sábado, 20 de fevereiro de 2016

Mudanças no ensino de História no ensino médio: nossa opinião


Da nova proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNC) apresentada pelo MEC, a disciplina escolar que mais deverá sofrer alterações em seus conteúdos programáticos é a História. Pelo menos, de acordo com essa nova proposta, que está causando grande debate nos círculos acadêmicos e nas associações de História.

Para não me alongar, vou diretamente ao ponto que está sendo um fator de intensa polêmica: ao propor uma ênfase maior no ensino de História no nível médio nas temáticas de História da África, História das Américas e História Indígena, praticamente se ignora (ou não se abre espaço) para História Antiga e História Medieval - pontos comuns e consagrados do ensino da disciplina. Com a justificativa de abordar temas e assuntos mais vinculados à realidade sócio-cultural brasileira, a nova proposta do BNC para o ensino de História nos passa a impressão que é necessário o rompimento com um "modelo tradicional" que prioriza a visão ocidental e eurocêntrica da disciplina. Essa visão é que nos parece equivocada.

Longe de negar a contribuição cultural de povos africanos e indígenas na formação da sociedade brasileira, o que não podemos omitir é que os modelos econômico e político que configuraram essa mesma sociedade, partindo do pressuposto que eles tem uma origem histórica (aliás, como qualquer coisa tem!), são resultado de modelos que se desenvolveram a partir da chamada civilização ocidental europeia. Pergunto, então: o sistema econômico capitalista pode ser explicado em suas características e elementos constitutivos sem nos remetermos ao Medievo e às transformações que ocorrem no feudalismo? Os conceitos de democracia e cidadania que assaz são falados com muito ênfase nos debates políticos e nas lutas das minorias podem ser dissociados de sua origem na Antiguidade Clássica de Grécia e Roma? E a principal religião existente no Brasil, que traz em si além de princípios propriamente religiosos, um grande arcabouço cultural que permeia demais nosso imaginário social e coletivo... sua origem é algo pouco importante (obviamente, não estou falando de dogmatização)?

Em suma, nos parece que há uma necessidade de ser ou parecer "progressista" na questão da educação hoje em dia. O que nos preocupa é que nessa intencionalidade, coisas importantes se percam no ensino. Não quero ir a outro extremo e afirmar que a "única" história que presta é a europeia tradicional. Devemos sim destacar e estudar as história africana e indígena. Mas para uma melhor compreensão da totalidade dos fenômenos históricos e suas implicações, não podemos ignorar a história tradicional. Mesmo porque somos resultado dela, seja que interpretemos isso positiva ou negativamente.

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