quinta-feira, 28 de maio de 2015

A Família Yates no Brasil, por Adelia Yates Porto da Silva

Reprodução do artigo da pesquisadora Adelia Yates Porto da Silva sobre a família Yates no Brasil. Publico aqui, pois a família Yates foi uma das famílias que vieram da Irlanda para a Colônia Dom Pedro II, que foi criada em 1851-1852 no território do atual município de Capão do Leão. 

                                       Os Yates no Brasil                   

Este é o resultado de uma pesquisa sobre a origem da família Yates no Rio Grande do Sul, a partir do pioneiro, Richard Lloyd Yates, um jovem inglês que veio para o Brasil em 1852. Ele viajou junto com os imigrantes irlandeses que embarcaram no porto de Liverpool no final de 1851 e atravessaram o oceano para vir formar a colônia Dom Pedro II, no Capão do Leão, antigo distrito de Pelotas, hoje município.
Deixando a Inglaterra, ele uniu seu destino aos imigrantes irlandeses e ao Brasil. Casou com Mary Monks, integrante da colônia. Alguns dos oito filhos desse casal também se uniram a integrantes de famílias de imigrantes irlandeses. Desse modo, nós, Yates, descendentes do inglês Richard Lloyd Yates, somos também um pouco irlandeses e fazemos parte de famílias que têm em sua genealogia sobrenomes como Stafford, Sinnott, Foster e Murphy. Nossa história está ligada pelo umbigo à Inglaterra e à Irlanda.
Esta pesquisa é dedicada a todos os Yates e, principalmente, à memória dos pioneiros que enfrentaram os mares e vieram ao sul do Brasil para escrever uma nova história de vida.

Um inglês entre irlandeses
Richard Lloyd Yates tinha 17 anos, no distante ano de 1851, na Inglaterra, quando seu destino mudou repentinamente. Jovem, destemido, de personalidade forte, não aceitou a imposição dos parentes, que desejavam para ele uma vida dedicada ao sacerdócio. Decidido a não se submeter a essa vontade, abandonou a casa da família e descobriu que havia, no porto de Liverpool, um veleiro partindo para o Brasil. Levava emigrantes irlandeses que iam tentar a vida numa terra nova, depois de amargar o horror da Grande Fome, que matou milhares de pessoas na Europa e motivou que muitos abandonassem o país.
O jovem inglês não hesitou: juntou-se ao grupo, sem dinheiro nem pertences, e lançou-se numa aventura no Novo Mundo – onde iria fixar-se para sempre, construir uma grande família e firmar-se como fazendeiro, reunindo bens e possuindo, no final da vida, uma propriedade de mais de 600 hectares de terra, com criação de gado e produção de manteiga.
A viagem foi longa: cerca de 50 dias no mar após o embarque em Liverpool, no dia 19 de dezembro de 1851. Ao fim desse tempo, Richard e seus companheiros irlandeses avistaram as primeiras paisagens da costa brasileira. Desembarcaram no porto de Rio Grande e foram logo transportados para Pelotas, onde assumiriam os lotes de terra a eles destinados pela Associação Auxiliadora da Colonização de Estrangeiros, no Capão do Leão.
Documentos existentes na Biblioteca Pública de Pelotas comprovam a hipótese de que o jovem inglês viajou repentinamente, sem preparação e sem recursos. No grande livro em que a Associação Auxiliadora registrava tudo o que era cedido aos colonos e os pagamentos realizados, consta que Richard Yates ressarciu com trabalho, durante alguns meses, o valor da passagem entre Liverpool e Rio Grande, emprestado por outros colonos - David Walsh e os irmãos William e James Bent.

O jovem Yates se casa com a irlandesa Mary
Entre os 300 irlandeses que se instalaram no Capão do Leão, havia uma família que se transportara inteira para o Brasil: pai, mãe e nove filhos de idades entre 20 anos e um ano e meio. O pai, Edward Monk, tinha 38 anos. A mãe, Catherine (ou Daisy, não se sabe ao certo), também 38 anos. A filha mais velha, Mary, tinha 20 anos. Os outros filhos eram Izabel, 18, William, 17, Patrick, 13, Katherine, 9, Daisy, 6, Edward, 5, Joanna, 3, e Anna, de um ano e meio.
O aventureiro Richard começou a namorar Mary, a primogênita dos Monk. Casaram-se no dia 15 de maio de 1858. Anglicano, ele precisou ser batizado na igreja católica, à qual pertencia a família irlandesa da noiva, o que aconteceu em 1855. Os registros são imprecisos, mas tudo leva a crer que o namoro ultrapassou os limites impostos pela sociedade da época, pois o primeiro filho, Eduardo, teria nascido em 27 de maio de 1858, poucos dias após o casamento, tendo sido batizado meses depois, em 11 de outubro do mesmo ano. Mas datas são escritas à mão nos registros e pode haver engano quanto a isso.

Uma fazenda no Fragata
Richard Lloyd Yates e Mary Monk Yates tiveram vida longa, muitos filhos e progresso financeiro. Quando ele morreu, em 28 de janeiro de 1908, possuía uma propriedade de 620 hectares – bem mais do que os cerca de 40 hectares que os colonos recebiam na chegada -, no 4º Distrito de Pelotas, localidade do Fragata. Seu inventário incluía 101 cabeças de gado de cria, três cavalos, uma mula, 60 ovelhas, um carretão velho, uma carreta velha, uma carrocinha de quatro rodas, diversos instrumentos agrícolas. A terra foi avaliada em 11. 500 contos de réis e os bens da propriedade, em 2.760 contos de réis. Havia, numa caderneta da Caixa Econômica, 1.600 contos de réis.
Todos os bens foram avaliados em 15.860 contos, divididos entre a esposa, Mary, que ficou com a metade, e os oito filhos: Eduardo, casado, Ricardo Yates Junior, casado, Maria, solteira, Catharina Yates Etchebest, casada, Anna Yates Foster, casada, Mathilde Yates Sinnott, casada, Eliza Yates Sinnott, casada, e Eumênia Yates. A fazenda foi vendida e seu valor repartidos entre os herdeiros.
Richard morreu em consequência dos ferimentos que recebeu quando a fazenda foi assaltada por um bando de salteadores. Naquele dia, seu filho mais velho, Eduardo, que morava na fazenda com a esposa, Anna Stafford, havia ido à cidade com empregados. Quando voltava, viu espalhados pela estrada papéis e pertences que reconheceu como sendo da família. Desconfiou de um ataque à fazenda e correu para casa, encontrando o pai muito machucado pelos bandidos, que tinham levado escravos e gado. Antes do ataque, os donos da casa tinham conseguido colocar a salvo as mulheres jovens e as crianças, que foram levadas por um escravo para se esconderem no mato, distante mais de uma légua. O velho Richard e a esposa, Mary, ficaram na fazenda para enfrentar os bandidos e ganhar tempo para a fuga delas e das crianças. Depois de muito agredidos, tiveram que contar onde estava o que os assaltantes queriam: um baú com moedas de ouro.

Histórias do pioneiro
Havia na fazenda, na época do assalto, duas crianças recém-nascidas: Catharina, a quinta filha de Eduardo e Anna, e Sissi, que era provavelmente filha de Mathilde Yates Sinnott, casada com Guilherme Sinnott. Sissi viria a ser a mãe de Hugo Poetsch, fundador das indústrias HP de conservas, em Pelotas.
Muitos anos depois da morte do pioneiro, algumas histórias sobre ele ainda eram contadas por seus descendentes, como Deolinda Stafford Yates, neta de Richard, filha número 10 de Eduardo e de Anna Stafford. Muito mais tarde, Francisco Yates dos Santos, sobrinho de Deolinda, lembra que, nas tardes de chuva, quando as crianças não podiam brincar na rua, ele e os irmãos iam ao quarto da tia, que chamavam “Vovó Tiche”, para ouvir essas histórias. Ela contava a história do assalto e dizia que quando pequena chegou a presenciar a habilidade do avô com pistolas. Ele era capaz de escrever suas iniciais com tiros numa parede.
Irene Loureiro Viana, bisneta do pioneiro Richard, filha de Catharina Yates Loureiro, lembra bem de sua avó Anna Stafford Yates e do modo como ela misturava palavras em inglês e português, numa confusão linguística que só os familiares entendiam. Quando Anna ficava zangada e queria falar mal de algum desafeto, dizia frases como “she is an ordinária!” Irene também conta de um parente Stafford, que só falava inglês e que, deprimido, sentava-se na escada externa da casa e pedia, aos brados: “Give me a candle! I want to die!” – “Me dê uma vela! Quero morrer!”
Richard nunca quis reatar relações com a família que deixara na Inglaterra. Deolinda contou aos sobrinhos que um parente inglês teria viajado a Pelotas para encontrar-se com ele e sondar se não sentia saudades e se não gostaria de voltar a ter contato com a família na Inglaterra. Sua resposta foi radical:  para ele, “estavam todos mortos”.

Os descendentes imediatos do pioneiro
No Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul existem documentos da família. Além do inventário de Richard Lloyd Yates, também está lá o inventário de Eduardo Lloyd Yates, o primogênito do casal Richard e Mary, falecido em 29 de junho de 1914, aos 56 anos. Consta nesse inventário que Eduardo era médico licenciado, morava na rua Gonçalves Chaves, em Pelotas, e foi sepultado no Cemitério Público da cidade. Ele havia casado em 28 de outubro de 1882 com Anna Murphy Stafford, na Igreja de Nossa Senhora da Consolação, hoje no município do Capão do Leão.
Eduardo morreu de tuberculose pulmonar, deixando a esposa, Anna Stafford Yates, e os filhos Ricardo Yates Netto, que tinha 32 anos na época, Anna Yates Gaiger, 30 anos, casada; Alfredo Yates, 27 anos, solteiro; Catharina, 24 anos, solteira; Eduardo; 21 anos, solteiro; Isabel, 18 anos, casada; Alberto, 16 anos, solteiro; Maria, 14; Deolinda, 12; João Thomaz, 10 e Patrício Luiz, 5 anos.
Irene Loureiro Vianna, neta de Eduardo, lembra que seu avô, que era médico homeopata, preparava pessoalmente os medicamentos, com a ajuda da filha Catharina, mãe dela. Com boa posição financeira, ele acabou perdendo todo seu dinheiro quando o Banco Pelotense entrou em crise e quebrou. Ele passou a manter a família com as homeopatias e aulas de línguas.
 A esposa de Eduardo, Anna, que nascera em 3 de março de 1864, morreu velhinha, aos 84 anos, em 13 de janeiro de 1948. Ela era filha de Patrick Stafford e Anna Murphy, irlandeses que vieram com o grupo de imigrantes. Desse casal, sabe-se pouca coisa. Nos registros da Associação Auxiliadora sobre os imigrantes, existentes na Biblioteca Pública de Pelotas, há referências a imigrantes com esses sobrenomes, como William, Michael, Thomaz e Nicholas Murphy, e John e Owen Stafford.

Antepassados em Shropshire, England
Boa parte dos dados aqui presentes se devem ao trabalho do pesquisador Leandro Betemps, que estudou a formação da colônia francesa em Pelotas, mas também reuniu dados sobre outros imigrantes do município. Ele teve acesso, por exemplo, à certidão de casamento  de Richard Lloyd Yates e Mary Monks, arquivada na arquidiocese de Pelotas.
Nesse documento constam os nomes dos pais ingleses do pioneiro Richard, que eram George Yates e Ann Lloyd Yates. Esses nomes não eram conhecidos pela família, possivelmente porque Richard não devia falar sobre eles, já que rompera relações com os familiares ingleses. Segundo Betemps, Richard aparece em alguns registros como natural de London. Em outros, consta que era originário da província de Salope – nome latino antigo do condado que hoje se chama Shropshire. 
A certidão de casamento no arquivo da igreja em Pelotas, encontrada pelo pesquisador Leandro Betemps, revelou um dado até então desconhecido para os descendentes de Richard Lloyd Yates. Nela  constam os nomes dos pais dele – com os quais teria se desentendido e decidido deixar o país – e o lugar de nascimento. De acordo com essa certidão, Richard era nascido na província de Salope – nome latino antigo da região que hoje se chama Shropshire. A partir dessas informações, foi possível localizar dados sobre a parte da família que permanecera na Inglaterra.
Os pais de Richard seriam George Yates, farmer, nascido em 1787, em Didellbury, Shropshire, e Ann Lloyd Yates, nascida em 1808, em Radnorshire, no País de Gales. O casal teria tido quatro filhos: o primogênito Richard, Maria, William e Alfred. Nada se sabe sobre Maria. William teria se casado com Eliza (não se conhece o sobrenome dela) e o casal teria tido uma filha, de nome Annie Elisabeth Yates, nascida em 1863, em Worcestershire. William trabalhava como builder e carter , ou pedreiro e condutor de carruagens.

Os parentes americanos
Em 2013 recebemos a notícia de que o último filho de George Yates, chamado Alfred, havia emigrado para os Estados Unidos em 1871. Lá, tornou-se um próspero e influente comerciante de tijolos, prestigiado pela indústria local, que muitas vezes divulgou elogios à atividade de Ernest, que também registrou várias patentes de produtos.
Hoje, os descendentes de Alfred, principalmente seu trineto Alan Yates, também procuram conhecer a história da família. Ele vive em Olean, estado de Nova Iorque, e guarda muitos documentos sobre a importância da contribuição profissional do trisavô. Alan, que possivelmente é um primo distante dos Yates do Brasil, tem dois irmãos – Terrance e Tammy. É casado com Lara Yates e tem seis filhos. Ele incluiu dados sobre o trisavô Alfred Yates – como a foto da sepultura da família – na página Família Yates, no Facebook.
Alan contou que, três anos depois da chegada de Alfred Yates aos Estados Unidos, vieram também sua esposa, Jessie, e dois filhos, Amy Gertrude Yates e Ernest Stuart Yates - que é o bisavô de Alan. Seu avô é Sydney Ward Yates e seu pai é Burton Lee Yates. 





9 comentários:

Unknown disse...

Elida yates Porto da Silva,sou bisneta de Richard Yates.Gostaria de comumunicar-me com voce.
Isabel Queiroz (Yates Stafford )

Adelia disse...



Olá, Joaquim! Foi com grande prazer que vi o texto sobre os Yates publicado em seu blog! Muito obrigada, adorei mesmo. Continuo tentando encontrar mais coisas sobre os Yates e sobre as duas colônias irlandesas de Pelotas, mas esse trabalho é muito vagaroso. Achei umas cartas de administradores das colônias, localizadas no Arquivo Histórico do RS. Logo vou tentar publicá-las. Um abraço!

Adelia disse...



Olá, Maria Isabel. Podemos conversar por email - dede.porto@gmail.com Aguardo seu contato. Abraço

Joaquim Dias disse...

Muito grato pela visita e comentários! Sinta-se sempre á vontade se quiser colaborar. O artigo é ótimo!

Unknown disse...

Olá Joaquim!
Me chamo Jullia Etchebeste de Mattos.
Vendo alguns documentos de família semana passada e conversando com minha mãe sobre meus antepassados descobri que o meu bisavô Theodorico Etchebeste era filho de Catharina Lloyd Yates e Martin Etchebeste.
Por uma incrível coisidencia fiz uma pesquisa rápida agora no Google sobre a família Etchebeste. E sem querer passei o dedo por cima do seu documentário e ele abriu.
Curiosa comecei a ler e vi o nome da minha tataravó.
Fiquei encantada com a história.
Se caso vc tiver alguma história ou documento que fale sobre Catharia, peço para me passar nem que seja por e-mail.
Fico fascinada com essas histórias.
Apenas tenho a certidão de casamento do meu bisavô que tem o nome dela.
Agradeço de já pela sua postagem.
Incrível!
Abraços!

Joaquim Dias disse...

Sra. Julia Etchebeste, peço que me envie um email (o meu está no alto da página). Tenho um contato que pode lhe ajudar.

Anônimo disse...

Parabéns a família Lloyd Yates e é maravilhoso não deixar no esquecimento a história da presença britânica (irlandeses e ingleses) no Rio Grande do Sul que foi registrada em Pelotas no ano de 1852. Existem datas referente ao período da Revolução Farroupilha (1835-1845) e juntamente ao ano de 1852, quando chegaram estes imigrantes britânicos à Pelotas. Meu sobrenome Wother é inglês, provavelmente vindo de Shropshire ou Yorkshire e conforme meu pai falava a minha família britânica teria imigrada para Pelotas no período da Revolução dos Farrapos. Estou montando o quebra cabeça da história de meus antepassados ingleses desde do momento que chegaram ao RS no século XIX, esperando ter sucesso. Meu bisavô Osório Wother, vovô Thomaz (Willy) Wother foram empreendedores em Pelotas na primeira metade do século XX em Pelotas. Meu bisavõ Osório Wother teve até o ano de 1916 uma casa comercial na Avenida 20 de Setembro de Pelotas e Vovô Thomaz tinha uma fazendinha no Passo do Salso (Pelotas), sendo produtor rural, possuindo até Banca de comercialização de carnes de galinhas e porcos no Mercado Público de Pelotas entre os anos de 1920 e 1950. Lembro que na década de 50 (século XX)vovô Thomaz se reunia com dois amigos filhos de britânicos de sobrenomes Sinnott e Ness, porém na época eu era um menino e não atinei que eles tinham a mesma ascendência Anglo-saxônica, sendo este o motivo de serem amigos. Encerrando gostaria de dizer que os britânicos contribuiram muito com o Brasi, tanto que o próprio D. Pedro I pediu a ajuda do britânico Lord Cochrane em 1823para para lutar contra os poderosos portugueses, atuação que britânica que fez de fato a nossa independência brasileira. Só como lembrete o Lord Cochrane é na nossa história o primeiro Almirante brasileiro, pois emprestou seus navios para enfrentarmos a esquadra marítima portuguesa. Esta verdade esta noslivros de história e na Internet. Nós brasileiros descendentes de britânicos podemos nos orgulhar deste fato histórico. Abraço

Anônimo disse...

Meu nome é Fatima filha de Geraldo yates, eu queria saber se tem como eu saber sobre minha família. Obrigada

Joaquim Dias disse...

Sra. Fátima, muito grato pela visita! Sugiro que entre em contato com a autora deste artigo. Sei que existe o perfil dela no facebook.

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