"Carnaval
Amanhan começam os folguedos carnavalescos.
As sociedades Esmeralda e Germania estão preparadas para bonitos passeios burlescos e de gala.
Não conhecemos os programmas."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 14 de Fevereiro de 1885, pág. 02, col. 04
"AS FESTAS DO CARNAVAL
Ante-hontem, os folguedos carnavalescos não despertaram grande enthusiasmo.
A sociedade Germania, que em outros annos tem apresentado prestitos esplendidos e luxuosos, nada fez este anno que provocasse admiração.
Em união com as demais sociedades allemãs, realisou seu passeio conforme constava do programma distribuido.
O prestito era numeroso, sobresahindo os tres carros triumphantes: o da Germania, representado por uma formosa joven, que ostentava as suas graças naturaes; o do Brazil, representado por um grupo de bugres; e o do principe e da princeza do carnaval.
Entre as criticas, destacavam-se: o seculo XVIII, a diligencia; o seculo XIX, a locomotiva; o seculo XX, o balão.
O deus Baccho e as vivandeiras já foram apresentados pelo club Germania, ha quatro annos, de um modo mais completo.
As criticas sobre a Hydraulica, imprensa, transporte de immigrantes, reporters e curandeiros peccavam pela falta de espírito.
A ultima, principalmente, foi apresentada de maneira a provocar censuras.
O grupo de gaúchos... um perfeito desastre!
Aquelles cavallarianos não nos pertencem...
O poço d. Isabel foi bem representado, e alguns cavalleiros destacavam-se pelos bonitos uniformes.
✤✤✤✤✤
Hontem, a chuva privou a população de apreciar o bello passeio preparado pela sociedade Esmeralda.
Todos os socios já estavam phantasiados e os carros de triumpho em ordem de seguir, quando uma chuva torrencial pôz tudo em debandada, causando grandes estragos em trajes, pintura, etc.
Foi geral o pezar, porque os Esmeraldinos promettiam esplendida festa.
O publico, porém, teve occasião de vêr os magnificos carros triumphantes, que teriam no prestito a seguinte ordem:
1o. - Carro da Rainha. Uma grande rosa, boiando á tôna do mar, entre flocos de espuma, e tirada por quatro cysnes, guiados por cupidos. Do centro da flôr se ergueria a bella rainha, rodeada de numerosa côrte.
Este carro estava a cargo do sr. Alfredo Chaves.
2o. - Tenda de bohemias, ricamente adornada e tendo á frente dois enormes dragões, guardando a figura de Minerva.
A bohemia seria representada por uma interessante menina, acompanhada por varios grupos, dispostos com muito gosto.
A execução foi do sr. Leopoldo Masson.
3o. - Carro da America. Ao centro, em throno de ouro, uma galante joven representaria a America, tendo ao lado os bustos de Colombo e Americo Vespucio.
Outras jovens representariam o Brazil e a Industria.
Dois bugres, em guarda á cruz de Malta, completariam a allegoria, que, como se vê, despertaria o maior enthusiasmo.
Todo o trabalho do carro da America esteve confiado ao sr. Araujo Guerra.
✤✤✤✤✤
Nos carros de critica figurariam a Kermesse e a Hydraulica.
A questão dos hydrometros e do pinga-pinga seria tratada com espirito: o hydrometro, que é caro, dá um peixe grande; o pinga-pinga mais barato, fornece apenas peixes pequenos.
Em carros de gala apresentar-se-hiam phantasiadas trinta e quatro pessoas entre senhoras e homens.
Um luzido esquadrão de 48 lanceiros tomaria parte no prestito, dando grande brilhantismo á festa.
Por esta ligeira descripção reconhecerá o público que a Esmeralda realizaria um passeio deslumbrante em a tarde de hontem.
✤✤✤✤✤
Á noite a sociedade levou a effeito o baile com que encerrou os folguedos ao deus Momo.
Quando os carros, em grande numero, desfilaram pela rua dos Andradas, em direcção á Soirée Porto Alegrense, de todas as janellas choveram flores e estalos fulminantes sobre os Esmeraldinos.
O baile esteve esplendido, dançando extraordinario numero de pares phantasiados.
✤✤✤✤✤
Durante as noites de festa, quasi todas as casas da rua dos Andradas tinham as fachadas illuminadas a gaz carbonico.
A bisnaga e o estalo tiveram, como sempre, o seu reinado nos tres dias do carnaval.
As festas terminaram sem incidentes desagradaveis."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 18 de Fevereiro de 1885, pág. 02, col. 02-03