terça-feira, 24 de março de 2020

Os mineiros belgas no século XIX


"Tratando das grévez na Belgica, do inquerito procedido pelas autoridades de Gand e Charleroi a proposito dos disturbios de que temos dado noticias, escrevam de Paris ao Seculo de Lisboa:

'Os mineiros são incontestavelmente os mais dignos de lastima. Ganham pouco, e o trabalho é arduo e pernicioso á saúde. São tambem elles que mais vexames supportam dos patrões e das companhias. Os mineiros pedem que as horas de trabalho sejam fixadas por lei, afim de que o director da mina não possa dizer-lhes como, já tem acontecido: 'Se lhes dou ordem de ficarem no fundo até á meia noite, hão de ficar'. Actualmente os mineiros trabalham debaixo da terra a média de 11 horas por dia, e alguns ha que descem ás 9 horas da manhã para subirem só ás 10 e 11 da noite!

E este trabalho é pago nas minas de Charleroi por 25 a 35 francos, por quinzena, isto é, 4$500 a 6$300. Os carregadores ganham 2 francos a 2,40 (360 a 420 réis) por dia; os ajudantes 1 franco 50 e 2 francos (270 a 360).

Um delegado em seu depoimento diz: 'Quando o carvão é menos resistente diminuem-nos o salario, sem nos prevenir; só sabemos da reducção no momento de receber a féria. Se pelo contrario, o carvão é mais duro não temos augmento por isso'. Outro operario conta que nas minas de carvão de Martinet fizeram trabalhar raparigas de 14 annos 24 horas seguidas, promettendo lhes salario dobrado, mas a promessa nunca foi cumprida.

Um mineiro narrou, com as lagrimas nos olhos, que lhe morrera um filho por desastre na mina, e tendo reclamado indemnisação á companhia, o processo dura ha quatro annos sem resultado. Se vai apresentar as suas queixas ao escriptorio da companhia, põem-no olho da rua!

É impossivel expôr aqui as innumeras queixas dos mineiros de Charleroi, quasi todas fundadas, e que nenhum homem de bem póde ouvir sem revolta da consciencia. Os directores das minas são interessados nos lucros da companhia; convêm-lhes, portanto, explorar o mais possivel o trabalho dos mineiros, esta nova chair-a-canon da industria moderna."

Fonte:  A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 28 de Outubro de 1886, pág. 01, col. 03

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