sábado, 25 de fevereiro de 2017

Clube Campestre de Pelotas


Vale destacar que o Clube Campestre de Pelotas se situa no município de Capão do Leão.

Trecho extraído de: SILVA, Neuza Regina Janke da. Entre os valores do patrão e da nação, como fica o operário? (Frigorífico Anglo em Pelotas: 1940-1970). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Instituto de Ciências Humanas, Curso de Pós-Graduação em História do Brasil, Porto Alegre, Dissertação, Agosto 1999, p. 94-101.

"Golf e festas: Clube Campestre - 1944

Ao se narrar a história do Frigorífico Anglo de Pelotas, é imprescindível citar-se o Clube Campestre. Poucos sabem que a história do Frigorífico e a do Clube 
Campestre estão intrinsecamente relacionadas, sendo que, para a fundação do Clube, foi decisiva a participação dos dirigentes do Anglo.

Para administrarem o Frigorífico, que pertencia ao grupo inglês dos irmãos Vestey, vieram residir, em Pelotas, famílias oriundas da Inglaterra e da Argentina e descendentes de ingleses estabelecidos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Além das famílias já constituídas que se mudaram para a cidade, vieram também homens solteiros, sendo que alguns deles, mais tarde, contraíram matrimônio com mulheres pelotenses, como foi o caso do Sr. Olmann, e do Sr. Cunningham. Os homens solteiros que vinham para Pelotas instalavam-se no Clube dos Solteiros:

No auge do Frigorífico Anglo, vinham da Inglaterra, para estagiar em Pelotas, muitos rapazes ingleses. O Anglo adquiriu a casa da família Echenique com o objetivo de transformá-la em um clube para festas e jogos e, também, hospedaria para abrigar os estagiários que ficavam breve período de tempo. (...) Com o enfraquecimento do Anglo, se tornou necessário vender o prédio, que foi adquirido pelo Sr. Mário Brum Braga, em 1973, e que recebeu o imóvel em condições quase que de abandono.

Com a chegada desses estrangeiros ingleses e de seus descendentes, Pelotas passou a figurar nos cenários nacional e internacional de esportes com o golf, desporto de origem inglesa, praticado por pessoas pertencentes às classes mais abastadas, provavelmente devido ao alto custo dos equipamentos requeridos. Por tudo isso, os dirigentes estrangeiros do Anglo, juntamente com um grupo seleto de pelotenses, passaram a investir na formação do Clube e na construção dos campos de golf.

A fundação do Clube Campestre, alavancada pelos dirigentes do Frigorífico, introduziu um novo tipo de status na cidade: o de ser sócio daquela instituição recreativa. Quando os habitantes locais mais abastados conseguiam, oficialmente, participar dos jogos de golf, eram considerados membros da elite pelotense. O ambiente proporcionou maiores possibilidades de relacionamento entre essas pessoas privilegiadas e os dirigentes estrangeiros, permitindo aos pelotenses, inclusive, ampliarem seus conhecimento em nível da própria língua, pois palavras inglesas como golf, ranking, scratch, entre outras, passaram a fazer parte também do cotidiano dos sócios brasileiros.

Em dezesseis de outubro de 1944, dez meses após a reinauguração do Frigorífico Anglo, realizou-se, na Associação Comercial de Pelotas, a primeira reunião de diretoria do novo clube da cidade, o Clube Campestre. Para efetuar o registro do Clube e responder, juridicamente pela entidade, foi nomeado o advogado Dr. Bruno de Mendonça e Lima, que também exercia funções semelhantes, no  Frigorífico Anglo, desde a década de 1920. Em 1945, a diretoria do Clube alugou, do Sr. Osny Ribas, um terreno, que se localizava no prolongamento do Bairro Fragata e, portanto, afastado do centro urbano de Pelotas.13 Mais tarde, esse terreno, bem como as benfeitorias nele existentes, foram comprados pelo Clube.

O fato de o terreno alugado localizar-se longe do perímetro urbano obrigou a diretoria do Clube a negociar com a Companhia Light & Power, fornecedora de energia elétrica, para que fossem instalados transformadores e linhas de energia até a sede. Na ata de nº 25, de seis de junho de 1945, consta o que ficou acertado com a Companhia Light:

O custo fornecido pela Light & Power para a corrente até o novo clube montou Cr$ 4.500,00. A Companhia sugeriu que metade fosse pago por eles e metade pelo Clube Campestre, em mensalidades de não menos de Cr$ 60,00. O Sr. Wright ficou autorizado a entrevistar a Light e arranjar os melhores termos possíveis.

O empenho do Clube Campestre junto à Companhia Light para que fosse expandida a rede de energia elétrica, possibilitou aos moradores próximos daquele local usufruírem da mesma, resultando em estender o fornecimento dessa energia, para uma área periférica da cidade. Não é do interesse deste trabalho ressaltar e valorizar o número de pessoas favorecidas pelo ampliamento desta rede. Entretanto, é importante dizer que, atualmente, o mesmo gerador que fornece luz ao clube, também beneficia com energia elétrica a alguns estabelecimentos comerciais que se localizam próximos ao mesmo.

Tão logo iniciou a sua organização, o Clube Campestre foi convidado, pela Companhia Swift, a participar de torneios de golf em Rio Grande, que ocorreram em abril, maio, julho e novembro de 1945. Vê-se que o Clube Campestre, através de seu carro-chefe, o golf, veio a contribuir para que se reforçassem laços sociais entre as cidades co-irmãs.

No dia 25 de junho de 1998, no jornal Diário Popular, foi publicada reportagem sobre o Clube Campestre, contendo o histórico dos principais títulos conquistados nos torneios de golf, estaduais, nacionais e internacionais. A referida reportagem apontou o que muitos pelotenses desconhecem ainda hoje: ... o Golf talvez seja o esporte que mais tem projetado Pelotas em nível nacional e internacional....

Analisando-se as atas de diretoria do Clube Campestre, foi verificada a presença de funcionários do Frigorífico Anglo, como sócios e integrantes da diretoria do Clube, conforme mostra o quadro a seguir:
Quadro 1: Relação de alguns dirigentes do Clube Campestre e seu registro como
funcionários do Frigorífico Anglo

Dirigentes do Clube Campestre Função desempenhada no Frigorífico Anglo
A. R. Muddell -----------------------------------------
O’Connor --------------------------------------------
Mr. Rothwell -------------------------------------------
Hudson -------------------------------------------
Palmer Os trabalhadores entrevistados referem-se a ele como
um ótimo gerente.
Gabriel Novaes Jr. Chefe do Departamento Pessoal do Anglo em 1956.
Ernest Cunningham Diretor-Geral do Anglo em São Paulo, ano 1943.
Cranfield Gerente do Frigorífico em 1946.
M. F. ByWaters -----------------------------------------
Anderson ------------------------------------------
Patrick Murray Chefe de Departamento Pessoal em 1943.

Fonte: Atas de Diretoria do Clube Campestre referentes aos anos de 1944,1945,1946,1947 e 1953, notas da imprensa local e entrevistas com ex-funcionários do Anglo.

Além dessas evidências, encontrou-se o registro da decisão da diretoria do clube de procurar os dirigentes do Anglo, e propor-lhes a compra de 120 a 150 ações do Campestre, ... a fim de auxiliar a imediata compra do imóvel que estamos ocupando. As ações deveriam ser, posteriormente, vendidas pelo Frigorífico aos seus funcionários, que se tornariam novos sócios acionistas do Clube. Nesse sentido, a diretoria do Clube enviou ofício ao Sr. E. Cunnigham, Diretor-Presidente da S. A. Anglo do Brasil, em São Paulo, oficializando a proposta de compra de ações. De acordo com a ata nº 88 de reunião da diretoria,16 o Sr. Cranfield, gerente do Frigorífico em Pelotas e jogador de golfe no Clube, informou, verbalmente, que fora aceita a proposta da compra das ações do Clube pelo Frigorífico. Como conseqüência, a ata nº 89, de 11 de março de 1947, registra o recebimento de um ofício da S. A. Frigorífico Anglo, informando a compra de 25 ações do Clube Campestre. A direção do Clube, então, decidiu convocar uma assembléia para a aprovação do acordo com aquela empresa, ... segundo o qual os seus funcionários até o número de 25 sem possuir ações, poderão gozar dos mesmos direitos e deveres dos sócios acionistas.

Não foi possível saber-se através da consulta às atas de reunião de diretoria do Clube, quantos funcionários do Frigorífico foram beneficiados por esse acordo. Entretanto, pôde se inferir que ele foi cumprido, tendo favorecido alguns empregados, a exemplo do que consta nas atas de oito de julho de 1947, a qual registra ter sido admitido um novo sócio, Sr. Joseph Smethurst, funcionário do Frigorífico Anglo, a quem será oficiado para se saber se ele desejaria possuir ações próprias ou utilizar as de propriedades da Companhia. Em primeiro de julho de 1953, os senhores Mozart Bianchi da Rocha, Arthur Kraft, Frederico Marco Segatto e Franco Percy Willierns Granthan também foram admitidos como novos sócios utilizando ações do Frigorífico Anglo.

Em junho de 1947, o Frigorífico Anglo promoveu um torneio de golf no Clube Campestre. Ainda em junho desse mesmo ano, o Frigorífico enviou dois pedreiros e um carpinteiro para reformarem as paredes do prédio ocupado pelo Clube, que apresentavam algumas fendas. Além da mão-de-obra, o Frigorífico forneceu ainda o material necessário para as reformas. As evidências (data de fundação do Clube, nomes idênticos de dirigentes do Clube e de funcionários do Frigorífico, compra de ações, torneios e benefícios do Frigorífico para o Clube) encontradas na história da fundação do Campestre fazem com que se evidencie a estreita ligação que ocorreu entre o Frigorífico Anglo e o Clube.

O Sr. Olivem Cunnigham, em entrevista, afirmou que o Clube Campestre foi fundado pelos dirigentes do Anglo com o apoio dos proprietários ingleses da empresa, porque essa era uma maneira de oferecerem lazer aos seus operários graduados e, assim, mantê-los satisfeitos no local em que se encontravam, afastados de seus países de origem. O Sr. Cunnigham ressaltou que essa era uma prática de todas as companhias estrangeiras instaladas fora de seus países. Perguntado sobre como era o relacionamento dos dirigentes ingleses com a cidade de Pelotas, ele respondeu da seguinte maneira:

Não sei o que você está procurando de relação com a cidade. Mas como, normalmente, a Diretoria era estrangeira, eles tinham a ver com a cidade. Isto aqui não (Referência ao Clube Campestre). Isto aqui parece que eles foram instrumentais em fundar. Uma das poucas coisas que realmente decidiram fazer... Mas isto também era tradicional naquela época. Em todos os grandes frigoríficos que viviam nos estrangeiros. Ter lazer para estes estrangeiros, senão não mantinham eles nesses países. Uma maneira de manter estes estrangeiros aqui. Porque era o que eles tinham lá no país deles. Estas coisas... A Armour tinha nas instalações deles mesmos... A Swift tinha... Todos eles tinham clube de golf.

A exemplo do ocorreu em Pelotas, em Barretos, São Paulo, em 1937, foi fundado, o clube de golf da Companhia, com o nome de Anglo Golf Clube, sendo que o campo onde está localizado pertence ao Frigorífico Anglo."






segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Histórias Curiosas LI

Conta-nos um colaborador do blog, oriundo do Cerro da Buena, Morro Redondo, curioso acontecimento numa eleição ainda na época do Regime Militar.

Existia um grande armazém na Capela da Buena que era local de votação das comunidades rurais em volta. Muitos eleitores dos mais diversos confins iam em época de eleição votar ali. As cédulas eleitorais permitiam escrever o nome do candidato escolhido ou o respectivo número. 

Como vários eleitores chegavam sem se quer saber direito em quem votar, normalmente um panfleto ou uma boca-de-urna bem feita na hora, convencia o menos informado. Assim ocorreu, como era de costume. Só que o resultado posterior da seção surpreendeu a todos. Na apuração, o candidato mais votado foi um candidato que sequer estava inscrito, seja na lista do MDB ou na lista da ARENA. Um tal de Tomé Sadol.

Intrigados, semanas depois, vários moradores do local entenderam o curioso resultado do pleito. Na parede do armazém, entre outros cartazes publicitários, se destacava um em cor avermelhada com os seguintes dizeres: "A melhor escolha. Tome Sadol".

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Histórias Curiosas L


João de Deus Nunes (1909-1973), também conhecido como Queca Nunes, foi um dos mais marcantes políticos da cidade de Canguçu, tendo sido prefeito por duas vezes daquele município. Conta-se a seu respeito, sua habilidade oratória, seu carisma e também algumas gafes que passaram ao folclore político da região. 

Um colaborador nosso, residente atualmente no bairro Saint-Hilaire, em Pelotas, mas filho da "Princesa dos Tapes", nos informa de alguns "quadrinhos" que presenciou quando jovem naquele município, enquanto Queca Nunes foi prefeito. 

1 - Nos discursos, ao se referir à Lei da Gravidade, o ex-prefeito sempre se esquecia e emendava o estranhíssimo "Lei da Gravidez". Uma das leis, inclusive, que o próprio Nunes quis revogar.

2 - Diante de um escândalo de desvio do leite na prefeitura de Canguçu, leite esse que deveria ser distribuído às famílias carentes, mas era surrupiado por alguns "amigos do alheio", o ex-prefeito teria pedido à equipe técnica da prefeitura que elaborasse um projeto do "leite encanado". Dessa forma, se impediria o desvio no processo de distribuição e o leite chegaria prontinho na casa de quem precisasse!

3 - Em 1966, um evento ímpar agitou a região, que se deu em função de um eclipse solar no hemisfério sul, o qual foi perfeitamente observável no sul do Brasil. Em razão do acontecimento astronômico, a cidade de Rio Grande recebeu uma grande comitiva de cientistas norte-americanos da NASA, que instalaram toda uma sorte de parafernálias no local para a observação do fenômeno e o lançamento de dois foguetes de pesquisa para coleta de dados mais precisos. De várias cidades da zona sul do estado do Rio Grande do Sul, saíram excursões e delegações oficiais de algumas prefeituras para se fazerem presentes no evento, pois também estavam altas autoridades das Forças Armadas. Isto é, não deixava igualmente de ser um evento político. Foi, então, que o prefeito João de Deus Nunes, querendo ao máximo estar presente no evento e representar o seu município, usando o fato de ser um dos próceres da ARENA na região telefona diretamente para um general do III Exército em Porto Alegre e propõe o impensável: se não havia como adiar o eclipse em alguns dias!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Histórias Curiosas XLIX

Havia no Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas, anos atrás, um professor do curso de Filosofia, notável por sua inteligência e conhecimento, mas igualmente célebre pelo seu jeito peculiar e pelo modo como dava aula. Muitas histórias cômicas são contadas a seu respeito, algumas explorando sobretudo o nível de abstração que suas aulas possuíam, aulas estas capazes de embaralhar o entendimento de qualquer desavisado que não soubesse do jeito excêntrico do dito professor.

Uma história contada a seu respeito, se destaca pelo aspecto inusitado com que ocorreu. Era um dia de semana normal de aulas no ICH e os alunos do quinto semestre de Filosofia chegaram para uma "maratoninha" de quatro aulas com o citado professor. Alguns, ao chegarem no Departamento de Filosofia por volta das 18h30, são logo surpreendidos com a notícia que a mãe do referido professor (vamos chamá-lo de Zezinho) havia falecido no dia anterior e o enterro tinha acontecido pela manhã. Evidentemente, mais do que natural, os alunos se entreolharam e concluíram que não haveria aula aquela noite.

Para surpresa de todos, alunos e colegas professores do professor Zezinho, deveria ser 18h50, o professor Zezinho adentra o corredor principal do ICH com a sua tradicional pasta preta carregada por uma das mãos. Diante das faces admiradas de alunos e outras pessoas, o professor Zezinho explica de modo muito natural:

- É, minha mãe morreu ontem e foi enterrada hoje. Mas eu estava sem nada para fazer em casa, por isso resolvi vir dar aula.

Os alunos não argumentam coisa alguma, pelo absoluto ineditismo da situação. Entram todos para a sala de aula e o tempo transcorre. Num dado momento, enquanto o professor Zezinho segue com suas abstrações e elucubrações, a porta da sala que estava aberta é batida violentamente por uma lufada de vento que entra pelo corredor. Sem pestanejar, o professor Zezinho calmamente interrompe a explicação, olha para a porta e solta:

- Mãe, deixa eu dar aula!

O espanto com a resposta somou-se em seguida a uma tentativa de conter o riso que causava até dor. 
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