domingo, 19 de maio de 2019

Comemorações de Carnaval no Rio Grande do Sul - 1891


"Na livraria Mazeron existem á venda figurinos á phantasia, para o carnaval."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 14 de Janeiro de 1891, pág. 02, col. 03

"O carnaval, este anno, terá em Pelotas muita animação."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 02 de Fevereiro de 1891, pág. 02, col. 02

"PIPAROTES

Em sua edição de hoje o meu collega do Jornal escandalisou o bom povo bagaduano do 3o. districto, noticiando que ahi começaram os festejos carnavalescos ao som de folhas velhas.

Protesto contra a dureza do conceito, em meu nome e no d'Os Cotubas, que são os herdeiros legitimos das tradições burlescas do 3o. districto, legendario pelas pugnas entre bagadús e tinteiros, de que outr'ora foi theatro.

Carnaval de folhas velhas, não; carnaval de legitimos zabumbas (sem allusão a refinado tintureiro...) e caixas de ruffo com que Os Cotubas refestelam dia e noite os pacatos moradores do Alto da Bronza, da Ponta das Pedras, da Passagem, da frente do gazometro, da rua do Tavares, etc.

Duvido que os meus leitores já tenham visto irreverencia maior do que esta de chamar de carnaval de folhas velhas ao carnaval instituido pela Rôxa Saudade, aquella saudosissima associação que elevou o páo á altura do sr. Annibal ou de um principio.

Ah! si a Rôxa Saudade existisse, outro gallo cantaria.

Ahi é que eu queria vêr como se havia de arranjar o meu collega do Jornal, si elle se atrevesse fallar-lhe de folhas, velhas ou novas.

Não vê mesmo que a Rôxa era d'essas de levarem desafôro para casa! Boas!

Por muito menos ella armou um sarilho doido, que as chronicas do tempo referem ter tomado as proporções de um arranca-rabo gigantesco.

Lembro-me que o samba se deu em uma casa de familia e que o cacete não deixou ficar pedra sobre pedra.

O bruto não respeitou nem mesmo o sr. Annibal, que na occasião era subdelegado e estava no galarim da fama.

E emquanto roncava a bordoeira, a banda de musica do saráo, já então postada á distancia respeitosa, não deixava arrefecer o ardor dos pelejadores, executando o bellicoso hymno Ataca Fellipe...

✤✤✤✤✤

O Cara-Dura, club carnavalesco, inaugurou hontem a sua caverna á praça da Alfandega, por cima da barbearia do cidadão Allibert.

Por essa occasião fizeram-se ouvir diversos oradores, alguns d'elles reproduzindo espaventosos e conhecidos arengadores de meetings.

<<Meus concidadãos, - declamava lugubremente o primeiro discursador - ; eu vos pertenço, porque sou da guarda velha, porque sou do povo, porque venho pugnar pelos vossos direitos inilludiveis, pelos verdadeiros principios protrahidos; hontem como hoje, amanhã como sempre eu estarei a vosso lado luctando para que a Marmota não seja fraudada. A Marmota! A Marmota!! A Marmota!!

Foi ruidosamente applaudido por grande massa popular o espirituoso orador, bem como o que lhe succedeu na tribuna; este era cópia de arrevezado politico musical-unionista, de quem me occupei nos ultimos piparotes.

Causou enorme hilaridade o pseudo dr. Koch com o seu interprete, a explicar ao povo a origem da lympha contra a tuberculose e o modo de applical-a.

Gostei muito d'essas pilherias.

Outro tanto não posso dizer em relação ás que se referiram a Pedro Banana, á religião e ao Christo venerando.

LYDIO."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 03 de Fevereiro de 1891, pág. 01, col. 03

"Gremio dos terriveis

A commissão d'esta sociedade communica aos srs. socios que na noite de 14 do corrente terá lugar o baile correspondente ao mez andante, no salão Cosmopolita, sito á rua dr. Flores; outrossim avisa-se que propostas de socios e pedidos de convite só serão attentidos até o dia 12, na casa de residencia do abaixo assignado, á rua da Republica n. 16.

Porto Alegre, 5 de fevereiro de 1891.
Abrilino da Costa Godinho."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 05 de Fevereiro de 1891, pág. 03, col. 01

"Durante os tres dias de carnaval haverá trens extraordinarios pela estrada de ferro de Porto Alegre a Novo Hamburgo, como se vê da tabella publicada."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 07 de Fevereiro de 1891, pág. 02, col. 03

"CARNAVAL

O club Cara-dura encheu bisarramente o segundo dia de carnaval, apresentando em longo prestito espirituosas criticas e bonito carro de triumpho em que se viam, trajando com elegancia, rapazes imitando engraçadamente duas moças gentis.

Representava, esse carro, um cesto amparado, ao fundo, por um leque aberto.

Viam-se mais, no prestito:

Uma critica ao bal-rose do Eden; faziam-n'a rapazes montados em bestas e ostentando vestes côr de rosa;

Uma banda de clarias;

Esquadrão de cara-duras;

Critica á questão do porto de Torres;

Critica a um arengador das massas, fazendo meetings á rua da Floresta, na Azenha e nos chafarizes das praças;

Criticas á separação da Igreja do Estado e á questão do badallo, esta ultima entre a intendencia e um sineiro;

Bandas de musica, etc.

Durante todo o passeio foi muito applaudido o club, que terminou o trajecto á noite, á luz de fogos de Bengala, não tão abundantes como pretendiam os cara-duras; á rua Voluntarios da Patria tiveram elles um prejuizo de oitenta duzias de fogos, que incendiaram-se no carro em que eram conduzidos.

✤✤✤✤✤

Hontem, quando se agglomerava o povo, á rua dos Andradas e praça da Alfandega, á espera da conclusão das festas, desandou uma chuva impertinente, que se prolongou até a tarde da noite, impedindo, assim, que a Esmeralda fizesse o seu passeio anciosamente esperado.

A distincta sociedade carnavalesca soffreu não pequeno prejuizo com esse contratempo, que a determinou a transferir para amanhã o seu passeio e baile.

✤✤✤✤✤

O entrudo, hontem, esteve fortissimo, brutal, dando lugar a scenas revoltantes.

Parece que, quanto mais intensa era a chuva, mais subia o excesso da parte dos jogadores, que praticavam verdadeiros desatinos.

Na praça da Alfandega havia individuos que atiravam baldes d'água e punhados de polvilho, indistinctamente, provocando conflictos.

E, quando um transeunte, insultuosamente molhado e polvilhado repellia o desafôro, era esbordoado pelos jogadores, e, em seguida, conduzido preso á cadêa civil, por patrulhas.

Occorreram, d'esse modo, prisões de muitos cidadãos, que tiveram de sujeitar-se aos tratos de presos correccionaes.

D'esses factos, que podiam ter tido graves consequencias, não tem responsabilidade o dr. chefe de policia, que providenciára de modo a evital-os o mais possivel.

Mas, a policia provavelmente ha de tomar na consideração devida as desagradaveis occorencias de hontem e adoptar energicas e criteriosas medidas para que ellas não reproduzam-se.

O jogo de entrudo, tal como se praticou hontem, deve ser prohibido a bem da ordem publica.

Elle dá lugar a que certos individuos desattendam a imprescriptiveis deveres de educação, molhem pessoas a quem não conhecem, e até dirijam-se accintosamente a quem os detesta."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 11 de Fevereiro de 1891, pág. 02, col. 02-03

"PIPAROTES

O Carnaval decáe, de anno para anno.

Nota-se uma degeneração em quasi todas as suas manifestações.

Este anno a pornographia entrou nos dominios do bestialogico, a offensa penetrou nas exhibições da critica, o polvilho, o balde d'agua e a durindana perturbara com o costado de muito pobre diabo no palacete amarello da ponta das pedras.

Ainda hontem, a proposito, a picareta do sôr Dias excavou cousas extraordinarias: um grupo de moços distinctos atirou limões nas janellas das casas, foram recebidos nas proprias janellas, que eram as victimas, que viam que QUEM os ARREMESSAVAM, as janellas do orgam official, atiraram-lhe limões innocentemente, UM PESO DO PESO de 800 grammas penden sobre as cabeças de um moço, de uma senhora e de uma criança, veiu á balla outro peso, o da indignação, etc.

Vejam só que achado importante foi o do operoso ministro: uma penca de tres pesos!

Pobre de nossa terra!!!

LYDIO."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 13 de Fevereiro de 1891, pág. 01, col. 02


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