terça-feira, 20 de maio de 2008

Quarto Congresso Operário do Rio Grande do Sul (1928)


Trechos extraídos de: LONER, Beatriz Ana. Quarto Congresso Operário do Rio grande do Sul (1928). In: Cadernos do ISP, Pelotas (11), dez. 1997, p. 21-45

“Sabia-se que Frederico Kniested asseverava a sua realização no ano de 1927, em Pelotas. Edgar Rodrigues afirmava a existência do Congresso, sem citar data e local, e anotava a participação de vários militantes de São Paulo e Rio, mas, ao relatar suas conclusões, apresentava conteúdo diferenciado do relato de Kniested.” (p. 21)

“Com a nova referência de O Sindicalista, para 1º. de Janeiro de 1928, foi fácil achá-la: ‘começaram ontem na Liga Operária as reuniões do proletariado de várias cidades do estado para tratar de interesses da classe. Acham-se presentes às reuniões permanentes os delegados de Uruguaiana, Bagé, Porto Alegre, Rio Grande, Capão do Leão, D. Pedrito e Vila Petrópolis, representando o sr. Domingos Passos as associações do Rio de Janeiro e Santos (canteiros), São Paulo e Pará.” (p. 22)

“Durante a década [1920 – grifo nosso], os anarquistas vão aprofundando suas críticas em relação ao sindicalismo, esforçando-se na criação de grupos de livre pensamento ou de estudos, participando de Ligas Anti-clericais e núcleos de operários apolíticos, estes últimos em contraposição ao trabalho dos comunistas. Como resultado da nova orientação saída no Congresso gaúcho de 1928, muitos serão os jornais lançados durante estes anos de cunho libertário, mas sem uma continuidade no seu trabalho, o que reflete muito bem seu crescente isolamento e, conseqüentemente, sua fragilidade econômica e política entre o operariado.” (p. 25-26)

“Em 1925, participam do 3º. Congresso Rio-Grandense, a Liga Operária e quatro sindicatos de Pelotas. Em 1927, na reunião de delegados que ocorre na cidade estão representados além da liga, cinco sindicatos. Em 1928, é possível identificar no Congresso, delegados da Liga, do Sindicato dos Canteiros de Capão do Leão e dos estivadores de Pelotas.” (p. 31)

“São arroladas como filiadas a AIT [Associação Internacional de Trabalhadores – grifo nosso] no Brasil, as seguintes associações: União Geral de Trabalhadores de Uruguaiana – rua 7 de setembro, 67; Federação Obreira local de Bagé – rua Mal. Floriano, 65; Federação Obreira Local de Rio de Janeiro – Praça da República 56, 2º andar; Federação Obreira local de Pelotas – 15 de novembro, 757; Sindicato dos Canteiros de Capão do Leão. (...) Cf. DIÁRIO LIBERAL, Pelotas, 06 ago. 1933.” (Nota de rodapé 28 – p. 31-32)

“Nome dos delegados que representaram as classes: (...); João Martins Oliveira – pelo Capão do Leão; (...).” (Nota de rodapé 39 – p. 37)

Observação nossa: Deontino – também do Sindicato dos canteiros do Capão do Leão. (Cf. p. 43)

Loteamento Zona Sul

eO Sr. Oriente Brasil Caldeira comprou e loteou a área que se tornou de certa maneira um prolongamento do Jardim América. Antes da 1ª. parte do loteamento, surgida em 1977, a região pertencia a Sra. Elza Carret Nachtigall e era usada como campo de criação e local de rodeios. Segundo o Sr. Oriente a sua iniciativa deveu-se ao fato de perceber que o bairro crescia intensamente – razão também que explica o motivo do nome, dada a origem dos migrantes. Na 1ª etapa (até a BR-116), foi loteada uma área total de 82.955 m2, dos quais 7.200 m2 destinados a áreas verdes, 26.780 m2 à área das ruas e 48.885 m2 à área dos lotes. A procura por terrenos no escritório da Imobiliária Zona Sul na Avenida Eliseu Maciel motivou a expansão do loteamento em 1980. Na 2ª. etapa (além da BR-116) foi loteada uma área total de 141.816 m2, dos quais 15.619,80 m2 destinados a áreas verdes, 38.800,15 m2 à área das ruas e 87.396,05 m2 à área dos lotes. Na mesma época, as empresas Amadia Saraiva e Eletur fizeram a instalação da energia elétrica e foram abertos poços artesianos para suprir a demanda de água. Somente por volta de 1990, a Corsan passou a atender o loteamento de forma mais completa – 12 mil metros de rede encanada.
Como os terrenos foram comparativamente um pouco mais caros do que os que haviam no interior do Jardim América, os primeiros moradores eram pessoas que possuíam empregos assalariados. Isto é, não havia tanto a presença de trabalhadores informais no rol dos proprietários – o que justificaria a fama do loteamento ser considerado um lugar tranqüilo, do ponto de vista da segurança, nos seus primeiros anos.
Entre 1983 e 1989, a área da 1ª. etapa do loteamento foi quase que em sua totalidade ocupada. Já a área da 2ª. etapa por ser maior, foi sendo povoada gradativamente, com grande impulso na década de 1990, embora ainda existam lotes vazios. Em 1984 (também por iniciativa do Sr. Oriente) foi criada a Escola Comunitária Laura Alves Caldeira, que passou à responsabilidade do Estado do Rio Grande do Sul durante o Governo Britto (1995-1998).
Importantes também pela sua ação social são as comunidades católicas Nossa Senhora de Lourdes e Santa Cecília que se converteram em reais centros comunitários. Ressalva-se também a sede da Associação Comunitária Jardim América, sito à Rua Cidade de Canguçu, que foi a principal organização popular do bairro na década de 80 e início da década de 90.

Semana da Pátria de 1984

Autoridades e personalidades locais durante a cerimônia de hasteamento dos pavilhões nacional, estadual e municipal em 07 de Setembro de 1984, defronte ao Altar da Pátria
Cortesia: Sr. Ten. Cândido Afonso Garcia

Semana da Pátria de 1983

Com participação e incentivo da Liga de Defesa Nacional, a cerimônia de hasteamento dos pavilhões era muito bem elaborada
Apresentação de jovens estudantes na Semana da Pátria

Cortesia: Sr. Ten. Cândido Afonso Garcia

Bairro Jardim América - Parte XIII (Final)


A precariedade infra-estrutural do bairro, já nos primeiros anos, obrigou a população a mobilizar-se em busca de seus direitos. Questões como a eletrificação, transporte, educação, saúde e, sobretudo, abastecimento de água, foram as principais reivindicações da pauta de lutas.
Exceção feita à participação que o bairro teve na 1ª. tentativa de emancipação do Capão do Leão, em 1963, o movimento reivindicatório mais antigo que temos notícia data de 1975 e resultou na criação de uma escola. Nas imediações da Praça da Imprensa, os moradores capitaneados pela Sra. Isolina Souza da Silva, puseram-se na busca de solução para vários problemas da área, dentre eles: o abastecimento de água, energia elétrica e uma escola (dado o fato que a escola Barão de S. Ângelo era muito longe do local). Realmente, a instalação de energia elétrica mais para o interior do bairro (a região da Avenida Três de Maio já possuía o serviço há mais tempo) tomou grande impulso entre 1975 e 1980. A questão da água foi tratada no capítulo XI desta série. O embrião daquilo que viria a tornar-se a Escola Elmar Costa atualmente começou com aulas improvisadas na cozinha da casa do Sr. Florentino de Souza ministradas pela Sra. Isolina para um grupo de 33 crianças, entre 1975 e 1976. Em 1977, a Secretaria de Educação de Pelotas assumiu o encargo e passou a mandar uma professora que atendia as crianças num chalé alugado de propriedade do Sr. Erlindo Fonseca. Em seguida passou a funcionar outro anexo educacional na Rua Guilherme Manske.
Ainda na mesma época, o Jardim América adquiriu maior representatividade política, quando no governo de Irajá Rodrigues (1979-1982) foram criados os conselhos comunitários de bairro. Este sistema pioneiro possibilitou que a comunidade tivesse um canal de acesso mais próximo ao poder público. Na ocasião, o Jardim América compunha com Avenida Cidade de Lisboa, Virgílio Costa e Vila Nossa Senhora de Lourdes, o Conselho Comunitário Fragata-Sul. O representante do bairro eleito pelos moradores foi o Sr. Francisco Adilson Réus Henrique.
Na questão do atendimento em saúde as conquistas foram mais lentas. No ano de 1965, num prédio na esquina da Avenida Três de Maio e Rua Cidade de Rio Grande chegou a funcionar um posto de atendimento médico comunitário dirigido pelo Dr. Armando Bórgia; durando pelo menos até 1970. Entretanto, a população tinha que recorrer aos hospitais do centro de Pelotas, na maior parte das vezes. Na pós-emancipação, houve os postos de saúde do Dr. Juca e do Dr. Haroldo. A partir de então, houve certo desenvolvimento nesta área.
As associações comunitárias e assistenciais também são uma ocorrência do período pós-emancipatório, algumas até bem-recentes. Citam-se: Associação Comunitária Jardim América, Associação dos Moradores do Jardim América, Sociedade Assistencial Jardim América, Associação de Apoio Comunitário, Associação Jardim América de Desenvolvimento e Assistência Comunitária, Associação de Idosos e União de Jovens. É importante igualmente recorrer o trabalho desempenhado pelas igrejas cristãs no atendimento aos mais pobres e em ações filantrópicas, destacando: batistas, luteranos, católicos, mórmons e adventistas.

Bairro Jardim América - Parte XII


Dos antigos armazéns que vendiam muitos produtos a granel e atendiam fregueses que vinham desde o Pavão até a Capela da Buena restou somente a lembrança. Um estabelecimento comercial que marcou muito, ainda na época da Várzea do Fragata, foi a Venda do Sr. Luís Nachtigall – a qual tratamos no capítulo III desta série. Outros estabelecimentos comerciais que se destacaram na história do bairro, sempre ao longo da Avenida Três de Maio foram: o Armazém do Sr. Antônio Silva (na esquina com a Rua Maurílio Oliveira), a Casa Avante (na esquina com a BR-293), o Armazém do Sr. Willy Schiller (próximo à escola Barão de Santo Ângelo), o Armazém Brasil (no prédio ao lado do atual Supermercado Econômico), a Venda do Sr. Bento Cantarelli (na esquina com a Rua Francisco Pires dos Santos) e o Armazém do Sr. Ernani da Rosa (onde hoje se encontra a Clínica de Fisioterapia). Para o interior do bairro são dignos de nota: o Comércio do Sr. Oriente Brasil Caldeira (no Corredor da Embrapa), o Armazém do Sr. Catarino, a Venda do Sr. João Gomes, a Venda do Sr. Arnaldo, a Venda do Sr. Océlio, a Venda do Sr. Framalion, o Comércio do Sr. Osmar Rosa (atualmente um supermercado), a Venda do Sr. Enéias, Mercadinho Domingues e o Boteco do Alemãozinho. Entre tantos, alguns possivelmente ignorados, trataremos de dois que tiveram longa duração e importância: o Armazém Brasil e o Armazém do Sr. Ernani da Rosa.
O Armazém Brasil, de propriedade da Família Carret, funcionou aproximadamente de 1955 até o início da década de 1980. Foi o típico comércio tradicional de subúrbio, em que se reunia a população, não somente para comprar, mas também para conversar e se distrair. Era muito freqüentado pelos trabalhadores rurais e visitado por candidatos em campanha. De tal forma foi uma referência que, mesmo decorrido mais de um quarto de século de seu fechamento, o local ainda nomeia a linha de ônibus que atende a zona do bairro situada entre as rodovias BR-116 e BR-293. Isso acontece porque antigamente o ônibus do Jardim América partia do ponto defronte à atual Agropecuária Bandeirante; posteriormente, devido às reivindicações dos moradores o ônibus passou a partir defronte ao citado comércio.
Já o Armazém do Sr. Ernani da Rosa funcionou aproximadamente de 1965 a 1978. Iniciou com um pequeno “barzinho da madeira” e, aos poucos, tornou-se um comércio forte. Mais do que isso, o lugar passou a um aglomerado de serviços e empreendimentos, todos de iniciativa do Sr. Ernani. No local funcionou também coadjuvante ao armazém: olaria, carvoaria, borracharia, oficina de bicicletas, cancha de bochas, açougue, mesas de sinuca, ferraria, abatedouro de porcos, casas de aluguel (ao lado) e cinema. Na década de 1970 o armazém transformou-se no “point” do Jardim América, com grande freguesia de jovens, safristas, charreteiros e funcionários do DAER. Pioneiramente, o armazém também foi um dos primeiros locais do bairro a ter uma televisão para o público. Houve verdadeiro frenesi na época da novela global “Irmãos Coragem”.
O cinema merece atenção especial. O Cine América – que funcionou entre 1966 e 1977 – marcou toda uma geração. Num sistema muito comum na época, em que os cines de bairro eram prósperos, os filmes eram locados. Por isso, a mesma película era rodada num só dia nos cines do Fragata, Passo do Salso, Jardim América e Capão do Leão. Grandes sucessos de Teixeirinha e José Mendes, faroestes norte-americanos e filmes de ação atraiam grande público às sessões. Inúmeras ocasiões houve sessões duplas e triplas. Às quartas-feiras, ocorria a promoção “Grátis ao Belo Sexo”, com entrada franca para as mulheres.

Bairro Jardim América - Parte XI


Em 20 de Janeiro de 1992, a capital gaúcha foi palco do ápice de uma luta, de pelo menos três décadas, da comunidade pelo direito ao abastecimento d’água. Naquela ocasião, uma comitiva composta de lideranças comunitárias, políticos e moradores, totalizando um número admirável de 156 pessoas, compareceram a Porto Alegre, na sede da Companhia Rio-grandense de Saneamento (CORSAN), para levar as reivindicações do bairro ao então presidente da empresa, Carlos Petersen. A demonstração de mobilização popular denotou a situação sofredora e insustentável da população na questão d’água e impressionou as autoridades estaduais. Porém antes vamos recordar a trajetória de problemas e lutas que os moradores tiveram em relação à água.
Na época da criação do Jardim América na década de 50, como não houve nenhuma ação pública na infra-estrutura do bairro, o abastecimento de água, tal como outros itens como eletrificação, transporte, coleta de lixo, etc., foram ignorados. A saída para a população era servir-se da água azulada de cacimbas no meio do campo. Com o tempo multiplicaram-se os poços de algibre, úteis porém caros. A 1ª. intervenção pública de impacto para suprir a demanda de água aconteceu durante o governo Ary Alcântara (1974-1978) em Pelotas, quando foram perfurados poços comunitários. Em 1979, já na gestão de Irajá Rodrigues, uma rede de mangueiras pretas que trazia água do Frigorífico Rio-Pel foi instalada até as imediações da atual Avenida J.K. de Oliveira, destinada à colocação de bicas públicas. Entretanto, além de não resolver o problema de “todo” o bairro, a rede de mangueiras pretas foi sendo aos poucos atingida pelos “gatos”. Somente em 1981 é que se visualizou uma possibilidade real de solução para o abastecimento de água – aliás, fato que explica a razão de muitos moradores se oporem à incorporação do Jardim América ao novo município de Capão do Leão. O que aconteceu é que a Prefeitura de Pelotas anunciara a construção de uma caixa-d’água na Vila Gotuzzo que, além de reforçar o abastecimento no Fragata, serviria para suprir a demanda existente no Jardim América. Como a emancipação aconteceu no “meio do caminho”, o bairro não chegou a ser contemplado.
Todavia, na pós-emancipação a questão da água não deixou de ser considerada uma prioridade das administrações municipais. O fato é que outros fatores aliaram-se ao problema. Conforme estudos da economista Ana Victória Sena, houve um aumento significativo no fornecimento de água encanada em 268,1%, no período 1983-1991. Em compensação, o Município também teve um aumento do número de domicílios na ordem de 442,9%, no mesmo período. Isso significa que, embora a taxa de déficit no fornecimento fosse 31,42% em 1983, a mesma taxa em 1991 não diminuiu e sim apontara um valor preocupante de 53,5% de casas sem o líquido vital. A grande maioria no Jardim América.
Somente na década de 90, após muitas lutas dos moradores e das organizações comunitárias, tal como aquela que exemplificamos no início do artigo, é que a questão do abastecimento de água passou a ser normalizada.
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