quarta-feira, 15 de março de 2023

A Polícia Rural Montada do Rio Grande do Sul

 



Há sete anos, a Polícia Rural Montada não existia. Os ladrões de gado e os contrabandistas reinavam livremente nas imensas pradarias do Rio Grande. Mas, o Coronel Max Hanke, da Brigada Gaúcha, teve a ideia: por que não criar uma polícia que se encarregasse de varrer dos campos os maus elementos? Seis meses depois, um batalhão de setecentos homens, vestindo uniforme semelhante ao da Real Polícia Montada do Canadá, realizava o desfile inaugural da corporação em Santa Maria, sua sede. Havia sido criado o 1o. Regimento de Polícia Rural Montada, que hoje também possui quartéis em Livramento, na fronteira com o Uruguai, e no Porto de Rio Grande.

Mas, o Coronel Max Hanke não quis que a sua Polícia Montada se limitasse apenas aos contrabandistas e ladrões de gado. Os seus homens, fortes e decididos, cursam antes da incorporação uma pequena universidade. Geralmente, apresentam-se entre 25 e 30 anos de idade e vão logo aprender Geografia, para conhecer o Rio Grande como a palma de sua mão. Um polícia montada sabe de cor todos os bons esconderijos do Estado e em suas buscas vai direto aos lugares preferidos pelos bandidos.

Sua pequena universidade inclui os aprendizados mais estranhos, como a técnica de dar mamadeira a uma criança e extrair dentes sem dor. Sim, os "abas largas" - como são chamados os policiais montados - têm a obrigação de fazer as vezes de "babá", se isso se tornar necessário. Do preparo da mamadeira ao cultivo da horta eles levam mais ou menos uma semana. Estudam os ciclos de plantação e as áreas favoráveis ou desfavoráveis ao plantio das espécies agrícolas. Aprendem a recomendar pastagens artificiais para os gados finos e são capazes de reconhecer, com facilidade, o capim que faz mal aos bois.

No capítulo dos socorros de emergência, aprende a dar injeções com perfeição, a curar uma gripe e até a ajudar no parto. É um médico de arrumação, com plena consciência dos limites de suas possibilidades.

- Um integrante da Polícia Montada - diz o sorridente Coronel Prado, atual comandante da corporação - nunca vai além do chinelo. Se for necessário, ele chamará um médico, mas não matará por irresponsabilidade.

Outro aprendizado curioso para esses policiais dos campos é o das histórias infantis. Um deles explicou-nos:

- Às vezes, acontece-nos encontrar criança sozinhas em ranchos distantes. Os pais, entregues às lides da pecuária e da agricultura, não podem levá-las consigo. Então, enquanto eles não chegam, nós temos que entreter os garotos, se possível ensinando-lhes qualquer coisa. Eis por que sabemos de cor "Joãozinho e Mariazinha", "Jeca Tatu" e até a "Branca de Neve".

Mas é, evidentemente, no terreno da repressão ao crime que os "abas largas" se revelam eficientíssimos. Ótimos ginetes, atiradores quase infalíveis, eles vivem uma constante aventura de "farwest", perseguindo bandidos e contrabandistas, prendendo criminosos e descobrindo roubos no fundo dos campos, no emaranhado das povoações e dos matagais. Aliás, há um projeto, atualmente, de prolongar-se a ação da Polícia Montada até as cidades do interior gaúcho. Pois a verdade é que os gaúchos ainda não perderam o hábito de apertar facilmente os gatilhos.

- Gaúcho quando puxa o revólver - disse-nos um deles - é fogo! Prender gaúcho armado é mais perigoso do que melar no camoatim.

Camoatim, se o leitor não sabe, é aquela casa cinzenta de marimbondo.

Fonte: MANCHETE (Rio de Janeiro/RJ), edição 537, 04 de Agosto de 1962, pág. 50.

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