domingo, 18 de agosto de 2019

A serenidade de um condenado


"ISTO É QUE É MORRER!

Extrahimos:

Ovando, coronel das forças de Entre-Rios, sendo prisioneiro em uma batalha contras as forças do general Lopez, governador de Santa Fé, foi levado á presença d'este em occasião que almoçava.

Lopez, que, além das condições de guerra, era inimigo pessoal de Ovando, soube recebel-o cortezmente, convidando-o a partilhar da sua mesa. Ovando aceitou com essa naturalidade e franqueza como se viesse a convite de um amigo.

Durante o almoço conversaram tranquilamente. No correr da convivencia disse Lopez:

- Coronel, se eu tivesse cahido em suas mãos, como cahistes agora nas minhas, o que farias?

- Convidava-o para almoçar, como o fez v. ex. comigo.

- E depois?

- Mandava-o fuzilar.

- Estimo muito que pense como eu: em acabando de almoçar será fuzilado.

- Se não quer demorar muito, póde ser já.

- Não, acabe de almoçar descansado; não tenha muita pressa.

Ovando continuou a almoçar placidamente, e, acabando, disse:

- Julgo ser tempo.

- Agradeço-lhe o não haver esperado que eu o lembrasse, respondeu Lopez.

E chamando seu camarada:

- O piquete está prompto?

- Sim, meu general.

Lopez voltando para Ovando:

- Adeus, coronel...

- Adeus, não: até á vista, porque não se vive muito tempo quando se fazem guerras como as nossas.

E comprimentando Lopez sahio.

Cinco minutos depois uma descarga annunciava que Ovando era cadaver."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 20 de Março de 1885, pág. 02, col. 01

  

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