sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O Rio Grande do Sul na "Corografia Brasílica" de Aires de Casal



A Corografia Brazilica ou Relação historico-geografica do Reino do Brazil, do padre Manuel Aires de Casal, foi o primeiro livro editado no Brasil, no ano de 1817.


A "Corografia" (descrição histórico-geográfica de um lugar) foi a obra que inaugurou a edição de livros no Brasil.

Escrito por um padre, de cuja biografia pouco se sabe, o livro era dedicado ao rei D. João VI que, em razão da invasão napoleônica em Portugal, transferira toda a Corte para o Brasil, trazendo consigo a Imprensa Régia.

Dividido em dois volumes, a Corografia faz uma descrição de todo o país: relaciona cada Província e, para cada uma, refere as vilas nela existentes. Sua obra divide do território brasileiro em regiões de acordo com as bacias fluviais, utilizando o curso dos rios.

Informações extraídas do link original na Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Corografia_Bras%C3%ADlica 

Reproduzimo aqui por sua importância, o trecho entre as páginas 66 e 70.

Montes. — Nesta província não há serras, nem montes de altura considerável: os maiores ficariam em silêncio em outras províncias, ainda que não fossem montanhosas. A única serra notável é a Cordilheira, que vem do norte sempre ;i vista do mar, e no paralelo de 29°% vira para o ocidente, e depois para o noroeste com algumas tortuosidades, quebrando em muitas partes para dar passagem a vários rios, como são entre outros menores o Taquari, o Jacuí, o Uruguai, o Iguaçu, e o Paraná, que nesta paragem forma a correnteza das Sete Quedas: Serra Geral é o seu nome. 

O Monte de S. Martinho, aliás Monte Grande, é uma porção daquela serra quando divide a província da do Uruguai. 

Monte Vídio, ou Vidéu, situado no lado ocidental da baía, a que dá o nome é vistoso, e o único alto nas vizinhanças do mar. 

Castilhos Grande é um outeiro (junto à ponta do seu nome) coroado de penedos, que parecem torreões. 

O Pão de Açúcar está sobre a praia, 4 léguas ao poente de Maldonado: e o Monte de Santa Luzia pouco a leste do rio deste nome. 

A chamada Serra dos Tapes, não passando dum terreno pouco levantado, corre paralela com a Lagoa dos Patos em distância de 4 até 7 léguas, com 15 de comprimento norte-sul, e em partes 5 de largura: a do Herval fica mais ao setentrião por detrás daquela. 

Chamam-se Cochilhas as cadeias de colinas de grande extensão com pastagens para os gados, e sem árvores. 

O mencionado Pão de Açúcar é a extremidade meridional da chamada Cochilha Grande, que se estende para o norte até à origem do Rio Ariçá: é verdade que em muitas paragens a sua elevação é imperceptível, parecendo campo: dela partem outras muitas para um, e outro lado alternadamente com os rios, que também nela principiam. As do lado ocidental são-nos desconhecidas: as maiores das orientais são: a do Erval, a do Pixatinin nas proximidades dos rios destes nomes: Babiraqua nas vizinhanças do Camaquã. 

Chamam-se Cerros as porções mais elevadas das serras, e cochilhas de forma circular, pontudas, e destituídas de vegetais, de cujas sumidades se descobre grande extensão de terreno; e por isto têm servido de atalaias muitos para fazer sinais nas ocasiões de guerra. Os principais, começando ao longo da Lagoa Mirim, são: Cerro Largo, entre os rios Chuí e Jaguarão; o Cerre da Vigia, nas vizinhanças do derradeiro rio; o Cerro Baú, na cochilha grande; o Irajassé próximo às cabeceiras do Rio Negro; Cerro Pelado, sobre a margem setentrional do Piratini; o Cerro Bativi, perto da origem do Vacai; Santa Maria, numa ponta da serra geral, próximo à nascença do Vacaí-mirim; Maria Pinto, em cima da Cochilha Babiraqua; Cerro Pelado da Encruzilhada, sito nas cabeceiras do Rio Iroí; Vigia da Encruzilhada, sito em cima da Cochilha Babiraqua, denominada naquele sítio a Encruzilhada; Cerro de Mateus Simões, à margem do Capivari; Butucaraí, na margem do rio assim chamado; Monte Alegre, na margem setentrional do Rio Pardo; Monte Negro, sobre o Rio Caí; Capocaia, em cima doutra ponta da serra geral, e junto da margem meridional do Rio do Sino; o Itacolomi, pouco distante daquele na mesma ponta da serra, e vertentes do Arroio dos Ferreiros. De alguns avistam-se outros em distância de 20 léguas. 

Rios e Lagoas. — Quase todas as torrentes desta província saem dela por dois canais: o Rio Grande de S. Pedro, que deságua no meio da costa oriental, e o Rio Uruguai, que desemboca no Paraguai. A cochilha grande divide os confluentes dum e outro. 

O Uruguai principia na falda da serra, que se prolonga com o oceano: corre dilatado espaço ao poente com o nome de Pelotas, quase sempre por entre ribanceiras de rocha a pique, recolhendo os rios Caveiras, Canoas, Cachorros, e Correntes, que saem ou da falda, ou da vizinhança da mesma cordilheira, e regam a parte mais meridional da Província de S. Pedro, designada com o nome de Campos da Vacaria, que abrangem também a porção desta, que fica de serra acima. Aqui toma o nome com que acaba; e já caudaloso curva para o sudoeste, engrossando ainda com outros, que se lhe unem por um e outro lado, entre os quais se nota o mencionado Pepiri. Na latitude de 29°%, recolhe pela esquerda o considerável Ibicuí; depois o Mirinaí pela direita, quando já procura o sul; e ultimamente o Rio Negro pela margem oriental. Descreve muitas tortuosidades, forma grande número de ilhas, e dá navegação a grandes lanchas até o primeiro salto grande, que fica obra de 10 léguas abaixo da confluência do Ibicuí: as canoas sobem até o centro da Vacaria, não sem grande trabalho por causa das muitas cachoeiras e correntezas. 

O Ibicuí nasce nos campos de Iapoguaçu; 0 depois de muitas léguas ao poente, volta ao setentrião por espaço de 25, aumentando consideravelmente com os que se lhe incorporam por um e outro lado, sendo um deles o Casiqueí: um pouco abaixo do qual se lhe une o Toropi, que é maior, e vem dos campos da Vacaria procurando o sudoeste, e traz consigo o Ibicuí-mirim, que se lhe junta pela esquerda um pouco acima. Nesta confluência, designada pelo nome de ForquiIha, onde fica mui largo, volta para o ocidente, alargando de cada vez mais, de sorte que muito acima da sua embocadura já tem 400 braças. Pouco abaixo da Forquilha se lhe junta pela direita o considerável Jaguari, que vem dos mencionados campos da Vacaria. Suas beiradas são cobertas de matos, seu álveo tortuoso, e semeado de ilhas, sua corrente quase sempre tranqüila, e navegável até perto das cabeceiras dos que o formam. 

O Rio Negro tem a sua origem muito próxima à do Ibicuí: corre sempre ao sudoeste, engrossando com um vasto número de torrentes, e incorpora-se com o Uruguai 5 léguas antes dele sair no Rio Paraguai, ou da Prata, depois de ter regado um terreno de 80 léguas, povoado em grande parte de gado vacum.

O seu maior confluente é o Rio Ili, que se lhe une perto de 20 léguas acima da sua embocadura, depois de 36 léguas de curso leste-oeste por um terreno rico em criações de gado. 

O Rio de Santa Luzia, ao qual dão perto de 40 léguas de curso através dum terreno fértil, abundante de pastagens, e povoado de gado vacum, e deságua 4 léguas ao poente de Montevidéu, havendo recolhido um pouco acima o Rio de S. José pela direita, com o qual fica largo e profundo: é navegável, e forma um porto na embocadura. 

O Rio Jacuí (Rio dos Jacus) forma-se na parte ocidental dos Campos da Vacaria com a união de várias ribeiras, que a regam, e donde sai já considerável. Poucas léguas depois de ter atravessado a serra geral, vira para leste, descreve amiudadas reviravoltas por espaço de 30 léguas em linha reta; e de repente volta para o sul, e vai entrar mui caudaloso, depois de 15 milhas, no lado ocidental da Lagoa dos Patos, obra de 4 léguas abaixo da sua extremidade setentrional. 

Entre outros menores, que o engrossam depois que sai da serra, nomeiam-se o Vacai, que nasce poucas léguas ao norte do Ibicuí-guaçu e traz consigo o Vacaí-mirim, cuja origem dista pouco da do Jacuí-mirim. Estes nomes foram-lhes postos depois que suas margens começaram a ser povoadas de gado vacum. Corre manso; não tem cachoeiras; sua navegação é fácil. O Irapuã, que traz consigo grande número de ribeiras quase todas de águas turvas, salobras, e mui frias. Nas suas margens em muitas partes acha-se uma casta de pedra mole, e negra com porções brancas como de prata; arde como cepa, e então exala cheiro de enxofre, ficando em carvão mui leve, que para nada mais presta. O Butucaraí, que vem do norte, e tem uma ponte. Perto da sua foz está o Passo do Fandango. O Piquiri, incorporado com o Irai, ou Iroí, que vem do morro partido. O Tubatingaí, que se 8 Iapoguaçu, que, segundo dizem, significa pântano-grande, ocupa um terreno de considerável área cortado pelo paralelo de trinta e um. forma entre cerro partido, e a encruzilhada. O Rio Pardo, que vem de serra acima por entre matos, e não dá navegação por causa da muita penedia do seu leito: passa-se em ponte. O Capivari, que vem do mencionado morro partido. O Rio das Antas, formado de várias torrentes, que saem da falda, ou vizinhança da terra do mar, depois de grande espaço contra o poente, volta para o sul, recolhe o Tibicoari, ou Taquari, tomando-lhe o nome, e depois de 10 léguas entra no Jacuí, do qual é o maior tributário. Dá navegação a iates até à confluência, onde perde o primeiro nome. As terras adjacentes são fertilíssimas: criam formosos pinheiros, e outras árvores de boa madeira. 

O Jacuí (12 léguas abaixo do Taquari), na paragem onde de repente vira para o sul, toma boa meia légua de largura, formando uma baía, onde recolhe o Rio Caí, que vem dos campos de cima da serra com mais de 25 léguas de curso quase ao sul, e dá navegação a iates por espaço de dez; o Rio do Sino, pouco menor, que nasce em cima da mesma serra mais ao sul, e corre ao sudoeste, navegável por largo espaço: o Rio Gravataí, que principia na mesma Serra mais ao sul do precedente, corre ao mesmo rumo, e dá navegação por espaço de 5 léguas. Também lhe chamam Rio da Aldeia. 

Os rios Igarupaí, Daimar, e Gualeguaí são os principais, que entram no Uruguai pela esquerda entre a boca do Ibicuí, e a do Rio Negro. 

O de Maldonado, os dois de Solis pequeno, e grande, desaguam no golfão do Rio da Prata. 

Rio Grande de S. Pedro é o nome do desaguadouro da Lagoa dos Patos, e poderá ter 3 léguas de comprimento quase norte-sul, e uma de largura. Fica 60 léguas ao nordeste do Cabo de Santa Maria. As terras laterais são mui rasas, sem árvores, ou edifícios, que o indiquem aos navegantes, os quais só em distância de 2 léguas com tempo claro distinguem a sua abertura, onde o fluxo e refluxo raras vezes se move manso. O canal é variável: nenhum navio entra, sem que venha prático de terra para guiá-lo com uma embarcação de duas proas, em que vai diante até o porto. A

Lagoa dos Patos, que tomou o nome duma nação hoje desconhecida, como dissemos, é a maior do Estado, tendo 45 léguas de comprimento do nordeste ao sudoeste, paralelamente com a costa, e 10 na maior largura, com fundos para navios de mediano porte, e alguns baixos perigosos. Suas águas são salgadas na parte meridional; as margens geralmente rasas .É o receptáculo de quase todas as torrentes, que regam a parte setentrional e oriental da província, e cujos canais principais são a boca do Jacuí ao norte, e a do Rio de S. Gonçalo ao sui. 

A Lagoa Mirim, que quer dizer pequena, comparativamente àqueloutra, sendo de 26 léguas de comprimento com 7 para 8 na maior largura, está também prolongada com a costa, e deságua para a dos Patos por um canal de 14 de comprido, largo, vistoso, e navegável, que é o mencionado Rio de S. Gonçalo. 

O Rio Saboiati, depois de ter recolhido outros muitos, deságua caudaloso perto da extremidade meridional da Lagoa Mirim, e dá navegação por muitas léguas. 

O Rio Ohuí, que não é considerável, desemboca quase no meio da mesma lagoa: e mais ao norte o Jaguaron, que principia perto da Lagoa Formosa, dão-lhe 25 léguas de curso, e 5 ou 6 de navegação. 

O Rio Piratini, que tem sua origem na vizinhança da Lagoa Formosa, desemboca no meio do de S. Gonçalo depois de 30 léguas de curso, e dá navegação por espaço de 10 milhas. 

O Rio de Pelotas nasce na Serra dos Tapes, une-se ao de S. Gonçalo junto à sua embocadura, e dá navegação a iates por 4 até 5 léguas. Dele toma 'nome a formosa enseada, onde desemboca o que o recolhe. 

"Passando a boca do Rio de S. Gonçalo, o primeiro que se encontra é o Contagem, que poderá ter 14 léguas de extensão: o segundo é o Correntes: o terceiro o Canguçu, navegável por algumas léguas: o quarto corre com o nome de 5. Lourenço: o quinto, denominado Boqueirão, menor que todos, vem como eles da Serra dos Tapes."

"Acima do Boqueirão, no meio da Lagoa dos Patos, deságua o Camapuã por cinco bocas formadas por quatro ilhas, das quais a maior tem meia légua de circuito. Vem da Cochilha grande com mais de 30 léguas de curso rápido por entre serrotes de penedia, e só dá navegação a iates por distância de 4 léguas, sendo para cima cheio de cachoeiras. Pelo lado meridional recolhe catorze torrentes, das quais algumas têm mais de 10 léguas de extensão e pelo setentrional 150 sem que nenhuma passe de cinco. As meridionais, começando na foz do que as recebe, são: a do Pereira, que principia nas Serras dos Tapes; a do Cardoso; a do Evaristo; a do Meireles; o Sapata, aliás Caraí, que vem da mesma serra; o Arroio das pedras, que principia perto do sítio chamado Igatimi; o do Almeida; o Arroio-grande, o Velhaco, que principia na Cochilha-grande, junto do Cerro Baí, e corre por sítios fragosos: o do Fagundes, que corre 5 léguas por entre rochedos com muitos saltos: o do Rodrigues, que foge despenhado, e espumoso por penedias; o Arroio da palma, que é considerável, sereno, piscoso, e navegado por embarcações menores: as capivaras andam pelas suas margens em rebanhos de 60, e 100: o Camaeuã-Chico, também vagoroso, e recolhe entre outros um ohamado Tigre. As terras adjacentes são campinas aprazíveis, e férteis em trigo". 

Passando a foz do Camapuã para o norte, encontra-se a do Daro, ou Duro, que corre por campinas sem ribanceiras, nem mato nas suas margens, e forma algumas lagoas: depois o Velhaco, que corre apressado por entre matos: adiante o Passo-grande, vagaroso com matos pelas margens. 

Subindo pelo Jacuí acima até Porto Alegre, encontram-se à esquerda o Araçá, que principia na ponta da Serra do Erval; o de Antônio Alves, que 3 léguas acima da sua foz recolhe o Doudarilho, e dá navegação a iates. 

Na extremidade setentrional da Lagoa dos Patos deságua o Rio dos Palmares, que principia nos campos vizinhos ao Tramandali. 

Três léguas ao poente corre o Capivari, que só é corrente no inverno, enquanto a Lagoa da Serra, aliás dos Barros, recolhe as águas de vários regatos, sendo dela o desaguadouro. Esta lagoa, que poderá ter 5 léguas de comprimento, e 1 até 2 de largura, fica paralela com a Cordilheira. As numerosas capivaras, que povoam suas margens, lhe deram o nome. O terreno atravessado por estes rios é plano, de areia fina, e em grande parte alagadiço; mas cria erva, mato, e plantações. 

Ao longo da costa, que corre do Cabo de Santa Maria até Castilhos-pequeno, há várias lagoas na proximidade do mar . 

A Lagoa da Mangueira, que tem 23 léguas de comprido, e quase sempre uma de largo, está prolongada no intervalo, que medeia entre a costa e a Lagoa Mirim, para onde deságua na extremidade setentrional por um esgotadouro chamado Arroio Taim. Ao norte dele está a Lagoa Cajuba, com 6 milhas de comprimento. Na península, que medeia entre a costa e a Lagoa dos Patos, e cuja largura é de 2 até 6 léguas, há grande número de lagoas ordinariamente pequenas, das quais umas deságuam para aqueloutra, as mais para o Oceano. Entre as que se escoam para o poente, nota-se (na parte meridional) a das capivaras, na qual deságua um arroio, de água pura e limpa, que rebenta com força admirável, e é a melhor fonte da península, que todavia não é falta de águas potáveis. No lado oriental nota-se a Lagoa de Mostardas, mais conhecida pelo nome de Lagoa do Peixe, com 9 léguas de comprimento, pouca largura, 5 até 8 palmos de fundo, prolongada com o mar, para onde deságua por um sangradouro, que a natureza abre, e entope anualmente, pelo qual entra imensidade de várias espécies de pescado sendo a mais numerosa a denominada Miragaia com figura de bacalhau. Com esta mesma se comunicam várias outras, que ficam ao norte encadeadas por seus desaguadouros. Perto da derradeira, que termina não longe de Barros-vermelhos, começa outra cadeia semelhante, em pouca distância da praia, e com ela prolongada por espaço de 25 léguas ao menos. Em um dos Mss. que nos socorrem, acha-se: "de Barros-vermelhos a pouca distância para a banda do mar há uma lagoa pequena, que tem seu desaguadouro em outra maior que acaba nos capões do Retuvado, distante uma légua, e tem seu sangradouro em outra que acaba daí légua e meia. Adiante há duas lagoas emparelhadas; e mais adiante outra junto ao Capão do Xavier em distância de duas léguas, a qual deságua noutra maior chamada da Charqueada por terminar no sítio deste nome; e tem seu sangradouro em outra pequena, que deságua para outra igual, e esta em outra maior, que acaba no Capão das»Taquaras. A última deságua na do Quintão, que é grande, e sangra-se na da Cidreira, que é dividida em três sacos ou lagos comunicados por gargantas, ou sangradouros grandes, ocupando uma extensão de 4 léguas e meia. Esta da Cidreira tem um canal de duas milhas de comprimento para a dos campos do Ribeiro, que termina junto ao passo do arroio, o qual é o seu sangradouro para o Rio Tramandaí." 

O Rio Tramandaí, ao qual Pimentel chama Taramandabu, e que se acha na latitude de 30°, tem poucas léguas de curso, não sendo mais que o desaguadouro dum grande número de lagoas, em que se esgotam os extensos campos, que medeiam entre a praia e a cordilheira. Nele deságua também o mais meridional doutra cadeia de lagos, que se estende ao longo da mesma cordilheira para o setentrião até bem perto do Rio Mambituba, em cuja foz há um destacamento para registrar os que entram ou saem da Província.  

A mencionada península, formada pela Lagoa dos Patos com o Oceano, é de terreno raso com um pequeno albardão 8 pelo meio; e sendo quase em linha reta pelo oriente, forma várias pontas, enseadas no lado contrário. Entre as primeiras notam-se (começando pelo sul) a Ponta do Mandanha, onde se hão achado vestígio duma povoação, e cemitério de indígenas: depois a ponta rasa. Entre elas deságua a mencionada Lagoa das Capivaras. A do estreito. Na enseada média chamada Barranca, e que é o melhor abrigo desta lagoa para todas as embarcações, deságuam alguns arroios, em um dos quais entram canoas, em outros lanchas. A de Bujuru, 6 léguas mais ao norte. Na enseada média, e do mesmo apelido, desemboca um arroio abundante, que forma uma ilhota na barra. A de Cristóvão Pereira, 6 léguas mais adiante. Na enseada, que lhe fica ao sul, há dois volumosos montes de casca de mariscos, os quais provam quanto cs indígenas usavam deste alimento. A ponta, e Enseada da Caeira istão mais ao norte, e são as derradeiras notáveis. É terreno geralmente muito arenoso; mas tem-se achado barro debaixo da areia em partes; o que prova que a península não é formada pelas areias do mar, mas sim que estas hão coberto o terreno antigo. 

Por entre a Lagoa Mirim, e a da Mangueira desce com muitas léguas de curso o Arroio Chuí, que sai ao oceano defronte da extremidade meridional da primeira.

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