quarta-feira, 16 de maio de 2012

História elitista?

Um novo blog sobre o Capão do Leão, no seu direito de liberdade de expressão, afirma numa das suas primeiras postagens que “quase todas as pessoas que se dedicam a fazer pesquisas sobre a história, a cultura e sociedade leonense o fazem de forma elitista”. Fiquei deveras pensativo a respeito desta opinião, que certamente tem os seus ajuizamentos, embora o texto não cite nomes. Comecei, pois, a arrolar personagens que se dedicam a “fazer pesquisas sobre a história, a cultura e sociedade leonense”. Identifiquei a mim mesmo, os grandes amigos Arthur Victória e Bruno Farias, mais duas ou três pessoas que divulgam pesquisas particulares, também na web. Inicialmente, fiquei sem entender a afirmação. O que significa fazer pesquisa de “forma elitista”?

A impressão do autor do texto parece-me muito precipitada, pois dá a entender que o mesmo parte de uma conclusão íntima, que não foi ponderada adequadamente. O que me proponho é esclarecer alguns pontos que achei fora do eixo.

A história leonense e os primeiros estudos sobre a sociedade deste município remontam ao período pós-emancipação, ainda na década de 1980, com o pioneirismo estampado em artigos de jornal de Magda Costa e Vanderlei Petiz. Depois, em 1993, a pioneira obra Capão do Leão: Povo Identidade do frei Sylvio Dall’Agnol, que foi a primeira a propor um delineamento histórico do Capão do Leão. Mais tarde, nos anos 2000, com a facilidade trazida pela internet, outros trabalhos puderam ser expostos ao público, tanto o meu, quanto dos amigos supracitados. De lá para cá, o que ficou claro é que muita coisa sobre a história do Capão do Leão, em particular, estava sendo descoberta, exposta, divulgada, discutida!

Agora tenho o meu ponto de partida. O que quero apontar é que não consigo compreender que uma pesquisa histórica ou pesquisa social sobre o Capão do Leão possa ser feita de modo elitista. A razão para mim parece-me simples: todos aqueles que se dedicam a este ínterim estão descobrindo fatos, formando acervos de informações sobre coisas das quais pouco ou nada se sabia – literalmente “cavoucando” saberes. Como, então, pode-se fazer pesquisa de modo elitista se sequer temos um conhecimento histórico e/ou sociológico sobre o próprio município SUFICIENTEMENTE construído? As fontes (documentos, fotos, artigos, textos, causos, etc.) que nos chegam são divulgadas porque temos a importante preocupação de explicitá-las, tornar suas informações ou aquilo a que elas remetem conhecidas. Não selecionamos informação, ou achamos tal e tal coisa mais “bonita” que outra. Numa pesquisa científica, você junta dados (estudem Metodologia!) e os classifica.

O autor do texto induz que os pesquisadores estariam predispostos a buscar este ou aquele elemento de pesquisa, de acordo com uma predisposição pessoal, deixando o resto para trás, como se estivessem qualificando este resto como algo menos importante. Só que não existe resto! Conscientemente, busca-se ao contrário, aproveitar tudo aquilo que pertença ao patrimônio cultural imaterial do município e compartilhá-lo!

Veja o caso da vizinha cidade de Pelotas. Lá existe um conjunto de pesquisadores e obras por longo tempo construído. Existem algumas referências sobre a história local que já são pétreas. Neste caso, sim, há como fazer pesquisa “popular”, “elitista”, “conservadora”, “moderna”, “marxista”, etc. e tal. Sobre Pelotas existe um conhecimento consolidado e, dependendo do objeto de pesquisa, o sujeito direciona seus métodos a chegar a conclusões pré-estabelecidas. Como fazer isso aqui no Capão do Leão, onde o que mais se procura são informações sobre o passado... Algumas destas informações que seriam básicas, ou eram desconhecidas, ou ainda o são!

Outro trecho que achei sem muito sentido é o seguinte: “Praticamente desconsideram que todo morador está construindo e fazendo parte da história local, independente de ter nascido na ‘Vila do Capão do Leão’ e visto a emancipação acontecer, ou ter vindo morar aqui para trabalhar e construir a sua família, somos todos leonenses e construímos dia após dia, a história, a cultura e a sociedade do local no qual vivemos”. Sinceramente, não consigo enxergar o que seja esta pretensa “desconsideração”, isto é, onde ela está escrita ou subentendida, ou mesmo radicalmente afirmada em qualquer fonte (impressa ou midiática). Aliás, nunca sequer teorizou a respeito de uma identidade leonense. O que existe são estudos diversos sobre os mais diferentes objetos, cujo foco procura a elucidação racional dos fatos. A impressão que tenho é que o autor do texto compreende erroneamente os resultados das pesquisas e termina por deduzir uma conclusão íntima, isenta de adequada avaliação.

Talvez ele compreenda que os objetos pesquisados são excludentes em relação a outros fatos. Pode ser. A questão é que aquilo que se pesquisa é o QUE SE PODE PESQUISAR ou QUE SE PODE SER RACIONALIZADO E EXPLICADO. Simples assim. Aliás, não consigo perceber onde ocorra um critério seletivo nas narrativas. Queria, sinceramente, exemplos.

Reservo-me ao direito da réplica, pois considero que determinadas colocações carecem de argumentos demonstrativos mais sólidos e coerentes. Não pretendo ofender ninguém, mas faço o registro da minha opinião.

9 comentários:

Jesus Madeira disse...

O bom seria que quem escreve tivesse pelo menos a honra de identificar-se, não é Professor?
Mas tudo bem, todos sabemos de onde parte!!

Nero disse...

Amigo, é inevitável que isso ocorra. As pessoas não tem ainda cultura suficiente para analisar as coisas como são.

Juliana Ploharski disse...

Joaquim, não imagino que alguém tenha conhecimento tal como você tem sobre Capão do Leão. Assim como os outros que você cita também fazem um trabalho incrível. Mostrei teu blog no Paraná e a turma ficou boquiaberta e perguntaram se você recebia algo pelo trabalho que faz. Ficaram mais admirados ainda quando disse que você fazia porque gostava. Teu trabalho é dez!

Anônimo disse...

Isso parece coisa planejada, hein? Não acredito que um grupo de jovens tenha escrito aquilo ali.

Anônimo disse...

Seu blog é o melhor que há sobre a história do Capão do Leão, moro no bairro Fragata mas em breve estarei me mudando para o Jardim e foi muito bom ler sobre o lugar onde eu irei morar. Sempre gostei do Capão do Leão até porque nasci dois meses antes da emancipação e achava o máximo, quando eu era criança, ser mais velho do que uma cidade! LOL! Não consigo ver nada de elitista em seu blog, vc aborda tanto assuntos de peso e também fatos do cotidiano. Parabéns!

Anônimo disse...

Quem escreveu aquilo, além de não ser homem o bastante nem pra se identificar, ainda o fez sem base nenhuma, sem qualquer coerência e sem o mínimo de conhecimento.

Maria da Glória Ramos Telles disse...

Você já poderia estar muito bem de vida se comercializasse o que escreve. O blog é rico em informações e imagens. Uma jóia. Mesmo assim, sem custo algum, as pessoas ficam sabendo de fatos importantes de sua cidade.
Liga não. Coisa de gente sem capacidade. Inveja mesmo!

Joaquim Dias disse...

Muito grato pelas palavras. Já me disseram isso também: a possibilidade de lucrar com o que escrevo. Mas esse não é meu objetivo imediato. Abraço!

Joaquim Dias disse...

Na faculdade aprendi a respaitar a opinião alheia e me calar quando não tinha razão. Mas para tudo tem que haver um bom argumento. Falar as coisas ao léu no anonimato realmente torna-se muito fácil.

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