domingo, 11 de fevereiro de 2018

Imigrantes judeus em Pelotas


"Os primeiros imigrantes dos quais tenho notícia foram os Millman e Miguel Galanternick.

Sobre a família Milman, consta que o primeiro a chegar foi Salomão, nascido em 24 de dezembro de 1888, que veio da Rússia, passando antes pelas colônias agrícolas da Argentina, onde casou com Clara. Em seguida, mudou-se para Pelotas e mandou buscar seus pais Aran e Sarah, além de seus irmãos: Inês, Marcos e Ada. Ele constituiu-se numa liderança importante junto ao Centro Israelita Pelotense. Nos primeiros tempos, vendeu a crédito e depois estabeleceu uma fábrica e loja de roupas masculinas denominada 'A Casa Londres'. Embora não tenha conseguido precisar o ano em que Salomão Millman chegou, estima-se que tenha sido entre 1907 e 1910.

Dona Ada, irmã de Salomão, em entrevista a Flora Bendjouya disse que nasceu no dia 10 de dezembro de 1906, na Bessarábia. Chegou a Pelotas no dia 23 de novembro de 1910 juntamente com seus pais. A imigração colocou-se como alternativa, já que se julgavam inseguros com relação à sua existência física e buscavam novas oportunidades de trabalho. Casou-se no ano de 1926 com Benjamin Borenstein e teve dois filhos: Marcos e Israel. Foi dona-de-casa e, eventualmente, ajudou o marido em sua loja, denominada 'Casa de Móveis Benjamin', que estava localizada à rua Osório, esquina Voluntários da Pátria. Faleceu no dia 20 de setembro de 1993, na cidade de Porto Alegre.

Sobre Miguel Galanternick, os dados são mais precisos, até porque a história de sua vida se encontra emaranhada na história da comunidade judaica de Pelotas.

Miguel Galanternick era filho de Jayme e Maria Galanternick. Nasceu na Ucrânia (que fazia parte do Império Russo), em 1881. Serviu ao exército militar na Romênia e foi daí que resolveu embarcar para Buenos Aires, Argentina, com 23 anos de idade. Na Argentina, permaneceu por três anos, até que recebeu um chamado de Abrahão Steinbruch, chefe religioso de Philippson, que era primo de seu pai, Maier Galanternick, para que fosse até a colônia conhecer sua filha Frida. Casaram-se em Philippson e logo foram morar em Porto Alegre. Na cidade, associou-se a Salomão Levy e David Chazan, que possuíam uma loja de tecidos, denominada 'A Moda Inglesa'.

Em 1911 chegou a Pelotas e fundou uma filial da firma, sendo esta inteiramente sua. A loja funcionava à rua General Osório, número 663. Fabricava e vendia móveis, além de trabalhar com tecidos.

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Seus dois primeiros filhos, Luísa e Benjamin, nasceram em Philippson, já que era comum as mulheres voltarem à colônia para dar à luz. As quatro restantes: Cecília, Sofia, Anita e Alda nasceram em Pelotas. Nenhum deles foi comerciante como Miguel. Na perspectiva de estimular a ascensão social, objetivo de todo imigrante, cinco de seus filhos completaram o ensino superior, sendo que apenas uma, Cecília, concluiu apenas os cursos comercial e de piano. Já Sofia fez o primeiro vestibular para a Faculdade de Direito de Pelotas, sendo promotora pública do estado.

Miguel já estabelecido, mandou buscar todos os seus familiares da Rússia e também suas irmãs e cunhados que moravam nos Estados Unidos, de forma que todos os Galanternick estivessem reunidos.

Ele foi pioneiro em Pelotas. Organizou uma das sociedades israelitas que existiram na cidade, já que durante a década de 20 até 1933, dois grupos aqui estavam representados; comprou o terreno onde hoje fica o Cemitério Judaico, além de fundar uma Cooperativa de Crédito, que auxiliava alguns imigrantes judeus que chegavam à cidade, sendo também uma liderança importante dentro da Maçonaria.

Sobre o cemitério, Alda, sua filha, em entrevista concedida ao Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, disse que a primeira pessoas que lá se enterrou, foi justamente a irmã solteira do seu pai, Ida Galanternick, que faleceu no dia 11 de novembro de 1922. E como para os judeus não se podia deixar uma pessoa sozinha no cemitério, sua avó Maria Galanternick, que era extremamente frágil, passava dias próxima ao corpo, até que enterraram a segunda pessoa, que foi sua mãe. As informações que constam nas lápides dos túmulos revelam, no entanto, que após cinco meses da morte de Ida, faleceu Rachel Skenazi.

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Na década de 40, Miguel passou a morar em Porto Alegre, pois sua esposa havia falecido ainda em 1924, com trinta e cinco anos de idade e duas de suas filhas tinham ido para a capital estudar.

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No dia 05 de agosto de 1967, morreu em Porto Alegre, alguns dias antes de completar 86 anos de idade.

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Os que aqui chegaram eram principalmente russos e poloneses e, na maior parte dos casos, haviam passado pelas colônias de Philippson ou Quatro Irmãos (RS), quando não tinham estado anteriormente nas colônias argentinas da JCA (Jewish Colonization Association).

Os nomes de família Soibekman, Stifelman, Steinbruch, Nudelman, Druck, Averbuch, Copstein, Treiguer, Axelrud, Procianoy, Rosenberg e Galanternick, que haviam estado em Philippson (município de Santa Maria), fizeram parte da comunidade judaica de Pelotas, assim como os Lokschin, Chaper, Millman, Ocstein, Pechansky, Pustilnik, Pilowinick e Chwartzmann, da Colônia Quatro Irmãos (município de Passo Fundo)."

Observação nossa: outros sobrenomes encontrados no presente artigo: Sockol, Telechewescky, Tovil, Bendjouya.

Fonte: GILL, Lorena Almeida. "Clienteltchiks": os judeus da prestação em Pelotas (RS), 1920-1945. In: História em Revista, UFPel, v.5, 1999, (não tivemos acesso ao número das páginas).


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