quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Praça João Gomes em 1938

Cortesia: Família Beléia

Independente F.C. em 1970

Formação do Independente F.C.
Foto de 17 de maio de 1970
Cortesia: Família Beléia

A Triste Origem do Cerro das Almas


O Professor Agostinho Dalla Vecchia no início dos anos 90 empreendeu um trabalho de resgate da memória da população negra na região, realizando várias entrevistas com descendentes de escravos, inclusive indo até locais que foram redutos da população afro-brasileira no pós-Abolição. Dentre suas entrevistas, uma merece atenção especial: a que foi feita com o Sr. Segundino Rosa. Este personagem procedente de Encruzilhada do Sul, contava com 78 anos à época (1990) e foi encontrado no Asilo São Benedito, em Pelotas. Viveu muito tempo em Capão do Leão e seu testemunho é um documento importante. Sobretudo, quando ele fala do Cerro das Almas e o porquê tal local recebeu aquele nome.


Trecho extraído de: DALLA VECCHIA, Agostinho Mário. Vozes do Silêncio: depoimentos de descendentes de escravos do Meridião Gaúcho, Parte II. Pelotas: Edufpel, 1994, p. 562-564.


NOTA: "E" é o entrevistador, o Prof. Dalla Vecchia. "S" é o senhor Segundino Rosa, o entrevistado.


"E - Depois ela morreu e o senhor veio trabalhar em, no Capão do Leão?

S - Depois ela morreu, então eu vim trabaia no Capão do Leão, até... des que trabalhei, no Capão do Leão primeiro, foi numa tal de estrada de ferro... tive 8 anos... e aqueles 8 anos eu só ganhei o até o... dia que trabaiava sim, o tempo de serviço, eu não ganhei nada.

E - (...) E comé que pagavam aí na estrada de ferro?

S - Eles pagavam... naquele tempo... (...) dava um salário.

(...)

E - O senhor ouviu falar de algum lugar, assim especial, onde levavam essa gente prá matar?

S - Óia, lá tem um, aqui no Capão do Leão, tem um lugar que chamavam Cerro das Arma... que diz que era um lugar que matava muito?

E - Comé que é o nome?

S - Cerro das Arma.

E - Cerro das Almas.

S - É... então nesse lugar diz que matava.

E - Mas, lá em Encruzilhada, tinha um lugar também?

S - Não, Encruzilhada... não vi lugar... próprio onde matava, não... porque... Cerro das Almas tinha muito serviço de escravo... E tem ainda... lá naquele tempo.

E - O que que tem lá, que os escravos fizeram?

S - Cerca de pedra... tem muita... até coisa de fazenda né... tem tudo, tudo feito de pedra.

E - E casas de pedra, tem também?

S - Casa de pedra, tem e tem e tem mais, é muito poca.

E - Tem alguma tapera velha assim?

S - Tem ... e no Capão do Leão, no Capão do Leão tem uma tapera velha de pedra... por aqueles matos, de Oliveira.

E - Nos mato dos Oliveira?... Fica ali perto do Capão do Leão?

S - Fica...

E - O pessoal aí do Capão, conhece onde é que é isso?

S - Conhece, mas ele nem sabe do que era aquilo... muita gente conhece e não sabe o que era aquilo.

E - Bom... Uma outra coisa o... tinha algum guarda, alguma pessoa que cuidava os escravos enquanto eles trabalhavam?

S - Não... quilo era mais a vontade, só tinha uma, assim mas... aquele não, nem chamavam guarda, nem nada, só ficava... por ali mas não apertava eles nem nada... pa trabaia.

E - Mas e, porque então si, de dia era a vontade, de noite era preso debaixo da chave?

S - Queles que era preso... era aquela, queles que pegavam de noite, aqueles não iam pro serviço... aqueles, pegavam e ficava preso assim e depois eles... Terminava co a vida deles."



Baile na Associação dos Trabalhadores do 4o. Distrito em 1972

Cortesia: Naira Zanusso

A cultura do Aspargo


Além da fruticultura e da extração mineral, outra atividade econômica bastante relevante em Capão do Leão fora a cultura do aspargo (Asparagus officinalis, L). Bem verdade, toda a região de Pelotas e Canguçu produzia a hortaliça em larga escala e foi responsável por mais da metade da produção nacional durante a maior parte do século XX. Isso se deveu ao pioneirismo que a zona sul do estado teve em relação à esta cultura agrícola, introduzindo-a na década de 1930. Naquela época, o aspargo não era cultivado com fins comerciais no Brasil, sendo importado da Europa ou completamente desconhecido em várias regiões. Encontrando condições favoráveis de clima e solo, a cultura do aspargo logo fomentou o desenvolvimento da indústria conserveira pelotense e, nas décadas de 1940 a 1970, o produto, quase em sua totalidade, era destinado à tal finalidade. A Fábrica Sória, localizada na Vila Teodósio, era um dos locais onde se produziam conservas de aspargo que eram vendidas a diversos mercados do Rio Grande do Sul e do Brasil.
Durante as "décadas de ouro" do aspargo em Capão do Leão as principais fazendas de cultivo chegaram a ter uma produtividade média de cinco toneladas por hectare. Entretanto, a partir de meados da década de 70 a produtividade média caíra para valores oscilantes entre três auma tonelada e meia por hectare. Um fator preponderou para a queda da produção: o apodrecimento generalizado do sistema radicular do aspargo, causado pela deterioração nutricional das lavouras. Na época, a UEPAE - Cascata, órgão da Embrapa, realizou levantamentos técnicos sobre a cultura e foram introduzidas novas variedades de mudas procedentes de New Jersey (E.U.A.). Contudo, a recuperação das áreas cultivadas não logrou o êxito pretendido no sentido de um novo momento de expansão para o aspargo. A retração ocorrida na indústria conserveira pelotense na década de 1980 ocasionou uma queda acentuada da demanda da matéria-prima. Por isso, muitos produtores acabaram optando por outras culturas agrícolas mais rentáveis.
Em Capão do Leão, o aspargo foi cultivado principalmente na região da vila, Cerro das Almas, Teodósio e Várzea. No Jardim América também haviam inúmeros minifúndios que se dedicavam ao cultivo da hortaliça, sendo boa parte na área do atual Loteamento Zona Sul. O plantio era realizado no fim do inverno e a colheita se estendia durante os meses da primavera.

Cosulati


Trechos extraídos do O Recado da Cosulati, Ano 29, número 343, Maio/Junho de 2006:


"Em 1973 existia na região sul duas cooperativas que atuavam na área de laticínios: Colacti (Cooperativa Central de Laticínios da Região Sudoeste do Rio Grande do Sul Ltda.) e a Coolapel (Cooperativa Regional de Laticínios Pelotense Ltda.), os dirigentes já possuíam uma visão própria do que era o modelo cooperativista e então perceberam que a concorrência entre as duas não era o melhor caminho. Mas, através da união, trabalho e participação poderiam se fortalecer, garantindo o futuro do modelo cooperativo, desta forma, nasce no dia 21 de setembro de 1973 a Cosulati Cooperativa Sul-Rio Grandense de Laticínios Ltda.

Criada com o objetivo principal de industrializar e comercializar a produção de associados, proporcionando, através dos ganhos gerados com a comercialização, a sua permanência no campo."


"A organização do quadro social, coleta de leite, rotas e distribuidores foram se estabelecendo com o tempo, a cooperativa então começou a expandir seus negócios e, em 1975 adquiriu a fábrica de queijos, em Morro Redondo, onde atualmente funciona o Frigorífico de Aves."


"Em 1976, foi implantado o Setor de Comunicação e Educação Cooperativista, passando a atuar diretamente com os produtores, realizando reuniões, preparando visitas, entre outras atividades."


"Em 1980, a necessidade de produzir sua própria ração, levou a aquisição da Fábrica de Rações Raicom, em Pelotas. Em 1982, foi construída uma nova torre de secagem de leite, junto ao parque industrial, no município de Capão do Leão."


"Em 1987, foi iniciada a atividade avícola, a fim de proporcionar a diversificação na propriedade, para isso, foi adquirido o frigorífico no Povo Novo, com capacidade para milaves /dia, atualmente funciona no Morro Redondo, com produção de 22mil aves/dia."


"Em 1990, houve mudança de 100% nos Conselhos de Administração e Fiscal da Cooperativa. O atual presidente Arno Alfredo Kopereck, obteve 86% dos votos dos associados, o novo conselho decidiu investir no quadro social e imediatamente lançou a moeda leite (um novo indexador), que possibilitou ao produtor beneficiar-se com financiamentos de pastagens, matrizes e equipamentos."


"Ainda em 1990, a reforma estatutária organizou o quadro social em 89 núcleos, proporcionando maior participação aos associados que passariam a decidir os destinos da cooperativa através do voto."


"Aberta às novas tecnologias, foi implantado nos anos 90, o sistema de coleta de leite a granel, concluído em 1997. Esta trouxe grandes benefícios ao produtor e a Cooperativa, com investimentos em ordenhadeira e resfriadores aos associados."


"Para completar o ciclo de produção de matéria-prima, a Cosulati passa a investir na área de cereais, assegurando a comercialização de produtos aos associados e gerando mais uma fonte de renda as famílias. Em 1999, Canguçu recebe as instalações da nova fábrica de rações, quatro vezes maior que a anterior."


"A Cosulati hoje é formada atualmente por 3657 cooperados, e 1500 produtores ligados a cooperativas parceiras, como as dos municípios de Aceguá, de São Lourenço do Sul, de Santa Vitória do Palmar, de Turuçu, de Hulha Negra, de Pedras Altas, de Santana do Livramento e Herval que desenvolvem as atividades de leite, aves, cereais, e residem em 32 municípios da região sul do nosso Estado. O quadro de associados está organizado em 87 núcleos, distribuídos em 32 municípios da área de abrangência da Cosulati."
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