quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Frigorífico Extremo Sul


"No dia 28 de julho de 1975, fundava-se em Pelotas mais uma empresa comercial, com significativo peso na economia de Pelotas.

Com o passar dos anos, com uma orientação empresarial das mais modernas e agressivas em termos de marketing, era natural que ela crescesse e fosse abocanhando fatias significativas do mercado.

Estamos falando do Frigorífico Extremo Sul, que sob orientação de seu fundador e presidente Sr. Lauro Ribeiro, assessorado pelos seus diretores Dr. Érico da Silva Ribeiro, Alencar de Mello Proença e Agostinho Elbio da Silveira souberam dinamizar a empresa a tal ponto que na edição da Revista Visão de 1979 figurou entre as maiores empresas do Brasil recebendo inclusive um diploma por ocupar destacada posição.

O Frigorífico Extremo Sul é uma empresa genuinamente gaúcha e uma das pioneiras na pesquisa, produção e lançamento de carne texturizada.

Com um número de funcionários de 370 e abates diários de 450 animais, testemunha-se o porte e sua contribuição para a economia da região.

Atualmente o frigorífico exporta carne congelada para países como França, Holanda, Suíça, Alemanha, Itália, Inglaterra, Beirute, Hong Kong, Jordânia, Espanha, Afeganistão e muitos outros.

Como se vê, o Frigorífico Extremo Sul é de importância vital para a economia de Pelotas, do estado e do Brasil."

Fonte: ETURPEL. Enfoke: guia turístico de Pelotas. Pelotas/RS: Eturpel/Editora Aimará, 1980, p. 39.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Barão do Jarau

Charqueada do Barão de Jarau

Por Fernando Osório

"JOAQUIM JOSÉ DE ASSUMPÇÃO - Pelotense, filho do Comendador Joaquim José de Assumpção e D. Maria Augusta de Assumpção. Dotado de um espírito ativo, inteligentíssimo, laborioso e honrado. 

Possuindo a maior fortuna do Rio Grande do Sul, deixou seu nome ligado a todos os estabelecimentos pios, notadamente à Santa Casa de Misericórdia, cuja capela se construiu em sua provedoria, e às mais prósperas emprêsas de melhoramentos de sua terra, tornando-se assim um benemérito e como tal querido e respeitado. Foi o primeiro presidente da Associação Comercial de Pelotas, instalada a 7 de setembro de 1873, cargo em que se conservou durante alguns anos; presidente da Companhia de Gás, da Companhia de Seguros Pelotense, etc. 

Principiou sua carreira, ainda muito moço, como industrial; e a charqueada modêlo que fundou em Pelotas, deu-lhe os fundamentos da fortuna que legou a seus filhos, Dr. Joaquim Augusto de Assumpção e D. Ernestina de Assumpção Osorio, viúva do Dr. Fernando Luis Osorio. 

No Império militou nas fileiras do Partido Conservador e, proclamada a República, bastante patriota e retirado embora da atividade política, teve sempre as maiores simpatias para o Govêrno do Rio Grande e para o novo regime. Cavalheiro de esmerada educação e de caráter elevado, conquistou o respeito da sociedade pelotense. 'O País', do Rio de Janeiro, registrando o seu sentido falecimento, recordou que o Barão de Jarau foi o banqueiro do Govêrno da ex-Província do Rio Grande, e mais tarde, após a República, teve ocasião de prestar muitos bons serviços ao Estado. Era um extremo modesto e honrado, qualidades que o recomendavam à estima e respeito de todos. Finou-se a 12 de abril de 1898 na idade de 68 anos legando avultada soma aos pobres e ao seu entêrro concorreu grande parte da população de Pelotas."

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Barão de Itapitocahy


Por Fernando Osório

"Dr. Miguel Rodrigues Barcellos - O povo de Pelotas deu a esse benemérito conterrâneo o nome de Pai dos Pobres. Filho do Comendador Boaventura Rodrigues Barcellos e de D. Silvana Eulalia de Azevedo Barcellos, nasceu em 1827.

Em 1848 formou-se em Medicina na Faculdade do Rio de Janeiro, vindo em seguida para a cidade de Pelotas, onde sempre viveu. Aqui exerceu o cargo de médico da Santa Casa de Misericórdia, desde a fundação desse pio estabelecimento até a sua morte. O que foi o Dr. Miguel Barcellos como médico é difícil dizer: de um desprendimento e de uma caridade fora do comum, atendendo com igual solicitude ao rico e ao pobre, tornou-se em pouco tempo querido de todos.

Membro de uma família que ocupou saliente papel na política da Província, o Dr. Barcellos envolveu-se também nas lutas partidárias, sendo, pelo seu grande prestígio e extraordinária popularidade, uma das maiores influências do Partido Conservador, que por vezes lhe confiou cargos de eleição.

Os lutuosos acontecimentos de 6 de agosto de 1878, em Pelotas, por ocasião de se proceder a uma eleição, produziram a maior excitação de ânimos, sendo o Dr. Barcellos, como chefe do Partido Conservador, acusado pelos seus adversários de mandante do atentado. Preso e submetido a processo, foi despronunciado por falta de provas. A sua volta do paço da Câmara Municipal, onde estivera detido, para a sua casa foi uma verdadeira marcha triunfal, havendo a cidade de Pelotas raras vezes assistido tão imponente e entusiástica manifestação.

Foi depois nomeado Vice-Presidente da Província, cargo que exerceu de 20 de setembro de 1885 a 8 de maio de 1886. O governo imperial galardoou os seus serviços, dando-lhe o título de Barão de Itapitocahy, por decreto de 17 de setembro de 1888. Era Cavaleiro da Águia Vermelha, da Alemanha; da Coroa, da Itália; Comendador da Ordem de Cristo e da de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, de Portugal. Possuía diversas medalhas e um sem número de diplomas de sociedades de caridade, abolicionistas e outras. 

Faleceu em 13 de fevereiro de 1896. Pelotas perpetuou-lhe a fama, no bronze de uma herma, inaugurada à Praça da República, em 24 de maio de 1914, produzindo, nesse ato, entre aclamações do povo, eloquente oração um orador de raça, o eminente médico pelotense Dr. Balbino Mascarenhas."

domingo, 26 de novembro de 2017

Histórias Curiosas LXI

Cidadezinha gaúcha no Vale do Rio Pardo, muito tranquila, pouco menos de 10 mil habitantes, foi o cenário de um curiosa história que chegou até nós por meio de um colaborador do blog. Aliás, um acontecido que prova a velha máxima de que "quem vê cara, não vê coração". Ou quem sabe,um registro do infeliz estado de coisas no País, em que a segurança pública provoca um sentimento de temor e desconfiança cada vez mais presente na população.  Vamos ao relato.

Logo pela manhã, na rua principal da cidade, estaciona um carro preto e desce do veículo um sujeito com barba grisalha, um pouco gordo, calçando jeans e vestindo camisa de botão. Completamente desconhecido na cidade, o homem se dirige a um bar ali perto e pede a informação de uma rua. Muitos clientes do comércio olham o sujeito de alto a baixo, tentando compreender quem era e o que fazia, afinal era um estranho na comunidade. Logo depois que o sujeito saiu com a informação, alguns que ali estavam trocam palavras entre si, salientando a atitude aparentemente suspeita do forasteiro. Perguntam-se, ainda, se o sujeito estava de passagem ou procurava algo. O vendeiro apenas informa que o homem de barba grisalha indagou como chegar a uma rua que ficava a três quarteirões dali, o que foi lhe informado sem problema. 

Mais adiante, numa pequena agência do Sicredi, o homem de barba grisalha é visto novamente dirigindo-se a um dos caixas eletrônicos do banco. Uma pequena fila de aposentados que estava li também nota o desconhecido, mas não toma nenhum julgamento prévio, apenas uma natural curiosidade. Mais gente percebe os movimentos do sujeito pela cidade. Uns comentam com os outros e logo o tal homem já é o assunto principal das rodas de conversa.

Já é meio-dia e na rádio comunitária local, momento em que costumeiramente vai ar um programa de variedades com noticiário, o locutor aborda a presença do desconhecido na cidade, sem ser direto, mas lembrando das recentes ocasiões de assaltos a banco na região e nas cidades do Rio Grande do Sul. O locutor ainda apimenta os boatos dramaticamente, indagando no programa onde andava a Brigada Militar que pouco se via nas ruas do município. O fato é que a tal rádio era a principal fonte de informação da cidadezinha. Muitos ouviram sobre o assunto e não deram importância, mas tantos outros ficaram desconfiados e saíram a replicá-lo. Rapidamente, a história sobre o forasteiro se multiplica. No início da tarde, a diretora da principal escola pública da cidade já considera seriamente liberar as crianças mais cedo das aulas, temendo o tal homem. Mães em pânico já ouvem conversas mais afoitas que afirmam que o sujeito é pedófilo ou estuprador. Dois vereadores da cidade procuram o prefeito e pedem providências. Na igrejinha do lugar, o clube de senhoras interrompe os trabalhos filantrópicos e são "resgatadas" pelos maridos apressadamente.  Mais boataria. A tarde se esvai.

Cinco horas da tarde e uma comissão de políticos e moradores vai até o acanhado posto da Brigada Militar pedindo averiguações e providências. Os relatos são comoventes. Alguns ainda acrescentam que o tal homem se parece com um bandido que participava de assaltos a banco na região. Como? Nem eles mesmos sabiam dizer, mas que assim afirmavam, afirmavam com veemência.

Dois brigadianos saem em busca do sujeito na única viatura do posto. Após muitas perguntas, descobrem que o homem estava morando há poucos dias numa ruazinha sem saída, próximo a um dos limites da cidade. Chegam no local e o mistério é resolvido.

O homem tinha se mudado realmente há poucos dias para a cidade. Estava finalizando a adaptação ao novo local, com coisas ainda a resolver e com a família ainda por chegar. Tudo muito claro e límpido, inclusive com sua identidade confirmada pelos brigadianos. Não passava tudo de uma grande confusão.

A propósito, o tal homem tinha vindo para a cidade em razão do trabalho, por isso não era conhecido de ninguém. Ah... uma última coisa: era o novo delegado da Polícia Civil do município!

sábado, 25 de novembro de 2017

O curioso caso da Guerra dos Gafanhotos


No verão de 1934, entre os meses de janeiro e fevereiro, Capão do Leão vivenciou uma insólita guerra. Ou quase guerra, vamos assim dizer. Porém, a mobilização que ocorreu  teve ares de uma autêntica mobilização "patriótica". Quem eram os "inimigos"? Castelhanos? Invasores estrangeiros? Maragatos? Ximangos? Não. Os "inimigos" eram os moradores do antigo 4o. distrito de Canguçu, nada mais nada menos, que o atual município de Cerrito. Mas o que teria precipitado porém essas rusgas entre leonenses e cerritenses?

Reconstruo este curioso caso tendo por base notícias de jornais da época, que aliás trataram os acontecimentos de forma bastante jocosa, embora até certo ponto o acirramento de ânimos tenha sido verdadeiro. O fato foi veiculado tanto em jornais de Pelotas e de Porto Alegre, bem como foi repercutido em gazetas de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Vamos aos fatos.

No verão de 1934, toda a região do quarto distrito de Canguçu (Cerrito) e o distrito pelotense de Capão do Leão sofreram com a praga dos gafanhotos que assolou muitas plantações. Lavradores de um lado e do outro procuraram tomar providências contra os vorazes insetos. Contudo, o esforço de pôr fim ao problema degenerou em desentendimentos entre as duas localidades. Os agricultores de Cerrito espantavam os gafanhotos para o Capão do Leão, e os daqui devolviam os bichos de volta para terras cerritenses. Ninguém pense que as animosidades ficaram em acusações e xingamentos. Gente de um lado e de outro entraram a se armar com garruchas, bacamartes e espingardas, alem de facões e garfos de feno. Tanto de um lado quanto de outro, só estava-se esperando o próximo enxotamento de gafanhotos para se ter o estopim do conflito. E a pendenga repercutiu até mesmo longe da zona limítrofe entre os dois distritos. Na vila do Capão do Leão, um grupo de moços pôs-se a ajuntar pessoal para auxilio de seus confrades, e no Cerrito parentes dos envolvidos arregimenttaram um corpo de recrutas nos arredores. A briga iria ser feia!

Entretanto, tanto a polícia de Canguçu, quanto a polícia do Capão do Leão, mais os reforços do 4o. Batalhão da Brigada Militar de Pelotas, foram para a divisa entre os dois distritos já devidamente scientificados do grave conflicto e, na tarde de 09 de fevereiro, evitaram o singular arranca-rabo. A presença das forças policiais intimidou os contendores, ao menos provisoriamente. De fato, o verão passou e os dois "exércitos" não chegaram às vias de fato. Não sem antes, ouvirem-se ainda no mês de fevereiro daquele ano, tiros e estampidos no ar, tanto de um lado quanto outro, com cada rincão querendo demonstrar seu espírito bravo e aguerrido ao adversário.

Baronesa da Conceição


Da "Opinião Pública"

"Verdadeiro anjo do lar, foi, durante a vida Maria A. Borges da Conceição, modêlo das espôsas e exemplo das mães. Veladamente, com o recato da verdadeira delicadeza, foi a providência de grande número de famílias necessitadas, às quais fazia chegar recursos que lhe minoravam as agruras da necessidade. De educação primorosa, bondosa em extremo, apreciados, devendo-se à sua iniciativa a criação de várias associações, que muito concorreram para o desenvolvimento das Belas-Artes em Pelotas. Como protetora desvelada de todos os artistas que recorriam ao seu gentilíssimo acolhimento, foi ela, por assim dizer, a providência da maior parte dos que aqui vieram, alguns perseguidos da sorte. Levando uma palavra de confôrto e de esperança a todos que sofriam, e socorros àqueles que os necessitavam, tornou-se a mãe da pobreza, que a acolhia com inequívocos sinais de gratidão. Magnânima criatura que a fatalidade arrebatou do número dos vivos a 8 de maio de 1897!"

terça-feira, 21 de novembro de 2017

A Bruxa da Ilha


"Vivia em Florianópolis uma mulher muito bonita. Em toda a ilha de Santa Catarina não havia mulher mais bela. Dona de poderes mágicos e cheia de orgulho, olhava-se no espelho todas as manhãs.

Aquele era um objeto muito especial, que a acompanhava desde criança; era mais que um espelho, era amigo e conselheiro. E tinha mais poder que um amigo, pois era um espelho mágico.

A bela Lucrécia perguntava ao amigo, todas as manhãs, se existia na ilha mulher mais linda do que ela. O espelho respondia que não, e ela ficava feliz. Um dia, porém, a resposta foi diferente:

'O que você ousou dizer?!', perguntou Lucrécia. Ela estava uma fera.

'A verdade', respondeu o espelho.

'Como? Há uma mulher mais bonita do que eu?"

'Infelizmente, sim', disse o espelho.

'E quem é?'

'Cláudia, filha do dono da escola da Joaquina', foi a resposta.

'O quê! Uma pirralha!'

'Ela era pirralha, hoje é uma moça, e muito bonita!', disse o espelho.

'Já chega! Quero conhecê-la', decidiu Lucrécia.

'Acho que está pegando onda na praia, não sei se vai dar para ver', explicou o espelho.

'Não quero saber. Vire-se!', ordenou Lucrécia.

'Veja! Ela está saindo do mar com a prancha...'

'Mas que sem-vergonha! Como ousa me destronar?!'

'Calma, Lucrécia, ela é uma garota; você já teve muitos anos de reinado absoluto.'

'E continuarei a ter! Como se chama mesmo essa metida?'

'Cláudia. É uma boa garota, tem quinze anos.'

Enquanto o espelho falava, Lucrécia andava em círculos pelo quarto. De repente, parou.

'Já sei! Mostre-me onde ela mora', pediu.

'O que vai fazer?', perguntou o espelho.

'Colocá-la fora de combate', disse.

'Nada de violência, dona Lucrécia', alertou o espelho, preocupado.

Ele sabia do que ela era capaz. Ultimamente estava tranquila, casada e feliz, com um marido apaixonado. O espelho até achava que o lado bruxa de Lucrécia tinha se aposentado, mas agora via que estava enganado, e se culpava por isso.

Lucrécia foi até a casa de Cláudia, estacionou o carro e ficou à espera. A garota estava almoçando. Logo depois saiu, para ir à casa de sua amiga Milu. Andava despreocupada pela calçada, quando um morcego pousou no seu pescoço. A garota sacudiu a cabeça, tentando se livrar do bicho, mas não conseguiu. Desesperada, saiu correndo; deu de encontro com uma árvore, bateu a cabeça e desmaiou. Nesse momento, Lucrécia apareceu. Levou o corpo de Cláudia para o carro, pingou umas gotas de sonífero na boca da menina e foi para o sul da ilha. Quando o asfalto terminou, pegou uma trilha de terra. Caminhou um bocado até chegar a uma cabana, no meio do mato.

'Tonho, venha me ajudar!', gritou a bruxa.

Apareceu um velho todo encarquilhado, com as mãos sujas de carvão. Quando viu a menina, deu uma risada, mostrando o único dente que tinha na boca.

'O que aconteceu, dona Lucrécia', perguntou.

'Essa garota tentou me enfrentar, Tonho, e isso eu não posso suportar. Leve-a para o meio do mato e deixa-a lá, bem longe daqui'.

Tonho era tapado, mas não era mau. Procurou um lugar abrigado para deixar a moça. Escolheu um cedro, um dos maiores da ilha, e encostou-a em seu tronco. Satisfeito com a ideia que tivera, voltou para a cabana e esqueceu o assunto: ele cumpria ordens, não as questionava.

Quando viu o velho de volta, Lucrécia deu uma gargalhada. Pegou o espelho na bolsa e perguntou: 'E agora, meu amigo, quem é a mulher mais bela da ilha?'

'Como a moça está fora do circuito, é você'. O espelho sabia que aquela mata era selvagem, e ficou preocupado.

Sentindo-se poderosa, Lucrécia voltou para casa. Estava feliz por ter afastado a concorrente e convidou o marido para comemorar - ela vivia no centro, e não conhecia o preparo físico de uma surfista.

Enquanto o casal tomava vinho, Cláudia acordava - no meio do mato e da noite. Sua primeira reação foi de susto: onde estava? o que tinha acontecido? Mas logo percebeu que não tinha tempo para buscar respostas nem se desesperar; o negócio era pôr a cabeça para pensar. Não ia sair andando no meio da mata, no escuro.

'O melhor que tenho a fazer é subir nesta árvore', disse a si mesma. 'Aqui fico protegida até o dia clarear'.

Trepou no cedro e sentou-se num galho alto. Vieram os morcegos e as corujas, e com eles os ruídos da noite, mas Cláudia ficou firme. Abraçou o cedro e disse que ia vencer aquela prova. Adormeceu no meio da madrugada e só acordou ao amanhecer. Tentava adivinhar que direção seguir, mas não tinha a menor ideia. Então, ouviu uma voz rouca: "Vá na direção norte, você está no extremo sul da ilha'.

A menina olhou para os lados. Não sabia de onde vinha aquela voz, até que percebe que era o cedro falando.

'Está vendo a palmeira aqui atrás? Pois bem, siga nessa direção', disse a árvore.

'Obrigada pela dica, cedro, e pelo abrigo durante a noite', disse Cláudia.

'O caminho é longo. Siga sempre em frente e não pare até sair da floresta'.

Cláudia seguiu o conselho. Depois de andar mais ou menos duas horas, avistou o mar. Chegando à praia, encontrou uma estradinha que contornava o morro e subiu por ela. Estava cansada, tinha sede e fome, mas não se entregou. Quando o sol estava alto, sentou-se à sombra de uma goiabeira e comeu algumas frutas. Retornou o caminho e andou muito até deparar com um ônibus. Contou ao motorista que havia sido sequestrada e disse que queria telefonar para casa.

Enquanto isso, a bruxa dormia. Certa de que a garota estava perdida, não se preocupou mais. Só no outro dia, quando pegou o espelho e fez a pergunta costumeira, tomou um susto com a resposta.

'Quer dizer que aquela safada se safou?', reagiu a bruxa, espantada

O espelho contou o que tinha acontecido.

'Já chega!', concluiu ela. Revoltada e desiludida, Lucrécia decidiu sair de Florianópolis.

'Vou procurar uma ilha mais tradicional, onde a moçada não seja tão atlética. E lá vou desenvolver meus poderes mágicos, que ficaram adormecidos nesses anos todos'.

Fonte: SALERNO, Silvana. Viagem pelo Brasil em 52 histórias. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 150-153.




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