domingo, 26 de junho de 2011

Sede do Santa Tecla Futebol Clube data de 1955

LEI Nº 585
Autoriza a doação de um terreno e dá outras
providências.
O DOUTOR MÁRIO D. MENEGHETTI, Prefeito de Pelotas.
Faço saber que a Câmara Municipal decretou e eu sanciono e promulgo a seguinte
Lei:
Art. 1º - É o Poder Executivo autorizado a doar ao “Santa Tecla Futebol Clube”, com
sede na Vila do Capão do Leão, um terreno com as seguintes confrontações: Divide-se
ao norte, com a viação Férrea do Rio Grande do Sul, numa extensão de cento e setenta
e quatro (174) metros e a leste, sul e oeste com terrenos do Município, em linhas retas,
com as seguintes extensões: sessenta e cinco metros e vinte centímetros (65,20 mts);
cento e setenta e oito metros e setenta centimetros(178,700 mts) e sessenta e sete
metros e oitenta centímetros (67,80 mts), respetivamente.
§ único - O terreno de que trata o artigo é destinado à praça de esporte do Clube
beneficiado pela doação.
Art. 2º - A entidade beneficiada pela doação de que trata o artigo anterior não poderá
alienar o imóvel nem dar-lhe outra finalidade que não a expressa nesta lei.
Art. 3º - Em caso de dissolução da Sociedade, o imóvel reverterá ao Patrimônio
Municipal, com todas as benfeitorias, sem qualquer ônus para o Município.
Art. 4º - Se o imóvel ora doado for objeto de desapropriação, pela União ou pelo
Estado, o valor da desapropriação reverterá ao Município, vedado ao Santa Tecla Futebol
Clube o direito a qualquer reclamação a respeito.
Art. 5º - A entidade beneficiada por esta lei fica obrigada a ceder, gratuitamente, sua
praça de esportes a outras entidades semelhantes, sediadas na localidade e que não
disponham de praça própria.
Art. 6º - Esta lei entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.
GABINETE DO PREFEITO MUNICIPAL DE PELOTAS, EM 13 DE OUTUBRO DE 1955.
Dr. MÁRIO D. MENEGHETTI
Prefeito
Registre-se e Publique-se
Diretor Geral

terça-feira, 21 de junho de 2011

Relato de UFO e Fenômenos Estranhos no Capão do Leão descrito em revista da Itália

Trata-se de um texto raro e desconhecido, escrito em tom de crônica, eivado de certo etnocentrismo e de um total desconhecimento jornalístico sobre nossa região e sobre o Brasil. Vale pelo seu registro histórico, porém há alguns erros evidentes. Suprimi partes que não interessavam. Ao longo do texto, coloco minhas observações (grifos em negrito). Pesquisei na Internet e o periódico "La Nuova Rivista" encontrado não é o mesmo que fornece estas informações.

Texto extraído de: La Nuova Rivista. Napóles, Itália, set. 1974, ed. 235, p.13-14

“Por mais que a nova indústria tenha operado verdadeiros milagres de desenvolvimento social e econômico na América do Sul, esta terra ainda permanece como recanto da superstição, onde mesmo nas grandes capitais como Buenos Aires, Rio de Janeiro [sic] e a revolucionária Havana, o mito e a fábula ainda ganham espaços na imprensa local, atraindo multidões de leitores e rádio-ouvintes ao reino do folclórico e do maravilhoso. Nosso correspondente, Maurizio Giniani, esteve na refrescante Montevidéu no último mês de março, com o propósito de colher impressões da nova safra [sic] agropecuária deste ano, que promete bons negócios para os criadores locais. [o repórter apresenta Rio de Janeiro como capital brasileira]
(...)
Estando a caminho do Rio de Janeiro, Giniani resolvera visitar a província [sic] brasileira do Rio Grande do Sul, onde interessou-lhe particularmente a Exposição Agropecuária de Pelotas, cidade que lembra por seu clima  o gueto de San Giorgio.[ o repórter refere-se ao Rio Grande do Sul como província]
(...)
A reportagem de nosso correspondente com criadores locais foi interrompida em seu objeto, pelo estranho boato que se fizera durante a feira. Dito isto, Giniani foi informado que os criadores de gado da região estavam em estado de verdadeiro pavor com o ataque que seus rebanhos estavam sofrendo nas últimas semanas de misteriosos animais que mutilavam sem cálculo de comiseração nenhum o gado nas campinas. Maurizio deveras muito impressionado quis saber mais a respeito da história e colocou-se a perguntar entre os participantes da feira.
Instruído pelo senhorzinho Camargo, Giniani foi convidado pelo senhor Silva a acompanhá-lo à sua hacienda [sic – no texto original este é o termo empregado em itálico] no interior daquela municipalidade, no lugarejo denominado Capão do Leão, há cerca de 30 km da zona urbana da fria Pelotas.[o uso do termo "hacienda" faz intuir que português e espanhol são a mesma língua]
Chegando à vasta planície, na área de propriedade do senhor Pavão [sic], Giniani caminhou alguns metros na ondulosa campina e deparou com um cadáver fétido e putrefato de uma rês, cujos olhos saltavam as órbitas e cuja visão era horrenda. Foi informado que a tal rês fora atacada por uma espécie de animal escuro e assustador, de porte médio, na noite de ébano comum naquelas paragens. Maurizio indagou ao senhor Pavão se este não seria o caso de um ataque de felinos selvagens, como o jaguar, típico das matas brasileiras. O senhor Pavão respondeu-lhe em arcaico português que o sangue da pobre vaca fora todo retirado e as mutilações e cortes que havia pelo corpo do cadáver eram desconhecidas para que fossem atribuídas a qualquer animal sabido por ele. [quando ele diz que o entrevistado  expressou-se em arcaico português, talvez ele queira se refierir ao sotaque regionalista] Citou também vários outros casos acontecidos nos arredores nas últimas semanas e sua persistente preocupação com a ocorrência, pois narrou-lhe que além disso alguns animais adoeciam inexplicavelmente. Estamos será, acaso, diante de um vampiro dos trópicos? [Creio que o senhor Pavão é o local "Pavão", que ele não soube desvincular da pessoa que o atendeu]
Giniani e o senhor Pavão foram mais além e visitaram outro local, às margens do Rio Piratini, linha fronteiriça entre a República Brasileira e a República Uruguaia [sic], onde encontrou novos relatos sobre o fenômeno e surpreendeu-se com a crueza e a sinceridade dos camponeses em relatarem os fatos. [O Rio Piratini não é a linha fronteiriça do Brasil com o Uruguay, provavelmente ele deduziu sem verificar] Ouviu que há cerca de três meses, luzes coloridas percorrem o céu e uma delas deixara vestígios circulares no solo. Um dos camponeses presenciou tal fato e contou-lhe que, por volta do amanhecer, quando iniciava seu trabalho diário, pode perceber que três ou quatro destas “luzes” encontravam-se há poucos metros de distância. Crendo se tratar de ladrões de bois, foi ao encontro das misteriosas luzes e viu as mesmas subirem em direção à abóbada celeste, sem deixar vestígios.
Outra mulher de feições ameríndias, veio ao encontro de Giniani e ofereceu ao animado repórter de La Nuova, um aromático café brasileiro, provavelmente oriundo daquela região, plantado por aquelas mãos inocentes e fraternas. [O incauto repórter crê, simplesmente, que o café por ser um produto largamente produzido no Brasil, é cultivado em todo o seu território] A mulher descreveu caso ainda mais pitoresco: um contato ufológico de terceiro grau. Giniani gentilmente acedeu ao pedido da mulher e ouviu sua narração com interesse despretensioso. Disse-lhe a mulher que na noite de fevereiro de 1973, quando seu marido encontrava-se longe do lar, envolto em negócios particulares, resolvera transitar a noite por uma vereda que conduz à casa de sua cunhada, não muito longe dali. Como fizera inúmeras vezes o caminho, não sucedeu-lhe o medo de sair sozinha, pois a hora noturna não era avançada. Na medida em que se aproximava da casa da cunhada, viu ao horizonte, estranha luz azulada-alaranjada na direção norte. Pôs-se a correr em espanto evidente, porém acreditou que o a luz poderia vir de um automóvel e acalmou-se. Parada, viu a mesma luz aproximar-se e surgir cada vez maior e mais ameaçadora. Sem precisar medidas, todavia com os dedos apontando para uma janela que serviu de referência, a simplória senhorinha descreveu um disco achatado-oblongo ao atônito Giniani, de cores difusas, que segundo ela, aterrisou em pouca distância de sua fronte. Apavorada a mulher saia a correr e a gritar, indo de encontro a um pântano (os brasileiros designam bagnado), onde a lama ornou seu vestido rústico. Confirmava a história com três testemunhas que teriam visto o dito UFO na mesma noite e naquelas proximidades.
(...)
A América do Sul seguramente produz rico folclore em todo o globo!
Gianpiero Dallarme

sábado, 18 de junho de 2011

Relatos de UFO's em Capão do Leão na década de 1970

Estes são alguns relatos de fenômenos ufológicos acontecidos em Capão do Leão, na década de 1970, quando este ainda era distrito de Pelotas. Os documentos pertencem à Aeronáutica Brasileira e ao extinto SNI - Serviço Nacional de Informações. Algumas cópias e suas transcrições estão abaixo. Brevemente, publicarei uma tradução de outro caso, registrado numa revista italiana.
 Transcrição de um caso de 1976:
“                                                                                                             
Pelotas, Rs, 18 de Abril de 1976

Ilmo. Sr.
Ten.Cel. DURVAL OSVALDO TOMCZAK
Ministério da Aeronáutica
Estado-Maior da Aeronàutica
(Seção de Operações) – 6º. Andar
BRASÍLIA-DF

                Prezado amigo,
                Em nosso poder sua atenciosa carta de 8 do corrente, cujos dizeres foram objeto de nossa melhor atenção.
                Atendendo ao pedido que nos faz o Estado-Maior da Aeronáutica, é com imensa satisfação que, em anexo, enviamos a V.Sra. informações referentes aos 4 casos de aparições de OVNis no Brasil, e que são de interesse do jornalista italiano – Sr. Mário Gariazzo.
                (...)
                Sobre os fenômenos observados na Fazenda “Triângulo Azul”, no Capão do Leão, mun. de Pelotas, já fazem 3 meses que lá estivemos pela última vez, oportunidade em que ainda pudemos ver a repetição dos fenômenos luminosos. Nessa ocasião, um tratorista da fazenda, contou-nos o seguinte: ele e mais um companheiro, numa tarde de sábado, quando aravam uma terra, viram 3 estranhos seres em volta do trator, dentro de uma espécie de névoa, sendo que por vezes desapareciam e apareciam em pontos diferentes, mas sempre em proximidade do trator a observarem o trabalho que era executado. Disse-nos o tratorista que aquelas curiosas figuras se lhe representavam ser “uma santa com vestimenta azul clara”, embora não tiveram podido observar as suas feições e detalhes do corpo.
                Temos o depoimento completo desse caso, inclusive uma gravação.
                (...)
                Sem outro motivo, para o momento, queira aceitar essas mais
                                                                                              Cordiais Saudações,
                                                                                              Luiz do Rosário Real”
 Transcrição de um caso de 1975:
“FENÔMENOS LUMINOSOS OBSERVADOS NA FAZENDA...............................DO SR. CARLOS ANDRETTI, SITUADA NO CAPÃO DO LEÃO, MUN. DE PELOTAS

                Em data de 28 de junho de 1975, com base em informações que havíamos obtido junto ao Sr. Hélio Schelin, técnico de transmissão da Rádio Universidade de Pelotas, num grupo constituído pelas seguintes pessoas: Luiz do Rosário Real, Presidente da SPIPDV, Wilson da Silva Stone e Pedro Luiz Marasco da Cunha, também da SPIPDV, e ainda, Lúcio Almeida Castagno, Carla Maia, Fábio Lacava Silva e Henrique Niemzenki, todos da SASCOMPE – Sociedade de Astronomia do Colégio Municipal Pelotense, nos deslocamos até a Fazenda.......................de propriedade do Sr. Carlos Andretti, situada na zona rural de Pelotas, no distrito do Capão do Leão, a uma distância de 35 km da sede. Saímos da cidade, em dois automóveis, as 15,10 hs e lá chegamos as 15,40 hs.
                Lamentavelmente, não encontramos o Sr. Andretti na propriedade, porque havia viajado para Pelotas, ainda na parte da manhã. O capataz geral também não estava presente. Com eles teríamos obtido informações acerca do desaparecimento de animais da fazenda e inclusive sobre estranha doença que tem sido constatada em alguns animais. Diante disso, procuramos conversar com o substituto de capataz. Êste de início ficou um tanto temeroso em falar alguma cousa sobre os fatos que têm se desenrolado na fazenda. Entretanto, instado por nós, ele nos assegurou que os informes que tínhamos sobre a existência de fenômenos luminosos e problemas com animais, eram corretos, pois ele embora não tendo presenciado os acontecimentos, sabia através de companheiros de serviço, de tudo o que vem se passando na fazenda.
                Devido ao adiantado da hora (já passava das 16,00 hs), e como teríamos de andar  mais uns 7 km até chegar ao local dos fatos, isto antes de anoitecer, e através de um péssimo caminho (ilegível), nos despedimos do citado cidadão e prosseguimos a viagem. Chegamos finalmente na área em questão e nos dividimos em duas equipes, cada um pegando o seu equipamento, constituído de rádios-transmissores com alcance até 37 km, bússolas, lanternas de pilhas, binóculos, máquinas fotográficas e inclusive um telescópio de...
                Antes porém de chegarmos até esse local, que se situa junto a uns matos  que margeiam o Rio Piratini, uns 3 km antes desse ponto, estivemos na última casa da fazenda, onde mora um encarregado de máquinas, o Sr. (ilegível), com quem conversamos durante alguns minutos. Perguntando-lhe se havia visto por aquele setor algum estranho objeto luminoso à noite, ele prontamente responde o seguinte, e isto gravamos em fita magnética: “A poucos dias, na semana passada, eu e mais e os meus familiares, vimos três discos voadores, durante a noite, entre 20 e 21 hs, voando próximo daquele mato junto ao Rio Piratini. Tinham forma redonda, como um prato emborcado sobre o outro, não faziam qualquer barulho, estavam a uns 10 mt do solo, e tinham uma luminosidade de côr alaranjada.”
                Acrescentou ainda o referido cidadão, que junto ao mato existente às margens do Piratini, (ilegível) mais precisamente, na Ilha das Uvas, costuma aparecer, vez por outra, um estranho e curioso “jipe” que “sai andando acima do chão” e inclusive “por sobre as árvores”...(?) Isto é o que lhe contaram alguns dos trabalhadores, os quais estavam sozinhos, foram convidados a dar um passeio no estranho veículo, mas acabavam se jogando do (ilegível) ao solo, assustados, quando viam que o “jipe” em vez de rodar pela estrada “voava”.
                Contam, ainda, alguns desses trabalhadores, que às vezes também costuma aparecer um “estranho cavaleiro”, o qual investe contra eles em disparada e quando está próximo, simplesmente “desaparece como por encanto”...
Documento endereçado ao Minsitério da Aeronáutica onde constam os anexos de acima.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Outras histórias da Segunda Guerra Mundial

Para mim, um dos personagens mais misteriosos da história do Capão do Leão e, provavelmente, um dos mais desconhecidos viveu até a década de 1970 no Corredor da Embrapa (atual Avenida Eliseu Maciel), como uma espécie de "eremita" errante, trabalhando na pecuária, em uma propriedade rural daquele local. Parece que trabalhou nos primóridos do Instituto Agronômico do Sul (AGRISUL). Era estrangeiro, negro e o chamavam de "Negro Guiné" Falava uma língua estranha, tinha uma espécie de religião muito incomum parecida com uma espécie de xamanismo, mas que não se assemelhava aos cultos afro-brasileiros tal qual os conhecemos. Bem, por quê então: "Negro Guiné" (o nome do sujeito para mim é desconhecido até hoje). Diziam que ele vinha da Guiné (seria africano, então), porém afirma-se que sua procedência verdadeira era "Nova Guiné". Pois, a Nova Guiné é um país da Oceania. Seria ele um melanésio? Tudo indica que sim, pois no dizer daqueles que o conheceram chega a ser curiosa a descrição: " era negro, mas não era negro, tinha uma pele diferente do negro, mesmo sendo negro, o cabelo também era diferente, bem como as feições do rosto." O tal "Negro Guiné" seria na verdade um refugiado papuano da II Guerra Mundial que veio para o Brasil (não sei como!) após o fim do conflito. Serviu ao exército australiano, quando os japoneses tentaram invadir a Ilha de Papua na II Guerra. Muito pouco sabe-se a respeito do sujeito. Tinha-se, na verdade, medo dele, pois o viam como "bruxo". Morreu e foi enterrado sem deixar familiares, bens ou memórias para contar. Sobrou apenas a sua enigmática figura.
Na mesma região, há descendentes de japoneses ali estabelecidos já há algum tempo, que durante muitos anos se dedicaram ao cultivo de tomate. Um deles, o mais velho, ao que parece era japonês de fato, tendo lutado na II Guerra Mundial. Pouco se sabe a respeito, apenas registro a informação. Tal como nos casos de brasileiros de Capão do Leão que participaram do conflito, era outro que não gostava de tocar no assunto. Bem se vê que os traumas da guerra são irreversíveis em alguns casos.
Um terceiro que vale a pena registrar, hoje já falecido, porém que trabalhou na Embrapa como engenheiro agrônomo e morou também ali é o lituano André Bertels. Era refugiado de guerra e veio para o Brasil quando, perto do final do conflito, os soviéticos tinham anexado a Lituânia. Ele contava que nadou quilômetros mar adentro, nas águas geladas do Mar Báltico, até chegar na Dinamarca. Sua história é contada numa edição do jornal Diário Popular de 1983. Veio para o Brasil em seguida e aqui casou. Sua casa ainda existe na Avenida Eliseu Maciel. Sylvio Dall'Agnol afirma que André Bertels era "russo ortodoxo" e foi um dos fundadores da Capela Nossa Senhora da Conceição, que hoje faz parte da área do campus da Universidade Federal de Pelotas. Talvez fosse cristão ortodoxo, porém lituano. Não gostava muito de russos, por sinal.
Um quarto refugiado da II Guerra Mundial a que temos conhecimento no Capão do Leão é de outro misterioso personagem, profundamente traumatizado e complexado com o conflito, que teria trabalhado nas pedreiras na década de 1950. Era alemão e teria servido no Exército que ocupou a Polônia em 1939. Até hoje procuro a indicação da casa dele, mas diz-se que construi um verdadeiro bunker, com paredes de tijolo maciço duplo, janelas pequenas que imitam venezianas de ferro, sem portas frontais ou laterais e um dono de um temperamentoextremamente reservado. Não ficou muito tempo aqui, mas parece que nos legou como patrimônio a tal casa, que uns dizem existir no Teodósio.
Para finalizar, existe em Pelotas (não sei se ainda está vivo!), um teuto-brasileiro que combateu na II Guerra pela causa nazista, morador do bairro Três Vendas. Conheci-o pessoalmente e fiz amizade com aquele senhor, já de idade. Frequentava a Comunidade Luterana São João, próximo à Avenida Bento Gonçalves. Nunca demonstrou qualquer espécie de antissemitismo, porém era profundamente nacionalista, sempre puxando assunto sobre a Alemanha e citando o Führer. Certa feita, ele mostrou o quarto dele e sua coleção particular de objetos do Partido Nacional-Socialista. Jornais, postais, souvenirs, revistas, livros, entre outras coisas. Só posso dizer que não via nele um racista, pois tinha um comportamento social irrepreensível. A amizade não permite citá-lo, todavia a única coisa que posso dizer é que todos seus filhos e netos tem nomes marcadamente germânicos.
Entrementes, finalizando, não há de se admirar a presença de ex-soldados ou simpatizantes do Partido Nazi no Rio Grande do Sul. A expressiva presença da etnia teuta, possibiliou-lhes que se imiscuíssem sem problemas de adaptação em nossa sociedade. Estamos em pleno ano de 2011 e e possível observar, no ônibus que sai em direção à zona colonial de Pelotas, animadas conversas em dialeto pomerano.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A notícia mais desconcertante que já achei sobre Capão do Leão

Trecho extraído de: Diário Popular, edição de setembro de 1935 (periódico disponível no Centro de Documentação & Obras Valiosas da Bibliotheca Pública Pelotense). Obs.: não foi possível precisar o dia, pois a edição em que encontrei a nota jornalística estava com a capa muito avariada.
Segue o texto: "Nosso amigo Carlos, sempre jovial colaborador deste jornal, informa, hoje pela manhã que já está se consituindo um unidade do Partido Nacional-Socialista em Capão do Leão [grifo nosso]. Hontem á tardinha, movimentada reunião ocorrera na cafeteria da elegante villa, sendo dirigidos os prolegomenos a cargo dos srs. Balse e Ludiki [sic]. Apos a concorrida assistencia de hontem, o sr. Balse comunicou que em outubro, tal como deve acontecer em outras cidades do estado, ter-se-á a visita de importante membro do partido, oriundo este das terras germanicas."

Grupo de Pracinhas Brasileiros em 1944

A foto, como é perceptível, data de 04 de Dezembro de 1944. Trata-se de um grupo de oficiais e soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) de um regimento em Pelotas. Não foi possível, porém, identificar de qual regimento. Há vários leonenses na foto. No caso, a foto foi tirada antes de eles embarcarem para a Itália. Curioso também é que, no dizer de alguns leonenses que foram para a guerra, quando chegaram lá, não havia muito a fazer...alguns chegaram já em meados de 1945. Um antigo morador de Capão do Leão, hoje já falecido, comentou uma vez comigo, que chegou no Porto de Nápoles, e três ou quatro dias depois, soube do suicídio de Hitler. Não passou-se dez dias e a rendição da Alemanha se fez. Detalhe importante também que ele me contou é que, muitos acreditavam que iriam lutar no Pacífico, contra os japoneses, após a rendição alemã. Dizem todavia que os oficiais brasileiros eram categóricos: tinham mais medo dos soviéticos do que dos japoneses. 
Muitos moradores do Capão do Leão, a maioria já falecida, esteve envolvida em fatos da 2a. Guerra Mundial. Tem um, de nacionalidade italiana, o qual soube por outro informante, que lutou pela Itália na região da antiga Iugoslávia. Foi feito preso pelos soviéticos e esteve num campo de concentração na Sibéria (Rússia). Ficou tão traumatizado com a experiência que nunca se sentia muito à vontade em contar. Inclusive, sempre desconversava sobre o assunto. Outro, este já brasileiro nato, foi feito preso pelos nazistas no Mediterrâneo, porém não era soldado  e sim marinheiro de cabotagem. Esteve na França de Vichy, foi levado para o norte da Alemanha e, conta-se, foi salvo por um batalhão de ingleses, já no fim da guerra. Uma coisa que ele detestava, também, era tratar do assunto. Dizia ele que, numa ocasião, quando estava ainda na França, viu judeus sendo executados nas ruas, à luz do dia. Mas, daí, pergunto: ele não sofreu este risco? O que salvou ele é que tinha ascendência alemã e, conforme seu relato, os nazistas não queriam saber dele e dos companheiros...o porque ele não soube dizer.
Tenho mais algumas histórias esparsas sobre a II Guerra Mundial e moradores do Capão do Leão que lá tiveram, porém pesquisas mais aprofundadas poderão resultar em textos melhores. Continuo a pesquisa, sou aberto à contribuições.

sábado, 4 de junho de 2011

História da Pedreira do Cerro do Estado - Parte XI


Produtos da Pedreira
                Ao longo de um século de exploração de rochas na Pedreira, existiram os mais diferentes tipos de produtos derivados da zona mineradora e dos arredores que eram expedidos a Rio Grande e outros locais. Como vimos anteriormente no texto, até madeira foi remetida via trem. Listamos, pois, os tipos de rochas e material do subsolo que saía da Pedreira, suas características e destinações. Ressalvo, todavia, que algumas definições abaixo estão sujeitas a diferentes interpretações, pois as tipologias mudaram através dos anos.
         Areia Grossa – embora não exista areia na área da Pedreira do Cerro do Estado, a linha férrea era utilizada para transporte deste tipo de material. Nos anos do D.E.P.R.C., a areia era extraída do Passo dos Carros e transportada até a Pedreira. De lá ia até Rio Grande. Nas décadas de 1920 e 1930, era embarcada areia proveniente do Fragata, da área do atual bairro Simões Lopes, em Pelotas, e do areal próximo à Estância Ribas. Cremos que esse embarque era feito no caminho da linha férrea, devido às várias estações de apoio que existiam.
Argila – material expedido durante muito tempo para as mais diferentes destinações. É o popular aterro.
         Argila com Cascalho – na década de 1940, este tipo de material aparece classificado em dois tipos: argila com 40% de cascalho e argila com 25% de cascalho. Em décadas subseqüentes é simplesmente argila com cascalho, sem precisar-se a porcentagem de um ou outro. Servia para fins de construção, calçamento e aterramento.
Bloco Especial ou de 1ª. categoria – rocha com mais de 5 toneladas.
          Bloco de 2ª. categoria – rocha pesando entre 3,5 e 4,9 toneladas.
          Bloco de 3ª. categoria – rocha pesando entre 1,3 a 3,4 toneladas.
          Bloco de 4ª. categoria – rocha pesando abaixo de 1,3 toneladas. É raro na maioria das expedições através dos anos. Normalmente, o bloco de 4ª. categoria já é considerado moellon ou tout-venant.
          Carvão – ocasionalmente era expedido a Rio Grande por linha férrea.
Cinza de Carvão – a cinza do carvão das caldeiras da Usina e das locomotivas ia para Rio Grande para ser vendida como adubo em 1949.
Cobertina – pedra de cantaria destinada ao revestimento da margem do cais do Porto de Rio Grande. Em outras palavras, assemelha-se a um grande meio-fio polido.
Cordão de granito – pedra cortada em quatro faces, semelhante a um poste, destinada a servir como guia de ruas calçadas. Possui um comprimento menor que moerão. O mesmo que meio-fio. Pode ser bruta ou de cantaria, dependendo da função.
         Cordão de granito curvo – tem a mesma função que o cordão de granito, porém é pedra de cantaria cortada de forma curva.
Detrito da Britadora – todo o material que sobrava das peneiras da Britadora, desde a poeira fina a pedaços disformes de pedra.
Enrocamento – o termo aparece para blocos de todos os tipos. Designa a rocha que serve como resguarda aos Molhes da Barra.
Granitulho – tipo de paralelepípedo pequeno, utilizado em obras especiais de calçamento. Na época da Companhia Americana, possuía uma bitola padrão de 6x6x6 cm. Designa, de modo geral, o paralelepípedo pequeno.
Haduquinho – Vide paralelepípedo.
Lasca de Pedra – material utilizado com função de aterramento.
Lenha – quando a Pedreira passou a ser auto-suficiente neste produto, no final da década de 1940, houve expedições deste material para Rio Grande.
Moellon – é um dos principais produtos da Pedreira em todos os tempos. A palavra francesa significa “pedra de encaixe”. É empregada para preencher espaços entre blocos dos molhes da Barra de Rio Grande, dando-lhes sustentação. Embora, o termo atualmente tenha outro significado nas empresas arrendatárias atuais, designando uma rocha com corte retangular.
          Moellon Brita – tipo de moellon que não era aceito para ser remetido aos Molhes da Barra e era revertido em matéria-prima de britagem.
Moerão/Moirão – pedra cortada em quatro faces, semelhante a um poste, destinada a servir como ponto de sustentação de alambrados[1].
Paralelepípedo – pedra cúbica de menores proporções que uma pedra de alvenaria utilizada em calçamentos de ruas. Padrões produzidos na Pedreira: 9x12x13 cm (menor), 17x18x21 cm (maior). Havia também padrões intermediários.
Pedra Britada – existiam seis diferentes bitolas, que iam do número zero ao número cinco. A pedra britada de número zero também era chamada pedrisco e se destinava a revestir terrenos. A pedra britada número cinco[2] é a pedra utilizada como base para trilhos de trem.
Pedra de alvenaria – ou pedra de obra. É a pedra quadrada imperfeita utilizada como alicerce de construções. Possui várias bitolas possíveis, conforme a necessidade. Na Pedreira as mais comuns produzidas eram: 20x20x40 cm, 25x25x30 cm e 30x40x50 cm.
Pedra de cantaria – qualquer pedra que sofreu algum tipo de trabalho de polimento ou incrustação, isto é, foi lavrada. Diferencia-se da pedra bruta que é simplesmente cortada.
Peitoril de granito – pedra de cantaria que é colocada na parte inferior dos marcos de uma janela.
Pó de Pedra – enquanto o Detrito da Britadora agrupava tudo o que sobrava das peneiras da máquina, o pó de pedra era a poeira separada de resíduos maiores.
Poita – tipo especial de rocha utilizada para apontar profundidades marítimas.
Portalada – pedra de cantaria utilizada na construção de degraus. Em alguns casos, a portalada é de pedra bruta.
Soleira de granito – limiar do marco de porta, isto é, sua parte inferior. É pedra de cantaria.
Terra Vegetal – aparece em 1923, diferenciada explicitamente da Argila. Provavelmente constitui as primeiras camadas do solo descoberto para a exploração de rocha.
         Tout-Venant – conjunto de rochas residuais que não podem ser utilizadas como blocos nos Molhes da Barra. Também chamado “bota-fora”. Destinava-se normalmente à britagem.
          Verga de granito – pedra de cantaria que serve como anteparo de portas ou janelas. Isto é, colocada na parte superior dos marcos de uma porta ou janela.

                                                              
               


[1] Alambrado é sinônimo de qualquer tipo de cerca: arame, bambu, tela, etc.
[2] Em outros sistemas de bitolagem, a pedra britada número cinco aparece como pedra britada número três.
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