terça-feira, 30 de agosto de 2016

O Caminho para a Vitória - Possibilidades de um candidato ser eleito vereador em Capão do Leão em 2016

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, Capão do Leão possui 19.873 eleitores cadastrados para votar - dados de junho de 2016. Todavia, devemos lembrar que não serão todos estes eleitores que irão comparecer às urnas em Outubro. A abstenção é um fenômeno presente, pois além das pessoas que estão fora da cidade no dia da eleição ou não vão votar, ainda há a questão dos óbitos que não são automaticamente computados pelo TRE. As abstenções nas eleições realizadas em Capão do Leão nos últimos anos têm apresentado uma variação em torno da casa de 15% - em 2014, 16,41%; em 2012, 14,60%; em 2010, 16,04%; em 2008, 14,21%.  Considerando estes 15% como referenciais, podemos esperar que aproximadamente 2981 votantes se ausentem na eleição municipal de 2016 em Capão do Leão. Votos nulos e brancos somados jamais ultrapassaram a casa de 10% desde a eleição de 1996, mantendo uma média de 8% a 9% a cada eleição. Porém, consideremos que dentre os votos computados, que devem ficar no índice de aproximadamente 16.800 votos, tenhamos por alto 10% de votos nulos e brancos (que não são considerados válidos na eleição), o número de votos válidos deve variar entre 15.100 a 15.400 votos. 

O quociente eleitoral computa todos os votos válidos e divide pelo número de cadeiras existentes no Legislativo. Por isso, numa análise conservadora, cada partido que receber 1400 votos garante uma vaga na Câmara, se receber 2800, duas vagas garantidas, e assim sucessivamente. Numa análise ousada, o quociente de uma cadeira legislativa leonense poderia corresponder a 1370, 1350 ou mesmo 1300 votos. Entretanto, vamos nos ater a visão mais conservadora. 

Na última eleição municipal em 2012, dos 11 vereadores eleitos, 07 elegeram-se pelo quociente eleitoral (isto é, tanto o candidato quanto o partido obtiveram os votos necessários) e 04 elegeram-se graças a média (os votos do partido permitiram que fossem eleitos). Seria demasiado dispendioso explicar aqui a regra do quociente eleitoral e da média eleitoral, mas apenas fizemos estas observações para melhor explicar o caso particular de Capão do Leão. O que procuramos demonstrar é o que seria necessário para alguém se tornar vereador em Capão do Leão nas eleições municipais de 2016, numa análise livre, mas referenciadas em estatísticas anteriores.

Na eleição de 2016, haverá 105 candidatos aptos a vereança (até a data desta postagem), enquanto que nas eleições de 2012 houve 106 e nas eleições de 2008 apenas 71. Isso significa que se tornou mais difícil a concorrência entre os candidatos a vereador entre as eleições municipais de 2008 a 2012, enquanto que, entre 2012 e 2016 o número de candidatos se manteve o mesmo. Por isso, os referenciais da eleição de 2012 podem apontar muito a respeito desta eleição. Bem, o que podemos concluir e, ao mesmo tempo, não afirmar que seja uma verdade absoluta e incontestável é o seguinte:

  • Tomando como base que é comum que ocorra, entre todo os conjuntos de candidatos, uma turma de vanguarda de 20 candidatos que irão anotar mais de 200 votos, e uma turma de nanicos de aproximadamente 30 candidatos que não irão contabilizar mais do que 50 votos, a grande maioria vai se situar entre 51 e 199 votos sem possibilidade de eleger-se (salvo o caso de ocorrer um supercandidato a vereador que anote mais de 800 ou 900 votos, ou ainda quem sabe dois supercandidatos com mais de 600, e "carreguem" consigo outros candidatos da coligação ou partido).
  • Tomando como base as eleições de 2012 e 2008, o número mágico para eleição de um vereador pelo quociente eleitoral (via mais segura) vai girar em torno de 2,33%  a 2,66% dos votos válidos. Numa avaliação conservadora, o candidato atingindo o total de 381 votos estará eleito seguramente, somente correndo o improvável risco de não ser eleito caso sua legenda ou coligação seja muito fraca. Numa visão mais ousada, o número de 332 votos pode ser um padrão para ser eleito, mas também é um número interessante para se garantir por média eleitoral. Na verdade, a média eleitoral (a famosa "rabeira" da eleição) não é um elemento que o candidato a vereador deva levar em consideração. Entrar por média eleitoral na eleição de vereador depende dos números que os principais candidatos do partido ou coligação tiverem. Todavia, de acordo com os percentuais de 2008 e 2012, é improvável que alguém consiga a vaga por média eleitoral com menos de 248 votos, mesmo na situação da média eleitoral.
  • Observando a tendência das eleições anteriores, dos oito candidatos a vereador que concorrem a reeleição, seguramente no mínimo dois se reelegerão, podendo chegar a cinco reeleitos, mas é improvável que seis ou mais se reelejam. Existe 90% de chances de dois reeleitos, 66% de chances de três reeleitos, 31% de chances de quatro reeleitos e 20% de chances de cinco reeleitos. As chances de seis, sete ou oito serem reeleitos são mínimas e não correspondem à realidade eleitoral do Capão do Leão.
  • Considerando que um candidato não queira de modo algum depender da quociente eleitoral do partido ou coligação para ser eleito, o mesmo deveria atingir cerca de 1390 votos, o que seria sumariamente histórico e inacreditável para a realidade local.
  • Para os partidos ou coligações em geral, é importante manter seis ou sete candidatos na média de 150 a 200 votos. Observando os resultados das eleições anteriores, esse bloco forma um interessante lastro que possibilita a eleição daqueles que ultrapassam os 350 a 400 votos. Quanto mais candidatos que não serão eleitos estiverem nesta faixa, mais se torna seguro que os principais candidatos do partido ou coligação sejam eleitos. Alguns partidos ou coligações apresentaram nas eleições anteriores "supercandidatos" que eram sucedidos por "nanicos" de 120, 110, 90 votos. Muitos candidatos bem votados não foram eleitos graças a isto. Vide o caso de Édson Ramalho que obteve 830 votos em 1996 e foi sucedido em seu partido por um segundo colocado com meros 112 votos e um terceiro com 63 - resultando não ser eleito.
Nota: Agradeço ao colega e amigo Edenílson Martins (professor de Matemática da rede pública estadual de ensino) pelas dicas e projeções estatísticas.

domingo, 28 de agosto de 2016

Histórias Curiosas XXVI


Malandro é malandro. Ainda mais quando se trata da infame prática do abigeato, tão comum aqui nos campos do sul e que causa tanto prejuízos a nossos criadores. Só que alguns roubos, apesar de serem sempre condenáveis, são passados à memória por seu aspecto folclórico.
Havia um senhor de origem alemã na região do distrito (?) de Domingos Petroline, em Rio Grande, que, entre várias atividades agropastoris a que se se dedicava, tinha uma criação de porcos. O sujeito era zeloso com a criação e mantinha uma rigorosa vigilância sobre os porquinhos. Já haviam lhe causado prejuízos no passado e ele não queria novamente ter que sofrer um outro dano. 
Por outro lado, na mesma região, dois sujeitos extremamente ladinos estavam há algum tempo articulando uma forma de roubar os porcos do alemão, mas sabiam que não seria tarefa fácil. Os dois malandros (pai e filho) descobriram que o tal alemão gostava de duas coisas em particular: de uma boa conversa e de ser adulado. O pai não se tardou em visitar o alemão com uma cuia de chimarrão na mão, demonstrando muito interesse nas coisas que o alemão plantava e criava e disposto a elogiar o agricultor o tanto quanto fosse possível. O alemão recebeu o malandro meio que desconfiado, conhecia o homem mais de vista, tinha conversado algumas vezes com o mesmo e estava muito atarefado no momento. Mas o malandro (o pai!) soube já de início demonstrar uma simpatia incomum pelo trabalho do alemão, perguntando-lhe as mais diversas coisas e conferindo uma importância ao seu conhecimento de coisas de campo quase venerável. E não foi que o alemão caiu na lábia do sujeito! 
Não demorou muito, o alemão chamou o malandro-pai para a varanda da casa para sentarem-se e até pediu à esposa que preparasse umas pipocas para melhor receber o convidado. Entre cuias de chimarrão e muitas conversas, o malandro-pai cautelosamente dá um sinal por meio do telefone celular ao malandro-filho que está com uma camionete estrategicamente estacionada numa capoeira nos fundos da propriedade do alemão. O malandro-filho recebe o "sinal" e prepara o roubo.
Munido de vários pedaços de pão embebido na cachaça mais vagabunda e forte, o malandro-filho vai dando os nacos aos porquinhos que avidamente devoram aquela "iguaria". Não dá dez minutos, vários porcos estão no chão anestesiados e o malandro-filho faz rapidamente o trabalho de prender as patas dos bichos com uma corda e carregá-los para a caçamba da camionete, sendo que alguns ele já havia abatido ali mesmo. A fartura do roubo se justifica: entre abatidos e ainda vivos, a camionete fica apinhada com pelo menos uns dezesseis porcos. Sempre silencioso, o malandro-filho arranca com a camionete, toma a estrada e dá o sinal de retorno para o malandro-pai via telefone celular. O malandro-pai recebe a mensagem, desculpa-se com o alemão pois haveria de sair rapidamente devido a um imprevisto e se despede, porém puxando o saco do alemão ainda mais e prometendo voltar.
No fim do dia, o alemão ainda muito orgulhoso em ter compartilhado seus conhecimentos rurais com um "grosseirão", vai dar farelo aos porcos no galpão dos fundos e descobre o infeliz acontecido. Coitado!
Na estrada mais adiante, o pai e o filho se encontram e comemoram a façanha. Entre outras coisas, o filho curioso pergunta ao pai o que ele havia feito para manter o alemão tão entretido. O pai ladino muito cafajeste emenda:
- Perguntei a ele como se fazia para criar porco! O sujeito me explicou tudinho.

sábado, 27 de agosto de 2016

Histórias Curiosas XXV

Trabalhador, honesto, respeitado e bem conhecido na Vila do Capão do Leão, o sujeito tinha um defeito que lhe rendia uma boa fama nas ruas da localidade: era um "barbeiro" de longa data. Era ele sentar diante do volante que o pânico estava instalado nas ruas e estradas. Dizia-se que o citado era extremamente distraído e isso se devia a um problema de visão que lhe acompanhava desde a infância. Mas, o fato é que havia tirado a carta de motorista e transitava de um lado para o outro como se não houvesse amanhã.
Conseguiu, então, comprar uma picape (camionete) Ford (daqueles modelos lançados nos anos 70) usada que lhe era muito útil no dia-a-dia. Duas vezes por dia, ele cruzava a Avenida Narciso Silva a todo vapor, uma de manhãzinha e outra à tardinha. Cada vez que aquela camionete aparecia na avenida era um terror. Cachorro, pedestre, charrete...o que estivesse em seu caminho...sai da frente! Ele vinha levantando tudo pelos ares.
Foi então que, novamente muito apressado, o sujeito e seu "fordinho" (como ele mesmo denominava) adentraram a avenida Narciso Silva vindo do Cerro das Almas. Querendo chegar logo a seu destino, o notório "barbeiro" irritou-se ao perceber que um caminhão manobrava na via, querendo sair de um pátio para seguir adiante. Foi o tempo do caminhão tomar rumo e o "barbeirão" acelerou forte com a camionete, sem se dar conta que havia uma moto estacionada logo adiante, encostada junto ao meio-fio. Resultado, a motinha virou um brinquedo nas rodas da camionete, sendo cinematograficamente catapultada vários metros na calçada e o "barbeirão" seguiu como se nada tivesse acontecido. Poderia parecer maldade do sujeito, mas quem o conheceu é categórico em afirmar que ele realmente não se dava conta das barbeiragens que cometia, muito provavelmente pelo espírito distraído e a baixa visão. Estava mais para um "bobo irresponsável" na direção, do que um "patife irresponsável". Como tirou a habilitação de motorista? Bem, os tempos eram outros no País.
Mas voltando ao cerne do relato, o fato é que a motinha ficou estraçalhada na calçada e o sujeito seguiu sabe se lá para onde em sua pressa habitual. Resolveu o que queria resolver e parou para reabastecer no antigo Posto Kaiser (na esquina da Avenida Narciso Silva com a Rua João Rouget Peres) quando já estava iniciando a noitinha. Sai do carro, conversa com um, conversa com outro, quando um dos funcionários do posto comenta no grupo que estava reunido no posto, entre outros funcionários e clientes, o seguinte:
- Bah, o Zé Paulo está inconsolável, uma camionete bateu na moto dele lá perto do Esmelindro e o motorista se mandou!
O "barbeirão" muito surpreso quer saber mais e indaga:
- Mas o Zé Paulo viu quem era o motorista?
O funcionário responde:
- Olha, ele estava trabalhando nos fundos de casa e não viu, mas parece que a Dona Nair viu um detalhe na camionete, mas não sei se ele ainda identificou quem era.
Eis que o "barbeirão" comenta muito indignado:
- Pois é, né tchê?! Que barbaridade, como tem gente despreparada hoje em dia dirigindo...vai ver que o sujeito não é daqui. Eu até me revolto com um troço desses!

Dias depois, o "barbeirão" pagava o conserto da moto religiosamente e se perguntava como havia batido na mesma sem se dar conta.

Nota: os nomes usados são fictícios.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Faleceu Gilmar Oliveira Maciel

Com muita lástima, recebemos a notícia do falecimento do nosso grande amigo Gilmar Oliveira Maciel hoje à tarde em Porto Alegre por volta das 15 horas, local em que estava hospitalizado desde o  último sábado dia 20. Maciel -  como era popularmente conhecido - era vigilante da Universidade Federal de Pelotas e um dos personagens mais atuantes da cultura leonense, destacado tradicionalista e um dos fundadores e ex-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Capão do Leão.
O saudoso amigo e sua natural expressividade e simpatia

Nascido em 10 de Junho de 1955, Maciel era cria natural da antiga área do Instituto Agronômico do Sul, hoje Embrapa/campus da UFPel. Aliás, trabalhava na universidade desde 1977. Sempre foi um ser humano muito criativo, ativo, disposto, de bom caráter, pai e avô. Atualmente morava na zona central do município, muito conhecido na comunidade pelas atividades no meio tradicionalista gaúcho e na cultura local. Em várias gestões, ocupou o cargo de Posteiro Cultural do CTG Tropeiros do Sul, chegando ao posto de Patrão do ctg entre 2006 e 2007. Juntamente com o Sr. Antônio Martins, foi criador da "Cavalgada Cultural Conhecendo Capão do Leão" em 2006 - evento que se manteve ininterrupto até o presente. Também atuou no meio sindical, como membro do Grupo de Trabalho dos Vigilantes da UFPel. Em 1988, foi candidato a vereador pelo PMDB. Além disso, colaborou e participou de várias atividades culturais ao longo de sua vida.
Maciel (à direita) empunhando orgulhosamente a bandeira da Cavalgada Cultural "Conhecendo Capão do Leão" - evento em que foi um dos criadores em 2006. À direita, o amigo Arthur Victória

Uma grande perda para todos os amigos. Particularmente, muito do que este blog e seu autor conseguiram publicar ao longo dos últimos dez anos se deve a sua prestimosa ajuda. Somos também muito gratos pelo apoio que Maciel sempre nos deu.
De boina e jaqueta preta - na época em que foi Patrão do CTG Tropeiros do Sul

Fica nossa homenagem à sua memória.


terça-feira, 23 de agosto de 2016

ONG A4 promove feira de adoção de filhotes no dia 27 de Agosto


A ONG A4 - Associação dos Amigos dos Animais Abandonados, de Capão do Leão - promove no próximo dia 27 de Agosto, sábado, das 14 às 17 horas, uma feira de adoção de filhotes de cães na Agropecuária Salaberry, em Pelotas. O endereço é Avenida Fernando Osório número 1531. Vale a pena participar e adotar, caso você tenha interesse. O trabalho desenvolvido pela ong é importante e merece ser valorizado.

Compartilhe e avise aos amigos!

Histórias Curiosas XXIV

Marie Fredriksson,
vocalista da banda Roxette
Início da década de 90 e o noturno da Escola Presidente Castelo Branco “bombava” a cada começo de ano letivo. Devia ser 1991 ou 1992, aconteceu de uma aluna nova matricular-se no ensino médio (na época conhecido ainda como 2º. Grau) e passar a frequentar uma das turmas causando verdadeiro frisson nos rapazes. A moça loira, ligeiramente mais velha que os demais, de cabelo curto à moda da cantora sueca Marie Fredriksson da banda Roxette (que estava muita em voga na época), usando roupas “descoladas” e “modernas”, dona de um sotaque que denunciava sua origem carioca e cheia de gírias, foi uma novidade no meio de um grupo de alunos ainda interioranos, que não estavam acostumados com aquela menina de ar tão cosmopolita. Ao que parece, o pai, engenheiro de uma firma mineradora que estava instalada no município, tinha se transferido para Capão do Leão com a família para melhor atender suas obrigações profissionais.

O fato é que a moça além das características que já havia citado era realmente muito bonita e procurava sempre estar maquiada e perfumada. Não era afetada, agia com educação e cortesia e logo fez amizade com vários colegas. Unindo beleza, simpatia e um jeito um tanto quanto diferente para Capão do Leão, a moça arrancava suspiros entre os rapazes por razões mais que óbvias.

Todavia, as pretensões dos mais galanteadores logo diminuíram, pois a moça numa conversa informal se revelara homossexual e havia comentado com as outras meninas que tinha uma namorada que havia deixado no Rio de Janeiro e que, ocasionalmente, a visitava em datas especiais. Apesar da revelação, a moça não foi discriminada pelos demais e as coisas seguiram normalmente durante o decorrer do ano letivo.

Porém, nem todo mundo ficou sabendo da novidade logo. Aquilo ficou meio que restrito ao grupo de sua turma e alunos de outras turmas ainda olhavam a moça com certo interesse, mas sempre com o devido respeito.

Pois bem, havia uma turma de 2º. ano composta pelos mais atrasados em que um aluno gordinho que usava uma barbicha era a “alegria da galera”. Divertido, extrovertido e sempre bem-humorado, o tal aluno gordinho já havia se tornado uma espécie de mascote da turma por protagonizar momentos hilários e inusitados dentro da sala de aula e nas festas e bailes da juventude da época. Quem conviveu com ele diz que os causos contados a seu respeito seguramente dariam um livro. O sujeito, além disso, gostava bastante de um “goró” e era celebrizado por suas bebedeiras. Comentavam que ele era o rei do Xixi de Anjo – espécie de coquetel que basicamente é cachaça com leite condensado, mas que em cada canto tem o acréscimo de um ou mais ingredientes diferentes.

O professor de Literatura organizou então um seminário em que os seus alunos deveriam ler uma obra previamente listada e apresentarem uma resenha entre os colegas. Juntou algumas turmas e fez uma espécie de aulão para apresentarem os trabalhos. As apresentações começaram e o gordinho do 2º. ano estava presente ao lado de um colega que o acompanhara. A moça loira do início da história foi chamada pelo professor para apresentar sua resenha e o gordinho se encantou com a sua beleza e desenvoltura. Neste momento, muito curioso, o gordinho sussurrando pergunta ao seu colega:

- Bah, tchê! Quem é aquela loira? Que baita loiraça! Que encanto de mulher! Que avião!

- Olha Jeremias (nome fictício), aquela é a Marina (outro nome fictício), não é daqui, chegou este ano, veio do Rio, está na outra turma lá do fundo.

- Bah, me apresenta a loira, então. Tenho que conhecer melhor ela!

- Jeremias, posso até te apresentar a Marina, mas já te adianto que é fria, pois ela gosta a mesma coisa que tu gostas!

- Tá, tá bom então tchê. Quebra essa prá mim, Marquinhos (também um nome fictício).

Dias depois, Marquinhos informalmente apresenta Jeremias a Marina e a moça educadamente o cumprimenta, porém com certa reserva. Uma semana se passa, Marina indignada comentava com as amigas que “aquele gordinho”, o Jeremias, a havia feito uma proposta invasiva, convidando-a para beber com outros amigos num trêiler após a aula, sendo que eles mal se conheciam. A história se espalhou e as amigas disseram a Marina que não ligasse, pois o dito gordinho era famoso justamente pelas gafes que cometia.

Marquinhos e outros colegas ficaram também sabendo e na entrada da aula abordam o Jeremias querendo saber o que deu na cabeça dele de ser tão “carudo” e abordar a moça sem se quer ter intimidade suficiente com ela:

- Ô, Jeremias, como tu é cara-de-pau, irmão! Eu mal te apresentei a moça e tu já chegasses dando no meio. Eu não te falei que ela gosta da mesma coisa que tu gosta?

- Pois é, tchê. Eu até achei que dava para chegar, mas a “mina” não gostou muito. Sabe como é, eu até quis criar uma intimidade, quis convidar ela para fazer a mesma coisa que eu gosto, mas não deu muito certo.

- Jeremias, o que tu entendeste quando eu te disse que “ela gosta a mesma coisa que tu gosta”?! Eu quis dizer que a moça é lésbica, animal! Ela tem namorada que vem lá do Rio de vez em quando para se encontrarem – arremedou Marquinhos.

- Lésbica?! Pqp!! Mas tão gata e sapatona!

- Então, como tu foi ser tão cara-de-pau de convidar a guria para beber? – indagou outro colega que acompanhava a conversa.

Jeremias sem jeito conclui em sua ingenuidade cômica:

- Hum, hum...bah, tchê...eu pensei que quando o Marquinhos me disse que ela gostava da mesma coisa que eu gosto...Hum, hum...eu pensei que era cachaça!


A gargalhada foi geral que dava até para ouvir no outro prédio anexo da escola.

sábado, 20 de agosto de 2016

O Perfil da Juventude Leonense



Trecho extraído de: PRADO, Daniel Porciuncula & SANTOS, Douglas Ferreira dos. Os avanços nas políticas públicas a partir da atuação do Conselho Municipal da Juventude de Capão do Leão no Rio Grande do Sul. IN: BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DA JUVENTUDE. Anais do Encontro  de Pesquisadores e Pesquisadoras de Políticas de Juventude. Brasília, Presidência da República, 2014, p. 154-157.

"Perfil da Juventude Leonense 

Embora o subtítulo aponte para uma visão geral dos jovens que residem em Capão do Leão, o perfil da juventude descrita aqui se trata dos jovens estudantes do ensino médio. O questionário foi aplicado com todos aqueles que aceitaram participar da pesquisa na Escola Estadual de Ensino Médio Presidente Castelo Branco, a única escola de ensino médio no município no momento da pesquisa. Optou-se em realizar a pesquisa na escola por compreender que este espaço constitui-se numa amostra dos jovens que residem no município, pois são estudantes oriundos de todas as localidades, urbana e rural. 

O objetivo da pesquisa foi coletar informações para conhecer a realidade dos jovens leonenses para que o Conselho Municipal da Juventude obtivesse um banco de dados para iniciar seus estudos e projetar os avanços necessários nas políticas públicas de juventude. A pesquisa foi realizada em dezembro de 2013, totalizando 188 participantes. Do total de participantes, 7 entregaram o questionário em branco, 107 são mulheres e 74 são homens. 

As perguntas permitiram ter uma leitura sobre a sexualidade, renda familiar, educação, participação em grupos, etnia, opinião sobre a administração local, apontamentos sobre o trabalho do Comjuv, preconceitos existentes e as prioridades no município a partir da perspectiva dos jovens. 

Os dados coletados deixam de fora os jovens que ainda estão cursando o ensino fundamental, os jovens trabalhadores e/ou universitários que já concluíram a educação básica e os jovens desempregados. Torna-se difícil para o Conselho Municipal da Juventude, devido as diversas demandas, e muitas vezes com poucos recursos, avançar nas questões que envolvem tempo e dificuldades no que diz respeito a cativar a juventude que está em espaços isolados para participar desta iniciativa. Porém, essas informações apontam para um dos caminhos a serem seguidos e, embora sejam os gritos dos jovens estudantes, estes estão em contato com os demais e comungam de algumas opiniões. 

(...)

A grande parte dos jovens estudantes está na faixa etária que compreende dos 15 aos 18 anos, totalizando 90,4% dos participantes. A maioria é do sexo feminino e participante da Igreja Evangélica, 39,3%, seguida pela Igreja Católica, 21,5%. Aqueles que não frequentam nenhuma religião totalizaram 22,4%, os Umbandistas são 6,5%, outras religiões 4,7% e não responderam a questão 3,7%. Já os jovens do sexo masculino, os resultados foram os seguintes: não frequentam nenhuma religião 41,9%, Evangélicos 31,1%, Católicos 9,4%, Outras religiões 6,8%, Umbanda 6,7%, não responderam a questão 4,9% e ninguém marcou a opção Igreja Batista.

A maioria dos jovens é da Zona Urbana, 76,1%. Os moradores da Zona Rural somam 28,97% e os que não responderam a pergunta contabilizam 1,6%. Na opção para informar com quem morava, 95,7% disseram residir com os familiares, 0,6% com amigos e 3,7% não responderam a pergunta. 

Sobre a etnia, 4,8% não responderam a pergunta, 0,6% afirmaram ser Ciganos, 3,2% Índios, 9,6% marcaram a opção negra, 12,7% pardos e a maioria se declarou branca, 69,1%. Nesta questão, houve um equívoco em relação à cor de pele com ao grupo pertencente, porém os dados têm significados quando apontam que jovens se auto-declaram índios e ciganos. 

As jovens são maioria, totalizando 37,4%, que ainda não tiveram relações sexuais, enquanto os homens somam 24,3%. Marcaram a opção antes dos 15 anos de idade 16,8% das mulheres e o resultado dos homens foi de 37,8%. Na opção entre 15 e 18 anos, a diferença foi de 3,9%, pois as mulheres totalizaram 29,9% enquanto os jovens do sexo masculino 33.8%. Somente as jovens mulheres marcaram a opção entre 19 e 22 anos (0,9%). Não responderam a pergunta 4,1% dos homens e 15% das jovens mulheres. 

Em relação à participação em algum grupo juvenil (religioso, partidário, associações, ong’s...), 75% dos jovens não participam de nenhuma organização, apenas 19,7% fazem parte de algum grupo, e é em maioria mulheres, e 5,3% não responderam a pergunta. O gráfico a seguir traz algumas informações sobre o número de reprovações no ensino fundamental e médio. 

(...)
Enquanto no ensino fundamental, o público que lidera são as jovens, no ensino médio, os homens é que passam a ter o maior índice de reprovação. Se a pesquisa fosse realizada com o público infantil e adolescente, seria possível fazer um breve comparativo sobre a quantidade de estudantes no ensino fundamental, pois no médio a maioria são mulheres e reprovam em menor quantidade. 

Quando questionados sobre a qualidade na educação, 34,6% marcaram a opção ruim, 34,6% marcaram a alternativa regular, 14,9% escolheram a resposta muito ruim. Somente 9% consideram a educação no município boa e 1,6% excelente. Os jovens que não escolheram nenhuma das alternativas somaram o percentual de 5,3%. 

Se tratando da opinião sobre a atual administração, os jovens, em sua maioria, acham o governo mediano, pois, dentre os 188 participantes, 60 marcaram a opção regular, totalizando 31,9%. Muito Ruim e Ruim obtiveram 29,3% e 29,8%, respectivamente. Aqueles que marcaram o governo como Bom somaram 3,7% e 5,3% não responderam. 

No questionamento em relação às políticas públicas para juventude no que diz respeito ao trabalho desenvolvido pelo poder executivo e legislativo, 36,2% avaliaram como ruim, seguido de 31,4% regular, 16,5% muito ruim, 9% não responderam essa questão, a opção bom obteve 6,4% de votos e 0,5% avaliaram como excelente.

(...)

Referente ao trabalho desenvolvido pelo Comjuv, a opção mais marcada foi a alternativa que avalia o trabalho como sendo bom. O quadro a seguir ilustra a avaliação realizada e a porcentagem de cada resposta.

Muito Ruim 3,2%
Ruim 9,1%
Regular 20,7%
Bom 38,8%
Excelente 9,1%
Não conheço o Comjuv 11,7%
Não responderam 7,4% 

Cabe salientar que os atuais conselheiros tomaram posse em agosto e o questionário foi aplicado em meados de dezembro. Neste resultado é perceptível a aprovação do trabalho desenvolvido pelo Conselho Municipal da Juventude, mesmo com pouco tempo de atuação. 

A última questão solicitava que o estudante elencasse até três prioridades no município (saúde, infraestrutura, educação, transporte, urbanização, políticas públicas, cultura, lazer, esporte e saneamento básico) e ainda permitia sugerir outras demandas que ali não estavam contempladas. Todas as alternativas de alguma forma foram marcadas, e em alguns questionários todas as prioridades foram escolhidas. Esse comportamento de marcar todas as opções, mesmo que o enunciado solicitasse apenas três, demonstra a insatisfação da juventude leonense em relação às necessidades básicas. Ainda nesta questão surgiram outras demandas, como segurança e limpezas das ruas. 

A aplicação deste questionário possibilitou ao Conselho Municipal da Juventude se apropriar do perfil da juventude leonense, mesmo que seja apenas de uma parcela deste grupo. Outras indagações foram realizadas, porém não serão abordadas nesta pesquisa por compreender que os resultados requerem um aprofundamento nas reflexões.

Caminho percorrido e atividades desenvolvidas pelo Comjuv

O Conselho Municipal da Juventude (Comjuv), lei municipal 1594, foi criado a partir da iniciativa da comunidade jovem do município e entrou em vigor no dia 02 de agosto de 2013. Sua trajetória começou no ano de 2004, quando a Pastoral da Juventude (PJ), organização juvenil pertencente à Igreja Católica, realizou a primeira Semana da Cidadania, atividade permanente do calendário desta organização no Brasil. 

A Semana da Cidadania tem por objetivo ser um espaço de reflexão sobre as políticas locais através de atividades desenvolvidas pelo/para os jovens. A cada ano com uma temática diferente, essa atividade é pensada pelas pastorais da juventude do Brasil e vem para fomentar e provocar os jovens para uma transformação da sociedade. Foi neste contexto de jovens ligados a esse seguimento da Igreja Católica que começaram as discussões sobre a criação de um Conselho Municipal da Juventude em Capão do Leão, com o intuito de promover e avançar nas políticas públicas. Participaram desta atividade outras entidades juvenis do município e cidades vizinhas, como Hip Hop, Igreja Luterana, Grafiteiros, Central Única das Favelas (CUFA) e Partidos Políticos (PT, PDT e PMDB).

Somente 10 anos depois é que a lei de criação do Comjuv foi efetivada, devido a pressão dos representantes da Pastoral da Juventude e Partidos Políticos (PT, PDT, PMDB e PSol). Neste tempo, foram realizadas atividades para discussão sobre os trabalhos a serem feitos pelo Comjuv, além de enfrentar a (re) organização por parte da Pastoral da Juventude, que entrava em crise na Igreja local, que compreendia a Diocese de Pelotas, hoje Arquidiocese. 

O Comjuv do Capão do Leão é composto por nove conselheiros titulares e nove suplentes, com três cadeiras destinadas a representações da atual administração, que não estão sendo todas ocupadas, e seis para as entidades da sociedade civil, que estão sendo ocupadas pelas religiões, partidos políticos, associações, entidades culturais, organizações do campo e comunidade civil. 

As atividades desenvolvidas neste primeiro ano de trabalho do Comjuv já demonstram grandes avanços no que tange as políticas públicas de juventude. Embora sejam muitas as dificuldades, como falta de participação da atual administração; poucos recursos; dificuldades em aproximar os jovens que não fazem parte de nenhum seguimento; ser ouvido e respeitado pelo poder legislativo e executivo, os resultados vem dando destaque na região a este órgão que é fiscalizador, deliberativo e normativo. 

Com apenas um mês de funcionamento, o Comjuv realizou a primeira semana da juventude, lei municipal desde 2009, que até então não tinha sida executada no município. O Conselho também propôs e realizou um encontro para discussão sobre a medida imposta pelo governo do Estado pela implantação do ensino politécnico, medida que foi tomada sem consulta à comunidade escolar.

O Conselho Municipal da Juventude, desde o início de sua formação, incluiu em sua pauta o Passe Livre, direito conquistado pela juventude gaúcha após manifestações no ano de 2013 por todo o Estado. Para obtenção do passe livre, é preciso confeccionar a carteirinha estudantil, que tem um valor, e o Comjuv conseguiu a gratuidade junto à prefeitura para a juventude leonense. 

Outra conquista significante neste primeiro ano de atuação foi a aquisição de uma pista de skate junto a organização dos jovens que andam de skate. Após consolidação do Comjuv, jovens que praticam o esporte em uma das vias movimentadas do município entraram em contato para pensar em alternativas para a construção de uma pista. Foram realizados vídeos, demonstrando os perigos enfrentados pela juventude que se utiliza de uma avenida movimentada para a prática do esporte, com a intenção de sensibilizar os vereadores, para que fosse incluído no orçamento deste ano o valor necessário para a construção de uma pista, que está em andamento. 

Uma campanha contra a homofobia foi realizada no período do carnaval para promover a diversidade de gênero dentro de uma comunidade pequena e conservadora nas questões que envolvem sexualidade, étnicas e de gênero. 

No município de Capão do Leão, até junho de 2014, só havia uma escola de ensino médio no município (local onde foi aplicado o questionário), que está localizada no Centro e não suportava a quantidade de alunos, passando muitos jovens a se deslocarem até Pelotas para concluir seus estudos. Esse fator do deslocamento contribuía para a evasão de um número significativo de estudantes por causa dos gastos e também por causa do tempo, sendo que muitos começam a trabalhar cedo para contribuir na renda familiar. Várias foram as iniciativas do legislativo para implantar uma escola no bairro mais populoso, mas devido a falta de comprometimento, tanto do governo local quanto do Estado, essa ação era adiada. Com a formação do Comjuv e a clareza da importância de uma instituição de ensino próximo da residência dos jovens é que as discussões passaram a fazer parte da pauta. Junto com os responsáveis pela implantação do ensino médio (local e estadual), desde junho a comunidade possui mais uma escola de ensino médio. 

O Conselho Municipal da Juventude de Capão do Leão tem como metodologia a organização a partir de grupos de trabalho temáticos para incluir os demais jovens que não estão na condição de conselheiros ou não participam de nenhuma entidade juvenil organizada. Atualmente, os grupos de trabalho têm as seguintes temáticas: Educação e Pesquisa; Juventude Rural; Formação Política; Diversidade; Esporte e Lazer; e Cultura. A Escola da Juventude é outra atividade desenvolvida pelo Comjuv, que vem sendo um espaço de escuta, discussão e apontamento dos clamores da juventude leonense. Por acreditar no protagonismo juvenil e na potencialidade da juventude para a transformação social, é que eventos como esse se tornam importantes para fomentar a participação. 

A Escola da Juventude acontece no bairro onde há o maior número de habitantes do município e, a cada mês, acontece uma etapa na qual é refletida uma temática assessorada por alguma liderança que tenha domínio no assunto. A proposta é que a formação seja para um pequeno grupo e que os sujeitos possam participar de todos os momentos, pois há uma continuidade entre os temas abordados. Esta atividade que ainda está acontecendo, foi pensada para ser desenvolvida durante o ano, mas já é possível perceber o quanto há deficiências no que diz respeito à educação formal para a participação cidadã. Os sujeitos adquirem conhecimentos engessados no ensino básico e têm dificuldades de refletir ou colocar em prática o aprendizado. Protagonismo Juvenil, responsabilidades do Comjuv, Estatuto da Juventude, as funções dos Três Poderes (legislativo, executivo e judiciário), Educação Popular como meio de transformação, Debates, Cines-Debate e Dinâmicas são as práticas realizadas na Escola da Juventude."

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Esplendor e declínio da Linha Rio Grande - Bagé - Cacequi

Ponte Ferroviária sobre o Rio Piratini em 1915

Trecho extraído de: CORNEJO, Carlos. As ferrovias do Brasil nos cartões-postais e álbuns de lembranças. São Paulo: Solaris, 2005, p. 214.

"A Estação de Bagé foi inaugurada em 12 de Dezembro de 1884, como estação terminal da linha que tinha início em Rio Grande, como 282,4 quilômetros, a qual, em 1896, foi prolongada até São Sebastião e, em 1900, até São Gabriel. A abertura ao tráfego da linha até Bagé foi registrada na obra Centro de Preservação da História da Ferrovia no Brasil:
A ligação Rio Grande-Bagé foi completada em 1884, sendo inaugurada com a presença do Barão de Sobral, então Presidente da Província. Nessa ocasião, fizeram correr três trens especiais: o primeiro levava comissões da praça de Rio Grande, o segundo, comissões e convidados de Pelotas e o terceiro, autoridades, o Bispo Diocesano e os engenheiros da ferrovia. Nessa estrada foram construídas diversas pontes de arrojada engenharia, a maior delas na travessia do Rio São Gonçalo, sobre o qual foi construída uma ponte metálica, com centro giratório, que permitia a passagem de vapores de Pelotas até Jaguarão. Além dela, pode ser destacada a ponte sobre o Rio Piratini, que por duas vezes já foi reconstruída em razão das cheias que fazem as águas de seu leito transbordar.
Da Linha Rio Grande-Bagé-Cacequi saía o Ramal São Sebastião - Santana do Livramento, cujo primeiro trecho, de São Sebastião a Dom Pedrito, foi aberto em 1925 e de Dom Pedrito até Livramento, construído pelo 1o. Batalhão Ferroviário, em 1943. Sabemos do final da história da linha de Marítima até Cacequi e seus ramais, por Ralph Menucci Giesbrecht, no site Estações Ferroviárias: 'Uma série de variantes foi entregue em 1968 e a década de 1980: Pedras Altas, Três Estradas, Pedro Osório, Pelotas, que encurtaram e melhoraram seu traçado, eliminando diversas estações originais. Até 1995 trens mistos transportaram passageiros pela linha."

terça-feira, 16 de agosto de 2016

João Rouget Perez

João Rouget Perez
Extraído do link original: http://outreletemps.canalblog.com/archives/2015/03/08/31664094.html

Nasceu em Pelotas em 1895 e faleceu na mesma cidade em 1964. Filho de João Perez e Fanny Berchon Des Essarts - filha de Edmundo José Berchon Des Essarts e Amélia Justina Roux. 
Graduou-se na década de 1920 em Medicina em Paris, França. Fundou em Pelotas o primeiro laboratório de patologia clínica da cidade, considerado um dos melhores do País em sua época. Desenvolveu importantes trabalhos em Bioquímica e Hematologia e notabilizou-se como médico na sociedade. Grande erudito e referência em sua área de pesquisa.
Nomeia uma rua na zona central do município de Capão do Leão.



domingo, 14 de agosto de 2016

A matriz urbana inicial da cidade de Pelotas

Mercado Público de Pelotas
link original desta imagem: http://olhares.sapo.pt/torreao-do-mercado-publico-de-pelotas-foto1884044.html

Trecho extraído de: SOARES, Paulo Roberto Rodrigues. A cidade meridional do Rio Grande do Sul: cidade pampeana ou brasileira. Doutorando em Geografia Humana na Universidade de Barcelona/Espanha. (Artigo)

"O tabuleiro de xadrez na Campanha

Em  seu  traçado  inicial,  cidade  de  Pelotas  estava  delimitada  pelos  acidentes geográficos do terreno. Discorrendo sobre a formação da cidade brasileira, o arquiteto Murilo Marx ,  aponta  que “as baixadas  e pântanos  também  se constituiram  impedimentos  para o avanço do tecido urbano, que os evitou até que pudesse conquistá-los através de grandes obras de engenharia. Ou melhor, até que tal conquista se fizesse necessária e desejável”.

Em  Pelotas,  o  limite  norte  da  cidade  era  uma  larga  rua  projetada  todavia  não ocupada  -  chamada  Rua  do  Passeio,  onde  logo  sconstruiu  o primeiro  cemitério  dcidade, transladado desde o terreno da Igreja matriz. Os termos leste e oeste estavam nas baixadas em direção às margens dos cursos d' água: à oeste, a rua Boa Vista, seguindo a margem do arroio Santa  Bárbara  e  à  leste,  a  rua  das  Fontes,  cujo  nome  indica  de  onde  provinha  parte  do abastecimento de água da população. O limite meridional era a rua da Palma, um caminho quase desocupado e que a partir da ampliação da cidade rumo ao sul se converteria no centro do núcleo urbano. As ruas foram ordenadas exatamente de acordo com a direção dos pontos cardeais, seguindo uma tradição do urbanismo romano que também foi aplicada em outras regiões da América espanhola.

No centro se interrompiam  três ruas no sentido longitudinal  e uma rua no sentido leste-oeste, em função da abertura da praça da Igreja. Eram justamente estas as ruas que concentravam o maior número de construções e onde os moradores mais ricos (os estancieiros e charqueadores)  construíram  suas casas.  O mero de edifícioconstruídos,  de acordo com a planta de 1815, foi de 107 e as ruas próximas ao templo eram as mais edificadas. De acordo com as descrições de época do núcleo urbano, as outras ruas eram ocupadas por pequenos ranchos onde se realizava o cultivo de alimentos. A própria toponímia indicava esta situação (como por exemplo pela existência da rua da Horta), além de outros usos (rua das Lavadeiras, por exemplo). Pela mesma planta de 1815 se pode verificar que a cidade pouco se desenvolveu na direção leste, com suas ruas pouco ocupadas na etapa inicial.

Um dos relatos mais famosos sobre Pelotas no século passado foi o realizado pelviajante francês Auguste de Saint-Hilaire, que com a assistência de um dos principais proprietários da cidade, Antonio Gonçalves Chaves, conheceu a cidade em detalhe em 1820 e descreveu-a desta maneira:

Situada em uma vasta planície, foi eregida a sede da paróquia e conta com mais de cem casas. Se adotou um plano regular na construção da aldeia. As ruas são bem largas e alineadas; a pra pública onde esconstruída a Igleja é pequena, porém mui bonita. A frente da maior parte das casas é asseada. o se vê em o Francisco de Paula um único casebre, tudo aqui denuncia bem-estar. Na verdade as casas somente têm um pavimentoporém estão muito bem construídas,  cobertas de telhas e guarnecidas de vidros (Saint-Hilaire,1974:82).


Em 1825 mediante doação do governo provincial para a Freguesia de São Francisco de Paula se criou o Logradouro  Público da Tablada.  Tratava-se de um vasto terreno (1.428,8 hectares) situado ao norte da cidade no qual o gado da Campanha era agrupado para ser comercializado. A feira da Tablada, que foi situada na porção mais ao sul do terreno, ou seja, mais próxima do núcleo da cidade, era uma ampla praça que concentrava as relações de compra e venta  do  gado,  que  envolviam  estancieros  (criadores)  e  charqueadores  (produtores  de  carne salgada).


A estrutura da Tablada correspondia ao que Randle chama de remate-feira”, o local de compra e venda do gado pampeano. Sua implantação teve diversas repercussões no desenvolvimento da cidade, fomentando o crescimento das atividades comerciais e de serviços, uma  vez  que  proprietarios  e  peões,  depois  de  realizarem  seus  negócios  e  seus  trabalhos, buscavam a cidade para a compra de bens e mercadorias, assim como para diversão. Nas cadas posteriores, a Tablada exerceria a função de atração do crescimento da cidade na direção norte, atuando simultaneamente como estruturante do espaço urbano, pois as estradas que ligavam a área ao núcleo central e às áreas produtoras de charque se transformaram em vias urbanas importantes.

Os  negócios  efetuados  na  Tablada  impulsionaram  as  atividades  produtivas,  tanto rurais, como urbanas. O já citado estudo de Gutiérrez aborda a combinação, no espaço produtivo das charqueadas, através da utilização da força de trabalho escrava, da atividade de produção de charque (que era exercida nos meses estivais) com a produção de ladrilhos e telhas (nos meses sem tarefas com o gado). Esta relação complementaria repercutia no espaço urbano, pois produzia uma ampla disponibilidade de materiais para a construção civil à baixo custo, que servia como alternativa de investimento urbano dos grandes proprietários.

Desta maneira não é difícil considerar como bastante fis à realidade os relatos dos viajantes sobre o bom aspecto e a pujança das casas na cidade de Pelotas.

Os posteriores loteamentos que ampliaram a cidade mantiveram o mesmo estilo de traçado em tabuleiro de xadrez, racional, reticulado, heterogêneo (pois as quadras não eram todas a mesma dimensão), com predomínio da quadrícula sobre os retângulos. Tal traçado manifestava uma  nítida  diferenciação  com  a  típica  cidade  colonial  brasileira,  de  origem  portuguesa,  que apresentava sobretudo um traçado irregular, de ruas estreitas e tortuosas. Sem embargo, como aponta a citada tese de Yunes, o modelo quadriculado foi predominante no estado do Rio Grande do Sul, con exceção da cidade de Rio Grande, primeiro cleo urbano gaúcho, implantado em 1737, ou seja, em data anterior à provisão real de povoações.

As  novas  ruas  traçadas  eram  mais  largas  que as  do cleo  primitivo  e a cidade experimentou um cambio na direção de sua expansão se tornando mais extensa no sentido norte- sul.  Houve  a hierarquização  das  ruas:  as longitudinais  - alargadas  em direção  ao sul,  até as margens do São Gonçalo - passaram a ser as ruas principais; as de sentido leste-oeste foram consideradas  como transversais e não se produziu a ampliação de seu traçado, mas a cidade ganhou mais 16 ruas nesta direção. A cidade se organizou então em 23 ruas transversais e 12 ruas longitudinais  (principais),  com um total de 35 ruas e 142 quadras, das quais 40 somentestavam somente delimitadas, sem ocupação.


O lugar designado à nova praça central, para qual se trasladaria a Igreja Matriz era novamente o ponto mais proeminente do sitio urbano e a rua de São Miguel assumia o papel de rua principal, pois além de ser a de maior extensão, cruzando a cidade de norte à sul, estava situada na cúspide do sitio urbano, seguindo todo o divisor de águas das bacias do Santa Bárbara e do Arroio Pelotas. Não é por acaso que a igreja projetada tería sua porta principal para esta rua.

Foram  planejados  e demarcados  os espaços  para as futuras  praças  (um total de cinco) e  se produziu uma nova centralidade urbana na cidade. Ao redor da nova praça da matriz sconstruiram  a Câmara  Municipal  - o principal  órgão  político-administrativo  do município-,  o Teatro 7 de Abril e se demarcou o terreno para a nova igreja matriz, que, contudo, nunca seria construída nesse local. As ruas de conexão entre o centro antigo e o novo centro foram as que mais se desenvolveram, entre elas as ruas das Flores, São Miguel, da Igreja e do Comércio, como se pode observar na planta da cidade de 1835.

Nesta planta estão delineados os seguintes equipamentos: a nova praça da Matriz e demais praças projetadas, o cemitério, o quartel, o presídio, o terreno destinado ao hospital e uma nova ponte que seria construída sobre o arroio Santa Bárbara. A planta indica também as ruas já ocupadas e aquelas que estavam apenas em projeto. Assinala, ademais, os pontos já edificados do núcleo urbano, o que, realizando uma comparação com a planta anterior, nos permite deduzir que a cidade consolidava seu cleo com maior densidade de construções entre as duas praças principais e se extendia com mais velocidade em direção ao sul, para as margens do São Gonçalo. Provavelmente, o plano de construção de um hospital (que foi inaugurado em 1857), a presença do cais e o projeto de construção do porto nesta área valorizavam-a e atraíram novos habitantes.

Nicolau  Dreys,  viajante  que esteve em Pelotas  em 1839,  considerou-a  como umcidade nova e populosa, além de “exemplo espantoso da rapidez que cresce a população” e “desenvolvimento da prosperidade no Novo Mundo”. Deixou, incluso, uma das mais significativas descrições da vida social da cidade neste período:

A cidade de Pelotas está levantadnum terreno alto que principia na margem esquerda do rio São Gonçalo, e se extende entre os rios Pelotas e Santa Bárbara; seu rápido adiantamento resulta de sua proximidade das charqueadas e, por conseguinte d concurs do charqueadores homen próspero e   que geralmente  adotam  posições  liberaissua vontadera, de fato, suficiente  para operar a transformação que se faz notar: eles quiseram que o lugar prosperasse e o  lugar  prosperou;  cada  um  deles  tem  ali  sua  casa  urbana;  quando  nos domingos ou dias santos, a população das charqueadas se junta na cidade para assistir o serviço divino e depois se dispersa em visitas recíprocas ou em busca dos tecidos que as lojas ostentam com igual asseio e abundância, é difícil fazer-se idéia do ambiente de vida e opulência que respira a cidade de Pelotas (Dreys1961:116)


Não obstante, também lançou sua mirada aos aspectos formais do centro urbano e de seu crescimento em direção às povoações periféricas:

As  ruas  principais  da  cidade  de  Pelotas  seguem  quase  todas  uma  dirãperpendicular  ao  rio  São  Goalo;  o  largas  direitas,  com  seus  corretos ladrilhos nas paredes das casas: vantagens que compartilha com todas as vilas recentes do Brasil (...) A cidade parece tender a aproximar-se do rio São Gonçalo e quando chegue a extender seu caes pela margem daquele rio majestoso, com o qual está em comunicação pelo porto onde fazem a descarga as embarcações que lhe o destinadas, e pelo Passo Rico ou Passo dos Negros, que se pode considerar como um surbio, a cidade de Pelotas, que já tomou acento entre as mais asseadamente edificadas do Brasil, pode ser contada como uma das mais importantes praças de comércio (Dreys, 1961:117)."

(páginas 04 a 07)


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...