sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Weihnachtskäfer - O Besouro de Natal Teuto-Brasileiro


"BESOURO DE NATAL

'WEIHNACHTSKÄFER'

A cigarra que canta durante o verão é figura central de lenda infantil. - Quando os preparativos natalinos tomam vulto ponderável, as mães valem-se do estrídulo do hemíptero e fazem a lenda. A finalidade é conseguir disciplina dos seus peraltas. É criação autêntica do teuto-brasileiro, pois na Alemanha durante o Natal não existe besouros e muito menos a nossa cigarra que é dos trópicos e de terras da Europa meridional. Em besouros na Alemanha o notório chama-se 'MAIKÄFER' ao pé da letra: besouro-de-maio, que é um grande inimigo das plantações.

'Weihnachtskäfer' é vocábulo do folclore do teuto-brasileiro, perfeitamente ajustado numa lenda bonita e curta, porém, com significação profunda. Sua tradução ao pé da letra é: Besouro-de-Natal porém assim nunca é chamado. 'Weihnachtskäfer' ou Cigarra. O estrídulo melódico silvestre empresta colorido à presença dêste auxiliar de Papai-Noel. Como acham no misticismo bem do gôsto germânico: a cigarra lembra a proximidade do Natal, e para a petizada traquina ela trabalha para Papai-Noel ou seja São Nicolau que, entre nós é comumente 'NICOLAU' e 'WEIHNACHTSMANN', nas áreas urbanas tem o primeiro nome e nas rurais, mais fechadas aos contatos sociais com outros meios, é, conhecido com o segundo. O trabalho da cigarra é anotar peraltices e dá-las para o Papai-Noel, que, por sua vez, pune os traquinas não dando presentes-de-Natal.

O solene momento quando a árvore-de-Natal é acesa o Papai-Noel entra com seu saco de estopa, suas roupas usadas, sua barba tradicionalizada e voz falseada. Se Papai-Noel não pode chegar até a casa que tem uma árvore acesa as clássicas velhinhas coloridas já deixou os presentes em seus lugares. O momento de acender do pinheiro-de-Natal, que é a árvore popularmente usada, reveste-se de misticismo emotivo e feliz. Mesmo os que passaram dos trinta são empolgados pelo sentimento da consagração da natividade e vão também verem o que foi deixado pelo Papai-Noel ou receberem de mão própria. Do ancião ao traquinas ainda fóra da idade escolar o momento prende. Chama a hora de receber o que está sôb às luzes da árvore-de-Natal num só vocábulo: 'WEIHNACHTSBESCHERUNG'.

Como dizíamos, anteriormente, a Cigarra conta a Papai-Noel as diabruras dos meninos traquinas. Como elas os traquinas sabem que correm o risco de não receberem o que encomendaram, na época das cigarras fiscais do velho que é dono de tôdas as fábricas de brinquedos do Universo, portam-se como meninos que não põem milho em anzol para pescar pintos. Se o peralta açula seu cachorro para fazer os gansos voarem ou corta os bigodes do gato, a mãe lembra-lhe que a cigarra irá contar ao Papai-Noel. Assim conseguem tréguas durantes os mêses e dias antecedentes do Natal, as mães teuto-brasileiras.

Não é difícil ouvir-se antes do Natal de uma mãe para o seu traquinas: 'WEIHNACHTSKÄFER' vai contar para 'NICOLAU'... e êle não te traz presente... O peralta sai bisonho observando donde vem o estrídulo da cigarra e por minutos suspende as traquinagens. Assim o estrídulo das cigarras que no verão infestam as árvores, entram na organização das comemorações do Natal na sociedade teuto-brasileira.

Nas localidades mais isoladas , o processo aculturativo mais lento permite a presença dos vocábulos: 'WEIHNACHTSBAUN' que vem a ser Árvore-de-Natal; 'WEIHNACHTEN' mesmo que Natal, e nestas Papai-Noel ou 'São Nicolau' tem o cartão de visita no original 'WEIHNACHTSMANN'.

Senhora residente na área urbana, certa vez ralhou com seu peralta de alta categoria, peralta titulado, perguntador, curioso, levado; ralhou ameaçando de mandar a cigarra contar para Papai-Noel as peraltices do dia. No momento uma cigarra rompeu seu estrídulo. O traquinas que sabia do papel da cigarra no trabalho de informação ao Papai-Noel ficou imóvel, visivelmente, arrependido aquietou-se de modo tal que sua mãe apiedada do susto procurou reanimá-lo e mandou que êle fôsse enxotar os passarinhos da figueira. Não custou muito e o peralta voltou com autêntica ('Weihnachtskäfer') cigarra esborrachada por uma pedrada... Alegando que o besouro também furava figos.

E não sabia que era um dos muitos informadores de Papai-Noel que ele havia apedrejado... nem lhe disseram.

O mais belo nesta lenda é que mesmo quando a criança consegue identificar 'Weihnachtskäfer' como a simples cigarra e seu papel na ilusão infantil de Papai-Noel, não renega nem o esquece como o Besouro-de-Natal. Fica a história como lembrança os preparativos da festa natalina; fica com saudades dos primeiros presentes, dos primeiros sustos sob os olhos e barbas do Papai-Noel: fica nestes restos de misticismo como pano de fundo para o pinheiro iluminando de velinhas multicores, com frutas, sinos e animais coloridos. Até ficam mais lendárias por viverem a estridular, ficam ligadas a dias de sol, árvores mais verdes, flamboyant florido, chorões cariciosos, uma das grandes festas da cultura germânica e às esperanças com o ano novo. Preferem chamá-la 'Weihnachtskäfer' pelo sabor lendário, como de terras distantes e de séculos remotos. Embora seja da imaginação do teuto-brasileiro no espontâneo da organização do seu folclore."

Fonte: JAMUNDÁ, T.C. Cigarra, cachimbo, cigarro-de-palha e cerveja na sociedade teuto-brasileira. IN: COMISSÃO CATARINENSE DE FOLCLORE. Boletim Trimestral, n. 12. Florianópolis/SC: Imprensa Oficial de Santa Catarina, 1952, pág. 26-28.

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