sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

A procedência dos imigrantes italianos do Rio Grande do Sul


"Com a unificação política da Itália, em 1870, consumava-se a última esperança de um povo que, depois de inúmeras e prolongadas lutas, viu malogrados os seus anseios. A reformulação processara-se apenas no âmbito político-administrativo. No tocante à economia interna e à estruturação social, os esquemas permaneceram idênticos aos que vigoravam antes da unificação.

As regiões montanhosas do norte da Itália muito pouco ofereciam ao trabalho de seus habitantes. As terras mais fecundas eram propriedade de latifundiários.

Realizados os primeiros contatos oficiais que estabeleciam entre Itália e Brasil uma política de emigração-imigração, não hesitaram os pobres agricultores de áridas terras - e, quando assim não fosse, servidores de uma minoria abastada - em deixar o país de origem na busca de uma nova pátria, onde transplantariam o seu mundo, a sua força, realizando, assim, a sua reabilitação humana e social. Vinham de longe e iniciavam aqui a trajetória dos heróis anônimos.

Oriundos de Províncias diversas, portadores de iguais princípios, alimentavam-se da mesma fé ante a perspectiva de um novo horizonte.

Corria o anto de 1875, quando a Região Nordeste do Rio Grande do Sul recebeu o primeiro contingente de imigrantes vindos de Milão e de Bérgamo. Eram poucos, então, os recém-chegados; mas, ainda nesse ano e em outros subsequentes, a Itália viu partir das Regiões do Vêneto, da Lombardia, do Friuli-Venécia Júlia, Trentino-Alto, Adige, Piemonte, Emília-Romanha, Toscana, Ligúria, Campânia (Nápoles), Calábria e Sicília, grande número de emigrantes que aqui ocuparam, de modo particular, áreas da Região Nordeste, Litorânea e Depressão Central do Rio Grande do Sul.

Essas correntes emigratórias prolongaram-se até nossos dias, embora o maior fluxo se tenha registrado nos últimos decênios do século passado e primeiros deste (nota nossa: século XX).

No que se refere à proveniência dos imigrantes, o problema pode ser abordado dentro de duas perspectivas:

1o.) Tomando-se em conta a divisão político-administrativa do norte da Itália, fins do século XIX, e considerando-se as regiões limítrofes da Itália com o Império Austro-Húngaro, regiões estas que refletiam as consequências das guerras da unificação e se encontravam em situação de instabilidade e insegurança político-econômica, pode-se estabelecer a seguinte origem para os imigrantes:

a) territórios do ex-Reino da Lombardia, hoje constituindo a Região da Lombardia;

b) antigos domínios da República de Veneza, hoje representados pelas Regiões do Vêneto, Friuli-Venécia Júlia e Trentino-Alto Adige (esta última ainda sob o domínio austríaco na época dos grandes movimentos emigratórios para o Brasil);

c) áreas limítrofes às Regiões anteriores, de modo especial, Províncias das Regiões do Piemonte, Emília-Romanha, Toscana e Ligúria.

2o.) Considerando-se, por outro lado, a delimitação areal do fenômeno emigratório no norte da Itália, somente sob o aspecto geográfico, determinam-se dois pólos de relevância:

a) o Vêneto, centro polarizador do maior fluxo emigratório com destino ao Rio Grande do Sul, tendo, sob sua área de influência, carreado elemento humano do Friuli-Venécia Júlia, do Trentino-Alto Adige e do norte da Emília-Romanha;

b) a Lombardia que, com suas correntes emigratórias, influenciou áreas limítrofes do Piemonte, Ligúria, noroeste da Emília-Romanha e, através das duas últimas, a área norte da Toscana.

Após a Primeira Guerra Mundial e, de modo marcante, nos anos subsequentes à Segunda, assistiu-se a um novo fluxo de emigração no sul da Itália: Campânia (Nápoles), Calábria e Sicília. Esses imigrantes, porém, estabeleceram-se nos centros urbanos do Rio Grande do Sul.

Retomando o problema emigratório do norte da Itália para o Rio Grande do Sul, nos fins do século XIX e inícios do século XX, pode-se, segundo critério geográfico, estabelecer ara os imigrantes os índices quantitativos, conforme as Províncias de origem.

Do Vêneto provieram - em maior número - imigrantes das Províncias montanhosas ou em parte montanhosas (Vicenza, Beluno e Treviso), seguindo-se as demais: Pádua, Verona, Veneza e Rovigo.

Em números percentuais aproximativos, o elemento humano vêneto que povoou partes do Rio Grande do Sul pode ser representado como segue: vicentinos, 32%; beluneses, 30%; trevisanos, 24%; paduanos, 8%; veroneses, 4%; venezianos, 1,5%; rovigotos, 0,5%.

Da Lombardia, as Províncias de montanha fizeram-se presentes só em parte (Bérgamo e Bréscia); as da planície do rio Pó contribuíram com o maior contingente (Cremona, Mântua e Milão), excetuando-se Pavia.

Para a Região Lombarda, os índices de emigração para o Rio Grande do Sul são representados na seguinte ordem: cremoneses, 30%; bergamascos, 27%; mantuanos, 20%; milaneses, 14%; brescianos, 6%; outras Províncias (Pavia, Como, Varese e Sôndrio), 3%.

Os imigrantes vindos do Trentino-Alto Adige (Tirol), e aqui chegados com passaporte austríaco, eram, em sua maioria, da Província de Trento (98%); os demais - 2% - vieram da Província de Bolzano.

Trieste e Gorízia - do Friuli-Venécia Júlia - contribuíram com índice relativamente baixo (4,5%) sobre o total dos emigrantes da Região que se estabeleceram no Rio Grande do Sul, os restantes 95,5% eram friulanos.

Considerando a imigração italiana em todo o Rio Grande do Sul, verifica-se uma incidência de vêneto-lombardos, complementados por um número não insignificante, de trentinos e friulanos. Através de um levantamento dos emigrantes em âmbito regional, uma percentagem aproximada fornece o seguinte quadro de proveniência: vênetos, 54%; lombardos, 33%; trentinos, 7%; friulanos, 4,5%. Os demais - piemonteses, toscanos, emiliano-romanheses e lígures - representam 1,5% do total.

Hoje, decorrido um século a contar os primeiros italianos vindos ao nordeste do Rio Grande do Sul, verifica-se que se encontram os seus descendentes representados em todo o território do Estado, não mais em comunidades isoladas, mas integrados no processo histórico da vida e desenvolvimento da nova pátria."

Fonte: FROSA, Vitalina & MIORANZA, Ciro. Proveniência. In: EDEL LTDA. Centenário da Imigração Italiana/Centenario Della Imigrazione Italiana. Porto Alegre/RS: Edel Ltda., 1975, p. 34-35.






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