sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A modernização de Pelotas no início do século XX


Trecho extraído de: OLIVEIRA, Maria Augusta Martiarena de & AMARAL, Giane Lange do. Educação, urbanização e modernidade em Pelotas, na década de 1910. IN: II Simpósio Nacional de Educação, XXI Semana de Pedagogia, Anfiteatro campus de Cascavel, 13 a 15 de Outubro de 2010.

"De acordo com Magalhães foi na década de 1910 que se verificou a modernização urbana de Pelotas. Durante quase todo o período, ocupou o cargo de intendente o engenheiro Cypriano Barcellos: ininterruptamente através de dois mandatos, entre 1912 e 1920 (já exercera a intendência entre 1904 e 1908). Foram implementados e consolidados os esgotos e água encanada, luz elétrica e telefone e, quase sempre, mediante a grandes dificuldades. O autor utiliza-se das palavras de Abadie Faria Rosa, para descrever a urbanização da cidade:


Impressionara-me aquele súbito avanço. A remodelação ia-se impondo. Estava já quase completa a instalação da rede de esgotos, preparava-se a próxima inauguração de bondes elétricos, cuidava-se da reforma do calçamento. O mercado apresentava-se outro, na elegância dos seus torreões. A ponte de pedra fora reedificada. Ao lado do Santa Bárbara havia uma praça ajardinada. Para além, o caminho do parque, que dizem agora esplendente, era um novo bairro que se intensificava com as magníficas instalações da Força e Luz. E no coração da urbs, a Praça da República, que sempre fora um encanto na formosa Pelotas, desdobrava-se ainda mais bela, como se vara mágica das Fadas houvesse operado o milagre do embelezar a própria beleza.


(...)

As preocupações com as melhorias urbanas da cidade encontram-se presentes nos Relatórios Intendenciais da década de 1910. Veja-se, por exemplo, algumas frases introdutórias do Relatório de 1910, apresentado por José Barboza Gonçalves:

Cada vez mais se firma em meu espírito a conveniência de serem explorados, directamente, pelo poder publico, os vários serviços que interessam á hygiene urbana e á commodidade geral dos munícipes. Entre outros de alta relevância, convem salientar, principalmente, as obras relativas ao abastecimento d’agua, aos exgottos subterrâneos e á illuminação da cidade.

Aparecem, também, nas palavras do intendente que se seguiu a Barboza, Cypriano Corrêa Barcellos:

Entretanto, desde já, os seguintes mais importantes problemas exigem todo o nosso esforço e para cuja proveitosa solução pratica, dentro do mais curto espaço de tempo possível, despenderei todas as energias de que for capaz: - o estabelecimento de rêde de exgottos, a reconstrução da de águas, com a necessária ampliação, e a instalação dos serviços de electricidade: - bonds, energia e luz, (RELATORIO Intendencial,1912, p.3).

(...)

Magalhães cita como empreendimentos desenvolvidos durante as primeiras décadas do século XX: plantações de arroz, que tiveram incremento por iniciativa do coronel Pedro Osório, a partir de 1907 (Loner e Magalhães discordam com relação ao ano de início da cultura do arroz em Pelotas); Fábrica de Fiação e Tecidos, inaugurada em 1913; a Força e Luz, em 1912; os bondes elétricos, em 1915; a remodelação do Mercado, entre 1911 e 1914; a fundação da Faculdade de Direito, em 1912; da Academia de Comércio, pelo Clube Caixeiral, em 1907; do Banco Pelotense, em 1906, mas com edifício próprio a partir de 1916; do Esporte Clube Pelotas, em 1908; do extinto Tiro Brasileiro, em 1912 e do Escotismo, em 1916.

(...)

No ano de 1913, foram inaugurados, em Pelotas, dois “collegios elementares” estaduais, o “Felix da Cunha” e o “Cassiano do Nascimento”. A incorporação dessas instituições ao conjunto educacional da cidade demonstra que, notadamente a partir da década de 1910, o ensino público teve um incremento. Além disso, nessa mesma década, Cypriano Corrêa Barcellos encontrava-se bastante satisfeito com a situação da instrução:

Problema que attrahe e prende a attenção dos dirigentes em todos os paizes, muito principalmente naquelles que, como o nosso, iniciam as primeiras pugnas da grande campanha, não tem a instrucção permanecido estacionaria em nossa terra nem se apresenta em plano inferior. Ao contrario, pode-se affirmar, com justa ufania, que seu útil desdobramento é continuo e de excellentes resultados, tornando-se já conhecidos, dentro e fora do Estado, os nossos estabelecimentos de ensino. Noveis ainda quase todos, offerecem, entretanto, provas inconcussas da bem constituída organisação de que são dotados, (RELATÓRIO Intendencial de 1916, p.19). "

As Feiras Livres no Rio Grande do Sul


Trecho extraído de: URBIM, Carlos (coord.). Rio Grande do Sul: um século de história. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1999, p. 381-382.


"Em 1925, um dos maiores problemas da população gaúcha era a carestia. Os preços dos alimentos, principalmente, andavam pela hora da morte. Não havia dinheiro que chegasse na hora de garantir comida para a família. Por isso, o intendente de Porto Alegre, Otávio Rocha, nomeou uma comissão para estudar uma fórmula de oferecer produtos mais baratos. Formada pelo subintendente do Quinto Distrito, capitão Francisco Coelho, pelo capitão Maximiliano Schneider e pelo doutor Ricardo Cauduro, a comissão encontrou uma solução: feiras livres.

A primeira foi inaugurada no dia 18 de março, em um terreno na esquina da Rua São Pedro com a Avenida Bahia, no coração do arrabalde São João. Para a inauguração, foi formada uma banda de operários, que animou a cerimônia presidida pelo próprio Otávio Rocha. No local, foi erguido um pavilhão coberto por uma lona impermeável. Sob o toldo, várias bancas com as ofertas do dia.

Os primeiros feirantes inscritos foram Jorge Abrahão e a Escola de Engenharia. Abrahão vendia, a preços mais compensadores, feijão, farinha de mandioca, milho, batata, charque, toucinho, peixe seco, farinha de trigo, sal, banha e lentilha. A Escola de Engenharia estava representada pelo Instituto Experimental de Agricultura, que vendia linguiça, carne de porco, banha, feijão miúdo, galinhas, ovos, perus, patos, pão misto e sementes de vários cereais.

Veio gente de longe para comprar a preços mais acessíveis. Em pouco tempo, a prefeitura abriu feiras livres também na entrada do Caminho Novo (atual Voluntários da Pátria) e na ponte da Azenha. Os vendedores ficaram ainda mais satisfeitos: as bancas montadas uma vez por semana garantiam um movimento de 2.500 contos de réis em cada feira. A boa ideia da comissão contra a carestia foi aproveitada por outras cidades. E, no dia 21 de maio, surgia a primeira feira livre de Pelotas.

No início houve reação dos comerciantes, donos de empórios e armazéns. Mas as feiras livres vingaram e, até hoje, uma vez por semana, ainda aparecem em ruas da cidade rio-grandenses. Sempre oferecem alguma pechincha, para remediar os males da carestia. (Carlos Urbim)"

O Rio Grande do Sul na "Corografia Brasílica" de Aires de Casal



A Corografia Brazilica ou Relação historico-geografica do Reino do Brazil, do padre Manuel Aires de Casal, foi o primeiro livro editado no Brasil, no ano de 1817.


A "Corografia" (descrição histórico-geográfica de um lugar) foi a obra que inaugurou a edição de livros no Brasil.

Escrito por um padre, de cuja biografia pouco se sabe, o livro era dedicado ao rei D. João VI que, em razão da invasão napoleônica em Portugal, transferira toda a Corte para o Brasil, trazendo consigo a Imprensa Régia.

Dividido em dois volumes, a Corografia faz uma descrição de todo o país: relaciona cada Província e, para cada uma, refere as vilas nela existentes. Sua obra divide do território brasileiro em regiões de acordo com as bacias fluviais, utilizando o curso dos rios.

Informações extraídas do link original na Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Corografia_Bras%C3%ADlica 

Reproduzimo aqui por sua importância, o trecho entre as páginas 66 e 70.

Montes. — Nesta província não há serras, nem montes de altura considerável: os maiores ficariam em silêncio em outras províncias, ainda que não fossem montanhosas. A única serra notável é a Cordilheira, que vem do norte sempre ;i vista do mar, e no paralelo de 29°% vira para o ocidente, e depois para o noroeste com algumas tortuosidades, quebrando em muitas partes para dar passagem a vários rios, como são entre outros menores o Taquari, o Jacuí, o Uruguai, o Iguaçu, e o Paraná, que nesta paragem forma a correnteza das Sete Quedas: Serra Geral é o seu nome. 

O Monte de S. Martinho, aliás Monte Grande, é uma porção daquela serra quando divide a província da do Uruguai. 

Monte Vídio, ou Vidéu, situado no lado ocidental da baía, a que dá o nome é vistoso, e o único alto nas vizinhanças do mar. 

Castilhos Grande é um outeiro (junto à ponta do seu nome) coroado de penedos, que parecem torreões. 

O Pão de Açúcar está sobre a praia, 4 léguas ao poente de Maldonado: e o Monte de Santa Luzia pouco a leste do rio deste nome. 

A chamada Serra dos Tapes, não passando dum terreno pouco levantado, corre paralela com a Lagoa dos Patos em distância de 4 até 7 léguas, com 15 de comprimento norte-sul, e em partes 5 de largura: a do Herval fica mais ao setentrião por detrás daquela. 

Chamam-se Cochilhas as cadeias de colinas de grande extensão com pastagens para os gados, e sem árvores. 

O mencionado Pão de Açúcar é a extremidade meridional da chamada Cochilha Grande, que se estende para o norte até à origem do Rio Ariçá: é verdade que em muitas paragens a sua elevação é imperceptível, parecendo campo: dela partem outras muitas para um, e outro lado alternadamente com os rios, que também nela principiam. As do lado ocidental são-nos desconhecidas: as maiores das orientais são: a do Erval, a do Pixatinin nas proximidades dos rios destes nomes: Babiraqua nas vizinhanças do Camaquã. 

Chamam-se Cerros as porções mais elevadas das serras, e cochilhas de forma circular, pontudas, e destituídas de vegetais, de cujas sumidades se descobre grande extensão de terreno; e por isto têm servido de atalaias muitos para fazer sinais nas ocasiões de guerra. Os principais, começando ao longo da Lagoa Mirim, são: Cerro Largo, entre os rios Chuí e Jaguarão; o Cerre da Vigia, nas vizinhanças do derradeiro rio; o Cerro Baú, na cochilha grande; o Irajassé próximo às cabeceiras do Rio Negro; Cerro Pelado, sobre a margem setentrional do Piratini; o Cerro Bativi, perto da origem do Vacai; Santa Maria, numa ponta da serra geral, próximo à nascença do Vacaí-mirim; Maria Pinto, em cima da Cochilha Babiraqua; Cerro Pelado da Encruzilhada, sito nas cabeceiras do Rio Iroí; Vigia da Encruzilhada, sito em cima da Cochilha Babiraqua, denominada naquele sítio a Encruzilhada; Cerro de Mateus Simões, à margem do Capivari; Butucaraí, na margem do rio assim chamado; Monte Alegre, na margem setentrional do Rio Pardo; Monte Negro, sobre o Rio Caí; Capocaia, em cima doutra ponta da serra geral, e junto da margem meridional do Rio do Sino; o Itacolomi, pouco distante daquele na mesma ponta da serra, e vertentes do Arroio dos Ferreiros. De alguns avistam-se outros em distância de 20 léguas. 

Rios e Lagoas. — Quase todas as torrentes desta província saem dela por dois canais: o Rio Grande de S. Pedro, que deságua no meio da costa oriental, e o Rio Uruguai, que desemboca no Paraguai. A cochilha grande divide os confluentes dum e outro. 

O Uruguai principia na falda da serra, que se prolonga com o oceano: corre dilatado espaço ao poente com o nome de Pelotas, quase sempre por entre ribanceiras de rocha a pique, recolhendo os rios Caveiras, Canoas, Cachorros, e Correntes, que saem ou da falda, ou da vizinhança da mesma cordilheira, e regam a parte mais meridional da Província de S. Pedro, designada com o nome de Campos da Vacaria, que abrangem também a porção desta, que fica de serra acima. Aqui toma o nome com que acaba; e já caudaloso curva para o sudoeste, engrossando ainda com outros, que se lhe unem por um e outro lado, entre os quais se nota o mencionado Pepiri. Na latitude de 29°%, recolhe pela esquerda o considerável Ibicuí; depois o Mirinaí pela direita, quando já procura o sul; e ultimamente o Rio Negro pela margem oriental. Descreve muitas tortuosidades, forma grande número de ilhas, e dá navegação a grandes lanchas até o primeiro salto grande, que fica obra de 10 léguas abaixo da confluência do Ibicuí: as canoas sobem até o centro da Vacaria, não sem grande trabalho por causa das muitas cachoeiras e correntezas. 

O Ibicuí nasce nos campos de Iapoguaçu; 0 depois de muitas léguas ao poente, volta ao setentrião por espaço de 25, aumentando consideravelmente com os que se lhe incorporam por um e outro lado, sendo um deles o Casiqueí: um pouco abaixo do qual se lhe une o Toropi, que é maior, e vem dos campos da Vacaria procurando o sudoeste, e traz consigo o Ibicuí-mirim, que se lhe junta pela esquerda um pouco acima. Nesta confluência, designada pelo nome de ForquiIha, onde fica mui largo, volta para o ocidente, alargando de cada vez mais, de sorte que muito acima da sua embocadura já tem 400 braças. Pouco abaixo da Forquilha se lhe junta pela direita o considerável Jaguari, que vem dos mencionados campos da Vacaria. Suas beiradas são cobertas de matos, seu álveo tortuoso, e semeado de ilhas, sua corrente quase sempre tranqüila, e navegável até perto das cabeceiras dos que o formam. 

O Rio Negro tem a sua origem muito próxima à do Ibicuí: corre sempre ao sudoeste, engrossando com um vasto número de torrentes, e incorpora-se com o Uruguai 5 léguas antes dele sair no Rio Paraguai, ou da Prata, depois de ter regado um terreno de 80 léguas, povoado em grande parte de gado vacum.

O seu maior confluente é o Rio Ili, que se lhe une perto de 20 léguas acima da sua embocadura, depois de 36 léguas de curso leste-oeste por um terreno rico em criações de gado. 

O Rio de Santa Luzia, ao qual dão perto de 40 léguas de curso através dum terreno fértil, abundante de pastagens, e povoado de gado vacum, e deságua 4 léguas ao poente de Montevidéu, havendo recolhido um pouco acima o Rio de S. José pela direita, com o qual fica largo e profundo: é navegável, e forma um porto na embocadura. 

O Rio Jacuí (Rio dos Jacus) forma-se na parte ocidental dos Campos da Vacaria com a união de várias ribeiras, que a regam, e donde sai já considerável. Poucas léguas depois de ter atravessado a serra geral, vira para leste, descreve amiudadas reviravoltas por espaço de 30 léguas em linha reta; e de repente volta para o sul, e vai entrar mui caudaloso, depois de 15 milhas, no lado ocidental da Lagoa dos Patos, obra de 4 léguas abaixo da sua extremidade setentrional. 

Entre outros menores, que o engrossam depois que sai da serra, nomeiam-se o Vacai, que nasce poucas léguas ao norte do Ibicuí-guaçu e traz consigo o Vacaí-mirim, cuja origem dista pouco da do Jacuí-mirim. Estes nomes foram-lhes postos depois que suas margens começaram a ser povoadas de gado vacum. Corre manso; não tem cachoeiras; sua navegação é fácil. O Irapuã, que traz consigo grande número de ribeiras quase todas de águas turvas, salobras, e mui frias. Nas suas margens em muitas partes acha-se uma casta de pedra mole, e negra com porções brancas como de prata; arde como cepa, e então exala cheiro de enxofre, ficando em carvão mui leve, que para nada mais presta. O Butucaraí, que vem do norte, e tem uma ponte. Perto da sua foz está o Passo do Fandango. O Piquiri, incorporado com o Irai, ou Iroí, que vem do morro partido. O Tubatingaí, que se 8 Iapoguaçu, que, segundo dizem, significa pântano-grande, ocupa um terreno de considerável área cortado pelo paralelo de trinta e um. forma entre cerro partido, e a encruzilhada. O Rio Pardo, que vem de serra acima por entre matos, e não dá navegação por causa da muita penedia do seu leito: passa-se em ponte. O Capivari, que vem do mencionado morro partido. O Rio das Antas, formado de várias torrentes, que saem da falda, ou vizinhança da terra do mar, depois de grande espaço contra o poente, volta para o sul, recolhe o Tibicoari, ou Taquari, tomando-lhe o nome, e depois de 10 léguas entra no Jacuí, do qual é o maior tributário. Dá navegação a iates até à confluência, onde perde o primeiro nome. As terras adjacentes são fertilíssimas: criam formosos pinheiros, e outras árvores de boa madeira. 

O Jacuí (12 léguas abaixo do Taquari), na paragem onde de repente vira para o sul, toma boa meia légua de largura, formando uma baía, onde recolhe o Rio Caí, que vem dos campos de cima da serra com mais de 25 léguas de curso quase ao sul, e dá navegação a iates por espaço de dez; o Rio do Sino, pouco menor, que nasce em cima da mesma serra mais ao sul, e corre ao sudoeste, navegável por largo espaço: o Rio Gravataí, que principia na mesma Serra mais ao sul do precedente, corre ao mesmo rumo, e dá navegação por espaço de 5 léguas. Também lhe chamam Rio da Aldeia. 

Os rios Igarupaí, Daimar, e Gualeguaí são os principais, que entram no Uruguai pela esquerda entre a boca do Ibicuí, e a do Rio Negro. 

O de Maldonado, os dois de Solis pequeno, e grande, desaguam no golfão do Rio da Prata. 

Rio Grande de S. Pedro é o nome do desaguadouro da Lagoa dos Patos, e poderá ter 3 léguas de comprimento quase norte-sul, e uma de largura. Fica 60 léguas ao nordeste do Cabo de Santa Maria. As terras laterais são mui rasas, sem árvores, ou edifícios, que o indiquem aos navegantes, os quais só em distância de 2 léguas com tempo claro distinguem a sua abertura, onde o fluxo e refluxo raras vezes se move manso. O canal é variável: nenhum navio entra, sem que venha prático de terra para guiá-lo com uma embarcação de duas proas, em que vai diante até o porto. A

Lagoa dos Patos, que tomou o nome duma nação hoje desconhecida, como dissemos, é a maior do Estado, tendo 45 léguas de comprimento do nordeste ao sudoeste, paralelamente com a costa, e 10 na maior largura, com fundos para navios de mediano porte, e alguns baixos perigosos. Suas águas são salgadas na parte meridional; as margens geralmente rasas .É o receptáculo de quase todas as torrentes, que regam a parte setentrional e oriental da província, e cujos canais principais são a boca do Jacuí ao norte, e a do Rio de S. Gonçalo ao sui. 

A Lagoa Mirim, que quer dizer pequena, comparativamente àqueloutra, sendo de 26 léguas de comprimento com 7 para 8 na maior largura, está também prolongada com a costa, e deságua para a dos Patos por um canal de 14 de comprido, largo, vistoso, e navegável, que é o mencionado Rio de S. Gonçalo. 

O Rio Saboiati, depois de ter recolhido outros muitos, deságua caudaloso perto da extremidade meridional da Lagoa Mirim, e dá navegação por muitas léguas. 

O Rio Ohuí, que não é considerável, desemboca quase no meio da mesma lagoa: e mais ao norte o Jaguaron, que principia perto da Lagoa Formosa, dão-lhe 25 léguas de curso, e 5 ou 6 de navegação. 

O Rio Piratini, que tem sua origem na vizinhança da Lagoa Formosa, desemboca no meio do de S. Gonçalo depois de 30 léguas de curso, e dá navegação por espaço de 10 milhas. 

O Rio de Pelotas nasce na Serra dos Tapes, une-se ao de S. Gonçalo junto à sua embocadura, e dá navegação a iates por 4 até 5 léguas. Dele toma 'nome a formosa enseada, onde desemboca o que o recolhe. 

"Passando a boca do Rio de S. Gonçalo, o primeiro que se encontra é o Contagem, que poderá ter 14 léguas de extensão: o segundo é o Correntes: o terceiro o Canguçu, navegável por algumas léguas: o quarto corre com o nome de 5. Lourenço: o quinto, denominado Boqueirão, menor que todos, vem como eles da Serra dos Tapes."

"Acima do Boqueirão, no meio da Lagoa dos Patos, deságua o Camapuã por cinco bocas formadas por quatro ilhas, das quais a maior tem meia légua de circuito. Vem da Cochilha grande com mais de 30 léguas de curso rápido por entre serrotes de penedia, e só dá navegação a iates por distância de 4 léguas, sendo para cima cheio de cachoeiras. Pelo lado meridional recolhe catorze torrentes, das quais algumas têm mais de 10 léguas de extensão e pelo setentrional 150 sem que nenhuma passe de cinco. As meridionais, começando na foz do que as recebe, são: a do Pereira, que principia nas Serras dos Tapes; a do Cardoso; a do Evaristo; a do Meireles; o Sapata, aliás Caraí, que vem da mesma serra; o Arroio das pedras, que principia perto do sítio chamado Igatimi; o do Almeida; o Arroio-grande, o Velhaco, que principia na Cochilha-grande, junto do Cerro Baí, e corre por sítios fragosos: o do Fagundes, que corre 5 léguas por entre rochedos com muitos saltos: o do Rodrigues, que foge despenhado, e espumoso por penedias; o Arroio da palma, que é considerável, sereno, piscoso, e navegado por embarcações menores: as capivaras andam pelas suas margens em rebanhos de 60, e 100: o Camaeuã-Chico, também vagoroso, e recolhe entre outros um ohamado Tigre. As terras adjacentes são campinas aprazíveis, e férteis em trigo". 

Passando a foz do Camapuã para o norte, encontra-se a do Daro, ou Duro, que corre por campinas sem ribanceiras, nem mato nas suas margens, e forma algumas lagoas: depois o Velhaco, que corre apressado por entre matos: adiante o Passo-grande, vagaroso com matos pelas margens. 

Subindo pelo Jacuí acima até Porto Alegre, encontram-se à esquerda o Araçá, que principia na ponta da Serra do Erval; o de Antônio Alves, que 3 léguas acima da sua foz recolhe o Doudarilho, e dá navegação a iates. 

Na extremidade setentrional da Lagoa dos Patos deságua o Rio dos Palmares, que principia nos campos vizinhos ao Tramandali. 

Três léguas ao poente corre o Capivari, que só é corrente no inverno, enquanto a Lagoa da Serra, aliás dos Barros, recolhe as águas de vários regatos, sendo dela o desaguadouro. Esta lagoa, que poderá ter 5 léguas de comprimento, e 1 até 2 de largura, fica paralela com a Cordilheira. As numerosas capivaras, que povoam suas margens, lhe deram o nome. O terreno atravessado por estes rios é plano, de areia fina, e em grande parte alagadiço; mas cria erva, mato, e plantações. 

Ao longo da costa, que corre do Cabo de Santa Maria até Castilhos-pequeno, há várias lagoas na proximidade do mar . 

A Lagoa da Mangueira, que tem 23 léguas de comprido, e quase sempre uma de largo, está prolongada no intervalo, que medeia entre a costa e a Lagoa Mirim, para onde deságua na extremidade setentrional por um esgotadouro chamado Arroio Taim. Ao norte dele está a Lagoa Cajuba, com 6 milhas de comprimento. Na península, que medeia entre a costa e a Lagoa dos Patos, e cuja largura é de 2 até 6 léguas, há grande número de lagoas ordinariamente pequenas, das quais umas deságuam para aqueloutra, as mais para o Oceano. Entre as que se escoam para o poente, nota-se (na parte meridional) a das capivaras, na qual deságua um arroio, de água pura e limpa, que rebenta com força admirável, e é a melhor fonte da península, que todavia não é falta de águas potáveis. No lado oriental nota-se a Lagoa de Mostardas, mais conhecida pelo nome de Lagoa do Peixe, com 9 léguas de comprimento, pouca largura, 5 até 8 palmos de fundo, prolongada com o mar, para onde deságua por um sangradouro, que a natureza abre, e entope anualmente, pelo qual entra imensidade de várias espécies de pescado sendo a mais numerosa a denominada Miragaia com figura de bacalhau. Com esta mesma se comunicam várias outras, que ficam ao norte encadeadas por seus desaguadouros. Perto da derradeira, que termina não longe de Barros-vermelhos, começa outra cadeia semelhante, em pouca distância da praia, e com ela prolongada por espaço de 25 léguas ao menos. Em um dos Mss. que nos socorrem, acha-se: "de Barros-vermelhos a pouca distância para a banda do mar há uma lagoa pequena, que tem seu desaguadouro em outra maior que acaba nos capões do Retuvado, distante uma légua, e tem seu sangradouro em outra que acaba daí légua e meia. Adiante há duas lagoas emparelhadas; e mais adiante outra junto ao Capão do Xavier em distância de duas léguas, a qual deságua noutra maior chamada da Charqueada por terminar no sítio deste nome; e tem seu sangradouro em outra pequena, que deságua para outra igual, e esta em outra maior, que acaba no Capão das»Taquaras. A última deságua na do Quintão, que é grande, e sangra-se na da Cidreira, que é dividida em três sacos ou lagos comunicados por gargantas, ou sangradouros grandes, ocupando uma extensão de 4 léguas e meia. Esta da Cidreira tem um canal de duas milhas de comprimento para a dos campos do Ribeiro, que termina junto ao passo do arroio, o qual é o seu sangradouro para o Rio Tramandaí." 

O Rio Tramandaí, ao qual Pimentel chama Taramandabu, e que se acha na latitude de 30°, tem poucas léguas de curso, não sendo mais que o desaguadouro dum grande número de lagoas, em que se esgotam os extensos campos, que medeiam entre a praia e a cordilheira. Nele deságua também o mais meridional doutra cadeia de lagos, que se estende ao longo da mesma cordilheira para o setentrião até bem perto do Rio Mambituba, em cuja foz há um destacamento para registrar os que entram ou saem da Província.  

A mencionada península, formada pela Lagoa dos Patos com o Oceano, é de terreno raso com um pequeno albardão 8 pelo meio; e sendo quase em linha reta pelo oriente, forma várias pontas, enseadas no lado contrário. Entre as primeiras notam-se (começando pelo sul) a Ponta do Mandanha, onde se hão achado vestígio duma povoação, e cemitério de indígenas: depois a ponta rasa. Entre elas deságua a mencionada Lagoa das Capivaras. A do estreito. Na enseada média chamada Barranca, e que é o melhor abrigo desta lagoa para todas as embarcações, deságuam alguns arroios, em um dos quais entram canoas, em outros lanchas. A de Bujuru, 6 léguas mais ao norte. Na enseada média, e do mesmo apelido, desemboca um arroio abundante, que forma uma ilhota na barra. A de Cristóvão Pereira, 6 léguas mais adiante. Na enseada, que lhe fica ao sul, há dois volumosos montes de casca de mariscos, os quais provam quanto cs indígenas usavam deste alimento. A ponta, e Enseada da Caeira istão mais ao norte, e são as derradeiras notáveis. É terreno geralmente muito arenoso; mas tem-se achado barro debaixo da areia em partes; o que prova que a península não é formada pelas areias do mar, mas sim que estas hão coberto o terreno antigo. 

Por entre a Lagoa Mirim, e a da Mangueira desce com muitas léguas de curso o Arroio Chuí, que sai ao oceano defronte da extremidade meridional da primeira.

As ferrovias no Rio Grande do Sul


Trecho extraído de: URBIM, Carlos (coord.). Rio Grande do Sul: um século de história. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1999, p. 104-105.

"Trilhos instalados e trens atravessando, no entanto, não resolveram todo problema do transporte. As ferrovias construídas na província durante o período imperial não tinham ligação umas com as outras e obedeciam a traçados em que a preocupação era estratégica e não econômica.

Estratégica porque não produziu resultados imediatos que, principalmente, o comércio da Capital poderia esperar de tão importante inovação tecnológica na área de transportes. Por exemplo: a ferrovia inglesa que ligou Barra do Quaraí a Uruguaiana e Itaqui não tinha nenhuma conexão com o restante do Estado. Basicamente servia ao porto de Montevidéu, aumentando as ligações econômicas entre a Campanha e o Prata.

Em outubro de 1903, a Associação Comercial de Porto Alegre enviou correspondência ao presidente do Estado, Borges de Medeiros, pedindo que interviesse junto à União para prolongar até a Capital a estrada de ferro que atravessava o Rio Grande do Sul - naquele momento parada na Estação da Margem do Quaraí, em General Câmara, sujeitando todas as cargas a um penoso transbordo fluvial de e para Porto Alegre. 'A cidade enfrenta uma crise comercial, em grande parte devido à deficiência e à falta de vias de comunicação acelerada à Capital', registrava o documento.

Em geral, os trens cruzavam campos dedicados à pecuária extensiva, com baixa produtividade, e serviam cidades sem indústria. Carregavam a produção da indústria emergente, da agricultura e pequenos manufaturados.

Para servir à Capital e integrar a Fronteira Oeste, o governo central iniciou a construção da estrada pomposamente chamada de Porto Alegre-Uruguaiana, mas que, curiosamente, começava em General Câmara e a passos de tartaruga se desenvolveu ao longo da Depressão Central.

A chegada ao país da indústria automobilística, nos anos 50, roubou a hegemonia dos trens. O crescimento da industrialização exigia transportes mais sofisticados, que as ferrovias não estavam em condições de oferecer. Isso ampliou a marginalização do sistema. Rodovias construídas no surto desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitschek (1956-61) começaram a correr paralelas aos trilhos e a concorrência ficou desleal. (Magda Achutti)"

Júlio de Castilhos

Detalhe do Monumento a Julio de Castilhos em Porto Alegre

Júlio de Castilhos foi governador do Estado do Rio Grande do Sul no final do século 19 e líder do positivismo naquele Estado. Diplomou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1881, onde tomou contato com as idéias do filósofo francês Augusto Comte. De 1884 a 1889 dirigiu o jornal "A Federação", propagando as idéias republicanas.


Em 1891 elegeu-se deputado para a Assembléia Constituinte e se opôs a Rui Barbosa no capítulo que versava sobre a discriminação de rendas, defendendo os pequenos Estados da federação.

Em 15 de julho do mesmo ano foi eleito presidente do Estado do Rio Grande do Sul. No entanto, em 3 de novembro, com a queda de Deodoro da Fonseca, foi deposto. Em 25 de janeiro de 1893, eleito pelo voto universal, foi novamente empossado.

Na Revolução Federalista, derrotou os "maragatos" (federalistas e monarquistas, liderados por Gaspar Silveira Martins) como líder dos "pica-paus republicanos" (adeptos do Estado local forte e autônomo).

Exerceu influência singular sobre a política gaúcha. O castilhismo consolidou-se como corrente política e teve voz ativa por cerca de 40 anos. No plano nacional, Getúlio Vargas procurou implementar o castilhismo no Estado Novo (1937-1945).

Júlio de Castilhos morreu aos 43 anos, vítima de câncer na garganta. A casa em que residiu com sua família de 1898 a 1903 tornou-se o Museu Júlio de Castilhos, no centro de Porto Alegre.

Borges de Medeiros


Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961) nasceu em Caçapava do Sul, Rio Grande do Sul, no dia 19 de novembro de 1863. Filho do promotor público pernambucano, Augusto César de Medeiros, nomeado juiz de Direito de Caçapava. Com 2 anos de idade mudou-se para Pouso Alegre, em Minas Gerais, onde fez seus primeiros estudos. Em 1881, foi para São Paulo onde iniciou o curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Integrou o Clube Republicano liderado por Júlio de Castilhos. Bacharelou-se em 1885, na Faculdade de Direito do Recife, para onde havia se transferido no ano anterior.

De volta ao Rio Grande do Sul, passou a advogar em Cachoeira e continuou sua militância política ao lado dos republicanos. Com a Proclamação da República (1889) ele iniciou sua carreira política, tornou-se delegado de polícia da cidade. No ano seguinte foi eleito deputado para representar os gaúchos na Assembleia Constituinte Federal. Com o texto de autoria de Castilhos, fiel à orientação de Augusto Comte, que preconizava a “ditadura republicana”, a Constituição foi o grande pretexto das revoluções gaúchas dos anos seguintes.

O Rio Grande do Sul estava dividido entre os republicanos de Castilhos e os federalistas, que faziam oposição à ditadura positivista. Em 1892 Borges foi nomeado desembargador, cargo vitalício cercado de sólidas garantias. No ano seguinte, explodia a guerra civil. Borges licenciou-se do cargo e uniu-se às forças castilhistas. Somente em 1895 a paz voltou ao Rio Grande. O Brasil estava sob a presidência de Prudentes de Moraes.

Em 1898, Júlio de Castilhos estava no auge do poder quando indicou o nome de Borges de Medeiros para sucedê-lo na chefia do governo estadual, mas continuou influenciando o governo. Em 1903 Borges reelegeu-se para seu segundo mandato. Nesse mesmo ano, Castilhos morre, mas Borges se impõe zelando pela autonomia do seu Estado – nem adesão incondicional, nem oposição sistemática.

Em 1907, foi eleito o novo governo e Borges de Medeiros retira-se da vida pública. Em 1912, sob a presidência de Hermes da Fonseca, Borges é novamente eleito para o quinquênio 1913 a 1918, quando realiza um dos mais produtivos períodos governamentais. Concluiu as obras do palácio do governo e do porto de Porto Alegre, construiu diversos colégios e a Biblioteca Pública. Iniciou a expansão dos transportes públicos, organizando uma rede de estradas e ferrovias.

No fim do seu terceiro mandato, com os acontecimentos da Primeira Guerra Mundial, uma crise se instalara no país. Entendendo que não era chegado o momento de deixar o poder, candidatou-se para um quarto período: 1918/1923. A última reeleição de Borges de Medeiros se deu em meio a uma corrente oposicionista que levou Joaquim Francisco de Assis Brasil a concorrer às eleições, mas Borges de Medeiros saiu vencedor, e o Rio Grande iria conhecer novamente um período de lutas.

Terminado seu vigésimo quinto anos de governo, em 1928, e depois da vitória revolucionária de 1930, Borges entrega o Rio Grande a Getúlio Vargas e volta para suas atividades de fazendeiro, permanecendo como chefe do Partido Republicano. Em 1932 explodiu a Revolução Constitucionalista em São Paulo e Borges ao apoiar o levante, foi caçado de seus direitos políticos e exilado no Estado de Pernambuco. Dedicou-se à leitura e às pesquisas, o que resultou em seu livro: “O Poder Moderador na República Presidencial”.

Anistiado em 1934, foi candidato da minoria nas eleições indiretas para presidente da República, mas foi derrotado. Em outubro do mesmo ano, foi eleito deputado federal, como líder da oposição ao Interventor, Flores da Cunha e ao presidente da República. Em 1937, o Estado Novo caçou os políticos que não concordavam com o poder executivo forte, era o fim de sua longa carreira política.

Borges de Medeiros faleceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no dia 25 de abril de 1961.

Biografia extraída do link: https://www.ebiografia.com/borges_de_medeiros/ 

A Nobreza Pelotense do século XIX

Museu da Baronesa em Pelotas
antiga residência do Barão e da Baronesa dos Três Cerros

Trecho extraído de: DIÁRIO POPULAR. Pelotas, 09 dez. 2007, p.10-11

Nos séculos 18 e 19 o charque originou fortunas às margens do arroio Pelotas. Essa riqueza fez surgir uma nobreza criada em meio à carne e ao sal. Para justificar seus títulos, os barões das charqueadas ergueram casarões e palacetes que alteraram a paisagem do município e, hoje, há mais de um século, se transformaram em um precioso patrimônio, capaz de atrair investimentos e turistas. Uma pesquisa realizada recentemente na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Pelotas (Faurb/UFPel) mapeou a herança deixada pelos 15 barões da cidade e concluiu: a presença dos nobres do charque é mais viva do que se pensa na Pelotas do século 21.

A grande novidade do trabalho orientado pela professora Ester Gutierrez e elaborado para a disciplina de Teoria e História da Arquitetura é apontar a rua Félix da Cunha, antiga Rua do Comércio, como o endereço preferencial da nobreza pelotense. Ali estavam estabelecidos quatro dos 11 prédios pertencentes a barões analisados na pesquisa.

O estudo mostra que um terço das residências comportavam atividades comerciais e foram erguidas - não por coincidência - na Rua do Comércio, no centro da cidade. Ao considerar que apenas o Barão da Conceição e a filha do Barão de Jaguari não dirigiam charqueadas e possuíam comércio, esse dado fornece indícios de que alguns dos charqueadores pelotenses traziam artigos de sua produção para vender na área urbana além do gado. “A pesquisa provou que a antiga Rua do Comércio abrigava não só os negócios mas também as melhores residências”, confirma a professora Ester, autora do livro Barro e sangue: mão-de-obra, arquitetura e urbanismo em Pelotas (1777-1888). 

OUTROS ENDEREÇOS
O trabalho, que analisou somente as residências urbanas dos nobres pelotenses, apresenta informações até hoje desconhecidas do grande público como, por exemplo, o fato dos prédios onde hoje funcionam o Colégio Estadual Monsenhor Queiroz, a Casa da Criança São Francisco de Paula e o Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas terem sido as pomposas residências dos barões de Itapitocaí, da Graça e de Jaguari, respectivamente. 

MODO DE VIDA
O olhar mais detalhado sobre as residências deu origem a um precioso conjunto de informações que ajuda a compreender o modo de vida e os gostos da elite pelotense do século 19. 

Devido ao seu traçado, Pelotas sempre foi uma cidade de lotes estreitos e compridos, o que levou os barões a buscarem - em sua maioria - terrenos de esquina para erguerem suas imponentes moradias. Isso fica claro na constatação de que 82% dos prédios analisados no trabalho foram construídos em lotes deste tipo. 

Outro dado apurado é a preferência dos aristocratas pelos sobrados - que representam 37% do total dos imóveis analisados - mesmo diante das dificuldades para construí-los. Mas houve quem foi além. O Barão da Conceição, por exemplo, ergueu na rua São Miguel (hoje 15 de Novembro) um palacete de quatro pavimentos, sendo que o último era um mirante do qual podia vislumbrar toda a cidade.

EMBELEZAMENTO
O gosto pelas modas do Velho Mundo fez com que os “senhores do charque” investissem pesado na ornamentação de suas casas. Isso fica evidente no fato de que dez dos 11 prédios analisados no estudo possuem telhado escondido por platibandas, vazadas por balaustres ou não. A ornamentação era completada com compoteiras, pinhas e estátuas, em sua maioria de louça, distribuídas pelas fachadas dos imóveis.

Quem foram os aristocratas

Domingos de Castro Antiqueira, Barão de Jaguari
Charqueador, foi o primeiro a receber um título nobiliárquico na cidade, em 1829, depois de financiar campanhas militares do Império. Sua casa ainda existe na esquina das ruas Félix da Cunha e 7 de Setembro.

João Francisco Vieira Braga, Barão de Piratini
Charqueador, recebeu o título por financiar campanhas militares imperiais. Não há registros de sua residência urbana.

João Simões Lopes, Barão da Graça
Charqueador, foi titulado por seu apoio político ao império na Revolução Farroupilha. Em 1876 foi “promovido” a visconde. Foi um dos poucos barões que estudou e se formou em Humanidades no Rio de Janeiro. Sua casa era hoje onde funciona a Casa da Criança São Francisco de Paula.

José Antônio Moreira, Barão de Butuí
Charqueador, foi um dos homens mais ricos de Pelotas. Recebeu o título por sua benemerência social. Foi provedor da Santa Casa. Morava na Casa 2 da esquina da praça Coronel Pedro Osório onde se encontra a Félix da Cunha e a Lobo da Costa.

Francisco Antunes Maciel, Barão de Cacequi
Charqueador, recebeu o título por “serviços prestados à Nação”. Foi deputado, ministro e conselheiro do Império. Era irmão do Barão de São Luís e genro do Barão de Butuí. Morava na casa 8 da praça Coronel Pedro Osório.

Francisco Gomes da Costa, Barão de Arroio Grande
Charqueador, ganhou o título ao libertar seus escravos quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea. Foi deputado provincial. Sua casa ficava na esquina das ruas Andrade Neves e Dom Pedro II e já foi demolida.

Felisberto Inácio da Cunha, Barão de Corrientes
Charqueador, recebeu o título pela libertação antecipada dos escravos. Não há registros de sua residência urbana.

Leopoldo Antunes Maciel, Barão de São Luís
Charqueador, recebeu o título por conceder alforria antecipada aos seus escravos. Era irmão do Barão de Cacequi. Sua casa era a Casa 6 da praça Coronel Pedro Osório.

Aníbal Antunes Maciel, Barão de Três Cerros
Charqueador. Primo dos barões de Cacequi e São Luís. O, hoje, Parque da Baronesa era sua chácara.

Antônio Azevedo Machado, Barão Azevedo Machado
Charqueador. Sua casa era localizada na esquina das ruas Gonçalves Chaves e 7 de Setembro e se estendia até a atual rua Almirante Barroso. Era a única residência em estilo colonial.

Joaquim da Silva Tavares, Barão de Santa Tecla
Charqueador, ganhou o título ao apoiar financeiramente a Guerra do Paraguai. Sua casa, hoje demolida, ficava localizada na esquina das ruas 15 de Novembro e Doutor Cassiano, onde hoje é um estacionamento.

Joaquim José de Assumpção, Barão do Jarau
Charquedor, foi provedor da Santa Casa. A casa de sua esposa na esquina das ruas 15 de Novembro e General Telles ainda existe.

Miguel Rodrigues Barcellos, Barão de Itapitocaí
Médico, ganhou o título por seu altruísmo para com os carentes e chegou a ser conhecido com “pai dos pobres”. Morava na rua Miguel Barcellos, onde hoje funciona o Colégio Estadual Monsenhor Queiroz.

Manuel Alves da Conceição, Barão da Conceição
Comerciante, empresário e banqueiro, nascido em Portugal, era o único não-brasileiro entre os nobres pelotenses. Sua casa era o prédio de quatro andares na esquina das ruas 15 de Novembro e Voluntários da Pátria. 

José Júlio de Albuquerque Barros, Barão do Sobral
O barão do qual existem menos informações. Sabe-se apenas que não vivia da indústria saladeiril. Não há registros de sua residência urbana.
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