Campanha eleitoral acontecendo em Pelotas na década de 70
e era consenso que a extinta ARENA elegia muitos vereadores a cada pleito
graças à zona rural. Lógico, naquela época, Capão do Leão, Morro Redondo,
Turuçu e Arroio do Padre compunham a zona rural de Pelotas, nenhum havia ainda
se emancipado. Apesar do Capão do Leão ser mais emedebista devido à atuação do
vereador Elberto Madruga, os arenistas conseguiam arraigar uns bons votos por
aqui e também nos arredores.
Foi
então que o comitê da ARENA pelotense organizou uma série de atividades num
domingo para promover seus candidatos, com almoço, panfletagem e toda a sorte
de propaganda que hoje seria seguramente proibida. O roteiro escolhido iniciava
no Passo do Salso, passava pela Vila Nossa Senhora de Lourdes, com carreata no
Jardim América e almoço na Vila do Capão do Leão no antigo Salão do Manoel
Selmo. À tarde, passariam pelo Cerro das Almas, Passo das Pedras, Corticeira e
terminariam na Capela da Buena, onde seria feito um pequeno comício
improvisado. Na Capela da Buena, ainda haveria concentração de pessoas de
outros locais de Morro Redondo, pois alguns cabos eleitorais já teriam de
antemão providenciado o transporte de muitos eleitores até o local.
O tal
domingo aconteceu com muito entusiasmo dos arenistas, distribuição de brindes e
discursos animados. Só que na conclusão da caravana, havia um pequeno problema:
a presença de um vereador da ARENA candidato à reeleição que era mal visto
pelos moradores da Capela da Buena. Pouco tempo antes, o dito vereador teria
dado uma entrevista à Rádio Tupancy em que se discutia problemas relacionados a
zona rural pelotense e se referira à Capela da Buena como “Capela dos Ladrões”.
Para piorar, um antigo cronista do Diário Popular de Pelotas estampou a gafe no
jornal e a notícia ganhou repercussão, chegando obviamente aos ouvidos dos
moradores da localidade.
O que
pouca gente sabe, é que a Capela da Buena teve durante muitos anos a alcunha
pejorativa de “Capela dos Ladrões” devido ao abigeato que ali foi infelizmente
muito comum no passado. Todavia, como diz o ditado popular “quem conta um
conto, aumenta um ponto”, a fama cresceu injustamente, pois passou a se dizer
que na “capela só tinha ladrão!”. O que era uma provocação cômica seguramente,
mas que tinha um caráter ofensivo aos próprios moradores. Tal qual dizer que
“Pelotas é a terra dos homossexuais masculinos”.
Como não
havia o que ser feito, já que o dito vereador estivera presente durante todo o
domingo nas atividades do partido, o comício na Capela da Buena iniciou sob um
clima de certa tensão. Fala um candidato, fala outro candidato, e chega a vez
do visado candidato que tinha falado mal da Capela:
- Meus
amigos da Capela da Buena, os senhores e as senhoras sabem das mudanças que
Pelotas está tendo nos últimos anos, das obras que nosso digníssimo prefeito
Ari[1]
tem tocado em toda a cidade e também na zona rural, dos poços artesianos que
foram abertos, do programa de seguro contra o granizo... Não podemos parar... O
governador Guazelli[2]
tem tido um cuidado especial com nossa região, no incentivo à produção das
fábricas de conservas, de nossa pecuária... É preciso eleger uma câmara
municipal forte para ajudar nosso prefeito...
Neste
momento, um destemido eleitor exclama do meio do povo, inconformado com as
bravatas do candidato:
- Tu
queres o quê, sem-vergonha, fdp?! Vais dizer que irás trabalhar pela Capela? Tu
mesmo disseste que aqui na Capela só tem ladrão! Vais trabalhar pelos ladrões?
O
candidato sem perder o rebolado segue no ataque:
- Meu
caro amigo, o povo da Capela da Buena é um povo muito bom, muito trabalhador!
Como o povo aqui é carinhoso, amigo, eu mesmo conheço e já tomei café na casa
da Tia Maria, do Seu Antenor... bah, que coisa boa! A gente se apaixona por
este lugar... que lugar bacana! Por isso, eu digo sim que na Capela só tem
ladrões... ladrões de nossos corações!!
Um comentário:
Gostei muito do artigo, gosto muito de saber destas historias..... parabéns pelo belíssimo blog... que irei seguir diariamente....
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