quinta-feira, 21 de abril de 2016

Horas Vagas - Relato de um Excursionista ao Capão do Leão em 1918


Trecho extraído de: A ALVORADA, 27 de Janeiro de 1918, p. 1-2

“HORAS VAGAS

No Capão do Leão.

A manhã surgiu borrascosa, não obstante estarmos em pleno verão, a risonha estação apetecível para os passeios campestres.
O céu conservava se escuro, e a atmosfera pesada.
Para muitos, que projectaram de véspera excursionarem para diversos pontos dos districtos próximos, lá nesses lugarejos onde se ouve o canto alegre da passarada disposta, e se assiste as scenas dos nosso gaúchos não havia esperança de outro dia, em que se visse Phebo iluminando a terra com seus raios cor d’oiro e o azul diáfano do céu...
Mas, como a Natureza, acompanha hoje a corrupção humana, lá pelas nove horas, quase exgottado o tempo para se tomar passagem nos comboios da estrada de ferro, foi cessando o chuvisco, e, com satisfacção de todos surgindo um dia esplendido, convidativo, para esses recreios.
Havia projectado desde há muitos dias, ir ao prospero lugar denominado – Capão do Leão – a passeio, respirar um ar puro e saudável, em baixo das laranjeiras, admirando as folhagens verdejantes das ameixeiras e dos pessegueiros.
A fraca chuva, de domingo pela manhã, me desanimava, mas, mesmo assim me dirigi á estação da Estrada de Ferro, a esperar o comboio que vinha do Rio Grande, o que não demorou muito.
Ao segundo silvo da machina, uma enorme onda de excursionistas procurava tomar lugar, havendo confusão entre pessoas de família que ficavam distanciadas umas das outras.
Poucos minutos de espera, e o comboio punha-se em movimento em direção ao Capão do Leão, por onde passaria rumo a Bagé, deixando nas estações intermediarias os viajantes.
As dez e pouco chegávamos ao ponto desejado.
Um movimento era extraordinário. Muitas famílias aguardavam a sua chegada, com a qual veriam surgir pessoas de amizade que iriam passar o dia naquele pitoresco local, talvez um dos mais belos retiros existentes.
Desci. Julgava não encontrar conhecido algum para, melhormente gozar aquellas horas que ali passaria.
Mas, com alegria, vi junto a mim, o caro amigo Paulino Cácêres, que após o abraço cordeal, me conduziu até sua habitação, para o necessário descanço, apezar da viagem ser curta.
Lá deitado ainda, encontrei o Rozenthal, cançado de um baileco que fora na véspera.
Após uma rápida palestra, fui convidado pelo Paulino para fazer uma visita ás pedreiras, o que aceitei, o mesmo acontecendo com o meu amigo e companheiro de excursão Innocencio Victoria.
Nos dirigimos ás pedreiras, admirando aquellas belezas naturaes, enormes pedras, verdadeiras muralhas cobertas de verdes!
A curiosidade nos levou até á usina da Companhia Franceza, que fica quase uma légua distante da estação ferro-viaria, tendo também visitado o 5º. posto policial ali instalado e tendo como commissario o sr. Felippe Abarahy, com o qual tivemos rápida palestra bem como o sr. ajudante Osorio, tendo após nos dirigido ao ponto da partida.
Eram doze horas. O amigo Paulino, se alvorou a mestre Cuca, auxiliado por mim, e, em breve espaço de tempo, estávamos com a bóia prompta.
Depois da refeição, e de conversarmos sobre vários assumptos, inclusive o do baile anterior, ali effectuado, me dirigi eu e o Victoria á residência do humanitário medico dr. Silveira, que nos recebeu com a alegria habitual, e riso nos lábios.
Após alguns minutos de palestra com esse digno facultativo que é ali geralmente querido, pelos seus dotes de coração sempre á pratica do bem, fomos convidados para ver a linda criação de finas galinhas que possue em sua pitoresca vivenda.
Tem umas duzentas aves, todas de diversas raças o que constitue uma beleza.
Depois dessa visita á residência do dr. Silveira, nos dirigimos á choupana dos amigos Paulino e Rozenthal.
Quando nos entretinhamos em alegre palestra, ouviu-se ao longe o silvo da locomotiva que nos devia conduzir a Pelotas.
Não tardou, e ella surgiu parando na estação que achava-se repleta de excursionistas.
Depois do tempo necessário para o embarque dos passageiros, a machina dava o respectivo signal de partida.
Ao segundo apito, despedia me dos amigos Paulino e Rozenthal, trazendo gratas recordações daquela tarde linda que passei no Capão do Leão, o mais bello lugar para excursão nestes dias calorosos, devido ao grande numero de bem cuidadas chácaras com enorme quantidade de arvores fructiferas, onde, debaixo gozava-se a fresca brisa perfumada e o canto do jurity...
20 – 1 – 1918

Zé da Varzea.

The Blackcine - Mostra de Cinema Negro


Liederabend - festival de música folclórica

  • Próxima semana
  • Auditório 2 do Centro de Artes UFPel - Rua Alvaro Chaves, 65
    Recital com obras camerísticas de Antonín Dvořák para canto e piano, realizado pelos acadêmicos de Bacharelado em Música da Universidade Federal de Pelotas, Fernanda Miki (soprano) e Patrick Menuzzi (piano). 

    Data: 26 de abril de 2016
    Horário: 19 horas
    Local: Auditório 2 do Centro de Artes da UFPel (Rua Álvaro Chaves, 65) 
    ENTRADA GRATUITA

    O título ‘Liederabend’ nos remete aos anos 1800, quando musicistas e amantes da música se reuniam em suas casas enquanto um, ou mais, cantores interpretavam as canções de câmara dos compositores da época. No ambiente da música erudita, estas canções são chamadas de ‘Art Songs’ ou ‘Lieder’.

    Esta será a segunda apresentação do projeto, que teve estreia em outubro de 2015 com obras de J. Brahms e A. Dvořák.


    PROGRAMA:

    Op. 73 - V Národním Tónu (1886)
    Enquanto os tchecos lutavam pela emancipação nacional, Dvorak entre outros compositores se voltaram para o folclore de sua terra natal. Para ele, nascido em ambiente rural, a música folclórica era natural, espontânea, o levando a expôr em muitas obras o seu nacionalismo. Este ciclo, composto durante seus últimos anos antes de partir para a América, é baseado em temas do folclore Eslovaco (canções 1, 2 e 4) e Tcheco (canção 3), a partir de canções populares.

    1. Dobrú noc, má mila
    2. Žalo dievča, žalo trávu
    3. Ach, není, není tu, co by mě těšilo
    4. Ej, mám já koňa faku


    Op. 55 - Cigánské Melodie (1880)
    Escritas para voz e piano em 1880 com letra de Adolf Heyduk, baseadas em poemas folclóricos tchecos, estas canções expressam a liberdade e as emoções da vida cigana, aproveitando-se de algumas influências rítmicas da música cigana da Boêmia. O ciclo de canções foi dedicado ao amigo e admirador de Dvořák, o cantor de câmara vienense Gustav Walter, que as estreou em 1881 em Viena.

    1. Má píseň zas mi láskou zní
    2. Aj! Kterak trojhranec můj přerozkošně zvoní
    3. A les je tichý kolem kol
    4. Když mne stará matka zpívat, zpívat učívala
    5. Struna naladěna, hochu, toč se v kole
    6. Široké rukávy a široké gatě
    7. Dejte klec jestřábu ze zlata ryzého


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