domingo, 2 de maio de 2010

Torno francês marca "Denis Poulot" de 1910

Existente no Galpão dos Trens da SUPRG - Cerro do Estado/Capão do Leão

Formação Étnica do Município de Capão do Leão


                Existem várias origens étnicas em nosso município que, em função de sua localização e de sua história, foi um espaço de muitas migrações ao longo do tempo. Enquanto outros municípios de nosso estado surgiram em torno de antigas colônias européias, o Capão do Leão recebeu gente dos mais diferentes tipos e lugares, em diferentes momentos de sua história. Procuramos listar os mais importantes:
                Indígenas: havia em nosso território, antes da colonização portuguesa, índios minuanos e tapes. Há alguns sítios arqueológicos no município que comprovam a sua presença. Os primeiros viviam às margens do São Gonçalo, nas planícies do Pavão. Já os tapes espalhavam-se pelo restante do município. O Arroio Itaita recebeu o seu nome de uma palavra tape que significa “muitas pedras”.
                Portugueses: no século XVIII, quando as primeiras sesmarias surgiram em nossa região, boa parte dos primeiros donos era portuguesa de origem, bem como seus agregados. Vinham dos arquipélagos de Açores e Madeira no Oceano Atlântico, e das regiões do norte de Portugal, como Minho e Trás-os-Montes. Outra parte já vivia na América do Sul e era originária da Colônia do Sacramento, na foz do Rio da Prata. A família do Padre Doutor, por exemplo, era sacramentina.
                Brasileiros de outras regiões: na época das sesmarias, também vieram brasileiros de outras partes do território colonial para a região, sobretudo do Nordeste, de São Paulo e da Vila de Laguna, em Santa Catarina.
                Africanos: segundo historiadores, os negros africanos que vieram escravizados para trabalharem nas charqueadas pelotenses eram provenientes do sul daquele continente, de regiões como Cabinda, Angola e Moçambique. No início do século XX, os afro-descendentes no Capão do Leão tinham presença destacada nas atividades da Pedreira e da fruticultura. Chegaram a formar um clube próprio: a S.C.B. José do Patrocínio.
                Uruguaios: depois dos portugueses, uma das etnias mais marcantes em nosso município, bem como em quase toda a metade sul de nosso estado. Provavelmente, uma parcela considerável de nossa população tem ligação com a república vizinha. Já em 1848, é citada uma migração uruguaia para nossa região. Assim como em épocas posteriores. Um fator que explica esta migração, que sempre foi espontânea e contínua até a 1ª. metade do século XX, é a importância econômica de Pelotas e região por causa de suas charqueadas – que sempre foram um atrativo para quem queria trabalho.
                Espanhóis: foram numerosos na época da Companhia Francesa na Pedreira. Muitas famílias permaneceram e seus descendentes ainda hoje habitam Capão do Leão.
                Franceses: embora o Capão do Leão possua uma identificação com este povo por causa da Companhia Francesa, havia muitos franceses no início do século XX que eram provenientes da Colônia Santo Antônio, em Pelotas e, também, frutos da migração espontânea.
                Italianos: havia uma grande quantidade de italianos na Vila do Capão do Leão e arredores no início do século XX. Muitos moravam aqui simplesmente e eram profissionais liberais em Pelotas. Outros desenvolveram vários empreendimentos na vila, se ocupando com a exploração de pedreiras, a fruticultura e comércio. Havia igualmente italianos provenientes das colônias pelotenses.
                Alemães: sejam os de origem ou os descendentes, espalharam-se por todo o Capão do Leão, ocupando-se principalmente na agricultura. Constituem uma presença marcante em nosso município, evidenciada pela presença da Igreja Luterana. Existem muitos descendentes de alemães pomeranos, igualmente.
                Irlandeses: a única colônia oficialmente constituída no Capão do Leão foi a Colônia D. Pedro II (1851) que recebera 300 colonos irlandeses. Também foi a única colônia irlandesa do estado. Não deu certo por problemas financeiros. Algumas famílias, todavia, permaneceram: Brião, Carpter, Staford, Sinott, Ennis, etc.
                Outras etnias: na época das companhias estrangeiras no Cerro do Estado, havia gente das mais diversas procedências. Até um grande número de famílias gregas foi achado. No tempo das charqueadas, muitos bascos vieram trabalhar como tropeiros ou nas estâncias. Provenientes das colônias pelotenses, também se acham descendentes de austríacos, poloneses e japoneses.

A Zona Rural de Capão do Leão


Os três distritos (Pavão, Passo das Pedras e Hidráulica) que compõem a zona rural de Capão do Leão são muito antigos e remontam à época das sesmarias e das tropeadas. Aliás, a área do município sempre se caracterizou por uma destacada atividade agropecuária, desde os seus primórdios.
                Boquête: trata-se de um corredor próximo à Capela da Buena. O nome advém de uma passagem estreita entre dois morros. O “Boquête” ou “Capão do Boquête” já aparece listado em 1785.
                Canto Grande: a localidade já aparece descrita em 1830. O nome evidencia a característica geográfica: um “canto de terras” entre os arroios Palma e Itaita. Atualmente, apresenta economia baseada na pecuária leiteira, avicultura, soja, milho e arroz.
Cerro das Almas: existem várias teorias para explicar o nome do morro que dá nome ao local. Argumenta-se que ali eram mortos escravos negros no século XIX. Outra explicação sustenta que ali houve uma batalha com grande número de mortos, na época farroupilha. Inclusive já se teria achado uma espada na encosta do morro. Há relatos também que dão conta de um ataque a fugitivos na Revolução Federalista de 1893 ou na Revolução de 1923. Diferente versão informa a respeito de um cemitério indígena no cerro. Misturam-se aí lendas e histórias de ouro enterrado e grutas mal-assombradas. O fato é que o Cerro (ou Morro) das Almas aparece descrito e identificado no final do século XVIII, com clareza. Um obscuro historiador pelotense escreveu que o Cerro das Almas teria recebido este nome em função de ali ter ocorrido um massacre de fugitivos portugueses, quando da invasão de Rio Grande pelos espanhóis (1763). Uma patrulha castelhana os teria perseguido desde o litoral, entrando “sertão adentro” e os encontrando no morro, onde ocorreu a tragédia. É a localidade rural mais próxima da zona urbana e, atualmente, apresenta uma economia sustentada pela pecuária de leite e plantações de milho, além de outras pequenas culturas.
Coxilha Florida: uma das explicações que pode sustentar a existência de localidades como Coxilha Florida, Canto Grande, Boquête e Passo da Eira é que todas surgiram em função de antigas rotas de tropeiros. Só que, comumente, aplica-se a idéia de que todas as tropas de gado que passavam em nosso atual território direcionavam-se à Pelotas. É importante considerar, contudo, que algumas estâncias do Pavão também foram charqueadas, além de terem sido redutos de gado para engorda. Por isso, havia rotas que levavam o gado proveniente do norte ou do oeste para estas estâncias. Se observarmos, as localidades citadas perfazem um conjunto de pequenas vias conducentes ao Passo das Pedras e, deste, ao Pavão. A Coxilha Florida é uma área na qual carecem maiores informações históricas.
                Figueirinhas: está situada no distrito da Hidráulica. O nome provém de um agrupamento de figueiras existentes no local que, segundo dizem, eram ponto de parada para tropeiros. Na década de 1940, a Igreja Católica comprou uma propriedade no local para utilizá-la como chácara do seminário diocesano. É localidade pequena, com economia baseada no minifúndio.
                Hidráulica: o distrito recebe este nome em razão de, em 1873, ter sido ali construída a “Companhia Hydraulica Pelotense”, que capta água do Arroio Moreira para abastecimento da cidade vizinha. Zona limítrofe aos municípios de Morro Redondo e Pelotas, concentra o maior número de médias e pequenas propriedades do Capão do Leão, muitas voltadas à fruticultura e a produção de hortaliças. A Estrada da Hidráulica originou-se de um antigo caminho de tropeiros que se estabeleceu na região por volta da década de 1870.
Passo das Pedras: área do município de inquestionável valor histórico, com diferentes localidades e grandes extensões de terra. O Passo das Pedras já era conhecido antes do Tratado de Santo Ildefonso (1777), por isso é provável que desde aquela época ali passassem tropas de gado rumo à Pelotas. Cartas da época farroupilha dão conta do transporte de couros bovinos e apontam o lugar como paragem de tropeiros. Inúmeras vendas e repartições retalharam a área no decorrer das décadas, que inicialmente pertencia em quase sua totalidade à Família Barboza de Menezes. No final do século XIX, foi erguida uma estação ferroviária no local e ocorrera a visita da Princesa Isabel e do Conde D’Eu. Também desta época, acusa-se a existência do Sanatório Passo das Pedras, de propriedade de Antônio Ribeiro Tacques. Espécie de hospedaria de perfil campestre, procurada por pessoas que precisavam tratar problemas respiratórios, possuindo benfeitorias diversas, pomares e passeio eqüestre. Na década de 1920, o político Assis Brasil veio a possuir estância no local. Atualmente, apresenta produção agropecuária diversa, com ênfase à criação de bovinos, equinos e ovinos.
Passo do Descanso: localizado entre o Passo das Pedras e o Cerro das Almas, o nome parece ter origem na antiga Estância do Descanso, ainda hoje existente. Tal propriedade teria servido de abrigo para tropas farroupilhas na época da revolução, bem como ponto de parada de tropeiros, daí o nome “Descanso” (isto é, das tropas). Alguns estudos de pesquisadores independentes têm apontado o local com grande valor arqueológico, possuindo este antigas trilhas de mato, currais centenários e restos de aldeamentos indígenas. Nesta região também, comenta-se a respeito de uma pedra com inscrições, até hoje não encontrada, mas que remontaria à época dos jesuítas (sic). Foram encontrados registros da localidade nos anos de 1851 e 1877.
Passo do Ricardo: localizado junto ao Rio Piratini, adjacente ao Pavão, seu nome provém de um antigo tropeiro que teria estabelecido ali rancho de moradia na época das sesmarias. Foi passagem de tropas de gado durante o período das charqueadas. Em meados do século XIX, cita-se “a antiga estrada do Capão do Leão que vai pelo Passo do Ricardo”. Atualmente, existem algumas pequenas propriedades na área, direcionadas à pecuária leiteira e ao cultivo da melancia.
Pavão: remonta à antiga sesmaria do Pavão, que era imensa e ocupava mais da metade da área do atual município. O nome já aparece em mapas espanhóis antigos com a denominação “Serranías Del Pabón”, em meados do século XVIII. O termo “pavão” designa um tipo de ave encontrada nos banhados típicos daquela região que, obviamente, não é o pavão europeu verdadeiro. A área foi sede de charqueada importante no século XIX, bem como de grandes rebanhos de gado bovino, eqüino e muar. Há fazendas históricas e centenárias no distrito, que merecem um estudo particular cada. Em especial, a Fazenda da Gruta, da Sra. Antonia Berchon Sampaio – que, entre outros fatos importantes, serviu como locação às cenas do filme “Negrinho do Pastoreio”, de 1973. Atualmente, além das pecuárias de leite e corte, o Pavão apresenta as culturas de arroz e soja com destaque.

A Origem das Novas Zonas Urbanas de Capão do Leão


Campus da UFPel/Embrapa: área federal com certa “personalidade” própria no município. Sua origem remonta a uma repartição ocorrida na área original da Fazenda da Palma, por volta da década de 1920 e que foi encampada pela Prefeitura de Pelotas. Em 1941, a área passou a administração federal e em 1944, foi criado o Instituto Agronômico do Sul, que décadas mais tarde seria transformado em unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Com a criação da UFPel em 1969 e a conversão do local em campus universitário, a área cresceu em número de prédios e benfeitorias. Havia a “Vila da Embrapa” numa área contígua ao campus.
Jardim América: a antiga zona da Várzea do Fragata, já era habitada desde o início do século XX. No início da década de 1950, o Comendador Henrique Loréa, através da Companhia e Construtora América, loteou a área com o intuito de criar um bairro popular com áreas verdes e de lazer: surgiu um conjunto urbano de 94 ruas, 134 quadras e 4.000 lotes. Cada lote, por seu turno, media aproximadamente 360 m2. O povoamento da área foi muito lento nos seus primeiros quinze anos, tomando verdadeiro impulso na década de 1970, com as obras da construção da Estrada Pelotas-Jaguarão e a instalação de frigoríficos nos arredores. Com a emancipação em 1982, o bairro vai começar a receber melhorias de infra-estrutura (água, luz, saneamento, transporte, polícia), o que vai resultar em um acréscimo populacional ainda maior. É o principal bairro do município, com cerca de quinze mil habitantes.
                Loteamento Armindo Wickboldt: surgiu em 1984, às margens da Avenida Eliseu Maciel, tal como o Sítio São Marcos. Possuía interesse inicial semelhante a este.
                Loteamento Campestre: de iniciativa do Sr. Oriente Brasil Caldeira, situado atrás do Clube Campestre, junto à linha férrea. Data de 1987.
                Loteamento Olaria: surgira em 1992 num terreno próximo a rótula em que se encontram as avenidas Três de Maio e Eliseu Maciel, sendo planejado pela Empresa de Engenharia Zambrano.  O nome deriva de uma primitiva olaria de tijolos que ali existiu. Foi regularizado em 1995.
Loteamento Oriente Brasil Caldeira: trata-se do conjunto urbano formado pelas ruas Alberto Demari, São Lourenço do Sul e Joaquim Maciel, que liga o bairro Jardim América à Avenida Eliseu Maciel. Data de 1985.
Loteamento Zona Sul: surgiu por iniciativa do Sr. Oriente Brasil Caldeira, em 1977. Nesta época, houve a instalação do 1º. Etapa do loteamento – situado entre a Avenida Três de Maio e a BR-116. Em 1980, seguiu-se a 2ª. parte do loteamento – na outra banda da BR-116. Entre 1983 e 1989, a área da 1ª. etapa do loteamento foi quase que em sua totalidade ocupada. Já a área da 2ª. etapa por ser maior, foi sendo povoada gradativamente, com grande impulso na década de 1990, embora ainda existam lotes vazios. Foi resultado do natural crescimento do bairro Jardim América. Seu nome é uma homenagem a origem dos migrantes que povoaram aquela região.
Parque da Hidráulica: conhecido como “Vila do Toco”, em razão da antiga casa comercial que ali existiu durante vários anos. É a via de acesso entre a BR-293 e a Estrada da Hidráulica. O loteamento foi oficialmente regularizado em 1987. Teve um crescimento extraordinário nos últimos dez anos.
                Parque Fragata: a área interior da zona surgiu em 1987, mas já havia casas à margem da BR-392. É uma das zonas de maior crescimento populacional do município. O nome advém da antiga denominação da região entre os arroios Fragata e São Tomé: “Várzea do Fragata”. Era área de criação de gado.
Sítio São Marcos: área surgida em 1982. Foi loteada a antiga propriedade rural que recebia este nome. Se destinava a pessoas que trabalhavam na UFPel, embora fosse empreendimento particular.
Vila Alaíde: é da mesma época da Vila Maria. Está situada entre o Cerro das Almas e o Cerro do Estado. Tal como acontece com outras áreas novas, apresenta crescimento rápido nos últimos anos.
Vila Cazaubon: loteamento que surgiu da antiga área da chácara do Sr. João Alfredo Cazaubon, por volta da década de 1970. João Alfredo Cazaubon era funcionário do DEPRC, responsável pela linha férrea.
Vila Gabriela Gastal: três locais eram referência na área que surgiu às margens da BR-392: a cancha de carreiras do Sr. Pedro Gardey, o matadouro do Sr. Clodomiro Quadros e a casa de comércio do Sr. Pedro Behocaray. Todos muito antigos e anteriores ao loteamento que deu origem aquela zona, que pertencia a Sra. Gabriela Gastal. A partir de 1981, iniciou-se a ocupação da área de fato. Gradual nos primeiros anos, a zona recebeu melhorias e acréscimo populacional a partir da década de 1990, tal como aconteceu em outras zonas do município.
                Vila Maria: situada nos “fundos” da Vila Cazaubon, constitui-se de terrenos cedidos pela Prefeitura Municipal a partir do final da década de 1990, com o intuito de habitação popular.
Vila Municipal: com terrenos sendo vendidos a partir de 1983, o loteamento foi regularizado pela Prefeitura Municipal em 1986. Tomou rápido crescimento devido à proximidade com áreas já urbanizadas.
Vila Nova: no ano de 1991, foram entregues 35 chalés de madeira construídos pela Firma Madeireira Santo Antônio, de Viamão, numa área do bairro Jardim América até então paradoxalmente despovoada. Com coordenação do governo municipal e financiamento da Cohab e da Caixa Econômica Federal, o objetivo era atender uma demanda antiga que consistia na alocação da população mais pobre em moradias mais dignas e decentes.
                Vila Real: loteamento que surgiu da antiga área da chácara do Sr. Francisco Tomé Real, por volta da década de 1960. O filho de Francisco, Vicente Real, foi prestimoso médico homeopata da Vila de Capão do Leão, além de ter sido vereador em Pelotas. Morava na sede da antiga chácara.

Galpões da Usina Elétrica da Pedreira do Cerro do Estado em 1954

Fonte: Biblioteca da SUPRG - Rio Grande
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