sábado, 1 de janeiro de 2022

Os índios da Aldeia dos Anjos

 



(...) Dois mil desses índios se juntam perto de Rio Pardo. Resolveu-se abrigá-los. Escolheu-se uma localidade bem situada, num lugar alto - Gravataí, que é fundada em 08 de abril de 1763, a 33 quilômetros de Porto Alegre. Lá se estabelecem mais de mil índios. Constrói-se igreja, casas, cemitério...Para alimentá-los, determinou-se uma fazenda muito grande entre Palmares e São Simão.

Eram índios que vinham das missões, educados pelos jesuítas. Em Gravataí continua o processo jesuítico: terras comuns, caixa comum, etc. Cria-se um colégio para meninos, um recolhimento para meninas e um serviço pelo qual os índios aprendem a ser lavradores.

Em casa, esses índios falavam guarani, mas no colégio, os meninos e meninas só podiam falar o português, pois as autoridades queriam que eles esquecessem a sua língua, a guarani. Não se sabe o motivo desta obrigação. Apenas se deduz que seja por motivo de integração portuguesa. Aliás, precisaríamos saber se esta política não era de âmbito nacional.

Parece que os portugueses não conseguiram integrar os índios. Eles fugiam para a campanha, onde encontravam trabalho nas estâncias. Iam para as missões e de lá voltavam. Casavam e descasavam. Dizia-se que eram maus cristãos.

Com tantos índios em Gravataí não temos descendentes com os seus sobrenomes, porque as autoridades o obrigavam a adotar sobrenomes portugueses, como está amplamente referido neste livro. Vejamos um exemplo: o cacique Poty virou Narciso de Souza Flores. A família Carabauy deu origem a Dionísio Pereira, Dorotéia da Silva, Miguel Morais, Miguel Luiz Correa. A família Mandarica deu origem a Aniceto Pereira, Joana Maciel, Pedro de Oliveira, Filuta Maciel, etc. A família Nensum deu origem a Inácio Borges Pimenta, Maria Salomé, Lugência Borges Pimenta. A família Cunumipa origem a Inácio Xavier Cavalcanti, Maria Cavalcanti, etc. A família Ayecatu deu origem a João de Alencastre e Antônio de Alencastre...

Como havia dois colégios, também havia dois regulamentos, com suas diferenças e semelhanças. As crianças levantavam cedo e logo almoçavam. Ao meio-dia jantavam e à noite ceavam. Eram costumes diferentes. As moças eram tiradas para casar.

Os índios podiam ter seu trabalho, cujo salário era fixado pelas autoridades. Assim, um índio carreteiro recebia 3$000 por mês; um índio domador, 3$600 por mês; uma índia para servir em casa, 3$800; uma índia ama-de-leite, 3$000.

Deviam ser castigados os que tratassem os índios como escravos, com açoites ou castigos semelhantes.

As autoridades da aldeia eram eleitas. Havia corregedor, escrivão e meirinho.

Fonte: CORREIO RIOGRANDENSE (Caxias do Sul/RS), 10 de Outubro de 1990, pág. 08

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