No Brasil Colonial, as comemorações do Natal caracterizavam-se por uma forte presença da Igreja, que moldava não apenas a dimensão religiosa, mas também a social e cultural das festividades. Registros dos Jesuítas, como os de José de Anchieta, mencionam a realização de autos religiosos e presépios vivos desde o século XVI. Anchieta, por exemplo, descreve a utilização de teatro catequético para ensinar episódios bíblicos, sobretudo nas aldeias indígenas, onde o Natal era ocasião para reunir diferentes grupos em torno da liturgia.
Em vilas e cidades coloniais, documentos da administração portuguesa e relatos de viajantes, como o do francês Jean de Léry (1578) e, mais tarde, de Antonil em Cultura e Opulência do Brasil (1711), indicam que as festividades natalinas incluíam procissões, sermões especiais, além da tradicional Missa do Galo, celebrada à meia-noite. Nessas descrições, nota-se que o ambiente era de grande solenidade: a igreja decorava-se com velas, tecidos coloridos e, quando possível, com imagens sacras trazidas de Portugal.
Nas casas grandes dos engenhos, registros em inventários e cartas privadas mostram que se preparavam ceias com alimentos locais, como mandioca, peixe, frutas tropicais e carnes salgadas, já que ingredientes típicos da mesa portuguesa eram escassos ou caros. Mesmo assim, buscavam criar uma atmosfera festiva, mantendo tradições trazidas pelos colonizadores.
Nas senzalas, apesar das duras condições de vida, o Natal também ganhava expressão. Cronistas do período registram momentos de relativa folga para as pessoas escravizadas, que podiam se reunir para cantar, dançar e praticar manifestações culturais afro-brasileiras, como batuques e cantos religiosos reinterpretados dentro das possibilidades permitidas pela ordem colonial.
Em algumas regiões, especialmente no Nordeste, surgiram ainda tradições que se tornariam marcantes, como os ternos de reis e folias, documentados desde o século XVIII, unindo canto, devoção e festividade popular.
Assim, os testemunhos históricos revelam que o Natal no Brasil Colonial resultava de um encontro complexo entre a religiosidade católica portuguesa, as culturas indígenas e africanas, e as condições específicas da vida na colónia — produzindo uma celebração profundamente diversa e característica do Brasil.
