Chegou ha dias ao conhecimento do Paiz um facto dos mais revoltantes, que, no período mais negro da escravidão, havia de nos sorprender, e causar a mais legitima indignação.
Assim o noticia a alludida folha:
'Ante-hontem, na estação da Serraria da estrada de ferro Central, um fazendeiro que ahi é tido como um papão medonho, a quem não se ousa contrariar, perseguiu um preto, que foi seu escravo, e que ultimamente não tem mais querido estar ao seu serviço.
Pensando que ainda dispõe do direito senhorial para coagil-o a fazer o que não é da sua vontade, o homem terrivel, montado n'um rossinante, corria á cata do preto, e encontrando-o junto á estação, açoutou o barbaramente e em publico, chegando mesmo a fazer uso de um agulhão que tinha na ponta do cabo do chicote.
O preto, soltando-se-lhes das mãos, correu em direcção ao Estado do Rio, apenas dividido n'esse ponto do de Minas Geraes por uma cancela, e transpondo-a ia atirar-se a um affluente do Parahyba que por ali passa. O homem montou a cavallo, fustigou o animal, alcançou a sua victima, derrubou a, amarrou-lhe as mãos, montou de novo, e poz-se em marcha, trazendo-o de rastos.
O pessoal da estação avançou, então, para o desalmado, e arrebatou-lhe a infeliz creatura victima da sua feroz prepotencia, dando lhe voz de prisão.
Inutil. O homem tem as costas quentes. A auctoridade policial, chamada de Juiz de Fóra, não compareceu nem deu resposta alguma. O potentado dorme sobre os louros da sua repugnante violencia, livre de qualquer incommodo.
O governo da Republica, tendo agora, por nós, conhecimento d'isto, cruzará os braços diante do crime?
Não faltam provas á justiça. Trinta e tantos homens, empregados e visinhos da estação da Serraria, presenciaram e acudiram.
Poderemos contar com a punição?"
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 25 de Abril de 1892, pág. 02, col. 02
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