CANIVETADA
Na casa n. 11 do becco das Escadinhas estavam hontem á tarde reunidos alguns individuos conhecidos por cabos-verdes, que se entretinham em uma dança caracteristica de sua terra.
Ao chegar o de nome Braz José de Pina, interrompeu a dança o dono do predio, José Pedro Delgado, para dizer-lhe que não queria que morasse mais em sua casa e que lhe pagasse o que devia.
Notaram os assistentes que Braz estava embriagado, e aterrados viram-o armar-se repentinamente de um canivete que trazia, e enterral-o no hypocondrio esquerdo de Delgado.
Os intestinos da victima ficaram de fóra, e ainda assim deu elle prova de uma coragem pouco vulgar, seguindo a pé até á pharmacia da rua da Saude, levado pelo alferes Baptista, commandante da 7a. estação, e por pessoas do povo.
Com a confusão que houve, pôde Braz esconder a arma, sendo, porém, preso e recolhido ao xadrez da referida estação.
Na pharmacia citada não foi Delgado medicado, por declararem os Srs. Drs. Mello Braga e Mendes Costa, que alli compareceram, grave o seu estado e não poder ser o curativo alli feito.
Por ordem do alferes Baptista, foi o infeliz transportado em uma rede para o hospital da Misericordia.
Feito isto, foi Braz interrogado pelo alferes Baptista que lhe perguntou em que logar escondera o canivete, ao que, respondeu aquelle, que, se o levassem, mostraria o logar.
Acompanhado por praças, seguiu Braz até o local onde se dera o crime, e, com o maior cynismo, dirigiu-se a uma estalagem que alli existe e tirou o canivete de uma barrica de lixo que estava por baixo de uma escada.
O canivete é de tartaruga com guarnição de metal amarello, e de tamanho regular. Uma das laminas, a maior, estava manchada de sangue.
O Sr. Sadoch de Sá, subdelegado do 2o. districto de Santa Rita, fez lavrar o respectivo auto de flagrante contra o criminoso.
Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 29 de Novembro de 1887, pág. 01, col. 04-05
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