domingo, 1 de abril de 2018

Imigração em São Paulo - Parte 01

"O cenário era preocupante. A abolição da escravatura no Brasil já era dada, em meados do século XIX, como uma questão de tempo, tanto pelas pressões internacionais como pelo movimento abolicionista, que vinha num crescendo. A Guerra do Paraguai expusera a fragilidade das fronteiras do país ao sul, onde grandes áreas desocupadas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul eram alvo de cobiça de nossos vizinhos. E o café, cujo cultivo começara timidamente no Rio de Janeiro no início do século XIX, havia se transformado no nosso ouro negro e avançava com toda a velocidade em direção ao interior do Estado de São Paulo. Rasgava a geografia, fazia fortunas da noite para o dia e exigia mais e mais trabalhadores, uma demanda possível de ser suportada pelo já execrado tráfico de escravos.

Assim começou a se desenhar a solução da imigração. Em 1870 - ainda no Império e antes mesmo da Abolição - começaram a chegar as primeiras levas de italianos, espanhóis, alemães, poloneses, ucranianos para atingir, até 1930, período conhecido como o da Grande Migração, a impressionante cifra de 2,5 milhões de trabalhadores de 70 nacionalidades diferentes, só no Estado de São Paulo. Para se ter uma ideia do tamanho desse contingente migratório, é bom lembrar que, em 1889, o Brasil tinha uma população em torno de 14 milhões de habitantes.

Os imigrantes chegavam cheios de esperança, fugindo da miséria, da fome e do desemprego, resultantes das profundas transformações socioeconômicas ocorridas na Europa e, posteriormente, no Japão. A América, aí incluído o Brasil, era o Eldorado, a terra de oportunidades e da promessa de enriquecimento.

A lavoura cafeeira expandia-se rapidamente na direção do oeste do Estado de São Paulo, acompanhando a mancha de terra roxa, de solo rico, fértil e pouco acidentado. A produção brasileira de café, em 1880, atingia a marca de 5,9 milhões de sacas, ultrapassando o total da produção do resto do mundo. Mas faltavam braços para o plantio e a colheita.

O tráfico de escravos tinha sido proibido, em 1850, e o escravo tornava-se um produto raro e caro, de acordo com Sônia Maria de Freitas, historiadora do Memorial dos Imigrantes, em São Paulo, e autora do livro E chegam os imigrantes...

Para piorar a situação, não havia mão-de-obra livre em número suficiente para atender à demanda das fazendas de café que multiplicavam, principalmente no interior de São Paulo. O número de propriedades rurais no Estado saltou de 56 mil, em 1905, para 80 mil, em 1920. Neste ano, as 1.999 fazendas com mais de 1.001 alqueires, os grandes latifúndios cafeeiros, ocupavam quase a metade do total da área plantada.

(...)

Para atender à demanda por mão-de-obra, a solução foi importar trabalhadores europeus e, posteriormente, asiáticos. A imigração começou tímida, a partir da iniciativa de alguns fazendeiros, como por exemplo, a do senador Nicolau Vergueiro. Mas, a partir de 1870, a imigração passou a contar com o apoio do governo imperial que, além de autorizar a propaganda do Eldorado brasileiro na Europa, chegou a estabelecer um serviço de subsídios às passagens de imigrantes. Em 1886, foi criada a Sociedade Promotora da Imigração, por iniciativa de Antônio de Queiroz Telles, o Conde de Parnaíba, cafeicultor e presidente da província de São Paulo, que passou a bancar a maioria dos gastos com a imigração. Só para se fazer uma ideia, de 1889 a 1928, a Sociedade obteve do governo de São Paulo verbas da ordem de 1.781.306:888$ para o financiamento de viagens.

Com o apoio da Sociedade, o imigrante viajava de graça desde o seu país de origem até as fazendas de café. Cruzavam o Atlântico até o Porto de Santos e, de trem, atravessavam a Serra do Mar, até desembarcar na estação da Hospedaria dos Imigrantes, um prédio imenso, com mais de 30 mil metros quadrados, inaugurado em 1888, e com capacidade de abrigar até 3 mil pessoas. 'Há registros, no entanto de que o número de migrantes chegava a 8 mil', diz Sônia Maria de Freitas.

Na Hospedaria, os imigrantes permaneciam por uma semana, até que a Agência Oficial de Colonização e Trabalho os encaminhasse às fazendas de café."

Fonte: UMA América por fazer. Horizonte Geográfico - A emoção de descobrir o mundo. São Paulo, ano 13, número 67, p. 64-65.
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