terça-feira, 21 de março de 2017

Sesmaria de São Thomé

Trecho extraído de: GUTIERREZ, Ester J.B. Negros, charqueadas e olarias: um estudo sobre o espaço pelotense. Pelotas/RS: Ed. Universitária/UFPel, 2001, p. 66-67


"A estância São Tomé limitava-se com o arroio de mesmo nome e o Pestana, Moreira ou Fragata. Começava em rasas campinas, à margem do São Gonçalo, sobre terras que iam, em constante e crescente elevação, tomando o rumo da coxilha do Santo Amor. A estância de São Tomé pertenceu, inicialmente, a Antônio dos Santos Saloyo, que a negociou com Manuel Moreira de Carvalho e sua esposa, Maria da Encarnação. Manuel e Maria venderam metade do terreno a Alexandre da Silva Baldez, e a outra parte a Francisco Araújo Rosa. No dia 20 de abril de 1799, Antônio Francisco dos Anjos comprou a parcela de Rosa.


O lugar da última venda ficou conhecido como estância do Fragata. Possuía as seguintes confrontações: pelo sul, com dona Josefa, viúva do brigadeiro Rafael Pinto Bandeira; pela frente, com Manuel Inácio Gomes [sucessor de Baldez] e, de fundos, com o canal São Gonçalo. O espaço da fazenda e charqueada do Fragata foi descrito, ainda, desta forma: situada para leste da linha - passo dos Carros e passo do Capão do Leão, compreendida pelo curso inferior do arroio Moreira e São Tomé, e margem esquerda do São Gonçalo.


Lembrando os proprietários de suas margens, o arroio levou os nomes de Moreira e Fragata, sendo, o último nome, uma referência à embarcação do charqueador Antônio Francisco dos Anjos. Em um terreno da sesmaria do Monte Bonito, o padre Felício, da estância de Santana, e seu vizinho, Antônio dos Anjos, da charqueada do Fragata, deram início à construção do que veio a ser o primeiro loteamento da cidade de Pelotas. Sobre Antônio dos Anjos, e seu amigo, o padre Felício, ainda muito vai ser contado.


A parte da estância de São Tomé, que coube a Alexandre Baldez, estava situada no interior. O resumo da sinopse de sesmaria informou o que segue:

“Campos no Rio Grande, que principiam em um cotovelo que forma o arroio São Tomé, em demanda do passo que vai para a estância do confinante Rafael Pinto Bandeira; do dito passo em linha reta, por cima de uma coxilha que vai ao passo dos Carros, no arroio Pestana [Fragata ou Moreira], onde extrema com José da Silva e a serra que tapa os referidos campos.”

Alexandre da Silva Baldez era originário da Colônia do Sacramento. Durante a ocupação espanhola, tinha se escondido por essas paragens. Quando o vice-rei Luís de 
Vasconcelos e Souza, em 1789, concedeu-lhe a posse das terras que ele ocupava, essas 
mediam duas léguas [13.200m] de comprimento e 3/4 de légua de largura."

Sesmaria de Santana


Trecho extraído de: GUTIERREZ, Ester J.B. Negros, charqueadas e olarias: um estudo sobre o espaço pelotense. Pelotas/RS: Ed. Universitária/UFPel, 2001, p. 63-66


"Existiram três estâncias - Santana, São Tomé e Santa Bárbara - entre a fazenda, a charqueada e a olaria do Pavão e o cerne do núcleo charqueador pelotense, na sesmaria do Monte Bonito, situada entre os arroios Santa Bárbara e o Pelotas. Elas ocupavam o espaço cortado pelo arroio de São Tomé, depois chamado de Padre-doutor, e do Pestana, Moreira, ou, como posteriormente foi chamado, Fragata, até encontrar o arroio Santa Bárbara, divisa das terras da estância do Monte Bonito. Pelo menos, nessa área, funcionaram duas charqueadas, localizadas às margens do arroio Fragata. Os estabelecimentos saladeiris pertenceram a Antônio Rafael dos Anjos e a Joaquim Manuel Teixeira, ambos da Colônia do Sacramento.

O dono da fazenda de Santana foi Felix da Costa Furtado de Mendonça, alferes de ordenanças das tropas da Colônia do Sacramento. Nascido em 1735, em Saquarema, Nossa Senhora de Nazaré, no Rio de Janeiro, morreu em 1819, em Pelotas. Seus pais chamavam-se Jorge Antônio da Costa Soares e Ana Maria Furtado de Mendonça. Em 1773, na Colônia do Sacramento, casou com Ana Josefa Pereira. Esta era filha de Vicente Pereira, português de São Pedro de Alfândega da Fé, Bragança, que havia casado na cidade do Porto, enquanto aguardava a partida de um navio para a América, com sua conterrânea Madalena Martins Pinta. Ana Josefa foi a décima e última filha do casal. Entre seus irmãos, havia dois padres, Pedro Pereira Fernandes de Mesquita, vigário de Rio Grande, e Antônio Pereira de Mesquita. Ana Josefa Pereira e o alferes Felix da Costa Furtado de Mendonça tiveram três filhos homens, o doutor Hipólito José da Costa Pereira, nascido na Colônia; o padre Felício Joaquim da Costa Pereira, portenho, primeiro vigário de Pelotas, e o rio-grandino José Saturnino da Costa Pereira.

Hipólito, Felício e Saturnino estudaram em Coimbra, como o tio, por isso chamado padre-doutor Pedro Pereira de Mesquita. O mais velho, Hipólito, formou-se em Leis e Filosofia. Jornalista, iniciou e manteve a publicação do Correio Brasiliense, até a Independência do Brasil. Recebeu o título de Patrono da Imprensa Brasileira. A mando do governo português, desempenhou diversas funções. Na América do Norte, estudou as culturas do linho e do cânhamo, por parecerem adequadas à capitania de São Pedro do Rio Grande. Entre 1801 e 1803, suspeito de ser ‘pedreiro livre’, permaneceu, por ordem do Santo Ofício, nos cárceres da Inquisição, de onde conseguiu fugir.

O filho mais moço, Saturnino, estudou Matemática e, como o pai, seguiu a carreira das armas, chegando a general. Foi deputado da Capitânia às Cortes de Lisboa, no início dos anos vinte dos oitocentos; primeiro presidente da província do Mato Grosso, no período compreendido entre 1825 e 1831; senador do Império e seu ministro da guerra.  Os tios e padres Pedro Pereira e Antônio Pereira receberam terras no distrito de Serro Pelado. Pedro foi lindeiro de sua irmã Ana Josefa, na estância de Santana. O vigário de Rio Grande e seu irmão, o religioso Antônio, participaram da partilha das chamadas “sobras” de terras da sesmaria do Monte Bonito.

A sesmaria do alferes Felix da Costa Furtado de Mendonça, e de sua esposa, Ana Josefa Pereira, situava-se no interior das terras, a uma das extremidades da fazenda do Pavão. Localizava-se junto às nascentes do arroio São Tomé, sobre as divisas de Alexandre Baldez, além da serrilhada que arrematava com os morros das Almas e Santana. Em 1807, media 8.712ha. Em 10 de março de 1794, o alferes a tinha recebido de dom José de Castro, conde de Rezende, como prêmio por serviços de guerra. No Registro de Terrenos, a doação possuía 1½ léguas [9.900m] de comprimento, por uma légua [6.600m] de largura, e a descrição dos limites era a seguinte:

Campos no distrito da vila de Rio Grande, na parte setentrional do sangradouro da lagoa Mirim. Confrontam: ao norte com Alexandre da Silva Baldez e Antônio Teixeira Curisco; a oeste com Francisco da Rosa, servindo de divisa o arroio São Tomé; pelo sudoeste com o cume de uns serros que dividia dos campos do brigadeiro Pinto Bandeira, e ao les-nordeste [?] com o doutor Pedro Pereira de Mesquita.

A estância do alferes era vizinha às terras de seu cunhado, o padre-doutor Pedro Pereira Fernandes de Mesquita. O terreno do vigário de Rio Grande havia sido doado pelo mesmo conde, alguns meses mais tarde, mas, no mesmo ano de 1794. Media duas milhas de comprimento [3.219m], por uma [1.609m] de largura. A área estava assim demarcada:

Terras no distrito da Vila de Rio Grande, na parte septentrional do sangradouro da lagoa Mirim, confrontando pelo nordeste com Alexandre da Silva Baldez, pelo arroio São Tomé; a oeste- sudoeste com Felix da Costa, e pelo sul e sudoeste com o brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, servindo de divisa um arroio.

O Padre-doutor emprestou seu nome ao arroio São Tomé, que banhava as suas terras. De acordo com o levantamento realizado pelo capitão, Antônio Ferreira dos Santos, esse terreno tinha sido doado pelo governador José Marcelino, no dia 2 de abril de 1780, a José Inácio das Fontes; fora comprado pelo religioso. Em 1785, o padre-doutor possuía, na área 100 reses, seis cavalos e 50 éguas.

Sesmaria do Pavão



Trecho extraído de: GUTIERREZ, Ester J.B. Negros, charqueadas e olarias: um estudo sobre o espaço pelotense. Pelotas/RS: Ed. Universitária/UFPel, 2001, p. 57-61

"Na estância do Pavão, uma das propriedades do brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, chegaram a funcionar uma charqueada e uma olaria. Conforme informação contida no levantamento realizado em 1785, pelo capitão Antônio Ferreira dos Anjos, a fazenda resultou num somatório de seis sesmarias contíguas, doadas em 1780, e que foram adquiridas pelo brigadeiro Rafael Pinto Bandeira. No momento da compra, a área totalizava nove léguas quadradas [39.204ha].

Em 1807, nos autos da Medição mandada executar pela viúva do brigadeiro, Josefa Eulália de Azevedo, e por seu segundo marido, desembargador Luís Correa de Bragança, a área da propriedade somou 12 léguas e 855 braças superficiais [52.272ha e 4.138m²], sem contar as áreas alagadiças da margem do São Gonçalo e São Tomé, até o sítio da Estiva.  Os limites naturais da estância de Rafael Pinto Bandeira eram o canal São Gonçalo, os dois arroios Pavão, chamados, no início de seu curso, de Contrabandista e São Tomé, ou Padre-doutor, e, pelo interior, o Capão do Boquete, nas imediações do Serro da Buena.

Dos seis campos que formaram a estância do Pavão, cinco foram concedidos pelo governador José Marcelino de Figueredo, no dia 1º de abril de 1780. O terreno restante foi doado pelo governador Sebastião da Veiga Cabral, em 28 de dezembro de 1780, a José Miranda de Oliveira. Esta sesmaria tinha uma légua em quadro [4.356ha] e estava situada entre o arroio Moreira e o Serro.

As cinco áreas concedidas em 1º de abril pertenceram aos seguintes proprietários: alferes Antônio V. Feijó, com uma légua [6.600m] de comprimento, por meia [3.300m] de largura, entre o passo das Pedras e o arroio que dividia a invernada do sargento-mor Roberto Roiz;  Francisco Antunes, com uma légua em quadro [4.356ha], entre o arroio da Estiva e o Pavão; cabo de dragões Manuel Joaquim de Barros, com uma légua [6.600m] de comprimento e meia [3.300m] de largura, situada à direita do passo do Pavão; capitão Joaquim José de Proena, com duas léguas [13.200m] de comprimento e uma [6.600m] de largura, nos fundos do serro Pelado; Leocádia Joaquina de Lima, com duas léguas [13.200m] de comprimento e meia [3.300m] de largura, entre a serra e o sangradouro da Mirim; tenente de dragões Joaquim de Souza Soares, com uma légua em quadro [4.356ha], entre as terras do major Roberto e do reverendo Pedro Pereira. 

No levantamento executado pelo capitão Antônio Ferreira dos Santos, em 1785, na estância do Pavão, Pinto Bandeira possuía os seguintes animais: 6.000 reses; 100 bois; 300 cavalos; 2.000 éguas e 90 ovelhas. No inventário de João Nunes Batista, proprietário da fazenda, charqueada e olaria do Pavão, realizado em 1823, os campos estavam povoados com 8.000 reses de criar; 600 ditas leiteiras; 92 bois mansos; 178 cavalos mansos; 32 [ilegível]; 20 potros; 407 éguas e três mulas velhas.

Alberto Coelho da Cunha, filho do charqueador Barão de Correntes, republicano, abolicionista, funcionário municipal, historiador e pelotense, conhecido pelos pseudônimos de Vítor Valpírio e Jatyr, na Revista do Partenom Literário, escreveu no jornal A Opinião Pública, de 4 de agosto de 1929:

Entregue à Dona Josefa Eulália de Azevedo e às suas duas filhas, os quinhões que lhe vieram a caber, já ficou, por essa ocasião, a grande fazenda retalhada em três. Posteriormente, vendidas, das subdivisões desses quinhões hereditários, formaram-se diversas estâncias.
Essa informação não coincide com as que constam no inventário do português João Nunes Batista, proprietário da charqueada e estância do Pavão. No documento, a área de estância era de dez léguas quadradas [43.560ha]. Foram seus herdeiros a viúva, Joaquina Maria da Silva, e seus oito filhos menores.

Em 1º de outubro de 1810, a viúva de Pinto Bandeira, Josefa Eulália de Azevedo, e seu segundo marido, Luís Correa de Bragança, fizeram doação a João Inácio de Azevedo, respectivamente seu irmão e cunhado, de uma área com 4443100 braças quadradas [91.780ha]. Em 15 de junho de 1825, este vendeu a Joaquim Francisco Ilha. Vinte seis anos mais tarde, quando do inventário de Joaquina Maria da Silva, a área estava reduzida a duas e meia léguas quadradas [10.890ha] de campo da estância do Pavão, incluindo alguns banhados transitáveis; um banhado ainda inacessível, que fazia parte da mesma estância, de aproximadamente meia légua quadrada [21.780ha]. Nos dois inventários, acrescentavam-se três das quatro partes da ilha denominada Pavão, junto à estância de mesmo nome, que tinha a extensão de mais ou menos meia légua [21.780ha]. Com a morte da rio-grandina Joaquina Mª da Silva, a estância foi dividida entre os oito herdeiros.

(...)

O programa de necessidade da estância do Pavão era o seguinte: uma morada de casas de vivenda e cozinha, coberta de telhas e paredes de tijolos, em que vivia o casal, em mau estado; junto a essa, uma outra casa pequena, velha, de tijolos e telhas; perto das casas, um pomar, cercado, com algum arvoredo; dois galpões cobertos de capim e dois potreiros limitados por valos, arrombados em algumas partes. No lugar chamado de Boa Vista, onde morava o co-herdeiro Francisco Gonçalves Vitorino, existiam: dois galpões cobertos de capim, uma mangueira de pedra e uma casa de paredes de pedras, e que na época do primeiro inventário estava coberta de capim, e, quando do segundo, era coberta com telhas de barro.

A charqueada e a olaria foram construídas no mesmo lugar, às margens do arroio do Pavão. Compreendiam um galpão grande coberto de capim; dois menores, também cobertos de capim; uma casa pequena, que servia de residência ao capataz; um forno e galpão de olaria, coberto de capim; uma cancha com duas mangueiras para encerrar o gado de pau-a-pique [mangueira de matança]; uma tafona [para moer sal] e duas mesas de salgar, um potreiro e uma graxeira com dois vapores.
A máquina a vapor foi inventariada no processo da viúva, realizado em 1849, o que não ocorreu no levantamento dos bens de João Nunes Batista, realizado no ano de 1823. Essa foi a grande diferença entre as instalações dos saladeiros do Colla, em 1788, e de João Nunes Batista, em relação à charqueada de Joaquina Maria da Silva.

Com base no que foi descrito nos estabelecimentos charqueadores, foi possível resumir, preliminarmente, um esboço sobre o programa de necessidades, materiais e técnicas de construção utilizados no espaço da produção do charque: a olaria fazia parte da área destinada à atividade charqueadora; os galpões abrigavam a maior parte das funções; desde o início, na charqueada do Pavão, o abate não era feito a campo aberto, mas, em local construído especialmente para esse fim, a mangueira de matança; os materiais e técnicas usadas nas primeiras construções foram a cobertura de capim e as paredes de pau-a-pique e, em menor número de vezes, a alvenaria de pedra; com o tempo, esses materiais foram sendo substituídos por elementos de barro.

Esses materiais foram sendo substituídos por elementos de barro. Telhados e paredes de alvenaria de tijolos foram empregados nas construções importantes, como a residência do charqueador; a morada do proprietário estava localizada no mesmo terreno, mas, em um outro conjunto de construções, afastada do lugar da produção da carne salgada. Esse grupo era formado por um pomar e outros prédios de apoio, como moradia, galpões, potreiros, etc. A presença da máquina de vapor foi um salto na qualificação do processo de trabalho e, conseqüentemente, do produto."



Rafael Pinto Bandeira e suas sesmarias na região


Trecho extraído de: GUTIERREZ, Ester J.B. Negros, charqueadas e olarias: um estudo sobre o espaço pelotense. Pelotas/RS: Ed. Universitária/UFPel, 2001, p. 55-57

"Do arroio Pavão, afluente do rio Piratini, até a laguna dos Patos, existiram seis estâncias interceptadas por cinco arroios, que chegavam à margem norte do sangradouro da Mirim. Somando-se a fazenda da Feitoria, localizada às margens da laguna, entre os arroios Grande e Correntes, teríamos as sete fazendas que vieram a formar o município de Pelotas, hoje subdividido nos municípios de Capão do Leão e Morro Redondo. No quadrilátero definido pelo arroio Pavão, ou do Contrabandista, e a laguna dos Patos; o arroio Grande e o sangradouro da Mirim, ou canal da Torotama, atualmente chamado de canal São Gonçalo, funcionaram mais de 40 charqueadas. Desses estabelecimentos, aproximadamente 30 localizaram-se na Sesmaria do Monte Bonito, destinando-se exclusivamente à salga de carnes e tendo, como alternativa, a produção de elementos cerâmicos. As charqueadas restantes, distribuídas pelas outras sesmarias, dedicavam-se também à criação.

Todas essas estâncias estavam afetas ao distrito do Serro Pelado, onde o brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, como Comandante da Fronteira do Rio Grande, dava informações nos processos de concessão de terras. Rafael Pinto Bandeira foi o exemplo máximo do estancieiro-militar. Sua biografia confunde-se com a história do Rio Grande. Ele e seu bando contrabandearam gado, apropriaram-se de terras, trucidaram, aprisionaram e expulsaram nativos e castelhanos, amedrontaram seus companheiros, e, para a Coroa portuguesa, conquistaram e reconquistaram território.

O comandante da fronteira do Rio Grande fazia com que as autoridades instituídas pelo poder colonial ficassem impotentes diante dos seus atos e dependentes de suas ações. Por isso, o vice-rei, marquês de Lavradio, era favorável às arreadas que enfraqueciam os espanhóis, porque acreditava que não havia outro remédio senão permitir a Pinto Bandeira se fartar, ou seja, até que o brigadeiro se julgasse satisfeito. A maneira de agir de Pinto Bandeira deixava a diplomacia portuguesa embaraçada, como no caso da denúncia do comandante espanhol Juan Verniz, sobre o ataque que Pinto Bandeira fez à Guarda de São Martinho, onde, além de matar soldados espanhóis e fazer prisioneiros, pegou numerosa cavalhada, gado vacum e alguns índios; na estância de São Lourenço, chegou a desnudar as índias e apropriar-se de seus poucos bens.

Pinto Bandeira aproveitou-se do conhecimento que tinha para obter as melhores terras. Nos processos de concessões de sesmarias, ele próprio, como Comandante da Fronteira do Rio Grande, fornecia informações sobre a situação dos solicitantes. Na burocracia estatal, com vistas à obtenção de certidões de propriedade de terras, espalhava o medo. Para manter as aparências, conforme observou o vice-rei Luís de Vasconcelos, Pinto Bandeira, auxiliado por ‘contrabandistas da sua parcialidade’, perseguia os contrabandistas vinculados aos outros estancieiros.

O brigadeiro Rafael Pinto Bandeira nasceu em Rio Grande, em 16 de dezembro de 1740, e morreu na mesma cidade, em 9 de abril de 1795. Era filho do coronel de dragões Francisco Pinto Bandeira, nascido em Laguna, Santa Catarina, e de Clara Maria de Oliveira, da Colônia do Sacramento. Fez dois casamentos. No ano de 1773, em Rio Pardo, casou com Maria Madalena Pereira, da missão de São Lourenço, e, em 1788, em Rio Grande, contraiu segundas núpcias com Josefa Eulália de Azevedo. Com Bárbara Vitória, teve uma filha, Bibiana Maria Bandeira e, com a segunda esposa, ganhou outra filha, Rafaela Pinto Bandeira. Esta casou com o coronel baiano Vicente Ferrer da Silva Freire. De Rafaela, ganhou dois netos: Diogo da Silva Freire, assassinado juntamente com seu pai, em sua fazenda no rio dos Sinos, em 1836, e Maria Josefa da Silva Freire, casada com Israel Rodrigues da Silva, filho do comendador Boaventura Rodrigues Barcellos e de Cecília Rodrigues Barcellos. A família Rodrigues Barcellos foi a que teve maior número de charqueadas, todas localizadas na margem direita do Arroio Pelotas, na sesmaria de Monte Bonito."








A ocupação da região do Sangradouro da Mirim no século XVIII


Trecho extraído de: GUTIERREZ, Ester J.B. Negros, charqueadas e olarias: um estudo sobre o espaço pelotense. Pelotas/RS: Ed. Universitária/UFPel, 2001, p. 50-52

"Propostas para o Sangradouro da Mirim
No início do último quartel do século XVIII, o engenheiro militar Francisco João Roscio executou um levantamento físico/espacial do Rio Grande, que resultou em três mapas. Acrescentou às cartas uma descrição do território levantado onde relacionou as questões de segurança com os espanhóis e a economia. Chamou o texto de “Compêndio noticioso do Continente do Rio Grande de S. Pedro até o Distrito do Governo de Santa Catarina, extraído dos meus diários, observações, e notícias, que alcancei nas jornadas que fiz ao dito Continente nos anos de 1774, e 1775”. Quanto aos dos campos neutrais informou:

'Nas cabeceiras desse rio [Negro] se encontram também muita quantidade de vaca brava e errante que se avalia em mais de 50.000 cabeças. Cuido que são as sobras das fazendas de portugueses abandonadas na língua de terra entre a lagoa Mirim e a costa do mar por ocasião da guerra e entrada dos castelhanos em 1763.'

Em seguida, fez considerações sobre as vantagens da região da lagoa Mirim sobre a vila de Rio Grande, quanto à segurança e os recursos materiais.

'Toda esta segunda parte do terreno, de que tenho tratado ou campos dobrados é de boa terra e produtivo. Nele se acham diferentes qualidades de madeiras, barros e pedreiras, como costuma suceder em países de semelhante natureza. Os campos altos pela maior parte são limpos de mato: mas as bordaduras dos rios e regatos e alguns vales ou baixadas são emboscados e cobertos de arvoredo como também as faldas e encostas dos montes mais elevados e toda a serra ou cordilheira Geral como já disse.'

O secretário da junta da Fazenda do Rio Grande do Sul de 1775, Sebastião Francisco Bettamio, fez considerações bastante aproximadas das de Roscio. No texto “Notícia particular do Continente do Rio Grande do Sul, segundo o que vi no mesmo Continente, e notícias, que nele alcancei com as Notas, do que parece necessário para o aumento do mesmo Continente, e utilidade da Real Fazenda” , entregue ao vice-rei Luís de Vasconcelos, em 1780, entre muitas observações, sugeriu a mudança para Pelotas, considerando o freqüente sepultamento dos edifícios de Rio Grande pelos combros de areia.

'Sendo a mudança para o campo chamado das Pelotas, onde o terreno é melhor, e tem pedra, há os descontos de ficar distante da barra mais de dez léguas [66km]; e não poder fortificar ou guardar pela parte do campo sem uma numerosa guarnição. É bem verdade que o continente nada o guardará se não for uma paz sólida e permanente [...].'

Sobre esta proposta, fez 29 observações. Entre elas, informou:

'[...] entrando-se pelo sangradouro da Mirim, três ou quatro léguas [19,8 a 26,4km], há muitas e admiráveis rochas de boa pedra, havendo portos de mar que dão lugar à entrada de embarcações grandes, e chegam quase ao pé dos cerros; que ali se transporte a pedra para a vila, [...] uma companhia de cento e cinqüenta ou duzentos índios trabalhadores, e que estes se empreguem de baixo da direção de pessoa inteligente em quebrar e arrancar pedras de toda a qualidade...........................................................................................................................................................................................
9ª.- No mesmo sítio em que se corta pedra, há barro para telha e tijolo, e como na aldeia há índios que sabem fazer estes dois materiais, ................................................................................................................................................
No continente pode-se fazer cal de marisco, tanto em uma caieira que há no sítio de Mostardas, [...] mas bom será fazer-se exames, ou experiência com a pedra das margens do sangradouro, se será boa para cal, e também averiguar se há saibro, ou areia própria para a fábrica de edifícios.[...]
12ª.- Nas mesmas margens do sangradouro da Mirim em pequena distância,
consta-me haverem excelentes madeiras, em cujo corte se podem empregar
alguns índios, [...].'

Estavam relacionadas todas as condições materiais para o desenvolvimento da área. Sobre os campos chamados de S. Gonçalo, das Pelotas, ou do Serro Pelado, disse que só deveriam ser ocupados depois de estar concluída a linha divisória do Tratado de 1777: “[...] e tendo visto praticar pelo contrário, porque não só tem repartido, mas até se tem vendido de um particular a outro a posse por um título que não é, nem podia ser, e tal e qual foi adquirido ainda antes da invasão que os castelhanos fizeram no Rio Grande, em cujo tempo não pertencia à coroa de Portugal aquele terreno.” Era de parecer favorável à instalação das fazendas de gado, desde que as vivendas de seus donos se localizassem dentro do recinto da vila.

Em 1778, Moniz Barreto, em “Observações relativas à agricultura, comércio e navegação do continente do Rio Grande de São Pedro no Brasil”, propôs:

[...] que as terras sejam repartidas de outro modo, diferente do que se havia praticado para que ‘em lugar de haver muitas fazendas grandes, haja muitas pequenas, segundo a força dos agricultores’; identifica ramos do comércio a serem incentivados, como ‘as carnes salgadas que devem ser exportadas a este reino em lugar das que vem da Irlanda’, e o cultivo do linho cânhamo, que dispensaria as importações da Rússia.

Dois anos depois, em 1780, começou a distribuição formal das propriedades. Em relação ao distrito do Serro Pelado, verificou-se que houve coincidência entre as observações dos autores assinalados e as doações de terras, realizadas pela coroa portuguesa. Quanto à região platina, constatou-se que, tanto no caso da aparente gratuidade das concessões portuguesas, como no da venda espanhola, houve a monopolização das terras, por parte dos comerciantes, militares e abastecedores do exército."



sábado, 18 de março de 2017

Luiz Felipe Pondé e quem se acha do bem


Na política e na própria sociedade enxergamos este comportamento característico de algumas pessoas que se consideram melhores que as outras em suas visões de mundo e ideias. Ótimo vídeo!

quinta-feira, 9 de março de 2017

Significado e origem de sobrenomes alemães - Parte 57


866. Perleberg: sobrenome toponímico com duas relações possíveis:
1 - Designa o habitante ou procedente da cidade de Perleberg, no distrito de Prignitiz, Brandemburgo.
2 - Designa o habitante ou procedente do distrito de Perleberg, que fazia parte da cidade de Schwerin, Mecklemburgo-Pomerânia. Todavia, o distrito histórico de Perleberg existiu somente na época do Reino da Prússia.
A etimologia do nome Perleberg (segundo o Dicionário Virtual Onomástico Alemão) é resultado da junção de berg que significa montanha em alemão e de perle que corresponde no eslavo medieval a cabana de barro, casa de sapê.
O sobrenome concentra-se em Mecklemburgo-Pomerânia, norte de Brandemburgo e nordeste da Saxônia-Anhalt.
Variantes:
Perlberg - variante encontrada no noroeste de Saxônia-Anhalt e leste da Baixa Saxônia.
Perleberger, Perlberger - variantes derivadas comuns.

867. Treichel (1a. vertente): sobrenome patronímico que corresponde a uma germanização do antigo nome próprio masculino eslavo Dragil ou Dregil (cujo significado é dragão), por isso o significado seria filho de Dragil. Essa versão é sustentada pelo pesquisador Ferdinand Traichel.
Treichel (2a. vertente): sobrenome poligenético com origem no suíço-alemão que designa o sino-chocalho que é colocado em torno do pescoço de animais para que não se extraviem. Mormente, o vocábulo serve para designar o fabricante de sinos-chocalhos, dado haver alguns características específicas na produção deste tipo de objeto, pois, pelo que pudemos constatar, o metal usado é forjado de maneira que seja ao mesmo tempo resistente e o mais leve possível.
Treichel (3a. vertente): sobrenome toponímico referente à vila de Trzechel, distrito de Goleniow, município de Nowogard, Pomerânia Ocidental, Polônia.
As três vertentes são válidas e aceitas pela Genealogia Alemã. Quanto à distribuição, o sobrenome concentra-se fortemente em Mecklemburgo-Pomerânia, na Alemanha, e Pomerânia Ocidental, Polônia, embora de modo geral espalhe-se pelo norte da Alemanha. De acordo com Hans Bahlow, antes da 2a. Guerra Mundial, o sobrenome era muito comum nos territórios orientais do antigo Império Alemão.
No sul da Alemanha e na Suíça, Treichel tende a ser considerada uma variante de Trycheln - este sim o vocábulo original em suíço-alemão relacionado à 2a. vertente.
É um sobrenome recente em termos europeus, pois data aproximadamente do século XVII.
Variantes:
Trycheln, Tricheln, Treicheln, Treichlen, Treichl - variantes diretamente relacionadas à 2a. vertente, comuns em toda a região dos Alpes e sul da Alemanha. No cantão de Berna, Suíça, ocorre com muita abundância.
Trinkel, Trinkl, Trink - variantes mais comuns na Alemanha Central, porém relacionadas à 2a. vertente.
Dreichel, Traichel, Draichel - variantes relacionadas à 1a. vertente.
Trzechel - variante típica pomerana.

868. Krolow: sobrenome toponímico relacionado à vila de Krolewo, município de Postomino, distrito de Slawno, Pomerânia Ocidental, Polônia. Por isso, designa o habitante ou procedente de Krolow. No século XIII, é mencionado um nobre cavaleiro Friedricus de Krolow nos catálogos genealógicos do Sacro Império Romano-Germânico. O sobrenome é comum no norte da Alemanha e no norte da Polônia em iguais proporções.
O significado aproximado seria campo da cruz, campo da encruzilhada, campo do cruzamento.
Variante:
Krolowski - variante polaca comum.

869. Pollnow: sobrenome toponímico referente à cidade de Polanow, distrito de Koszalin, Pomerânia Ocidental, Polônia. Na época do Império Alemão, Polanow recebia a denominação germânica de Pollnow. Em cassúbio, Polanow recebe a denominação de Polanowo. O significado aproximado de Polanow ou Pollnow é campo, rincão do campo, área de campo arável
O sobrenome é tipicamente associado às etnias pomerana e cassúbia.
Variantes:
Polanow, Polanowski, Pollnowski, Polnow, Polnowski - variantes comuns.

870. Bonow: sobrenome toponímico referente à vila de Bonowo, distrito de Rawicz, município de Jutrosin, província da Grande Polônia, Polônia. Também pode se referir à vila de Bonowice, distrito de Zawierce, município de Szczekociny, Silésia, Polônia. O significado aproximado seria campo com árvores, floresta, bosque, área de silvicultura.
Aparentemente é um sobrenome tipicamente pomerano.
Variantes:
Bonowo, Bonowski, Bonowice, Bonowieski - variantes comuns.

871. Kneip (1a. vertente): sobrenome poligenético que significa faca. Todavia, etimologicamente se relaciona ao vocábulo do baixo-alemão kneif com o mesmo sentido, porém serve para designar um tipo de faca ou objeto cortante tipicamente usada por sapateiros na Idade Média. Por isso, o significado desta vertente corresponderia à profissão de sapateiro.
Kneip (2a. vertente): sobrenome poligenético de origem prussiana com origem no termo daquela língua knipawe que significa lugar de reembolsos, casa bancária. Nesta vertente, se a origem da família estiver relacionada ao leste do antigo Reino da Prússia, o significado do sobrenome corresponderia a cambista, banqueiro, pessoa de empréstimos, agiota.
Kneip (3a. vertente): sobrenome poligenético que significa bar, pub, taberna, casa de bebidas. Etimologicamente está vinculado ao verbo kneipen que significa beliscar, dar uma pitada. Neste sentido, se a origem da família estiver relacionada ao oeste, principalmente região do Reno e sul do antigo Sacro Império Romano-Germânico, o sobrenome serve para denominar o taberneiro, comerciante de bebidas.
O uso do sobrenome documenta-se desde o século XV. É encontrado em toda a Europa de língua alemã.
Variantes:
Kneib, Kneif, Kneibe, Kneife - variantes relacionadas à 1a. vertente.
Kneipp, Kneipe, Kneippe, Kneippen - variantes relacionadas à 3a. vertente.
Knip, Knipe - variantes imprecisas.
Kneipef - variante regional, mas comum em diversas regiões da Alemanha e Áustria, relacionada à 3a. vertente.
Beizf - variante relacionada à 3a. vertente, própria do dialeto alemânico.
Wirtshaus - variante relacionada à 3a. vertente, própria do dialeto bávaro.
Wirtschaft - variante relacionada à 3a. vertente, própria do dialeto francônio.
Beisel - variante relacionada à 3a. vertente, própria da Áustria.
Spunte, Spuntef - variantes relacionadas à 3a. vertente, próprias do suíço-alemão e da região do Tirol do Sul.

872. Dannenberg: sobrenome toponímico referente a Dannenberg - nome de lugar que se repete sete vezes na Alemanha, duas vezes na atual Rússia e uma vez na atual Polônia. Todavia, dois lugares merecem destaque especial como origem de linhagens distintas do sobrenome:
1 - Uma linhagem histórica da Baixa Saxônia, diretamente relacionada à cidade de Dannenberg e ao distrito de Lüchow-Dannenberg. O mais antigo registro desta linhagem remete a um cavaleiro chamado Helingerus Krieger Danne Berghe em 1190. Posteriormente, em 1282 aparece um cavaleiro ritter denominado Heinrich von Dannenberg, e finalmente ainda no século XIII aparece o Condado de Dannenberg.
2 - Uma linhagem tipicamente pomerana, diretamente relacionada à vila homônima, que existiu no antigo Reino da Prússia, onde atualmente se encontra o distrito de Wollin, Pomerânia Ocidental, Polônia.
O significado de Dannenberg é ambíguo, pois pode significar monte dos daneses (dinamarqueses) ou monte dos pinheiros, sendo assim o termo original Tannenberg.
O sobrenome está concentrado na metade norte da Alemanha, principalmente Baixa Saxônia, Saxônia-Anhalt e região de Berlim.
Variantes:
Dannenberger, Danenberg, Dannemberg, Danemberger - variantes comuns.
Tannenberg, Tannenberger, Tanenberg, Tanenberger - variantes mais antigas.

873. Hülsen: sobrenome que tanto pode ser poligenético quanto toponímico que significa mangas, vagens, cartucho, concha, luva, objeto alongado ou redondo em que se pode inserir ou guardar algo. De acordo com o site Neue Osnabrücker Zeitung, o sobrenome tem sua origem na antiquíssima profissão do construtor de azevinho, que remonta ainda à Alta Idade Média. Para que se compreenda, o azevinho europeu (Ilex aquifolium) é um tipo de árvore usada pelas populações germânicas assentadas na Europa Central durante a Idade Média como matéria-prima principal de telhados (folhas e galhos), cercas, paredes e como material de vedação no inverno. A relação do azevinho com o termo huls, do baixo alemão medieval teria dado a origem do sobrenome. Além disso, o azevinho é um dos símbolos do Natal na Europa germânica, relacionando-se com costumes pré-cristãos. A extração da madeira do azevinho na Europa Central foi tão intensa, que a espécie quase foi extinta no século XX e, em alguns países europeus, é proibido cortar e podar a árvore.
Em alguns casos, é possível que o sobrenome faça referência a alguém que mora num bosque de azevinhos, um lenhador de azevinhos ou ainda um nome de casa. 
Enquanto topônimo se refere a sete lugares na Alemanha.
O sobrenome data aproximadamente do século XIV e está fortemente concentrado no noroeste da Alemanha, em especial nas regiões de Hamburgo e Bremen.
Variantes:
Huelsen - variante comum.
Hülse, Huelse - variantes no singular da língua alemã.
Hülsmann, Huelsmann - variantes acrescidas do sufixo mann.
Hüls, Huels, Huls - variantes curtas encontradas nas regiões de Bremen e Schwerin.
Hulsius - variante latinizada encontrada nos Países Baixos. Data do século XVI.
Hilsen, Hilse - variantes encontradas na região do baixo alemão.
Hylse - variante na língua norueguesa.
Hylsa - variante na língua sueca.
Von Hülsen, Von Huelsen - variantes de uma família nobre da antiga nobreza prussiana.

874. Schwarzenegger: sobrenome toponímico que significa habitante ou procedente de Schwarzenegg. Schwarzenegg é a denominação para dois lugares na Europa Central: um município no cantão de Berna, Suíça; um lugar na região de Salzburg, Áustria. O significado de Schwarzenegg é montanha ou cume negro. O sobrenome concentra-se na Áustria.
Variante:
Schwarzenegg - variante simples.

875. Piske: sobrenome tipicamente pomerano que é uma adaptação do antigo termo prussiano pisa ou pissa que servia para denominar pântano sem fundo, onde normalmente crescem pequenos abetos e bétulas - isto é, um substantivo que descrevia um aspecto do relevo e vegetação da Europa Central e Europa Centro-Oriental. A forma polaca Pissarek tem a mesma etimologia e é bem frequente na Polônia.
O sobrenome Piske é encontrada com mais frequência na parte norte da Alemanha, mas surpreendentemente com concentrações importantes no centro (Turíngia) e sul (Baviera). Na Pomerânia Ocidental, Polônia, sua ocorrência é muito mais evidente, entretanto.
O mais antigo registro do sobrenome é de 1261.
Variantes:
Pissarek - forma polaca muito frequente.
Pissa - variante prussiana rara.
Pisz - variante encontrada no leste da Alemanha e Polônia.
Pieske - variante comum no norte da Alemanha.
Pissau - variante toponímica encontrada em Rössel.
Piss - variante arcaica.
Piselauk - variante encontrada na região de Soldau.
Pissdehlen - variante encontrada na região de Gumbinnen.
Pissanigen - variante encontrada na região de Lyck.
Piskorzenwen - variante rara encontrada na região de Lyck.







quinta-feira, 2 de março de 2017

Banco Pelotense


Trecho extraído de: URBIM, Carlos (coord.). Rio Grande do Sul: um século de história. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1999, p. 181-182.

" O início do século 20 foi positivo para os pecuaristas e os charqueadores do extremo sul. Em 1906, eles tinham ainda mais razões para comemorar. Nesse ano, em 5 de fevereiro, a união de cinco grandes homens em torno de um ideal criou uma instituição de crédito capaz de fazer nascer a confiança até nos colonos, que sempre depositaram suas economias debaixo do colchão. Nessa data, o coronel Alberto Rosa, Plotino Amaro Duarte, Eduardo Sequeira, Barão de Arroio Grande e Joaquim Assumpção declararam oficialmente fundado o Banco Pelotense.

No início de sua nem tão longa caminhada, o banco tinha como acionistas cidadãos da pequena classe média urbana, além de comerciantes da Zona Sul, de origem alemã e italiana. Os historiadores da época eram ferinos quando se referiam aos produtos que financiavam o Pelotense: 'sempre representou a pecuária anêmica e seu subproduto, o charque - de má qualidade, com preços e mercado incertos - mas insistindo na construção de magníficas sedes nas cidades fronteiriças; mantinha escritórios nas áreas coloniais, onde se produzia, operando com lucratividade e pouco luxo.'


Mas os anos foram passando e o charque foi decaindo nas cotações do Estado, do país e do mundo. Em 1913, os uruguaios passam a exportar carne frigorificada em lugar do charque, o que fez com que os mercados da Europa modificassem seu padrão de qualidade. Em função disso, quatro anos mais tarde a instituição, forçada por Borges de Medeiros, investe dois mil contos de réis na Companhia Frigorífica do Rio Grande, que em seguida abre falência. Essa situação foi o estopim para a dependência do banco em relação ao Estado.

Chegava 1920 e com ele o final da guerra. A desinflação que imperava nesse período começou a trazer receios à direção do banco, que multiplicava filiais e aplicações, se aproveitando da ciranda financeira. O Pelotense não exigia as garantias necessárias para tais negócios, sempre jogando no escuro.

Foi então que - já naquela época - o governo federal decidiu: as contas correntes devedoras deveriam ser convertidas em notas provisórias no exíguo período de 30 dias. Pânico. Na primeira semana de janeiro o Pelotense teve que tirar do nada 37 mil contos de réis. Dizia-se que a crise foi debelada, mas apenas em parte, pela mão forte do coronel Alberto Rosa. Porém, os correntistas foram mordidos pela desconfiança. Além disso, mais um baque nas contas do banco: os grandes fazendeiros e industriais do charque, estrangulados com o desequilíbrio econômico resultante da Primeira Guerra Mundial, não puderam saldar suas dívidas antes dos prazos determinados. Resultado: o Pelotense passou a ser o mais novo pecuarista da região, com a posse de mais de 100 mil reses, que havia financiado a 120 mil-réis ou 150 mil-réis. Mas o valor delas caíra agora para 60 mil-réis ou 70 mil-réis!

O ex-governador Ildo Meneghetti era um fervoroso admirador do Pelotense: 'A importância maior estava na capacidade do banco em atuar no planejamento, na viabilidade econômica e na execução de todas as iniciativas, agrícolas e industriais. (...) cabia ao Banco Pelotense a ação completa de todas as operações. Era essencialmente um banco agrícola e seu trabalho altamente meritório se processava com exatidão, por ser um instrumento efetivo de desenvolvimento'.

Em uma trágica manhã de 5 de janeiro de 1931, o Pelotense fechava suas portas, em processo de liquidação, com 70 mil cadernetas de depositantes. Cinco anos antes, o banco contava com 32 filiais, 26 no Rio Grande do Sul e as outras espalhadas por Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro, na época Capital Federal.

Foram desastrosas as consequências do fechamento do Banco Pelotense. Na cidade se dizia que os colonos, que antes depositavam seu dinheiro nos seguros cofres da instituição, passaram a reter seu dinheiro novamente embaixo dos colchões. E em muitos incêndios foram queimadas grandes quantidades de papel-moeda." (Lucia Porto)
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