domingo, 13 de setembro de 2015

As carretas de boi e a importância comercial de Pelotas no século XIX

Trecho extraído de: SOUZA, Bernardino José de. Ciclo dos carros de bois no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958.


 "Do Rio Grande do Sul, onde o carro tirado por bois se diz carreta, certo por influência platina, fale o Dr. SEVERINO DE SÁ BRITO em seu precioso volume Trabalhos e Costumes dos Gaúchos. O autor refere-se aos tempos logo após a guerra dos Farrapos (1835- 1845) e escreve: "O comércio do sul da Província dirigia-se para Pelotas que era o entreposto comercial dessa zona. Para lá seguiam carretas em grupos levando os produtos pastoris, couros, lãs, cabelo e voltavam repletas de mercadorias, com viagem redonda de três meses. Também havia um comércio regular para Montevidéu." Historiando a campanha, acrescenta o Dr. SÁ BRITO: "As famílias daquele tempo viajavam em carretilhas de bois, que representavam um pequeno aposento fechado com porta atrás e janelas laterais." Recordando a invasão paraguaia de 1865 nos rumos de São Borja, Itaqui e Uruguaiana, diz o mesmo escritor que, ainda bem na meninice, apreciou o que se passou na estância de seu pai — preparativos de uma retirada com a família em direção ao litoral, para o que se apresentaram na frente da casa os veículos da época — "carretas, carretas, carretilhas, carroças e ao lado a enorme canoa com outras duas menores". (p. 122)


"Por seu turno, F. CONTREIRAS RODRIGUES, escritor e poeta gaúcho, em carta de 17 de agosto de 1943, depois de informar que o uso do jugo domina a região fronteira do sul e sudoeste do estado do Rio Grande do Sul, abaixo de uma linha que, partindo de Pelotas, vai até Uruguaiana, passando por São Gabriel e Alegrete, escreveu: "Os carreteiros dizem que o jugo proporciona um tiro, isto é, a puxada, mais firme." E acrescenta: "o jugo é preso com guascas chatasde três a quatro centímetros de largura sobre o cogote dos bois e enroladas com quatro ou cinco voltas, abarcando o jugo nas duas extremidades e as guampas(chifres) do animal. Assim o animal fica com a cabeça imobilizada. Já vi um estancieiro censurar este sistema do ponto de vista sentimental, achando-o cruel, porque observou que os animais estão sempre rangendo os dentes, produto da dor que sentem. A este sistema de jungir se designa pelo nome de "puxar de cogote"; ao de jungir pela canga se denomina "puxar de encontro", deixando este a cabeça livre. Todavia este sistema há de pisar as tábuas das paletas do animal, determinando menor força na tração." (p. 303)

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