sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A Serpente das Pedras Brancas & A Marimbondina


"Reminiscencias de Porto Alegre

- Passo agora a dar noticia de dous acontecimentos de que muita gente se ha de admirar por ser cousa pouco sabida.

Dizia-se e affirmava-se mesmo sem ser em 1o. de abril ou sabbado da Alleluia, que debaixo das Pedras Brancas existia de longa data uma grande serpente, que quando se remechia causava vendavaes e tempestades, e que quando em 1811 mais ou menos em uma manhã houve um pequeno tremor de terra que quebrou muitos frascos e garrafas aos taverneiros, foi porque a tal serpente se pôde virar para o outro lado, e finalmente que quando ella se poder vêr livre das grandes pedras que a opprimem, a cidade será arrazada, e será então o fim do mundo.

O segundo acontecimento é que quando em 1831 se installou aqui na rua do Rosario entre a da Ponte e a de S. Jeronymo, nas casas de Graciano Leopoldino, a 1a. Liga Maçonica com o titulo de Filantropia e Liberdade, a que o povo chamou - Marimbondina, os socios marimbondos que a ella concorrião pretextavão o exercicio da caridade e da beneficencia; era porém engano manifesto, porquanto o que elles ião ali fazer era fallar com o diabo; mas essa honra só cabia ao coronel Bento Gonçalves e Victorino José Ribeiro, unicos que tinhão o gráo de Rosa Cruz, pois os outros em taes conferencias só fazião o circulo com costas para o centro, virando as frentes para dentro sómente quando já o diabo tinha desapparecido, deixando grande fortum que os fazia expirrar muito; e esta é que era a pura verdade.

Quem não quizer acreditar nas duas noticias supra, consulte as velhas d'aquelle tempo, e afianço que não só negarão, mas até accrescentarão com pés de verdade outras histórias como as do Boitatá, Lobishomem, Pretinho Japonez, Sacy-cereré, Mani-oca, e outras que não vem referidas no Novo Methodo.

(...)"

Fonte: A FEDERAÇÃO (RS), 28 de Janeiro de 1918, pág. 02, col. 06


quinta-feira, 15 de novembro de 2018

A Imigração - do século XIX ao século XXI


"Os fluxos migratórios existem como prática social dos grupos humanos há séculos: as invasões bárbaras, a colonização das Américas ou a diáspora africana e judaica podem ser consideradas longos processos migratórios. Mas, a partir de meados do século XIX, novos e maciços fluxos de deslocamento ocorreram, diferentemente dos antigos, com a reconfiguração do mercado mundial e das relações internacionais resultantes da Revolução Industrial, do fim dos antigos impérios coloniais, da formação dos Estados-nação e do liberalismo econômico. Com novos mercados, intensificação do comércio internacional, melhoria nos transportes e aumento populacional generalizado, tornou-se viável a oferta de mão de obra em um plano globalizado.

A grande transformação capitalista ao longo do século XIX produziu um excedente populacional nas áreas rurais que não foi completamente absorvido pelos países em processo de industrialização. Para muitos trabalhadores, principalmente na Ásia e na Europa, emigrar tornou-se uma necessidade, a alternativa para ascender econômica e socialmente ou resistir ao processo de proletarização. No mesmo período, diversos países em crescimento econômico. sobretudo das Américas, podiam e precisavam receber contingentes de mão de obra imigrante - para crescer e diversificar a economia e também para ter uma reserva de pessoal, possibilitando o controle dos salários.

As migrações internacionais tiveram várias fases. A primeira, de 1820 a 1870, aproximadamente, foi quando alguns fluxos se estabeleceram dentro da própria Europa, ou em direção à América, como a emigração de irlandeses para os Estados Unidos, Inglaterra e Escócia ou dos italianos para a França.

A segunda fase, de 1870 a 1930 (com suspensão durante a Primeira Guerra Mundial), foi quando ocorreram as chamadas migrações internacionais de massa. Milhões de europeus emigraram dentro da própria Europa ou se dirigiram para os países americanos, principalmente Estados Unidos, Canadá, Argentina, Brasil, Cuba e Uruguai, que vivenciavam uma fase intensa de crescimento econômico. Calcula-se que, nesse período, nos Estados Unidos entraram quase 30 milhões de europeus (sobretudo alemães, irlandeses, italianos, poloneses e judeus da Rússia e do Império Austro-Húngaro); mais de 6 milhões na Argentina (italianos e espanhóis); perto de 5 milhões no Canadá (quase exclusivamente irlandeses e britânicos) e mais de 4 milhões no Brasil (principalmente italianos, portugueses e espanhóis). Globalmente, mais de 50 milhões saíram da Europa, uma verdadeira revolução demográfica. Muitas regiões se despovoaram: na Irlanda, Alemanha e Itália, ou entre os judeus da Europa oriental, pelo menos uma a cada três famílias experimentou a emigração, temporária ou definitiva. Os asiáticos (chineses, indianos e japoneses) também partiram para os países americanos, mas em menor escala.

O terceiro momento ocorreu após a crise de 1929 e seguiu até o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), quando a emigração internacional estagnou. Era um período de desemprego generalizado e formação de políticas sociais de Estado (saúde pública, aposentadoria, regulamentação do trabalho), no qual prevaleceram os deslocamentos dentro de cada país, em parte ajudados pelas políticas que barravam a entrada de estrangeiros. As migrações internacionais limitavam-se a indivíduos perseguidos pelas ditaduras de direita europeias.

Entre 1945 e 1991 (fim da União Soviética), os fluxos migratórios internacionais cresceram novamente. Dessa vez, além dos deslocamentos tradicionais, aumentaram consideravelmente as emigrações dos novos países africanos e asiáticos recém-descolonizados. Eles se dirigiam em geral aos ex-países colonizadores e parcialmente para os Estados Unidos. Assim, formaram-se as comunidades de argelinos, marroquinos e senegaleses nas cidades francesas; de indianos, cingaleses e quenianos nas metrópoles inglesas; ou, ainda, de indonésios nos Países Baixos. Também intenso foi o estabelecimento de oriundos do México, América Central e Caribe nos EUA, modificando a conformação étnica de seus bairros populares, até à década de 1950 formados sobretudo por imigrantes ou descendentes de europeus.

Após 1991, com o esfacelamento do mundo socialista e a globalização do capitalismo, as migrações internacionais se intensificaram: os antigos fluxos permaneceram, mas tradicionais países de emigração (como Itália, Espanha e Irlanda) se transformaram em receptores de imigrantes e surgiram novos fluxos entre África, Ásia e Europa. Após 70 anos de estagnação, milhares de trabalhadores da Europa Oriental se dirigiram aos países mais ricos da porção ocidental do continente. Os EUA continuaram recebendo o maior contingente de imigrantes, com aumento considerável de asiáticos e latino-americanos.

Em geral, cerca da metade dos imigrantes voltou à terra natal ou partiu para outro país. A volta não é necessariamente um sintoma de fracasso: pode-se retornar, bem-sucedido, para reconstruir a vida na terra de origem. Mas muitas vezes a imigração definitiva significa a impossibilidade de voltar. Entretanto, não é exato dizer que todo imigrante almejava 'fazer a América', ou seja, enriquecer para poder voltar.

Os imigrantes levaram diversidade cultural aos países onde se estabeleceram. Mas esse processo foi conflituoso, sobretudo ao longo da primeira metade do século XX, quando cada Estado-nação tentou definir com mais força quais eram os principais elementos culturais de sua identidade, assim como nos momentos em que se intensificava a disputa com a mão de obra nacional pela inserção no mercado de trabalho e o acesso às políticas de assistência pública.

Enquanto em alguns países o multiculturalismo e a tolerância à diversidade étnica fizeram grandes progressos, em outros, muito menos. Nas últimas décadas, a crise do Estado de bem-estar social, associada às crises da economia globalizada, provocou o aumento da intolerância aos estrangeiros nos países europeus e nos Estados Unidos."

Fonte: BIONDI, Luigi. Imigrantes. In: BETING, Graziela. Coleção História de A a Z: 4: Idade Contemporânea. Rio de Janeiro, 2009, pág. 12-13.


quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Racismo no Carnaval de Pelotas


"Clube de Pelotas cancela bailes de carnaval para evitar entrada de negros

Porto Alegre - Com duas extensas notas oficiais em menos de 24 horas, a diretoria do Clube Comercial de Pelotas tentou justificar a posição que adotou depois de denunciada a intenção de segregacionismo racial nos bailes de carnaval a serem promovidos em sua sede pela Prefeitura Municipal: para não permitir a entrada de negros em seus salões, cancelou todos os acordos já assinado.

Ante a denúncia do vereador Francisco de Paula Morais (MDB) de que as entidades negras estavam sendo sabotadas na promoção, o clube cancelou os bailes em duas notas, uma com sete e outra com 11 itens, alguns contraditórios, como o que afirma que 'jamais se cogitou de uma suposta realização do chamado baile municipal no Clube Comercial de Pelotas'.

Hipocrisia

A verdade é que entre os 800 associados do centenário clube pelotense não existe nenhum que não seja branco e que entre as 2 mil pessoas que, todos os anos, lotam os salões, no carnaval, os pretos só são vistos trabalhando como garçons ou tocando nas orquestras. O vereador Arlon Louzada (MDB) afirma que é difícil provar o que todo mundo está cansado de saber, que existe segregação, ainda que não ostensiva, não só no Clube Comercial de Pelotas como na maioria das sociedades do Rio Grande do Sul: 'se não há discriminação, por que suspenderam o baile?'

Ele lembra o fato ocorrido no vizinho Município de Piratini, mês passado, quando duas mulatas foram barradas na porta do Clube de Tradições Gaúchas por um porteiro que esbravejava: 'Negro só entra aqui para tocar gaita e lavar os copos'. Para ele, um absurdo, determinante da subcultura de um povo, que se mantém porque o Governo esquece de ver o problema racial em todos os níveis:

- Uma moça preta, em Pelotas, tem dificuldades até para conseguir emprego de balconista - diz ele - é uma raça marginalizada da vida econômica da região, que como um todo paira muito abaixo do nível de poder aquisitivo da população branca."

Fonte: JORNAL DO BRASIL (RJ), 22 de Fevereiro de 1976, pág. 36

terça-feira, 13 de novembro de 2018

O Brasil na Primeira Guerra Mundial


Excelente vídeo do também excelente canal Leitura ObrigaHISTÓRIA no YouTube. Vale a pena conferir e se inscrever. Um dos melhores e mais explicativos canais de vídeos em língua portuguesa na Internet sobre História.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Associação dos Fruticultores do Extremo Sul


"A fundação da Associação dos Fruticultores

PELOTAS, 20 - Em concorrida reunião presidida pelo dr. Ataliba Paz, os fruticultores daqui fundaram a Associação dos Fruticultores do Extremo Sul, elegendo os seguintes directores: Ataliba Paz, presidente; Alexandre Gastaud, primeiro vice-presidente; Ambrósio Perret, segundo; Geraldo Vieira, secretário; dr. Waldemar Lages, adjunto; Carlos Giacobini, thesoureiro e Tobias Sicca, adjunto.

Nessa reunião o acadêmico Geraldo Vieira leu excelente trabalho sobre o desenvolvimento da fruticultura e o seu futuro neste Estado.

Na mesma reunião foram approvados os estatutos da Associação."

Fonte: O ESTADO DO RIO GRANDE (RS), 01 de Outubro de 1930, pág. 08, col. 05

domingo, 11 de novembro de 2018

O Lobisomem da Várzea


"Lê-se no Diario Popular, de Pelotas, do dia 13 do corrente:

<<Foi preso ante-hontem, na Varzea, ás 8 horas da noite, um individuo de côr parda, na occasião em que, rodeado de muitos typos de sua laia, exhibia provas de magia, feitiçaria, etc.

Averiguada a sua identidade, chegou-se ao conhecimento de que era elle desertor do 3o. regimento de artilharia de campanha e que era um dos celebres lobishomem que tão intrigados trouxeram por alguns dias os moradores d'aquellas paragens.

O lobishomem foi recolhido ao xadrez do quartel do 2o. de engenharia e será enviado ao corpo a que pertence.>>"

Fonte: A FEDERAÇÃO (RS), 19 de Janeiro de 1894, pág. 02, col. 03

sábado, 10 de novembro de 2018

Fábrica de Laticínios Ribas 1897


"No paquete Itaipava, chegaram a Pelotas os profissionaes italianos Zocco Carmelo e Cicazzo Vincenzo, que vieram da Italia especialmente contractados pelo sr. Antonio Ribas para dirigir a fabrica de productos lacteocíneos que este cavalheiro vae estabelecer na sua estancia do Pavão.

O estabelecimento do sr. Ribas será dotado de todos os aperfeiçoamentos modernos e que as habilitações dos industriaes que o vão dirigir são garantia segura de bom exito para o mesmo."

Fonte: MINAS GERAIS (MG), 03 de Outubro de 1897, pág. 08, col. 01
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