sábado, 17 de fevereiro de 2018

A Noite do Bambu


"Com vistas às eleições legislativas federais de 24 de fevereiro de 1927, caravanas de políticos da Aliança Libertadora percorriam os municípios da zona sul do Estado, em trabalho de propaganda de seus candidatos.

No dia 13 daquele mês, eram aguardados em Canguçu o deputado federal Dr. Francisco Antunes Maciel Jr., Zeferino (Ferico) Costa e Djalma Mattos.

Os aliancistas locais organizaram, então, uma recepção na espaçosa residência de Alberto da Silva Tavares, um dos melhores prédios da vila, situado na General Osório, sua principal via pública, onde hoje se localiza o Clube Harmonia.

(...)

À noite, com a presença de dezenas de correligionários, entre os quais muitas senhoras e senhoritas, desenvolvia-se a recepção, quando, inopinadamente, a casa foi invadida, aos gritos, por soldados do 12o. Corpo Auxiliar da Brigada Militar, que passaram a espancar os participantes.

A cena de violência prosseguiu pelas ruas da vila, com a perseguição e o espancamento de todos os que tentavam fugir, pois a casa fora cercada pelos 'provisórios'.

Curiosamente, esses soldados ostentavam contra civis desarmados a bravura e o ânimo belicoso que, por certo, fizera-lhes falta há apenas dois meses, quando, no dia 10 de dezembro de 1926, na Coxilha do Fogo, interior do município, foram batidos e dispersados pela vanguarda de Zeca Neto, regressando à vila, quatro dias depois, sem cavalos e sem equipamento...

É de imaginar-se o escândalo e a indignação produzidos pela insólita atitude dos 'provisórios', ainda mais que não se acreditava tivesse tamanho atrevimento partido de simples praças comandados por dois oficiais subalternos.

A imprensa governista, enquanto isso, noticiava os acontecimentos segundo a sua ótica, procurando lançar culpa e o ridículo sobre os aliancistas, (...)

Algum tempo depois, avançando em suas investigações, o Dr. Maciel Moreira pedia afastamento do cargo...

Em Canguçu, enquanto isso,era voz corrente a premeditação do atentado por parte da cúpula local do Partido Republicano. Um dia antes, 12 de fevereiro, dois desses dirigentes foram vistos no Clube Harmonia comentando a 'surpresa' que aguardava os aliancistas...

No próprio dia do atentado, um soldado 'provisório', aparentado com a família Barbosa, dirigira-se a essa residência e, lacônico, perguntara pelas moças da casa, advertindo que não deixassem sair naquela noite. As jovens, Enedina e Esmeralda Barbosa, participaram da recepção em casa de Alberto da Silva Tavares e testemunharam os fatos relatados.

Alguns soldados do 12o. Corpo Auxiliar hospedavam-se no Hotel Brasil, de propriedade de Domingos Caneo Telesca e, como estivessem com o soldo em atraso, viviam praticamente sustentados pelo referido cidadão. No dia do incidente, a esposa de um dos soldados pediu à esposa do hoteleiro que não deixasse sair para a reunião dos oposicionistas. Domingos Caneo Telesca foi uma das vitimas do espancamento."

Fonte: CABEDA, Coralio Bragança Pardo. A Noite do Bambu. p.05-09 (artigo originalmente publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do RGS, número 132). Obs.: tivemos acesso ao artigo "em separado".

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