"Sobre o fallecimento do conhecido actor Florindo, encontrámos as seguintes linhas em um diario fluminense:
'Após longos soffrimentos falleceu ante-hontem, com 78 annos de idade, o muito lembrado actor Florindo Joaquim da Silva, que, nos tempos de João Caetano e Ludovina, no S. Pedro e no S. Januario, adquiriu immensa popularidade e justa estima pelo seu real merecimento.
O velho Florindo estreou a 19 de março de 1837 no drama em 1 acto Santo Antonio livrando o pai da forca, fazendo o papel de Eugenio; representou entre outras peças celebres, a tragedia Oscar, filho de Ossian fazendo o papel de Dermidio, e João Caetano o de Oscar; os dramas Catharina Howard, fazendo o papel de Henrique VIII; Pedro Sem e Os sete infantes de Lara, fazendo o de Mudarra, etc.
Com 69 annos de idade fez elle um beneficio, com O homem da mascara negra, com desembaraço e brilhantismo admiraveis na sua idade.
Prohibido pelos medicos de continuar a vida theatral, empregou-se na camara municipal em 1868 como apontador; depois passou a ser vigilante da bibliotheca, em 1874; foi promovido a 25 de março do anno passado a 2o. official da mesma bibliotheca, por suas habilitações e pela muita estima de que gosava.
Em 7 de dezembro de 1890 perdeu elle um filho com 22 annos de idade, recrudescendo d'ahi os seus sofrimentos moraes, e aggravando-se a molestia consideravelmente.
Depois do fallecimento de sua esposa, a 21 de agosto do anno passado, ficou o estimado artista, por assim dizer, moralmente morto.
Durante o tempo em que esteve no Rio Grande, Campos e outros lugares recebeu muitas corôas de louro, sempre considerado, como aqui, um artista distinguido nos papeis de largo sopro dramatico.
Morreu pobre, cercado de sua irmã, filhos, netos e sobrinhos, e assim desappareceu o velho Florindo, um dos ultimos representantes da gloriosa e inolvidavel phase do nosso theatro.
O obito verificou-se na casa n.11 da rua de S. João, estação do Rocha, residencia de sua unica irmã d. Joaquina Thereza de Jesus, para onde fôra o tradicional artista sabbado ultimo a passar alguns dias.
Na manhã de domingo foi encontrado sem sentidos, no leito; o medico chamado considerou-o desde logo perdido, e de facto Florindo só viveu até terça-feira ás 9 1/2 da noite."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 28 de Janeiro de 1893, pág. 01, col. 06
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