sábado, 19 de fevereiro de 2022

Prostituição infantil na Belle Époque carioca

 



MISSAS NEGRAS

NA RUA MARANGUAPE

EXPLORAÇÃO DE CRIANÇAS

Ha seguramente um mez falla-se nas rodas mais doidivanas da Colombo nas missas negras da rua Maranguape. A missa negra é, como toda a gente sabe, a domesticação do sabbat. Aquillo que as feiticeiras de Macbeth e a tropa das delirantes e hystericas da Idade Média julgavam fazer em pleno campo nas horas perdidas da noite, foi transformado em deboche caseiro. Aqui, mesmo sob a capa litteraria de religião de Satan, um grupo de depravados sustentou por alguns mezes um templo de perversões, onde se orava ao Vício Triumphal.

Agora, porém, não se trata de nada disso. Não ha nem religião nem litteratura. Existe na rua Maranguape uma casa, um prostibulo de missas negras, aberto das dez da noite em diante, em que se dão scenas delirantes e na qual existem crianças. É uma casa nova, de apparencia innocente. Entra-se, sobe-se uma escada. Ha uma franceza que vos diz: - Attention, monsieur, vous savez, c'est très grave...

A entrada custa 20$. Esses 20$ permittem aos mortaes a iniciação dos mysterios...

Dá-se na primeira sala, onde ha toda a sorte de excitantes, desde a visão fescenina até o opio. Ahi é permittido, mudar a roupa por uma camisola branca, que elles chamam tunica - tal qual como nos hospitaes de molestias infecciosas. E então perguntam ao freguez o que quer ver. Cada sala custa mais cinco mil réis.

É impossivel descrever num jornal os horrores que cada uma das salas acoita, as perversões, os desequilibrios e antes de tudo o torpe lenocinio das crianças.

Não se trata sómente da exhibição repugnante de mulheres nem de um sacerdote, enorme negro da ultima sala, trata-se de pequenos e meninas, a sorrir inconscientemente naquella caverna de horror, scenario de toda a sorte de monstruosidades, tão absurdas e tão colossaes que nem o Kama-Sutra, na sua enorme lista, as enumerou! A frente da casa é occupada por um ingenuo restaurant.

Apontar á policia este horror é uma necessidade. A policia deve saber mas anda a fechar os olhos. Trata-se, sobretudo, da mais torpo, da mais vil das explorações - a exploração das crianças. Os emprezarios do templo devem quanto antes mudal-o ou fechal-o impedindo o interrogatorio das creaturinhas, porque o povo, avido de escandalos, teria nos interrogatorios muito que saber e muito que admirar do grande numero de pessoas conhecidas compromettidas nessa historia de missas negras.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 25 de Novembro de 1905, pág. 01, col. 05


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Poltergeist no Rio de Janeiro em 1905

 



CASAS APEDREJADAS

Criançada? - Vidros partidos. - Investigações da policia.

Os velhos processos dos duendes que, annos atrás, faziam as delicias das almas supersticiosas e dos noticiaristas sem assumpto, demoralisaram-se completamente com alguns casos em que se percebeu a malicia de visinho ou algum plano de estrategia amorosa.

Ninguem acreditaria, portanto, nos tempos praticos que correm, na intervenção dalmas penadas no apedrejamento constante e brutal que, já alguns dias, têm soffrido as casas n. 87, 89 e 91 da rua da Luz.

Pedras pequenas e grandes, fragmentos de telhas, projectis de toda a especie vão bater nas vidraças das janellas e das claraboias, estilhaçando-se com enorme ruido.

Isso se tem dado em pleno dia, á luz causticante do sol, ou ás horas mortas da noite.

As pobres familias que ahi moram, estão em um susto permanente, atemorisadas com um possivel desastre, que bem póde um calháo, penetrando por um janella deixada por acaso aberta, attingir qualquer pessoa, criança ou adulto.

Para maior segurança retiraram-se de casa as crianças.

O delegado local, a quem foi participado o caso, participou da convicção dos moradores, de que a gente muito deste mundo devia attribuir-se a graçola, se é que assim se póde chamar ao abuso barbaro.

O Dr. Pinheiro Costa, da 11a. circumscripção, a que o local pertence, em um detido exame, verificou que o ponto de partida das pedras parecia ser a casa n. 74 da rua Malvino Reis, residencia de uma senhora viuva.

Dous meninos, um, filho da dona da casa, e outro, criado, foram por isso sujeitos a interrogatorios e afastados da casa.

Mas o apedrejamento continuou apezar disso, e então desconfiou a auctoridade de um crioulo, tambem empregado da casa.

Nada está, entretanto, verificado ainda, a não ser a completa destruição de vidros de todas as janellas dos fundos daquellas casas e das claraboias.

A policia continúa em pesquizas.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 01 de Setembro de 1905, pág. 03, col. 06

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A varíola em Rio Grande

 



VARÍOLA NO RIO GRANDE

Os jornaes do Rio Grande do Sul trazem a agradavel noticia do notavel declinio da epidemia de varíola na cidade do Rio Grande.

O movimento de vaccinação, activamente impulsionado pelo Dr. Toledo Dodsworth, em missão do Instituto Vaccinico do Rio e pelas auctoridades locaes, com o valioso auxilio do governo do Estado, continúa sempre crescente e por todo o Estado com a melhor acceitação publica.

O Dr. Flôres Soares, secretario da directoria de hygiene estadoal, que trabalhou com o Dr. Dodsworth na pratica e cultura da vaccina animal, continuou com grande exito esse serviço na cidade do Rio Grande, indo agora pratical-o em Porto Alegre, onde milhares e milhares de pessoas tem sido immunisadas, em curto prazo.

A Federação publica a seguinte noticia sobre o declinio da variola na cidade do Rio Grande:

"Continúa a decrescer rapidamente a epidemia da variola no Rio Grande.

Comparado o numero de notificações de doentes nos sete primeiros dias dos mezes de junho, julho e agosto, notam-se no primeiro mez 65, no segundo 51 e no actual 17."

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 24 de Agosto de 1905, pág. 03, col. 04

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Nossa participação na live "Os Aspectos Históricos no Romance Granito" da escritora Janice Barth


 Fomos convidados pela professora, linguista e escritora gaúcha Janice Barth a debater juntamente com o geógrafo Jairo Costa e o historiador Jaime Barbosa Junior sobre os aspectos históricos abordados (e que servem também como pano de fundo) de sua importante obra "Granito". O evento aconteceu na noite da segunda-feira passada, numa live transmitida pelo YouTube. Muito bom o papo! Inscreva-se no canal da escritora Janice Barth.

Ciganos no Campo de São Cristóvão

 



Bando de ciganos

No campo de S. Christovão appareceu hontem á tarde um bando de ciganos que alli ficou abarracado.

O bando é de 21 pessoas das quaes oito são creanças. Não deixou de despertar a attenção dos populares que logo se aggruparam para melhor os observar.

Dentre esses, infelizmente, alguns se portaram de modo pouco digno, chegando mesmo a apedrejarem os immigrantes.

Compõe-se o bando de tres familias, das quaes são chefes Simão Canchichi, Juan Mascovithe e Smitch Pando, sendo este ultimo quem dirige todos os outros.

São naturaes da Servia e hontem desembarcaram do vapor italiano Ré Umberto.

Smitch Pando, o chefe do bando, falla castelhano e nesse idioma explicou que vinham em procura de trabalho, pretendendo seguir para o Estado de Minas Geraes.

Na viagem que fizeram a pé da cidade ao campo de S. Christovão, ficou perdida pelas ruas uma menina.

O delegado para lá mandou algumas praças para guardar os ciganos das aggressões populares.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), pág. 04, col. 03

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

O contrabando no Rio Grande do Sul no início do século XX



(...)

Mais ainda, senhores: os brasileiros occupam o segundo logar entre os proprietarios estabelecidos justamente nos departamentos da linha da fronteira e suas proximidades, quer do lado de terra, quer dos rios Uruguay e Jaguarão, assim discriminados:

Departamento de Rocha..... 313 proprietarios

Departamento de Paysandú..... 623 proprietarios

Departamento de Salto..... 791 proprietarios

Departamento de Artigas..... 484 proprietarios

Departamento de Rivera..... 1.271 proprietarios

Departamento de Cerro Largo..... 764 proprietarios

Departamento de Taquarembó..... 916 proprietarios

Departamento de Treynta y Trez..... 303 proprietarios

_______________________________________________

Total..... 5.465 proprietarios

Convem notar que estes departamentos são justamente aquelles cujas areas juntas representam 108.212 kilometros de superficie total do territorio da Republica Oriental, calculada em 186.925 kilometros quadrados, desprezadas as fracções; isto quer dizer que 5.465 brasileiros são proprietarios na porção mais considerada da campanha oriental, emquanto que nestes mesmos departamentos existem sómente 5.413 proprietarios de vinte nacionalidades diversas.

Nestas condições é facil ter-se uma idéa exacta da importancia da colonia brasileira no Estado Oriental, e por conseguinte o cuidado que requer a confecção de qualquer ajuste commercial, ou de medidas que regulem o transito e a fiscalisação das mercadorias internadas por via de Montevidéo ou importadas na campanha Oriental por via do Rio Grande do Sul.

Tratando-se de contrabando, senhores, não se distingue facilmente nacionalidades na fronteira, a protecção é mutua.

Quando estive ultimamente em Montevideo, referiu-me uma auctoridade oriental, com relação á protecção que gozam os contrabandistas na fronteira, o seguinte caso alli verificado:

Um fiscal aduaneiro da fronteira aprehendeu uma grande partida de fumo em rolo, passado por contrabando vindo do Rio Grande e como tal foi remettido para Montevidéo. Immediatamente a aprehenção foi protestada e documentada a petição de forma a provar-se que o fumo era de producção oriental, embora todos os caracteristicos levassem o fisco a considerar o producto brasileiro contrabandeado.

Eis, porém, que o fiscal aduaneiro de Montevidéo, bem inspirado, mostrou que o fumo tanto era de origem brasileira, que além do mais o páo em que estava o fumo enrolado era de qualidade especial que não existe nas mattas do Rio da Prata, e sim de Minas Geraes, e ainda mais comparando com muitos outros rolos de fumo da mesma qualidade importados do Brasil, pelo porto de Montevidéo, todos tinham as mesmas marcas - "Pomba", "Rio-Novo", "Goyano", etc., etc.

Quando tudo parecia estar concluido e a apprehensão do contrabando julgada boa, eis que apparece um pedido de reconsideração do despacho, em que se procurava demonstrar com documentos officiaes que os páos tinham sido importados do Estado de Minas Geraes, no Brasil, para se enrolar fumo no Estado Oriental!...

Realmente, senhores, este caso mostra que tanto o Brasil como o Estado Oriental são enrolados pelos contrabandistas da fronteira.

A isto dá-se o nome de contrabando legal!!!

Foi por estas e outras informações, senhores, que em data de 2 de maio do anno passado disse ao ministerio das relações exteriores em officio:

"Fumos: Quasi dous terços deste artigo entram por contrabando no Estado Oriental pela fronteira do Brasil.

Para impedia o contrabando tomou-se a providencia de estabelecer-se uma taxa protecionista para fumos do Rio Grande do Sul, com excepção do fumo em corda, que paga muito pouco.

Isto, porém, não impediu que o contrabando continuasse cada vez maior e fossem repellidos do mercado os fumos da Bahia e em proveito unico do fumo do Rio Grande do Sul e dos contrabandistas.

Entendo que a uniformidade das taxas deve ser exigida para abrir-se de novo o mercado oriental para o fumo de todas as procedencias brasileiras."

Senhores, para dizer o que é o contrabando na fronteira do Rio Grande do Sul basta reproduzir nesta occasião o que está registado no relatorio de 1902 do proprio ministerio da Fazenda do Brasil.

Diz o inspector da alfandega do Rio Grande do Sul:

"A receita de importação soffreu sensivel decrescimento no anno que findou, pois, comparada com a do anterior, produziu menos 4.612:105$369.

Esse decrescimento provém de tres causas conhecidas e a que mais attenção carece dos poderes publicos é o contrabando, que ultimamente tem-se desenvolvido na fronteira, prejudicando o commercio licito e concorrendo para o enfraquecimento da arrecadação."

O inspector da alfandega de Uruguayana diz, por sua vez:

"Esta alfandega, pela sua posição na extensa e populosa zona de fronteira, devia apresentar rendimento muitissimo superior ao que tem; mas á medida que são creados elementos de repressão ou prevenção do contrabando, COMPANHIAS DE CONTRABANDISTAS SE ORGANISAM OSTENSIVAMENTE, animadas da mais admiravel audacia, ao ponto de introduzirem nesta cidade importantes contrabandos, escoltados por numerosa força armada que não trepida offerecer lucta quando é descoberta."

Finalmente o inspector da alfandega de Sant'Anna do Livramento informa:

"O contrabando, este terrivel destruidor das rendas da União, continúa a imperar na fronteira, encontrando pouco embaraço em sua marcha.

Vos digo isso com toda a lealdade e franqueza, pois julgo do meu dever não emittir á vossa apreciação.

O governo do Estado oriental é demasiado proteccionista do seu commercio em todos os pontos de vista."

Eis aqui, senhores, em synthese, a exposicção do contrabando na fronteira do Rio Grande do Sul, feita pelos proprios delegados do ministerio da fazenda.

Agora, senhores, estudando como se fazem as operações commerciaes da campanha do Rio Grande do Sul e da banda Oriental, chega-se facilmente a conhecer e este mappa indica que a fronteira não depende commercialmente das praças do littoral, nem a barra do Rio Grande é única arteria importante.

(...)

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 26 de Janeiro de 1903, pág. 02, col. 03-04

 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Francisco Borges Coelho


 Francisco Coelho Borges, gerente da agência do Banco da Província do Rio Grande do Sul em Pelotas, ano 1918

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