quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

A Imigração Francesa no Rio Grande do Sul


"Sabe-se que muitos franceses vieram ao Rio Grande do Sul de forma espontânea, muitos antes de 1870, sem auxílio estatal ou de empresas privadas, como é o caso do casal Jacques Blum e Amélie Moise Blum, que partiram da França por conta própria, Jacques era joalheiro natural da Alsácia e D. Amélie de Lorena, consta que chegaram à Bagé após ter nascido seu filho Emílio em 1861. Há casos de franceses em Pelotas também, que sua vinda provocou um avanço no comércio e na indústria, tais como Edmundo Berchon Desessard, um francês de origem de Gédeon, que possuía um latifúndio na região, outra família que se instalou no local foi a Gastal, que possuía uma tradição artística e odontológica.

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Nos relatórios de João Pedro Carvalho de Moraes, em 1873 se vê que a população de Conde D'Eu e D. Izabel, atual Bento Gonçalves, inicialmente foram povoadas por franceses, pois havia um projeto do Império para que aquela área se tornasse tipicamente 'francesa'. Sendo que em 1873, o governo provincial obriga os colonos a colonizar suas terras, com o intuito de ligar Conde d'Eu ao Maratá, uma colônia povoada por alemães, para criar meio de viação animal para facilitar a comunicação com São João de Montenegro e os campos de Vacaria, pois nas palavras do responsável pelas colônias: 'realizada essa ideia, mesmo em parte, posso garantir à V. Ex. um brilhante futuro para a colônia de Conde d'Eu e sua salvação do marasmo à que parece condemnada.' Logo, a colônia de Conde d'Eu fica aos encargos de José Antonio Rodrigues Rasteiro, sendo contratada a empresa Caetano Pinto e Irmãos Holtzweissig & C., para trazer e estabelecer esses futuros colonos, em suas devidas terras. O transporte desses colonos para Conde d'Eu, D. Izabel e Alfredo Chaves sempre se fez por São João de Montenegro e São Sebastião, no Cahy:

Chegado que seja esse inmigrante a esta capital, é logo transportado em vapor até Estrella, onde ficarão os que destinarem á colonia Conde d'Eu, cuja sede dista apenas sete léguas dessa villa; os que procuram D. izabel, seguirão em lanchas até a povoação Thereza, que também se acha a sete leguas da séde D. Izabel; e, finalmente os que forem para Alfredo Chaves continuarão nas mesmas lanchas até Santa Bárbara, no Carreiro em cuja margem esquerda demora essa colonia, sendo de seis horas a média da viagem aos pontos mais remotos de sua parte ocidental.

A produção alimentícia das colônias onde se estabeleceram franceses é massiva na questão dos grãos, principalmente o trigo, produto muito cultivado na França inclusive. As produções de grãos em 1885 chegam até mesmo a superar a de Caxias, portanto como no Relatório de Joaquim Jacintho de Mendonça, o governo deveria construir moinhos nessas cidades em vista da produção local.

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Em 1873 dos 1.866 imigrantes, 174 eram franceses, e desde 1866, 1.607 imigrantes vieram por conta do contrato celebrado com Caetano Pinto e Irmão Holtzweissig & Cia., já por conta do governo imperial 259. Sendo que no total, 134 colonos franceses em 1873 entraram na província. Consta na repartição de terras públicas, entre os anos de 1859 a 1875 entraram na província 12.563 colonos, sendo 648 franceses. Em 1887 estabeleceram-se em Porto Alegre 5 franceses, 21 em Rio Grande, 3 em Pelotas, 4 em Silveira Martins, 1 m Caxias e 1 em Santo Ângelo.

Com a insatisfação dos colonos com a política migratória imperial, que não fornecia as promessas feitas aos mesmos, alguns países, em especial a França em 1876, passou a proibir a imigração ao Brasil, por isso o império decide deixar o caso confiado às empresas de imigração.

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O governo imperial deliberou em 1871 a abertura das zonas de Conde d'Eu e D. Isabel para início do povoamento, sendo que no ano de 1874 que pode levar a cabo empresa tão corajosa e por conta do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio a D. Isabel, 'vieram 48 franceses assistidos por todos os auxílios. Mas também se retiraram, logo que acabaram as antecipações, e sem que houvessem abatido uma árvore sequer'. Esse trecho relata a vinda dos primeiros imigrantes a essas terras, sabe-se que esses seriam responsáveis por 'limpar o local' para estabelecer as famílias, porém assim que chegam logo se vão sem deixar pistas para onde foram. Somente sabe-se que em 1875 houve uma seca na região que fez com que os colonos perdessem a maioria de seu plantio, isso fez com que muitos fossem embora, principalmente os franceses.

Então com a saída dos franceses da região, em 1876 o governo imperial toma posse do território e aloca 200 italianos no local, onde somente 3 eram franceses. Onde no ano subsequente em 1877 já havia no local 1.929, dos quais - 1.302 eram italianos, 505 tiroleses, 12 franceses e 10 brasileiros. E dentro do tempo de 5 anos, a população que era de 1.929 em 1877, vai para 4 mil habitantes em 1882. Sendo dividida em 15 linhas, onde foram gastos em torno de 3.600 contos de réis na formação da colônia.

A colônia de Conde d'Eu, atual Garibaldi, situa-se a norte e oeste pela colônia de D. Isabel, e ao sul pela colônia particular de Teutônia, com uma área calculada em 1877 de  46.754,40 hectares, dos quais 5.352 são por colonizar. A colônia era dividida em 13 distritos, onde havia 5 mil italianos, 100 franceses e 400 tiroleses espalhados entre elas. O principal produto cultivado, devido às altas altitudes era o milho e a uva. 

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A cidade de Brouchier juntamente de Maratá fora emancipada em 1989 do município de Montenegro e Maratá em 1987. Em relação à Brochier, o núcleo de povoamento colonial vem a surgir devido após o ano de 1832, quando chegavam da Europa os irmãos João Honório e August Brochier, sendo um deles mecânico e o outro ourives, que no inicio pretendiam se estabelecer em Montenegro, mas as terras haviam sido vendidas, então adentraram 25 km adentro da mata. 'Logo em 1857, seguiu-lhe a fundação do núcleo Brochier pelos irmãos desse nome oriundos de Marselha, núcleo hoje conhecido por linha dos francezes ou França'.

Antônio Eduardo Brochier era filho legítimo de Paul Brouchier e D. Maria Brouchier, ambos falecidos. 46 anos de idade. Casado com D. Virgília Boudidon - Natural de laval de Waroca (?). Departamento de Retz, França - Veio para o Brasil em 1853, e como colono foi estabelecer-se no Maratá. Onde tem vivido de agricultura, sendo hoje proprietários de uma colônia e estabelecimento de agricultura. Declaração de 20 de abril de 186'1 (pág. 68) - Na página 68 e 68v registrou sua carta de naturalização assinada pelo Presidente da Província de São Pedro do RS, Conselheiro Jerônimo Antão Fernandes Leão, em 19 de julho de 1861.

A localidade hoje conhecida como Pinheiro Machado que liga Brochier a cidade de Poço das Antas - emancipada em 1888 de Montenegro era conhecida como linha dos franceses, ou como era dito pelos alemães da região frechreich ou terra francesa. E é justamente nessa linha onde se localiza os distritos de Paris Alto e Paris Baixo. Nessa localidade teve-se o convívio de vários povos de oriundos de locais diferentes.

Durante 20 anos viveram em harmonia com os bugres da região, passando a vender suas terras aos colonos alemães em 1856, sendo que a maioria era proveniente de colonias antigas aos arredores. Os irmãos foram responsáveis pela derrubada da mata virgem e a transformação da mesma em produtivas plantações."

Fonte: KLEIN, Caroline Rippe de Mello. A imigração francesa no Rio Grande do Sul (século XIX). In: Revista Historiador, v.7, n.7, jan. 2015, p. 22-28.

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