terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Cypriano da França Mascarenhas


Por Fernando Osório

"Abnegado e preclaro médico na Cidade de Pelotas, onde nasceu e granjeou sempre o maior respeito e consideração. Era filho de Domingos Pinto da França Mascarenhas, originário de Minas Gerais, e de D. Cypriana Barcellos Mascarenhas, filha do Comendador Cypriano Barcellos, que foi um dos mais antigos e abastados comerciantes de Pelotas.

Ele fez seus estudos superiores na Academia de Medicina do Rio de Janeiro, havendo, antes de os encetar e ainda muito jovem, sido empregado da sucursal do Banco Mauá, na Cidade de Pelotas. Durante o curso médico que seguiu com grande aproveitamento, foi interno das Casas de Saúde do Dr. Eiras, da Santa Casa de Misericórdia, das Casas de Saúde do sábio Dr. Torres Homem e do ilustre e reputado médico Dr. Baptista dos Santos: tinham-no em alto apreço esses mestres. Apenas formado, veio exercer a profissão em Pelotas, sua terra natal, contraindo núpcias com D. Manoela Luis Osório, filha do Mal. Osório, Marquês do Herval. No exercício da Medicina, sempre revelou grande competência, possuindo uma numerosa clientela que o idolatrava, que nele via um verdadeiro sacerdote cheio de altruísmo e desprendimento.

Esteve sempre filiado ao Partido Liberal do qual era chefe seu sogro, o Mal. Osório. Foi nomeado 2o. Vice-Presidente da Província do Rio Grande do Sul, durante o Gabinete Sinimbu, por indicação de Silveira Martins e ocupou o cargo de vereador da Câmara Municipal de Pelotas. O Dr. Mascarenhas tinha, pelo seu caráter distinto e afável, pelo seu coração generoso, pelos seus elevados préstimos, um crescido número de amigos dedicadíssimos, gozando de real prestígio entre os chefes políticos da cidade de Rio Grande, de Pelotas, de Canguçu, Piratini, e Cacimbinhas, Buena, D. Pedrito e Sant'Anna do Livramento, etc. 

Quando se formou a dissidência liberal, ao lado de seu cunhado e amigo Dr. Fernando Luis Osório, prestou com lealdade e ardor o seu concurso eficaz, nessa luta política. Era na sua residência - à Rua 7 de Setembro na Cidade de Pelotas - que se efetuavam as reuniões do partido dissidente e se agitavam e resolviam questões magnas do liberalismo. Por iniciativa dos Drs. Fernando Osório, Cypriano Mascarenhas, Piratinino de Almeida, Saturnino de Arruda, Marçal Escobar, de Serafim Alves e outros, foi fundado, em 1881, na Cidade de Pelotas, o primeiro clube abolicionista que houve no Rio Grande do Sul. Tendo sido o Dr. Cypriano Mascarenhas escolhido presidente desse clube, declinou dessa distinção em honra do Dr. Piratinino de Almeida, que havia elaborado os estatutos desse clube, ficando, por instâncias dos amigos, o Dr. Mascarenhas ocupando o cargo de Vice-presidente, e Marçal Escobar o cargo de Secretário.

No momento de inauguração do referido clube, foram concedidas diversas cartas de liberdade a escravos que possuíam algum pecúlio reunido para esse fim, tendo esses pecúlios sido completados com quantias fornecidas pelo Dr. C. Mascarenhas. Ainda nessa ocasião o Dr. Mascarenhas libertou seu boleeiro José, antigo empregado de confiança. Por esses atos de generosidade foi concedido ao Dr. Mascarenhas o título de sócio benemérito do Clube Abolicionista de Pelotas.

Quando se proclamou a República, aderiu ao movimento republicano, contribuindo para organizar a nova política, obtendo de grande número de amigos seus as adesões imediatas ao novo regime, cooperando e facilitando a tarefa de que fora pelo Governo de Porto Alegre investido o seu amigo e colega Dr. Ramiro Barcellos, incumbido da organização dos governos locais do Rio Grande, Pelotas e localidades próximas a essas cidades. Pelo Governo de Porto Alegre foi ele indicado para o cargo de Presidente da primeira Câmara Municipal republicana que teve a Cidade de Pelotas. Como as suas estâncias no Uruguai não lhe permitissem uma permanência assídua nessa Cidade, o Dr. Mascarenhas não aceitou essa distinção, tendo sido escolhido então o Dr. Gervásio Pereira; mas, para satisfazer aos rogos dos amigos, que não dispensavam o seu valioso concurso, aceitou o cargo do Vice-Presidente. 

O Dr. C. Mascarenhas, no ano de 1906, em Paris, foi acometido de grave enfermidade, que ultimou sua tão preciosa e útil existência."

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