Casa alemã em Picada Café/RS Imagem original do link:http://www.casasenxaimel.com.br/page8.aspx |
"Em geral classificam-se as casas dos imigrantes como 'tipicamente alemãs'. Num primeiro relance, assim pode parecer: a estrutura em enxaimel (Fachwork), com fechamento de adobe, taipa, tijolos ou arenito; tesouras feitas segundo o modelo alemão, sem cumieira e construídas de forma a deixar um espaço sem escoras sob o telhado; geralmente construído em encostas, com um porão contido por grossas fundações de arenito aparelhado. Tudo isso confere uma fisionomia característica e inconfundível à casa do imigrante alemão.
Mas, será 'tipicamente alemã'?
A casa na Alemanha
Ao tempo da imigração, a arquitetura em enxaimel já cumprira uma evolução multissecular e apresentava muitos estilos e tradições construtivas. Nos burgos, se tornara formalmente sofisticada e tecnicamente requintada. Nas vilas rurais, ela se manteve mais simples e horizontal, com características próprias para cada região. Isso torna difícil descrever de forma sintética a casa rural na Alemanha. A grosso modo podemos dizer que todas as funções eram abrigadas sob um só telhado: moradia, estábulos, depósitos de ferramentas e utensílios, tudo disposto racionalmente em torno de um fogo central que servia, em primeira linha, para aquecer a casa no inverno. Sob um telhado muito alto e em vários andares, estavam os celeiros e depósitos de feno. Carroças e apetrechos necessários ao trabalho da terra ficavam num espaço central, contínuo ao fogo. Este tinha as funções de cozinha e calefação e, ao seu redor, se desenvolviam os principais serviços da casa. Contíguos, ficavam os quartos que, por vezes, se resumiam em minúsculos nichos fechados por uma simples cortina.
A casa do imigrante
Diante disso, vemos que a casa do imigrante pouco tem de 'tipicamente alemã'. A diferença fundamental está em que a casa 'explodiu' em suas múltiplas funções. Aqui temos uma série de construções, como estábulos, chiqueiros, galinheiros, paióis, depósitos, forno, retrete, dispostos organicamente em torno de um ou dois pátios centrais. Nem a moradia fugiu à regra. Aqui, separavam-se claramente a 'casa' da 'cozinha'. Esta era um pequena construção de dois compartimentos: num se cozinhava e o outro era o comedor. A 'casa' ficava afastada alguns metros. Em planta-baixa era muito simples. Via de regra havia uma sala central com os móveis dispostos ao longo das paredes, de maneira a formar um espaço livre central. Conforme o tamanho da família, haviam dois, três ou quatro quartos. Eram construídos aos pares nas extremidades da casa. Quando haviam três quartos, um ficava ao lado da sala de estar. Muitas vezes uma escada íngreme que levava ao sótão servindo de depósito para cereais, arreios, velharias e onde podia haver um quarto para os rapazes solteiros.
As razões deste dualismo (casa - cozinha) era o perigo do fogo: se a 'cozinha' queimasse, a 'casa' ficava preservada. É interessante notar que, se na Alemanha o fogo era o elemento centralizador da construção, aqui era o motivo alegado para a separação. É bem evidente que haviam outras razões para esta separação que não podemos discutir aqui.
É interessante assinalar que, esta descrição é válida para todas as correntes imigratórias provindas da Alemanha, apesar de sua diversidade de origem (francos, alamanos, godos, visigodos, polacos, judeus) de forma que, só com algum cuidado, podemos distinguir certas nuances que diferenciam as construções dos imigrantes de diversas origens. Daí se deduz que houve efetivamente uma integração social entre os alemães no Rio Grande do Sul, muito antes da unificação da Alemanha por Bismarck. Podemos efetivamente falar de uma cultura arquitetônica teuto-brasileira. Se os imigrantes trouxeram alguns elementos como, por exemplo, a técnica construtiva e alguns esquemas de ordenação especial, estes foram profundamente revisados e aqui encontraram uma expressão nova e original."
Fonte: WEIMER, Gunther. Arquitetura alemã. In: EDEL LTDA. Sesquicentenário da Imigração Alemã/Hunderffünfzig-Jahre Deutscher Einwanderung (álbum oficial). Porto Alegre/RS: Sociedade Editora de Publicações Especializadas EDEL Ltda., 1974, p.173-174.
Nenhum comentário:
Postar um comentário