"Olímpia Muquirana
É filha do falecido padre Benjamin, que foi vigario da freguezia do Arroio Grande (RIo Grande do Sul), padre tão devasso como a filha tem sido até hoje!
Fez 27 annos, no dia 3 de Abril proximo, casou se aos 16 annos em Pelotas, com um hespanhol chamado Domingos, que exercia profissão de tamanqueiro.
Ao cabo de alguns mezes de casada fugia do marido para lançar-se na vida de prostituição!
Elle homem honrado e de bons sentimentos teve tal desgosto que começou a dar se o vicio da embriaguez e morreu um anno depois!
Ella vestiu-se de vermelho no dia do enterro e esteve a janella vendo passar o prestito funebre e a dizer para as visitas, em ar de mofa, que estava de luto porque lhe tinha morrido o seu marido!
Ainda escarnecia e insultava o cadaver do homem que ella tinha deshonrado e assassinado!
Continuou em Pelotas na vida airada, tendo tido diversos amantes e entres elles um tal Aurelio Roque, homem que se sacrificou por ella a tal ponto, que veio morrer ha pouco mais de um anno desgraçado na Barra Mansa!
Em Pelotas tambem é muito conhecida na classe dos cocheiros, chegando a ser frequentada por alguns d'elles que ainda lá estão!
Era frequentadora dos bailes da Bicha (em Pelotas), bailes de tal ordem que a autoridade teve de os mandar prohibir taes eram as scenas que la se passavam!
Estando completamente desmoralisada em Pelotas, mudou-se para o Rio Grande onde encontrou um homem generoso que (não conhecia) levantou-a da miseria; não levou porem muito tempo ella não pagasse os beneficios d'aquelle homem com a maior ingratidão!
É impossivel contar tudo quanto ella fez no Rio Grande; bastará só dizer que estando ali amaziada, um dia fugiu para Pelotas atras d'um carpinteiro hespanho que trabalhava no theatro Simões.
Depois de muitas peripecias e d'uma vida de escandalos, um bello dia fez leilão de tudo e embarcou para Santos, muito arrebentada, porque trazia apenas 800 mil reis, producto da mobilia vendida e d'uma vida dissoluta de 8 annos!
Em Santos no hotel Madrid continou a vida do Rio Grande do Sul e ao cabo de tres meses embarcou para o Rio de Janeiro, trasendo apenas alguns mil reis dos 800 com que tinha chegado!
Chegou a esta cidade nos fins d'Agosto de 1886. Antes tivesse vindo o cholera-morbus, ou qualquer epidemia semelhante!
Foi para a rua do Rezende, para um hotel particular; mas taes cousas fez logo que foi posta fóra ao cabo de trez dias.
Mudou-se para a rua do Espirito Santo n. 14, e alli tambem pintou a manta. A primeira conquista que fez foi a de um aprendiz de sapateiro que morava nos baixos da casa!
Dias depois encontrou um paio (que tambem teve a infelicidade de não a conhecer) a quem fez muitas choradeiras, conseguindo d'esta forma que elle a protegesse sincéramente, e a quem ella pagou mais tarde na mesma móeda que já tinha pago aos outros!
É mulher astuta cynica e muito devassa!
Ella não aprecia qualidades moraes de pessoa alguma; pois pertence exclusivamente á escola materialista!
Toca clarinette, mas não é boa artista n'este genero de instrumento, segundo dizem os diversos amadores que a teem ouvido!
Tem como azeiteiro um sujo igual a ella nos sentimentos!
Tem igualmente uns marchantes muito parvos de quem ella se ri com o azeiteiro!
Tambem teve ao seu serviço no mez de Outubro de 1886 um criado chamado Antonio Segurelha. A historia dos serviços que aquelle criado lhe prestou contada por ella é muito interessante. Vale apenas ouvir a tal historia!
Ella está esbodegada de todo, está velha, tem dentes postiços e os demais quasi todos podres. Tem um halito pestilento, de maneira que é necessario ter muita coragem...
Está cada vez mais desmoralisada e mais canhão!
Carepuna."
Fonte: CARBONARIO (Rio de Janeiro/RJ), 15 de Outubro de 1888, pág. 03, col. 03, pág. 04, col. 01; 17 de Outubro de 1888, pág. 03, col. 02
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