terça-feira, 18 de junho de 2019

A colonização polonesa em Dom Feliciano


"Após a Proclamação da República, em 1889, o Governo Brasileiro, precisando de novos braços que substituíssem os escravos para continuar a garantir o equilíbrio econômico, fez campanha para vinda de agricultores europeus. Comprometera-se a custear as despesas com a travessia e doar terras aos que quiserem vir ao Brasil.

Antes porém, dessa publicidade, vieram algumas famílias por conta própria. Chegando ao Rio de Janeiro, rumaram para Porto Alegre, de onde viajando de lancha até São Jerônimo, desceram até a Sede da Colônia de São Feliciano.

Em 1890, assumiu a direção da colonização o Dr. Alfredo da Silveira e a partir daí toda a extensão destas terras cobertas com densas florestas foram destinadas à Imigração Polonesa.

As primeiras famílias encaminhadas para São Feliciano, custeadas pelo Governo, vieram nos navios Planeta, Estrela, Mayrink e Arlinda, nos anos de 1890 e 1891. Eram em sua totalidade católicos, sendo 1554 originários da Polônia, 1923 originários do território polonês sob a dominação da Rússia e 93 alemães.

Sem medirem as consequências que os aguardavam no futuro, apressaram-se a abandonar sua terra natal na esperança de conseguirem um padrão de vida mais humano, cansados que eram de serem explorados. No entanto, eram elementos sadios, trabalhadores, religiosos, satisfazendo plenamente as exigências das leis governamentais brasileiras. Foi assim que o Departamento de Terras e Colonização, sediado em Porto Alegre. não titubeou em encaminhá-lo para cá.

Iniciaram a sua longa jornada: uns a pé, uns em carroções puxados por juntas de bois e outros conduzindo burros carregados de balaios, foram abrindo picadões até chegarem ao coração da Colônia de São Feliciano.

Não conseguindo-se documentação exata, há dúvidas para saber por onde chegaram até aqui. Há duas proposições: primeira - subiram o Rio Jacuí até São Jerônimo descendo para a Colônia; segunda - viriam costeando a Lagoa dos Patos até o Porto de Vianez na desembocadura do Rio Camaquã, por onde poderiam subir em barcos durante as cheias, margeando o Arroio Sutil chegariam à Sede da Colônia.

Cada família recebeu um lote colonial de vinte e cinco hectares de terra, cujo título de propriedade lhes seria fornecido após o pagamento em prestações a longo prazo, de acordo com a quota estabelecida em lei. Além disso foi fornecida para cada família a quantia de cinquenta mil réis, para que, no decorrer de três meses, pudessem construir suas residências. As mesmas foram construídas de madeira. As sementes de cereais foram gratuitamente fornecidas para o primeiro ano de plantio. Tiveram que aceitar as condições e com desassombrosa coragem enfrentar as intempéries, a mata virgem, derrubar gigantescas árvores, abrir clareiras, construir suas moradias, enfim: começar vida nova na pátria adotiva.

Nesta época era Chefe da Comissão de Terras e Colonização o Sr. Alfredo de Araújo Borges, responsável por três núcleos de colonização: São Feliciano, Mariana Pimentel e Barão do Triunfo. Este em nada facilitava a vida dos colonizadores.

Iniciaram o povoado fixando-se à margem direita do Arroio Sutil, ou mais precisamente, à margem direita do Arroio Forqueta, afluente do Sutil, onde iniciaram a formação das chamadas 'Linhas', surgindo as seguintes: Evaristo Teixeira, Lopo Neto, Júlio de Castilhos, Amaral Ferrador, Correa Neto, Laurentino Freire, Perdiz, Assis Brasil, Carlos Ferreira, Felipe Noronha, Euzébio Dorneles, Pederneiras, Dr. Bozano, Anápio Silveira, Dr. Flores, Apolinário e Tomás Flores onde, desde o início, por conta própria, os poloneses se organizaram e em cada Linha formaram uma comunidade, construindo sociedades que serviam como escola e capela.

Assim, a caminhada inicial desses desbravadores poloneses foi árdua e heróica, pois embrenhavam-se nas matas para dela arrancar o sustento para suas famílias. A situação deles era de extrema pobreza. Os frutos de seu suor foram abençoados pois as primeiras colheitas de cereais foram fartas, mas infelizmente, na hora da exportação não tinham estradas bem compradores para os produtos que também não tinham preços. Todos esses fatores prejudicaram em muito o desenvolvimento da colonização.

Entre os imigrantes poloneses agricultores havia alguns profissionais como pedreiros, carpinteiros, ferreiros, artistas e outros. Eram os que auxiliavam no início fazendo ferramentas, construindo moradias.

Um problema aflitivo que, pensando hoje, não sabemos como a nossa geração assumiria: não possuindo o que comer, nem mesmo o pão, pois de onde tirariam a farinha? Os cereais que conseguiam eram moídos em moinhos de pedra movidos manualmente. A farinha era transformada em bolos que após eram assados em pedras aquecidas pelo fogo. Tempos depois iniciaram a construção de moinhos movidos a água, mas estes estavam, as vezes, muito distantes. Na falta de animais para transportar os cereais para serem moídos, precisavam carregá-los nas costas. Tudo era lento, demorado, feito manualmente. Devemos lembrar-nos sempre daqueles tempos a não lamentar-se tanto.

O comércio era raro. Os colonos trocavam seus produtos por sal, açúcar, café, pano para vestuário e outros. Começaram a criação de animais domésticos: até isto precisavam defender dos animais selvagens.

Os imigrantes, ao virem para o Rio Grande do Sul, estavam desacompanhados de sacerdotes. Logo ao chegarem, reclamaram ao Bispo de Porto Alegre, D. Claudio José Gonçalves Ponce de Leão, um sacerdote que lhes desse assistência espiritual. Foi erguida uma capela provisória, de madeira, localizada na zona baixa, perto do Arroio Forqueta. O primeiro padre, Martiniano Madrzejewski, franciscano, chegou aqui a 15 de novembro de 1891, fazendo batizados e abençoando casamentos. Voltou para a Europa em 25 de junho de 1892. O êxito da colonização deve-se, em grande parte, à atuação pastoral do clero e, logicamente, a grande fé dos poloneses em Deus e na força de seus braços.

Em 1908, a Sede contava com 153 pessoas e trinta casas das quais oito eram de comércio, um moinho, uma ferraria, uma olaria, uma escola, uma estação telegráfica, uma agência dos correios e um posto pluviométrico."

Fonte: TWORKOWSKI, Irene & RAKOWSKI, Zeno. Dom Feliciano. Dom Feliciano/RS: edição independente, 1985, pág. 12-14.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...