terça-feira, 21 de abril de 2020

A morte de Silva Jardim


"A morte de Silva Jardim

Conta a Gazeta de Noticias:

'Chegou a Paris, na manhã de 3 do corrente, o sr. Joaquim Carneiro de Mendonça, cavalheiro muito conhecido e estimado na sociedade fluminense, e que era o companheiro de Silva Jardim na excursão ao Vesuvio, no dia 1, em que este ultimo foi tragado pela cratéra em plena erupção.

O sr. Mendonça tinha estado pouco tempo antes no norte da Italia com Silva Jardim, que deixou em Milão, voltando para Paris, onde está sua familia; mas, cedendo a instancias d'aquelle, prometteu-lhe voltar e ir ter com elle á Roma, de onde seguiram para Napoles.

Ahi, Silva Jardim propoz a excursão ao Vesuvio, apezar dos conselhos dos amigos, que diziam a occasião menos propria, por ter estado o vulcão ultimamente em grande ebulição, produzindo tremores de terra, que se têm propagado a grandes distancias; mas, Jardim a nada attendeu: queria ir e foi. O sr. Mendonça acompanhou-a a contragosto. Estiveram primeiro em Pompeia, que visitaram minuciosamente; depois subiram, parte a cavallo, parte a pé, sem se servirem do caminho de ferro funicular. A excursão durou mais de tres horas, e eram sete da noite quando chegaram ao alto, acompanhados por um guia.

O sólo era movediço; parte, areias em que o pé afundava: parte, rocha abalada. Jardim avançava sempre, apezar de ver a delicadez da situação.

- Comprehendo agora, dizia elle, a morte de Plinio. Aqui, si nos falha o terreno, não ha para onde fugir.

Espessas nuvens de fumaça sulfurosa envolviam-nos. De repente uma grande facha de terreno, á beira da cratéra, abateu, levando para o abysmo o pobre Silva Jardim, victima de sua temeraria curiosidade; a parte contigua rachou e o sr. Mendonça caiu, mas não bastante fundo que não podesse em um supremo esforço içar-se, no que foi auxiliado pelo guia que, achando-se além do ponto em que Silva Jardim caira, deu volta a correr, para salvar-se. Poucos passos tinha dado o sr. Mendonça, quando a facha de terreno em que elle se achára abateu de todo. Este cavalheiro teve uma das mãos bastante queimada.

Na data a que nos referimos (3 de julho), a viuva de Silva Jardim ainda não tinha noticia do triste fim de seu marido. A virtuosa senhora tinha ficado em Villers-sur-mer, e era esperada em Pariz a 5."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 04 de Agosto de 1891, pág. 01, col. 02

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