segunda-feira, 10 de maio de 2021

Como posso saber se tenho ascendência judaica?



 Resposta simples e clara: pesquisa genealógica. E se preferir, pesquisa genética. 

Primeiro fato: sobrenome que se enquadra como sobrenome judaico não significa absolutamente nada. Simplesmente porque, embora alguns sobrenomes são mais comuns em linhagens judias, há sempre linhagens cristãs com o mesmo sobrenome que não registram um judeu sequer nas últimas dez gerações anteriores. Além disso, há sobrenomes usados tanto por famílias judias quanto por famílias cristãs ou de outras confissões de forma indistinta. Mesmo aqueles sobrenomes com muito mais probabilidade de serem judeus (e até culturalmente identificados como judeus) não são absolutamente exclusivos judeus. Exemplo: quando se fala o sobrenome Rosenberg, todos reconhecem que é um sobrenome judeu. E está certo! A maioria dos Rosenberg do mundo são judeus. Porém, há uma parte significativa que não tem relação nenhuma com ascendência judaica conhecida. São sobrenomes Rosenberg surgidos por uma questão toponímica (nome de lugar). Inclusive, há uma vertente histórica dos Rosenberg na Áustria e na Boêmia que é muito católica há séculos!

Segundo fato: a cultura fala mais que a ascendência na maioria absoluta dos casos. Vamos entender. Já parou para pensar que cada um de nós tem pai e mãe, mas tem quatro avós, oito bisavós, dezesseis trisavós, trinta e dois tataravós e sessenta e quatro pentavós. Vamos imaginar então que, alguém sendo de uma família de tradição católica, luterana, presbiteriana, espírita, muçulmana, etc., encontra em sua árvore genealógica um tataravô que era judeu. Que legal! Ele legou a religião ou a cultura dele aos seus descendentes? E os outros trinta e um tataravós que você teve eram o quê? Qual religião? Qual procedência étnica? Qual a sua religião hoje? Em que cultura você está inserido e se reconhece hoje? Na verdade, há muita possibilidade de encontrarmos um ou outro ascendente judeu numa árvore genealógica mais profunda. Porém, isso não te credencia a pedir a cidadania junto ao Estado de Israel. Se a sua família é fervorosamente luterana ou católica há quatro ou cinco gerações, e você tem 1/32 avos de judeu, perdão pela sinceridade: mas você não é judeu!

Terceiro fato: sobrenome etimologicamente hebraico não é credencial de judaísmo, nem religioso, nem étnico. Acaso o Velho Testamento cristão não corresponde aos Escritos Sagrados do judaísmo? E isso não inspira o nome a ser dado a homens e mulheres ao longo de inúmeras gerações? Na Europa após a Reforma Protestante, em quase todas as comunidades luteranas, huguenotes, presbiterianos, pietistas, etc., você vai encontrar muitos nomes inspirados na Bíblia. Até nas católicas também! Então, tem muito Abraão, Moisés, Elias, Samuel, David ao longo da história que deram origem a sobrenomes patronímicos como Abrahamsohn, Mosesohn, Elijah, Samuelssohn, Davis, etc. que não tinham nada de judeus. Talvez até alguns odiassem judeus. Aliás, tem o caso também de sobrenomes falsos cognatos, como é o caso do sobrenome Aron - que seria a princípio uma contração do sobrenome Aaron (Aarão). Em algumas partes da Holanda e de regiões da Alemanha, Aron é uma contração de Arnon - esta forma, por sua vez, uma forma dialetal românica do nome germânico Arnold. Então, há sobrenomes Aron que são originários de Aaron, mas há famílias com esse mesmo sobrenome, cuja origem do mesmo é de Arnon/Arnold.

Concluindo, a pesquisa genealógica é a melhor forma de saber suas próprias origens, tanto étnicas, quanto culturais e religiosas. É o caminho seguro para determinar uma ascendência qualquer, até mesmo se o sujeito pretende uma ascendência judaica. E também, encontrar um judeu, um chinês, um escandinavo, etc., perdido na própria árvore genealógica, não significa muita coisa. Principalmente, se essa referência ancestral se perdeu numa linhagem familiar que, na maior parte das gerações, tanto étnica quanto culturalmente se identificava com outro povo ou tradição. O sujeito pode ser descendente de alemães e reportando a três ou quatro gerações atrás ele encontra fervorosos luteranos, ou então, descendentes de italianos, que são católicos há mais de 200 anos e que sempre participaram da procissão em honra à Nossa Senhora do Caravaggio. Mesmo que ele tenha um sobrenome que se enquadre dentro daqueles sobrenomes tradicionalmente atribuídos a famílias judias, o recomendável é prudência e pesquisa séria. E isso que entendo e posso contribuir. Não se precipite. No fim das contas, se você é morador de qualquer uma das Américas, assim como eu, seja bem vindo: somos todos mestiços!

Dica: pesquise na Wikipedia dois verbetes interessantes sobre pessoas que tem o mesmo sobrenome: "Alfred Rosenberg", primeiro; depois, pesquise "Julius e Ethel Rosenberg".

4 comentários:

Alice Yahweh disse...

Como posso requer uma descendencia sendo filha de alemao? Gostaria de conhecer a alemanha e ter passaporte europeu. É dificel?sendo pai alemão.

Joaquim Dias disse...

Cada país tem uma legislação própria sobre pedidos de cidadania, alguns pedem no mínimo avô, outros aceitam bisavô e mesmo trisavô. O caminho mais seguro é verificar junto à embaixada do país que se requer a cidadania. Porém, sendo pai, até onde sei, é quase 99% de chance de conseguir. Ao menos, na maioria dos países do mundo a transmissão de cidadania entre pai e filho/filha é quase automática.

Grato pela visita ao blog!

Anônimo disse...

Boa tarde Joaquim.
Sou neto de alemães, minha mãe é brasileira. Eu e meu filho temos chances de conseguir a cidadania alemã?
Grato

Joaquim Dias disse...

Sendo neto de alemães, digo, alemães natos, com certeza. Acredito que é bem fácil. Porém, penso que pela legislação é mais fácil você conseguir a cidadania e, em segundo momento, transferi-la ao seu filho.

Grato pela visita ao blog!

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