quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Sarau alemão em Pelotas em 1880


"Rio-Grande do Sul.

MANIFESTAÇÃO DE APREÇO.

S.Ex. o Sr. deputado Fernando Osorio, acaba de receber mais uma manifestação de apreço nesta cidade.

Um crescido numero de Allemães, dirigio-se a casa de S.Ex., na noite de ante-hontem, a convite do Sr. Eduardo Wilhelmy afim de significar a S.Ex. a amizade e sympathia que lhe tributão.

Por essa occasião, tendo elles anteriormente organisado um côro de vozes, executárão as seguintes canções:

Die Glock der Nacht (O sino da noite).

Num leb wohl du Keine Gaise (Um adeus ao lar paterno).

Des Waterlandes Hoch gesang (Canção patriotica).

Gesselischaftalsen (Serenata).

Além destas forão executadas outras canções.

O Sr. Eduardo Wilhelmy offerceu a S.Ex. uma musica de sua lavra para ser por ella cantada a mimoza poesia Minha terra tem palmeira, de Gonçalves Dias.

Esta canção foi também executada por quatro vezes.

Aos distinctos cavalheiros que forão comprimentar ao Sr. deputado Osorio, foi offerecida uma mesa de finos doces e licores, tendo se trocado nella os seguintes brindes, seguidos de um Ozbe Hoch sempre a quatro vozes allemães.

Do Sr. Wilhelmy ao Sr. deputado Osorio em nome dos seus compatriotas.

Do Sr. Osorio aos manifestantes.

Do Sr. Dr. Augusto Assumpção á Allemanha.

Do Sr. Dr. Cypriano Mascarenhas aos Allemães residentes em Pelotas.

Do Sr. Wilhelmy ás senhoras presentes.

Do Sr. Osorio ao Sr. Wilhelmy.

Esta manifestação teve seu termo depois das 11 horas da noite.

Foi uma brilhante e assaz significativa demonstração de apreço que recebeu o illustre deputado rio-grandense dos Allemães residentes nesta cidade.

(Do Correio Mercantil, de Pelotas)."

Fonte: JORNAL DO COMMERCIO (RJ), 16 de Outubro de 1880, p.02, c.05

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Os depoimentos de Thomaz Staveley - Parte 02



Em meados do século XIX, a Grã-Bretanha estava empenhada em suprimir o tráfico de escravos da África para a América, tanto que, em 1845, foi promulgado a Bill Aberdeen. Transcrevemos aqui um importante conjunto de depoimentos realizados em 1849 sobre a questão, apresentados junto à Câmara de Comuns na Grã-Bretanha, realizados por um membro da dita câmara, o cavalheiro Sir Thomaz Staveley (Lord Howden) - membro da comissão encarregada de tratar a questão. Muitas informações sobre a questão do tráfico e escravatura no Brasil.

"P - Não são construidos em Africa muitos desses navios?

R - Parece-me que não. Um grande numero delles são trazidos dos Estados-Unidos, e comprados para o trafico; porém a maior parte são construidos no Rio de Janeiro á vista do governo. No tempo que ali estive sahio do porto em viagem negreira um magnifico brigue chamado Galgo, do porte de 400 toneladas, com a pôpa dourada e varandas no tombadilho; tendo obtido licença das autoridades para largar de noite, contra o regulamento do porto, afim de escapar á vigilancia de um brigue de guerra encarregado por mim de o observar. Esse brigue era uma excepção á maior parte das embarcações negreiras, mal construidas, que quasi sempre ao chegar de Africa estão, não só em estado de ir a pique, mas com faltas de agoa e mantimentos, e com alguma doença epidemica a bordo.

P - Qual é pois a opinião de V.S. relativamente ao effeito de se estacionarem cruzadores para interceptar os navios procedentes da costa d'Africa? Os principaes pontos de importação do Brasil donde se derivão as rendas publicas são dous ou tres dos principaes portos; supponhamos que o governo britannico, como potencia beligerante, bloqueava esses portos, pelo não cumprimento dos tratados da parte do governo brazileiro, não habilitaria isso o governo para fazer cumprir os tratados, se é que elle tem essa vontade?

R - É essa pergunta a que eu não quizera responder; sómente exponho factos, e não posso, na minha posição peculiar, tomar sobre mim a responsabilidade de responder publicamente a essa pergunta. Direi comtudo que os direitos da alfandega do Rio de Janeiro compõem um terço de toda a renda publica do Brasil, e que em consequencia da grande falta de estradas, de vasta extenção do imperio, e pôr se acharem situadas á beira-mar as principaes cidades, não só toda a permutação de gêneros, mas tambem de idéas faz-se ao longo da costa, de maneira que um bloqueio, além das suas considerações fiscaes, poria o Império todo em confusão.

P - Julgais que o porto do Rio de Janeiro póde ser facilmente bloqueado?

R - Quanto a simples questão do bloqueio, deixando de parte considerações commerciaes comnexas com o nosso paiz, creio que não seria isso difficil. Póde ser mais facil e mais efficazmente bloqueado do que muitos outros portos; do que Buenos-Ayres, por exemplo, onde o bloqueio era uma mera farça.

P - Tem V.S. alguma idéa do estado da sociedade brazileira nas comarcas mais remotas?

R - Consta-me que são affaveis, e que nada póde exceder á sua hospitalidade. Ha uma grande differença entre o Brazileiro do sertão e o Brazileiro camponez, e o que habita nas cidades.

P - Como vivem elles no interior do paiz, estão os fazendeiros situados longe uns dos outros?

R - Sim, conforme a natureza do solo ou outras circumstancias accidentaes.

P - E não existe algum receio no animo desses homens rodeados de numerosos escravos?

R - Por ora penso que não, pois ouço dizer que muitos dormem com as portas e janellas abertas.

P - Então não ha que esperar que esse receio concorra para fazer cessar o trafico?

R - Presentemente não; póde ser que a idéa do perigo que os ameaça seja suggerida aos Brazileiros, mas elles são naturalmente descuidados e apathicos, e não creio que na grande massa do povo exista muito susto a esse respeito.

P - Não houve ultimamente na camara de deputados uma grande discussão sobre o trafico?

R - Ha um partido abolicionista no Brasil; pelo menos cinco ou seis deputados se levantão todos os annos, e fazem discursos que até no parlamento britannico passarião por muito eloquentes e philantropicos; como em todas as nações meridionaes, é pasmosa a facillidade de fallar que possuem os Brazileiros.

P - A que classe pertencem os abolicionistas?

R - A todas as classes quando elles julgão conveniente fallar como abolicionista, e muitas vezes é esse thema um pretexto de partido; mas não faltão homens probos e illustrados que encarão com magua a probabilidade de vir a ser o seu paiz inteiramente africano, e de ficar sem cultura, a menos que se adopte algum novo systema de trabalho.

P - Não são esses individuos fazendeiros?

R - Mui raros fazendeiros são abolicionistas.

P - M. Baudinel no seu depoimento perante a camara dos communs disse que a grande repressão do trafico foi sempre effeito da existencia dos nossos cruzadores sobre a costa do Brazil; sois por ventura de opinião contraria sobre este ponto?

R - Duvido que os cruzadores estacionados sobre a costa do Brazil, sem alguma simultanea combinação com outros sobre a costa d'Africa produrão officio algum decisivo; poedrião estorvar algum tanto o traffico apresando um ou outro navio negreiro, porque alguns necessariamente havião de ser capturados. Se pudessemos obter do governo brazileiro que cooperasse comnosco por meio de providencias internas, poderia conseguir-se a repressão desejada, mas pelos nossos unicos esforços, creio que nunca a poderemos alcançar. Talvez acudes noticia de que um regente chamado Feijó, clerigo corajoso e não menos illustrado, propos, ha 16 ou 17 annos, não só que o traffico fosse declarado pirataria, segundo o modo porque o entendemos, mas até que se lhe impuzesse a pena de pirataria internacional contra o hostii humanae generis, enforcando os deliquentes. Esta proposta porém foi abafada no conselho de estado, no qual reside de facto o governo real e permanente do Brasil, pois, além de ser irresponsavel, tem um poder immenso, e pela constituição soma conhecimentos de todos os negocios de paiz.

P - Não ha na assembléa legislativa um partido desejoso de cumprir os tratados feitos com a Inglaterra e com outras potencias?

R - Sim, ha; e existe tambem um pequeno partido de abolicionistas que considerão o traffico de escravos como uma maldição e desgraça para a sua patria.

P - Ha alguma parte do imperio onde mais que em outras prevaleça o desejo de conservar o traffico?

R - Sim, no Rio de Janeio onde estão concentrados os grandes capitaes e os negociantes interessados no traffico.

P - Não são tambem todos os fazendeiros interessados na continuação do trafico?

R - Os fazendeiros são quasi todos devedores dos capitalistas, e até aqui não tereis achado outro meio para cultivar as suas terras senão pela agencia dos importadores de Africanos.

P - Qual é o seu medo de pensar relativamente á futura importação de escravos?

R - Sem duvida o seu modo de pensar indica é que se vós não podeis substituir outro methodo, e se o clima não permite outro trabalho, forçoso é que tenhão escravos.

P - Augmentou-se essa necessidade em consequencia da mudança occorrida no consumo do assucar nesse paiz?

R - Crerei que sim.

P - Se elles não tivessem a mesma facilidade para importar novos escravos, não vos parece que porião mais cuidado em cria-los?

R - Talvez, é uma natural consequencia.

P - Se acaso o conselho de estado quizesse severamente pôr termo á continuação do traffico, pensais sós que teria bastante poder para o conseguir?

R - Te-lo-hia sem duvida mais que qualquer outra corporação, porém o facto é que de todas as corporações é o conselho de estado que tem sido até aqui mais hostil ao ajuste de uma negociação com a Inglaterra.

P - Sabe V.S. se o recente augmento de importação tem contribuido para se cultivarem terras virgens, ou se tem sido destinado para continuar a cultura das terras já lavradas?

R - Estou que só tem servido para manter o cultivo dos terrenos velhos. A população branca multiplica-se mais lentamente, e ainda é mais vagoroso o augmento da população negra no interior do paiz.

P - Mas ha uma quantidade illimitada de territorio que podia ser aproveitado para a producção do assucar?

R - O territorio do Brazil é quasi tão grande como a Europa, e os productos naturaes que delle podem tirar-se excedem á maginação. Não creio que haja producção alguma que não possa prosperar, mineral nenhum que se nao acha-se, nem cousa alguma que se não possa cultivar em alguma parte do Brazil.

P - Tem V.S. opinião formada sobre qual seria o effeito provavel da remocção da esquadra que actualmente põe tropeços ao traffico?

R - Ao principio resultaria um grande incremento na importação de escravos para o Brazil; mas é provavel que a aprehensão de perigo, que por ora é mui pouca, operasse vigorosamente quando os Brazileiros attentassem no immenso numero de escravos introduzidos no paiz. Tambem poderia acontecer que o preço delles baixasse tanto que fizesse cessar por algum tempo a importação.

P - Podeis suggerir alguns melhoramentos que se possão fazer no systema actual, quer relativamente á esquadra, quer aos cruzadores que cooperão com ella?

R - Escrevi uma carta particular a Lord Auckland em resposta a outra que me elle dirigira sobre esse assumpto, hei de procura-la, e a apresentarei, se não houver objecção em contrario.

P - Quanto ao estenso recife paralello com a costa, a que alludistes, por ventura o intervall entre elle e a terra é tal que admitta cruzadores, e principalmente barcas de vapor que o percorrão em toda a sua extensão?

R - Alguns dos vapores do Rio de Janeiro navegão dentro do recife, mas não os novos; os botes e outras embarcações maiores do paiz o fazem; mas até que tenhamos maior experiencia; não creio que os nossos cruzadores se julgarão justificados em seguir os negreiros até onde estes entrão a salvo. O systema de signaes de que usão em terra é levado a um gráo de perfeição tal que causa admiração quando se considera a grande extensão da costa. As canôas sahem ao mar a vigiar, e muitas vezes são as jangadas que fazem este serviço, como na Bahia e Pernambuco, de modo que são quasi invisiveis. Assim que descobrem nos cruzadores, tocão immensos chifres de boi que se ouvem em terra, e subito apparece uma fogueira de signal sobre um outeiro, e se repete ao longo da costa Não ha nada mais habilmente arranjado; todos os preparos do traffico tem sido levados a um gráo de perfeição que faz pasmar, e que só o immenso lucro que elle deixa póde explicar. Os escravos são agora desembarcados em grandes botes de fundo chata, que se [ilegível] com extrema rapidez, de maneira que o navio negreiro até nem precisa ancorar; e depois de descarregar os escravos, e talvez parte da sua tripolação. segue para o Rio de Janeiro, Bahia, Santos ou Santa Catharina; em lastro.

P - Não ouvistes fallar em vapores construidos ou comprados para o serviço do traffico?

R - Quasi em frente da minha casa, no Rio de Janeiro, se construirão vapores na fundição da Ponta d'Arêa, para serem empregados no traffico. Constou-me que alguns vapores trouxerão carregamentos de 1.500 escravos; e ser de certo que um navio de vela, no anno de 1847, fez cinco viagens redondas á Africa, e desembarcou a salvo todos os seus carregamentos. Se este navio fez cinco viagens, um vapor poderia fazer oito.

P - Podeis dizer a quanto orçarão os lucros desse navio?

R - Segundo o calculo mais baixo, não podia elle ter trazido menos de tres mil escravos, que vendidos uns por outros á razão de 40 libras esterlinas por cabeça, perfazem 120 mil libras (mil e dusentos contos de réis); e toda a despeza andaria por um quinto do producto liquido.

P - Nas discussões das camaras legislativas do Brasil, sobre o traffico de escravos, por ventura os advogados e patronos deste nefando commercio procurão dar-lhe algum collorido de philantropia?

R - Os abolicionistas fazem soar contra o traffico os grandes principios da moral e da humanidade, e declarão que é uma pesta, um flagello que ha de destruir o paiz; os defensores do traffico allegão a imperiosa necessidade de escravos, e pretendem que não temos o direito de legislar para elles. Mas são bem raros os debates sobre esta questão os discursos dos abolicionistas são as mais das vezes pretextos de opposição, antes do que expressões de verdadeira philantropia.

P - Não existe pois no Brasil genuino sentimento de antipathia contra a escravidão?

R - Penso que não, excepto no peito de poucos homens escolhidos; ao mesmo tempo, como já mencionei, ha cidadãos illustrados que realmente temem que a sua patria tenha a ser, cedo ou tarde, africana em vez de americana, e que os Brazileiros venhan a cahir em compacto barbarismo, e se tornem um segundo S. Domingos, se acaso se não passe um termo á importação dos escravos."

Fonte: O RIO-GRANDENSE (RS), edição de 27 de Abril de 1849

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Canteiro Cultural do IHGCL - Colóquio de Agosto


No próximo sábado, 11 de agosto, a partir das 15 horas, na sede do Instituto Histórico e Geográfico do Capão do Leão, à Avenida Narciso Silva 2131, ocorrerá o décimo colóquio do projeto "Canteiro Cultural" do instituto. Desta vez, a exposição ficará a cargo do diretor municipal de Cultura, Turismo & Desporto de Capão do Leão, que abordará o tema "Meu lugar no futuro".

A entrada é franca!

Rafael Tobias de Aguiar


"Rafael Tobias de Aguiar (04/10/1795-07/10/1857) nasce em Sorocaba, numa família de fazendeiros. Entra na vida pública em 1821, como representante da comarca de Itu no processo de escolha dos deputados brasileiros às Cortes Gerais e Constituintes de Lisboa. Em 1827 é eleito conselheiro do governo provincial. Deputado provincial e geral em várias legislaturas, exerce duas vezes a Presidência da Província de São Paulo, de 1831 a 1835 e de 1840 a 1841. Recebe o posto de brigadeiro honorário do império por sua eficiente administração, em que chega a aplicar o próprio salário para financiar escolas, obras públicas e assistenciais. Em 1842 lidera a Revolução Liberal contra Dom Pedro II ao lado do Padre Diogo Antônio Feijó. No mesmo ano é proclamado presidente interino da província de São Paulo por políticos da região de Sorocaba, centro comercial de grande importância na época. Chamado de 'reizinho', por seu renomado prestígio político, consegue reunir 1,5 mil homens na chamada Coluna Libertadora e, partindo de Sorocaba, tenta invadir São Paulo para depor o presidente da província, o Barão de Monte Alegre. Antes disso se casa com Domitila de Castro Canto e Melo, marquesa de Santos, ex-amante de Dom Pedro I, com quem já tinha seis filhos. Com uma tropa mal preparada e desarmada e o apoio de apenas algumas cidades produtoras de açúcar, como Itu e Itapetininga, é derrotado pelo exército do governo e impedido de entrar em São Paulo. Foge para o Rio Grande do Sul, mas acaba sendo preso na cidade de Vacaria. Levado para o Rio de Janeiro, fica na cadeia até 1844, quando é anistiado. Morre no Rio de Janeiro."

Fonte: ABRIL. Almanaque Abril: quem é quem na História do Brasil. São Paulo: Abril Multimídia, 2000, pág. 60.

domingo, 5 de agosto de 2018

A prisão do salteador Campara


"Acha-se preso e recolhido a cadêa de Porto-Alegre o famoso salteador Campara, sobre o qual dá o Mercantil daquella cidade os seguintes pormenores:

<<O celebre salteador, o pesadêlo de muito somno, o heróe de sombrias façanhas coloridas pelas imaginações espavoridas está recolhido á cadêa civil desta cidade!>>

<<Domingos ou Antonio Campara, conduzido desta capital para a villa de Santa Maria, onde devia ser processado e julgado pelo roubo que fizéra ao sr. Appel de avultada somma e de valiosos objectos de prata, evadira-se da cadêa em dezembro do anno passado.

<<Desde então seu nome e suas proezas tem-se tornado verdadeiramente populares. De todos os lados vinham notícias, mas ninguém lhe descobria o rasto. Parecia trazer comsigo a cornucopia das aguas, com que apagava as suas pegadas do sólo. Só uma vez foi batido e dessa vez deixou moribundo a seus pés um denodado mancebo, unico de tantos companheiros que ousára affrontal-o e que felizmente está restabelecido de seus graves ferimentos.

<<E' impossivel acompanhar o famigerado Campara em sua vida forasteira e assoladora.

<<Surgio na Vaccaria ultimamente dando-se por tropeiro e comprador de hervas, e acredita-se que ia á pista do sr. Tristão José Monteiro, que andava a cobranças e por quem perguntava com certo interesse. A sua presença provocou suspeitas.

<<O sr. chefe de polícia interino, tomando conta da sua repartição em fins de setembro teve a feliz e previdente idéa de fazer uma circular a todos os delegados, remettendo-lhes já impressa a descripção dos signaes de Campara e de seus dous companheiros para ser destribuida por todos os subdelegados; e inspectores de quarteirão. Assim em cada canto acharia o Campara o seu retrato.

<<O subdelegado da Vaccaria o sr. Innocencio José de Souza possuia alguns desses daguerreotypos em letra redonda. As suas suspeitas crescêram pela confrontação.

<<Havia porém proximo á freguezia o sr. Ismael Antonio da Paixão, alferes da guarda nacional, que conduzira Campara, quando contava apenas 12 annos, de Santa Catharina para a Vaccaria, onde viveu 4 annos em seu poder.

<<O sr. Hypolito Faustino de Oliveira e o alferes José Fernandes da Cunha foram buscal-o á sua residencia d'ahi a 2 leguas, e á noite achavam-se na freguezia.

<<Addiaram o ataque para a madrugada. Entretanto Campara não ficára sem as honras de uma ordenança. Acostumado talvez a esse serviço, o ex-soldado Pedro Bahiano, insinuára-se em seu agrado, e apresentára-o na casa equivoca, aonde pernoitou.

<<Ao amanhecer, aberta a porta o ex-soldado entrára com a familiaridade já estabelecida, e como não era de ceremonias, nem a casa, nem a dona, entraram uns após outros o sr. alferes Paixão, o sr. Hypolito Faustino e um outro Pedro, levando apenas comsigo as suas facas, armas insuspeitas na campanha.

<<Campara esperava pelo café, sentado na cama, de viola em punho. Pedro Bahiano, começando o plano combinado, junto a elle, picava fumo para um cigarro. De repente precipita-se sobre o criminoso dando-lhe a voz de preso, e apontando-lhe a faca aos peitos; acodem os tres companheiros e atam sem resistencia o descuidoso trovista!

<<Nem teve ao menos uma palavra heroica para esse transe. <<Alferes não me deixa matar>> foi esta a phrase que inspirou-lhe o medo em falta da apregoada coragem.

<<No cinto acharam-lhe duas pistolas, não de cem tiros, de uma bala apenas. O pistolão, que era uma de suas companhias, estava ausente concertando-se.

<<No dia 28 do passado foi effectuada a prisão, e hontem chegou elle a tarde no vapor de S. Leopoldo, vindo na escolta os alferes Paixão e José Fernandes, que tiveram de viajar noite e dia, por desvio e asperos caminhos afim de evitar que os companheiros de Campara, que não appareceram com elle na freguezia, quizessem resgatal-o da justiça.

<<O subdelegado Souza precedera o preso nesta cidade, e á chegada do vapor achava-se o cáes apinhado de povo, curioso de conhecer essa celebridade das estradas.

<<Ao ver a multidão que o esperava e fez-lhes as honras do acompanhamento até a cadêa, Campara ergueu-se na tolda, com o sangue frio que parecia haver recuperado, encarou o povo sorrindo ironicamente e disse: <<Mutio bem! Sou recebido com as honras de um presidente.>>

<<Durante a viagem esteve abatido e algumas vezes chorou! Aquelle coração não está de todo gangrenado. A parte donde correu aquella lagrima ainda está pura e sã. A lagrima é santa; é o primeiro orvalho que abre a consciencia á luz do arrependimento. Permitta Deus que não seja esse o ultimo raio de regeneração, que lampeje nas sombras de seu carcere.>>

O celebre faccinora já tinha respondido a dous interrogatorios perante o chefe de policia interino."

Fonte: A PATRIA (RJ), 25 de Dezembro de 1862, pág. 01, col.01-03

sábado, 4 de agosto de 2018

Alfredo Ellis & Alfredo Ellis Júnior


"Político paulista (1850-1925), consagrado como um dos 'republicanos históricos'. Nascido em São Paulo, formou-se em Medicina pela Universidade de Filadélfia, Pensilvânia, Estados Unidos. Pioneiro da lavoura cafeeira do Oeste Paulista (foi um dos desbravadores da região de Mogi-Guaçu), foi depois fazendeiro de café em Rio Claro e em São Carlos. Proclamada a República, integrou a Assembleia Constituinte de 1890-1891; deputado de 1890 a 1902, neste ano elegeu-se senador, tendo participado de 1909 a 1913 da Campanha Civilista de Rui Barbosa. Seu filho, Alfredo Ellis Júnior (1896) nascido em São Carlos (SP), distinguiu-se como historiador, professor e político; promotor público de Limeira e de São Carlos, deputado estadual, ativo participante da Revolução Constitucionalista de 1932, professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, publicou vários livros pelo que se fez membro da Academia Paulista de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo."

Fonte: Dicionário Cívico-Histórico Brasileiro, 1980. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Significado e origem de sobrenomes alemães - Parte 69 - Topônimos alemães na Polônia


Muitos sobrenomes de origem alemã são toponímicos (isto é, indicam a procedência de um lugar) que estão vinculados à área do antigo Império Alemão (1871-1919). Pois bem, o Império Alemão ou II Reich (de acordo com a historiografia germânica) abarcava territórios que hoje correspondem a vários países da Europa Central e Oriental (além da própria República Federal da Alemanha, hodiernamente), dentre eles a Polônia. Este fato é  importante, pois tanto a Pomerânia, quanto a Prússia Oriental (também um bom pedaço da Prússia Ocidental) - duas importantes províncias do Reich - estavam majoritariamente, em termos territoriais, na terra polonesa da atualidade. Segue uma lista de antigos nomes alemães para lugares na época do Império Alemão e seus correspondentes atuais na Polônia.

1301. Bitschin (entre 1936 e 1945 Fichtenrode), condado de Gleiwitz, Alta Silésia - Bycina, vila no município de Rudziniec, Silésia.
1302. Bittkowen (entre 1938 e 1945 Bittkau), condado de Oletzko/Treuburg, Prússia Oriental - Bitkowo, aldeia no município de Goldap, Vármia-Masúria.
1303. Blachow, condado de Guttentag, Alta Silésia - Blachów, cidadela no município de Guttentag, voivodia de Opole.
1304. Blankenberg, condado de Heilsberg, Prússia Oriental - Gologóra, aldeia no município de Swiatki, Vármia-Masúria.
1305. Blankenfelde, condado de Königsberg (Neumark), Brandemburgo - Brwice, aldeia no município de Chojna, Pomerânia Ocidental.
1306. Blankenhagen, condado de Regenwalde, Pomerânia - Dlusko, aldeia no município de Wegorzyno, Pomerânia Ocidental.
1307. Blankensee, condado de Pyritz, Pomerânia - Plotno, localidade no município de Pelczyce, Pomerânia Ocidental.
1308. Blaschewitz (entre 1936 e 1945 Niederblasien), condado de Neustadt, Alta Silésia - Blazejowice Dolne, cidadela no município de Oberglogau, voivodia de Opole.
1309. Blasdorf bei Schömberg (entre 1938 e 1945 Tannengrund), condado de Landeshut, Silésia - Blazejów, parte da comunidade rural de Lubawka, no distrito de Kamienna Góra, Baixa Silésia.
1310. Blaseowitz (entre 1935 e 1945 Altweiler), condado de Cosel, Alta Silésia - Blazejowice, vila no município de Czissek, voivodia de Opole.
1311. Blindgallen (entre 1938 e 1945 Schneegrund) - Blakaly, vila no município de Dubeninki, Vármia-Masúria.
1312. Blindischken (entre 1938 e 1945 Wildwinkel), condado de Goldap, Prússia Oriental - Bledziszki, aldeia no município de Dubeninki, Vármia-Masúria.
1313. Blotnitz - Blotnica, aldeia no município de Przemet, voivodia da Grande Polônia.
1314. Bludau, condado de Braunsberg, Prússia Oriental - Bludowo, vila no município de Mlynary, Vármia-Masúria.
1315. Blumberg, condado de Pyritz, Pomerânia - Morzyca, aldeia no município de Dolice, Pomerânia Ocidental.
1316. Blumenfelde, condado de Friedeberg (Neumark), Brandemburgo - Lubicz (local incerto).
1317. Bobern, condado de Lyck, Prússia Oriental - Bobry, aldeia no município de Prostki, Vármia-Masúria.
1318. Boberröhrsdorf, condado de Hirschberg, Baixa Silésia - Siedlecin, aldeia no município de Jezów Sudecki, Baixa Silésia.
1319. Boberrullersdorf, condado de Hirschberg, Baixa Silésia - Wrzeszczyn, aldeia no município de Jezów Sudecki, Baixa Silésia.
1320. Bobersberg, condado de Crossen, Brandemburgo - Bobrowice, município na voivodia da Lubúsquia.
1321. Boberstein, condado de Hirschberg, Baixa Silésia - Bobrów, aldeia no município de Milkowice, Baixa Silésia.
1322. Bobischau, condado de Habelschwerdt, Baixa Silésia - Boboszów, aldeia no município de Miedzylesie, Baixa Silésia.
1323. Boblin, condado de Randow, Pomerânia - Bobolin, vila no município de Kolbaskowo, Pomerânia Ocidental.
1324. Bochowke - Bochówko, aldeia no município de Czarna Dabrówka.
1325. Bocksberg, condado de Kolberg, Pomerânia - Jaromierzyce, aldeia extinta em 1928, hoje parte do município de Ustronie Morskie, Pomerânia Ocidental.
1326. Bodenhagen, condado de Kolberg, Pomerânia - Bagicz, aldeia no município de Ustronie Morskie, Pomerânia Ocidental.
1327. Bodschwingken (entre 1938 e 1945 Herandstal), condado de Goldap, Prússia Oriental - Bocwinka, aldeia no município de Goldap, Vármia-Masúria.
1328. Bodschwingken Mühle (entre 1938 e 1945 Herandstal Mühle), condado de Goldap, Prússia Oriental - Bocwinski Mlyn, aldeia no município de Goldap, Vármia-Masúria.
1329. Bogatzewen (entre 1927 e 1945 Reichensee Dorf), condado de Lötzen, Prússia Oriental - Bogaczewo, aldeia no município de Gizycko, Vármia-Masúria.
1330. Bogatzewen (entre 1927 e 1945 Reichensee Gut), condado de Lötzen, Prússia Oriental - Wola Bogaczkowska, aldeia no município de Gizycko, Vármia-Masúria.
1331. Bogatzko (entre 1938 e 1945 Rainfeld), condado de Lötzen, Prússia Oriental - Bogacko, aldeia no município de Gizycko, Vármia-Masúria.
1332. Bogenthin, condado de Kolberg, Pomerânia - Bugocino (local indeterminado).
1333. Bogumillen (entre 1938 e 1945 Brödau), condado de Johannisburg, Prússia Oriental - Bogumily, aldeia no município de Pisz, Vármia-Masúria.
1334.Boguschütz (entre 1936 e 1945 Gottesdorf), condado de Oppeln, Alta Silésia - Boguszyce, aldeia no município de Prószków, voivodia de Opole.
1335. Böhmischgut, condado de Elbing, Prússia Oriental - Czechowo, aldeia no município de Elblag, Vármia-Masúria.
1336. Bohnsack - Sobieszewo, cidade na Pomerânia.
1337. Bohrau (Markt Bohrau) - Borów, município na Baixa Silésia.
1338. Boissin, condado de Belgard, Pomerânia - Byszyno, vila no município de Bialogard, Pomerânia Ocidental.
1339. Boitmannsdorf, condado de Grottkau, Alta Silésia - Bogdanów, aldeia no município de Grodków, voivodia de Opole.
1340. Boitschow (entre 1936 e 1945 Lärchenhag), condado de Gleiwitz, Alta Silésia - Bojszów, cidadela no município de Gliwicki, Alta Silésia.
1341. Bojanow (entre 1936 e 1945 Kriegsbach), condado de Ratibor, Alta Silésia - Bojanów, vila no município de Kranowitz, Silésia.
1342. Bojanowe ou Bajanowo - Bojanowo, cidade na voivodia da Grande Polônia.
1343. Boleslau (entre 1936 e 1945 Bunzelberg), condado de Ratibor, Alta Silésia - Boleslaw, aldeia no município de Racibórz, Silésia.
1344. Bölkau, condado de Danzig, Prússia Ocidental - Bielkowo, assentamento no município de Kolbudy, Pomerânia.
1345. Bolkenhain, condado de Jauer, Silésia - Bolków, cidade na Baixa Silésia.
1346. Bolkow, condado de Belgard, Pomerânia - Bolkowo, aldeia no município de Polczyn Zdrój, Pomerânia Ocidental.
1347. Boltenhagen bei Schivelbein, condado de Belgard, Pomerânia - Beltno, aldeia no município de Swidwin, Pomerânia Ocidental.
1348. Bomst, condado de Züllichau-Schwiebus, Brandemburgo - Babimost, cidade na voivodia da Lubúsquia.
1349. Bonin, condado de Arnswalde, Pomerânia - Bonin, aldeia no município de Choszczno, Pomerânia Ocidental.
1350. Bonin, condado de Dramburg, Pomerânia - Bonin, aldeia no município de Wierzchowo, Pomerânia Ocidental.
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