segunda-feira, 10 de março de 2025

As primeiras habitações brasileiras do período colonial



Quando os portugueses aportaram na Terra de Santa Cruz, procuraram erguer seus primeiros abrigos, os
tejupares, choupanas feitas de galhos de árvores e folhas de palmeiras. Tejupar vem do tupi: teyy, povo; upad, sítio. A seguir, os primeiros construtores levantarem paredes de barro, misturando-o com madeira, pedras e cascalhos. O sistema de construção era rudimentar, simples e econômico.

Com o crescimento populacional e com a chegada de barcos, os construtores passaram a se preocupar com materiais mais sólidos, como, por exemplo, a pedra. A primeira notícia de uma construção de pedra no Brasil parece ter sido a da torre de Olinda, em Pernambuco, construída pelo seu donatário Duarte Coelho Pereira, que utilizou argamassa com cal extraída de conchas e sambaquis.

Quando chegou à Bahia em 1549, Tomé de Souza e seus homens trouxeram um código ou regimento mandado elaborar por D. João III, o qual incluía instruções relativas às edificações. O governador deveria mandar... fazer sua fortaleza e povoação grande e forte em lugar conveniente no sítio em que se encontrava o estabelecimento do donatário Francisco Pereira Coutinho, ou perto dele. Deveria também levantar, sem demora, uma estacada de madeira ou muro de barro e trazer consigo pedreiros, carpinteiros e oleiros para a fabricação de tijolos e telhas. No interior dessa estacada, construíram-se os primeiros edifícios de Salvador: uma casa de câmara provisória e um armazém de madeira e barro coberto com folhas de palmeira. Dois anos depois, as construções haviam sido substituídas por edifícios maiores de pedra, cobertos com telhas.

Depois de inspecionar a costa do Brasil em 1553, Tomé de Souza voltou à Bahia e escreveu a D. João III sobre "as honradas casas de pedra e cal" que tinha visto em São Vicente. Ao instalar o seu governo na Bahia, obrigou os proprietários rurais a construírem casas robustas (torres). A mais notável delas é a Casa da Torre, de Garcia d'Ávila, criador de gado, situada em Tatuapara, Bahia. A casa forma um retângulo de cinquenta metros de comprimento pelo frontispício sul que dá para o mar, disposta à volta de um pátio de pouco mais de 14 metros de frente circundado por arcadas. Parcialmente arruinada, nela podemos ver procedimentos construtivos usuais na Colônia, com a ênfase dada ao trabalho de cantaria nos cunhais, nos vãos, nos arcos e nos entablamentos. As paredes são feitas de alvenaria, destinadas a receber revestimento de argamassa. Para o assentamento das pedras, usava-se cal extraída de ostra. O ponto alto de seu conjunto é a capela de forma hexagonal, com paredes e abóbadas revestidas de tijolo e a presença de arestas. A residência de Garcia lembra, por sua robustez, as congêneres do norte de Portugal, particularmente da região do Minho e Douro donde, igualmente, são designadas por torres. Inicialmente ele a batizou de São Pedro de Rates, provavelmente em honra de Tomé de Sousa, cujo pai era ligado a Rates, localidade perto de Braga, ao norte de Portugal. Dessa região vieram tradições de arquitetura doméstica que predominavam no período colonial, em Minas e interior, assim como no litoral. 

Fonte: BATTISTONI FILHO, Duílio. Pequena história das artes no Brasil. Campinas: Átomo, 2020, pág. 12-13.

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