quinta-feira, 28 de julho de 2016

Histórias Curiosas XXII

Campanha eleitoral acontecendo em Pelotas na década de 70 e era consenso que a extinta ARENA elegia muitos vereadores a cada pleito graças à zona rural. Lógico, naquela época, Capão do Leão, Morro Redondo, Turuçu e Arroio do Padre compunham a zona rural de Pelotas, nenhum havia ainda se emancipado. Apesar do Capão do Leão ser mais emedebista devido à atuação do vereador Elberto Madruga, os arenistas conseguiam arraigar uns bons votos por aqui e também nos arredores.
            Foi então que o comitê da ARENA pelotense organizou uma série de atividades num domingo para promover seus candidatos, com almoço, panfletagem e toda a sorte de propaganda que hoje seria seguramente proibida. O roteiro escolhido iniciava no Passo do Salso, passava pela Vila Nossa Senhora de Lourdes, com carreata no Jardim América e almoço na Vila do Capão do Leão no antigo Salão do Manoel Selmo. À tarde, passariam pelo Cerro das Almas, Passo das Pedras, Corticeira e terminariam na Capela da Buena, onde seria feito um pequeno comício improvisado. Na Capela da Buena, ainda haveria concentração de pessoas de outros locais de Morro Redondo, pois alguns cabos eleitorais já teriam de antemão providenciado o transporte de muitos eleitores até o local.
            O tal domingo aconteceu com muito entusiasmo dos arenistas, distribuição de brindes e discursos animados. Só que na conclusão da caravana, havia um pequeno problema: a presença de um vereador da ARENA candidato à reeleição que era mal visto pelos moradores da Capela da Buena. Pouco tempo antes, o dito vereador teria dado uma entrevista à Rádio Tupancy em que se discutia problemas relacionados a zona rural pelotense e se referira à Capela da Buena como “Capela dos Ladrões”. Para piorar, um antigo cronista do Diário Popular de Pelotas estampou a gafe no jornal e a notícia ganhou repercussão, chegando obviamente aos ouvidos dos moradores da localidade.
            O que pouca gente sabe, é que a Capela da Buena teve durante muitos anos a alcunha pejorativa de “Capela dos Ladrões” devido ao abigeato que ali foi infelizmente muito comum no passado. Todavia, como diz o ditado popular “quem conta um conto, aumenta um ponto”, a fama cresceu injustamente, pois passou a se dizer que na “capela só tinha ladrão!”. O que era uma provocação cômica seguramente, mas que tinha um caráter ofensivo aos próprios moradores. Tal qual dizer que “Pelotas é a terra dos homossexuais masculinos”.
            Como não havia o que ser feito, já que o dito vereador estivera presente durante todo o domingo nas atividades do partido, o comício na Capela da Buena iniciou sob um clima de certa tensão. Fala um candidato, fala outro candidato, e chega a vez do visado candidato que tinha falado mal da Capela:
            - Meus amigos da Capela da Buena, os senhores e as senhoras sabem das mudanças que Pelotas está tendo nos últimos anos, das obras que nosso digníssimo prefeito Ari[1] tem tocado em toda a cidade e também na zona rural, dos poços artesianos que foram abertos, do programa de seguro contra o granizo... Não podemos parar... O governador Guazelli[2] tem tido um cuidado especial com nossa região, no incentivo à produção das fábricas de conservas, de nossa pecuária... É preciso eleger uma câmara municipal forte para ajudar nosso prefeito...
            Neste momento, um destemido eleitor exclama do meio do povo, inconformado com as bravatas do candidato:
            - Tu queres o quê, sem-vergonha, fdp?! Vais dizer que irás trabalhar pela Capela? Tu mesmo disseste que aqui na Capela só tem ladrão! Vais trabalhar pelos ladrões?
            O candidato sem perder o rebolado segue no ataque:
            - Meu caro amigo, o povo da Capela da Buena é um povo muito bom, muito trabalhador! Como o povo aqui é carinhoso, amigo, eu mesmo conheço e já tomei café na casa da Tia Maria, do Seu Antenor... bah, que coisa boa! A gente se apaixona por este lugar... que lugar bacana! Por isso, eu digo sim que na Capela só tem ladrões... ladrões de nossos corações!!





[1] Ari Rodrigues Alcântara, prefeito de Pelotas de 1973 a 1977.
[2] Sinval Sebastião Duarte Guazelli, governador do Rio Grande do Sul de 1975 a 1979.
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