez de oito renas, Ded Moroz emprega três cavalos que conduzem sua troika (trenó) russa. Os presentes são entregues no Ano Novo em vez de ser no Natal, um resquício da preferência soviética por feriados seculares, em oposição ao antigos feriados religiosos. Em vez do Pólo Norte, o Ded Moroz tem sua morada oficial numa propriedade na cidade russa de Veliky Ustyug, região de Vologda.

O Ded Moroz remonta à mitologia eslava, onde era conhecido como Pai Gelo, Avô Gelo ou Morozko. No folclore popular de antanho, ele era uma espécie de espírito das neves, descrito como "um poderoso herói e ferreiro que acorrentava a água com suas nevascas de 'ferro". Também dizia-se que, ao invés de dar presentes, na verdade, ele sequestraria crianças e só as devolveria quando seus pais lhe dessem presentes.

Sob influência da Igreja Ortodoxa e de escritores russos do século XIX (aproximadamente por volta de 1840), Ded Moroz foi convertido numa figura mágica mais gentil e menos bárbara que, ao invés de sequestrar crianças, lhe dá presentes na véspera do Ano Novo.

Com o sucesso da Revolução Bolchevique de 1917, Ded Moroz foi totalmente banido por ser considerado "burguês" e um mito prejudicial à educação das crianças. Todavia, durante o governo de Josef Stálin, em meados da década de 1930, Ded Moroz foi reabilitado como figura infantil que trazia presentes na véspera do Ano Novo. Curiosamente, para diferenciá-lo do Papai Noel ocidental (o Santa Claus da tradição norte-americana), os soviéticos preferiram retratá-lo na cor azul. Além disso, também em contraste ao seu rival capitalista, Ded Moroz não é gordo e rechonchudo, porém representado de forma mais esguia e com um comportamento mais viril.

Usado como parte da propaganda soviética durante o regime stalinista, Ded Moroz era visto visitando crianças em toda a União Soviética na véspera do Ano Novo, distribuindo presentes e terminando sua palestra com a inevitável pergunta: "Para quem temos todas coisas boas em nossa sociedade socialista?" Ao que, dizem, as crianças respondiam em coro: "Stálin!"

De acordo com a tradição, Ded Moroz tem cerca de 2000 anos e celebra seu aniversário em 18 de novembro. Sempre aparece com seu bastão, que é feito de prata ou cristal. As crianças devem esperar seus presentes debaixo de um abeto (considerada a árvore de Ano Novo). Ele tem uma assistente, que na realidade é sua neta, Snegurochka (pode ser traduzido como Donzela das Neves), acompanhando-o em suas visitas às crianças.

Com o colapso da ex-União Soviética em 1991, a tradição do Ded Moroz foi completamente abandonada em países da Europa Oriental e ex-repúblicas soviéticas, com a maioria criando versões próprias de um personagem natalino, baseadas em suas próprias tradições, ou simplesmente aderindo ao Papai Noel do Ocidente. Mesmo na Rússia, como era um personagem ainda associado ao período comunista, houve um pequeno período de descrédito da tradição, porém o Ded Moroz foi reabilitado a partir dos anos 2000, agora dissociado da ideologia política e tratado mesmo como um personagem folclórico. Na verdade, mesmo com suas peculiaridades, o Ded Moroz recebeu alguma influência recente do Papai Noel, representado mesmo com um ar mais gentil e bonachão e passando usar o vermelho de forma mais comum.

Fontes adaptadas:

https://www.zmescience.com/

https://magazines.gorky.media/oz/2003/1/ded-moroz-i-snegurochka.html

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Nigromancia em Pelotas do século XIX


"Tambem em Pelotas houve batida a um antro de feitiçaria.

É curioso o que, a tal respeito, disse o Diario:

'Na sua excursão pelos cortiços da Varzea, deparou hontem o digno sub-intendente do 1o. districto com uma sessão de nigromancia, á rua S. Ignacio n. 13, casa do preto feiticeiro Benedicto Pintado.

Entrando ali de surpresa, encontrou a digna auctoridade o mandigueiro em plena sessão, officiando perante as devotas Amelia Corval e Bernardina da Rosa, que, em extasis, perante as bugigangas do negro, curvavam-se, reverentes, á vista de uns bonecos grosseiramente talhados, armados de revólver, punhaes e espadas enferrujadas e inservíveis.

Indagando dos mysterios da solemnidade, soube, com surpreza, a distincta auctoridade, que algumas das milagrosas imagens achavam-se retiradas do templo, pouco respeitosamente enterradas no quintal, sobre montões de pennas de gallinha, em penitencia, por não terem operado os milagres que lhes foram ordenados.

Depois de desenterrados esses tróços, a auctoridade os mandou de cambulhada com o nigromante e as enfeitiçadas,  para a casa do pouco pão, para meditarem na estabilidade das cousas... divinas.

- Em seguida, descobriu o sr. tenente-coronel subintendente, á rua Constituição, uma outra casa de dar fortuna, onde os pretos Lufalo e Pedro Fuão aguardavam os devotos com velas accesas; ao meio-dia.

Reprehendidos pela zelosa auctoridade, que os intimou a não proseguirem em seus embustes, elles declararam que eram muito procurados, para aconselharem sobre varias molestias, e que já tinham operado curas admiraveis, sem terem sentido falta de titulos scientificos.

As hervas mésinheiras, os esconjuros, etc. e tal parece que estavam destinados a dar cabo das boticas, se lhe não valesse a providencia da activa auctoridade."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 05 de Junho de 1895, pág. 01, col. 02

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

A Escravidão nas Charqueadas

 


Há uma unanimidade sobre a larga e fundamental utilização do trabalho escravo nas charqueadas. Isto pode ser observado nos relatos de cronistas e viajantes do século passado, nos relatórios e correspondências oficiais e nos inventários post-mortem. Conforme indicam os inventários, as maiores concentrações  de escravos estavam justamente nesses estabelecimentos. Estudiosos do assunto, como Mário Maestri e Fernando Henrique Cardoso, chegam a afirmar que a escravidão era fundamental principalmente nessas indústrias da carne.

A técnica de charquear a carne bovina é conhecida na região do Prata desde o século XVII, pelo menos segundo uma indicação do padre jesuíta Antônio Montoya sobre uma exportação desse produto feita por Buenos Aires, em 1603. No Rio Grande do Sul, as primeiras indústrias de certo porte surgiram no final do século XVIII, em Pelotas. O ano de 1780 é dado como o de início do desenvolvimento dessa atividade, que se tornaria a mais importante atividade econômica do Sul até fins do século XIX.

Estudos bastante complexos e atualizados sobre as charqueadas foram realizados pelos historiadores Mário Maestri e Berenice Corsetti, além do clássico trabalho de Fernando Henrique Cardoso. Por se tratar de uma indústria de caráter mais urbano do que rural, vamos nos limitar a algumas análises que nos parecem importantes para o conjunto deste estudo. Destacamos a alta concentração de escravos nestes estabelecimentos e o grau de especialização do trabalho existente. Tomemos, como exemplo, o inventário da charqueada do Coronel Thomaz José de Campos, de 1851, no qual consta 66 escravos divididos segundo as seguintes profissões: 3 campeiros; 15 carneadores; 3 salgadores; 17 serventes; 13 marinheiros; 2 cozinheiros; 2 carpinteiros e 10 pedreiros. Essa especialização dos trabalhadores é também observada em outros inventários e até no Relatório de Louis Couty.

No estudo de Berenice Corsetti, os escravos chegam a atingir até 34% do valor do inventário de uma charqueada, em 1862. A média de escravos por charqueada é de 64, alcançando 158 no caso da empresa do Barão do Butuhy. Um levantamento organizado pela autora, a partir de inventários do período 1827-1881, revela que os charqueadores possuíam escravos com vinte e seis profissões diferentes. Com essa constatação, a autora questiona a tese da impossibilidade da divisão técnica do escravismo defendida por Fernando Henrique Cardoso.

Após o final do tráfico de escravos, as charqueadas passaram a empregar cada vez menos mão-de-obra escrava. Berenice Corsetti afirma que, na década de 1860, os escravos já não tinham a mesma importância anterior para a indústria do charque. Mário Maestri chama atenção para a diminuição dos escravos de uma charqueada de Jaguarão, que em 1868 contava com apenas 21 cativos contra os 60 e 80 encontrados nos anos anteriores em estabelecimentos semelhantes. Estas afirmações coincidem com o movimento geral observado na província no sentido de utilização de mão-de-obra livre.

Louis Couty analisa esta tendência de substituição do trabalho escravo nas charqueadas de Pelotas. Segundo o autor, os charqueadores compreendiam as dificuldades da mão-de-obra escrava diante dos concorrentes do Rio da Prata e tratavam de contratar trabalhadores livres, num processo de substituição gradativa. Desse modo, os homens livres eram contratados para as tarefas mais importantes, pois, conforme explicação de Couty, a mistura de operários livre e escrava gerava múltipla inconveniente. Uma alternativa à falsa de operários livres era o pagamento aos próprios escravos por tarefa, como forma de incentivar a produtividade, num ensaio para a transformação dos próprios escravos em trabalhadores livres.

A necessidade de transformação nas relações de trabalho era reconhecida pelos empresários, mas as condições objetivas não permitiam uma mudança repentina, principalmente em função da falta de mão-de-obra habilitada e sujeita a aceitar as condições de trabalho Louis Couty escreve, nesse sentido, que "as condições de uma semelhante transformação são complexas; e, como me disse o Sr. Costa, é preciso ter em conta um grande número de fatores".

Fonte: ZARTH, Paulo Afonso. Do arcaico ao moderno: o Rio Grande do Sul agrário do século XIX. Ijuí/RS: Ed. Unijuí, 2002, pág. 125-129.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Manoel Luiz de Medeiros



"No dia 13 do mez proximo findo cessou de viver, no seu estabelecimento do Passo da Laranjeira, 2o. districto do termo de Santa Maria da Bocca do Monte, o nosso venerando amigo e co-religionario Manoel Luiz de Medeiros, cidadão de conducta exemplar.

Contava 75 annos de idade.

O partido republicano tinha no finado ancião um soldado antigo e indefesso, desde os tempos memoraveis da propaganda.

Apresentamos os nossos pezames á sua exma. familia.

✤✤✤✤✤

Terça-feira ultima falleceu nas Pedras Brancas o cidadão Joaquim Francisco de Souza Motta.

Outr'ora o finado foi actor dramatico.

Posteriormente exerceu o cargo municipal de fiscal geral d'esta cidade, e, por ultimo, commandou o vapor Mirim, que navega entre as cidades de Pelotas e Jaguarão."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 04 de Maio de 1893, pág. 02, col. 06

Porfirio José da Costa



"Em Taquary falleceu, aos 84 annos de idade, o venerando cidadão Porfirio José da Costa, pai dos nossos amigos José e Antonio Porfirio da Costa, commerciantes estabelecidos n'aquella villa.

Apresentamos aos desolados filhos os nossos pezames."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 02 de Maio de 1893, pág. 02, col. 05

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Praça Dom Pedro II em Pelotas


 Praça Dom Pedro II, em Pelotas
Posteriormente Praça da República e atualmente Praça Coronel Pedro Osório
Foto aproximadamente de 1877

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Jazz-Band Ideal


 Jazz-Band Ideal de Pelotas no ano de 1925
Da esquerda à direita: Zé, Henry, Holoubek, Mademoiselle Stalhut e João

domingo, 12 de dezembro de 2021

Trinca-ferro


Trinca-ferro (Saltator similis) filmado nas proximidades do Arroio Moreira, no sudoeste da zona rural de Pelotas.

 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

A Ferraria dos Irmãos Gonçalves

 



Freios e bridões a ferro e a fogo

No fogo, o ferro em brasa. Na bigorna, o malho. Na água, a têmpera. Como há muito tempo, os irmãos Wilson Edy Cunha Gonçalves, de 62 anos, e Wladimir Cunha Gonçalves, de 60 anos, continuam malhando o ferro para criar peças artesanais como freios, bridões, guizos, esporas e outros artigos que lhes são encomendados.

São eles que moldam, em ferro, as peças que, depois de banhadas, vão servir para premiação do Freio de Ouro da Expointer.

Faz 40 anos que estão trabalhando na Rua Catão Cezar Madruga, 40, no Município de Capão do Leão, próximo a Pelotas. Foi o pai deles - Silvino de Jesus Gonçalves - quem lhes ensinou a profissão. De início, Wilson era também marceneiro - a bancada está lá até hoje.

Com o passar do tempo, as atividades se concentraram nas peças de ferro. Quanto ao futuro, não se preocupam: os filhos estão encaminhados em outros setores mas, se precisarem, sabem como moldar as peças. A ferro e a fogo. Como era antes, no tempo dos nossos avós.

Fonte: MANCHETE RURAL (Rio de Janeiro/RJ), Ano XI, setembro de 1998, pág. 50

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Cavalo Crioulo

 



O veterinário e criador Gilberto Loureiro de Souza, que convive com esta raça desde que se entende por gente - a criação de cavalos crioulos é tradição de sua família -, não tem dúvidas em afirmar que foi essa seleção natural que primeiro deu estrutura ao cavalo crioulo, até hoje criado com simplicidade nas fazendas, conservando as características de resistência ao trabalho, rusticidade e longevidade. Superintendente de registro da ABCCC - portanto um grande especialista da raça -, Gilberto conta que ganhou uma prova montando um animal de 18 anos de idade. A prova foi dividida em duas etapas: na primeira, foram percorridos 65 km; na segunda, mais 45 km. Esta segunda etapa foi percorrida em uma hora e quarenta minutos, com o animal carregando, entre cavaleiro e arreios, um total de 113 quilos. As provas atuais confirmam esta característica: entre os ganhadores do Freio de Ouro, estão cavalos com mais de dez anos de idade.

Desenvolvimento maior a partir da década de 70

Paulo Gomes Móglia - criador e ex-presidente da ABCCC -, em editorial para a revista Raça Crioula, relata que a associação da raça foi criada em 1932, na cidade de Bagé, com o nome de Associação Riograndense de Criadores de Cavalo Crioulo a qual, a partir de 1984, passou a ser conhecida como Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos. No mesmo texto, ele registra que o desenvolvimento da raça passou a ser maior a partir de 1970. "Em 1978, na cidade de Jaguarão, tiveram origem as provas funcionais. Em 1981, foi oficializada a prova Freio de Ouro e, em 1986, as provas de Paleteada e de Tiro ao Laço. "No ano passado, os rodeios entraram oficialmente para o calendário do cavalo crioulo.

Para Gilberto, essas provas funcionais estão valorizando o que há de melhor na raça. Ele explica que antes, nas exposições, o cavalo era avaliado apenas pela morfologia, ou seja, por seu aspecto exterior. A partir das provas para classificação funcional, o cavalo passou a ter seu desempenho avaliado quanto à submissão, capacidade de aprendizado, equilíbrio, velocidade, potência, coragem, aptidão para a lida com o gado e resistência, além da morfologia.

Cavalos são tratados apenas a pasto e água

Outra prova que serve para frisar as características da raça, é a Marcha Internacional de Resistência, realizada num percurso de 750 km, feita em 15 dias, com cavalos tratados apenas a pasto e água.

O criador Ronald Bertagnolle - um dos proprietários da Cabanha Butiá, muito premiada em Esteio também pelas criações de jersey e ovinos suffolk - pensa da mesma forma. Ele diz que seus cavalos podem perder em beleza, mas disputam as provas de eficiência com os melhores da raça. Sua coleção de vitórias não é pequena: freios de bronze, freios de prata e dois freios de ouro - com destaque para o de 1994, que teve uma inovação: o ginete que montou BT Butiá foi Marcelo Bertagnolle, filho de Ronald, mudando a tradição porque, normalmente são os peões - ou ginetes - que disputam as provas, não os proprietários. Marcelo é o exemplo de um conceito diferente, em que o proprietário participa da prova. Foi por isso que, montando Jaguar e Leopardo, já faturou o primeiro lugar em cinco rodeios, que lhe renderam cinco carros. Ronald destaca dois nomes que muito o ajudaram a orientar a criação: Gilberto Loureiro de Souza e Flávio Bastos Telechea (já falecido). Bastos Telechea - BT - é prefixo de destaque na raça. Basta ver a resenha dos ganhadores do Freio de Ouro. Das 16 provas realizadas, a metade foi vencida por cavalos BT.

A criação de cavalos tem sempre figuras lendárias. Podem ser homens, podem ser cavalos, podem ser os dois. O sufixo BT, da Cabanha Paineiras, dos sucessores de Flávio Bastos Telechea, teve também o grande cavalo da raça, que foi La Invernada Hornero, ou simplesmente Hornero, nome que os criadores pronunciam com um misto de devoção e admiração. Este animal morreu no ano passado, com 25 anos de idade.

Registro para pequenos criadores

Na montaria, o anuário da ABCCC, aponta como mestre dos mestres Wilson Charlat dos Santos, de 63 anos de idade. Ano passado, ele recebeu o prêmio Ginete do Ano, que destaca o brilho de alguns ginetes. É dele o 1o. Centro de Treinamento da Raça Crioula, localizado em Bagé, que abriga garanhões e éguas de criatórios famosos. Wilson foi o primeiro ganhador do Freio de Ouro, montando o cavalo Itaí Tumpambaé, em 1982. Ao todo, ganhou cinco Freios de Ouro. Ganhou mais dois de prata e três de bronze.

O atual presidente da ABCCC, José de Queiróz Marim Teixeira, cria cavalos crioulos há 16 anos. No anuário de ABCCC, ele destaca a importância da participação de todos, inclusive das famílias, na realização das provas. Afirma também que a abertura de registro para proprietários de pequenos rebanhos é um movimento que revitaliza e expande a raça, explicando que são "profissionais liberais e as pessoas das grandes cidades que estão se voltando para a natureza, para o campo e o cavalo representa muito bem essa volta. A estabilidade da moeda, os hotéis-fazendas, centros de treinamentos e clubes equestres facilitaram as coisas para aquele novo criador, que sempre desejou ter um cavalo crioulo mas que, muitas vezes, não tinha local para criá-lo. Hoje, além de poder ter seu cavalo, ele participa de competições, monta com a sua família e até torce por cavalos de sua propriedade, que estão sendo preparados para competir nas mais diversas modalidades de provas existentes".

Exemplo desse novo integrantes da ABCCC é o criador João Antônio Dumocel, de Santa Bárbara do Sul. Ele comprou um único cavalo - BT Inteiro do Junco - em 1992, ainda xucro. No ano passado, montado pelo ginete Laurindo Afonso, o animal de pelagem gateada sagrou-se campeão do Freio de Ouro - o terceiro de Laurino. Resultado: o cavalo foi vendido por R$ 110 mil.

A informação é de Ronald Bertagnolle: Butiá Haragano, em competição com cavalos de outras raças, sagrou-se campeão em competição da Associação Brasileira de Cavalos de Rédeas, como Potro do Futuro, surpreendendo os criadores paulistas. Nessa prova, predominam cavalos quarto-de-milha.

Fonte: MANCHETE RURAL (Rio de Janeiro/RJ), Ano XI, número 135, setembro de 1998, pág. 46-50

domingo, 5 de dezembro de 2021

Pedro Severiano Pessoa de Andrade



"Falleceu hoje, ás 9 1/2 horas da manhã, o nosso amigo major dr. Pedro Severiano Pessoa de Andrade, professor de Inglez da Escola Militar d'esta capital.

Contava 38 annos de idade.

Victimou-o uma tuberculose, tremenda enfermidade, que tem levado inexhoravelmente ao tumulo quasi toda a respeitaval família á que pertencia o desventurado moço.

Era formado em engenharia militar, e um cidadão distincto, de todos considerado.

Aos seus parentes, os nossos pezames.

- O corpo sáe amanhã, ás 8 1/2 horas do dia, da chacara denominada dos Telles, no Caminho do Meio.

A encommendação celebra-se ás 9 horas, na Cathedral.

Ás 8, ha carros na praça General Marques, á disposição dos amigos do morto."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 12 de Setembro de 1895, pág. 02, col. 03

Thomaz Augusto Vianna



"Falleceram na cidade do Rio Grande:

José de Castro Guimarães, cunhado do sr. A. R. Vizeu.

- A innocente Marietta, de 4 annos de idade, filha do nosso co-religionario Thadeu Pedro Johnson.

✤✤✤✤✤

No dia 6 falleceu na ilha das Enxadas, victima do beri-beri, o sr. José Ferreira Coelho, immediato do vapor Marte.

✤✤✤✤✤

No Rio falleceu ha dias, subitamente, nas officinas do Jornal do Commercio, o velho e estimado compositor Thomaz Augusto Vianna.

O velho trabalhador retirava-se do seu serviço quando foi accomettido pela syncope cardíaca, que o fulminou.

Contava 65 annos de idade e 40 de serviço no Jornal.

Era estimadissimo por todos.

Tinha familia e filhos moços."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 25 de Maio de 1894, pág. 02, col. 05
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