domingo, 20 de dezembro de 2020

A Tamareira do Deserto - uma lenda copta de Natal

 


Muitos, muitos anos atrás, uma tamareira cresceu no deserto do Egito. Era incrivelmente velha e muito, muito alta. Todos os que vagaram pelo deserto e a viram, tiveram que parar e se maravilhar, tão era o seu tamanho majestoso.

Dizia que ela foi plantada na época em que Salomão foi rei de Israel e era quase tão antiga quanto os faraós mais famosos.

A poderosa tamareira estava lá em sua solidão e olhou para o deserto. Então, um dia, ela viu algo que a fez balançar sua enorme copa de folhas para a frente e para trás de espanto. Ali, na beira do deserto, duas pessoas solitárias surgiram andando num passo firme e constante. Ambos ainda estavam longe, de modo que pareciam tão pequenos quanto formigas. Mas logo se revelaram as duas figuras. Não eram pessoas do deserto, pois a tamareira conhecia o povo do deserto. 

Havia um homem e uma mulher sem guia algum, tendo apenas um jumento que conduzia a mulher sobre ele. Não havia sequer panos para um tenda e nem um bornal que pudesse levar alimentos ou água. A tamareira balançou a coroa e pensou: "Devem ter vindo aqui para morrer". Ficou espantada que os leões não os tivessem ainda os devorados ou e os ladrões, que haviam em abundância no deserto, os terem atacado e roubado.

A tamareira suspirou: "Aqui no deserto uma morte sétupla lhe espera: leões famintos te caçam, cobras venenosas te picam, a sede te seca, tempestades de areia te enterram, ladrões sem coração o tocaiam, uma insolação te confunde e te faz desmaiar, ou ainda o medo da morte te paralisa e te faz ficar perdido até definhar". A tamareira ficou muito triste ao pensar no destino daqueles dois e os perigos constantes do deserto, os quais eles não podiam nada fazer.

Quando olhou mais perto, a tamareira prendeu a própria respiração: a mulher carregava um trouxa de panos em seus braços. Era uma criança! "Meu Deus!" - pensava a tamareira em solilóquio, "como se arrisca a vida de uma criança assim nesta implacável paragem. Que irresponsáveis!"

De modo geral, os três pareciam com muitos poucos pertences e agasalhos. Intuía que era pessoas que correram para fugir e ficaram dias em marcha sem descanso. A tamareira murmurou: "São provavelmente refugiados". Confusa, ainda teve um pensamento em forma de oração: "E se um anjo não os proteger, eles não sobreviverão por mais dias. O deserto é tão impiedoso, como o inimigo."

A mulher aproximou-se da tamareira e sentou-se à sua sombra, fazendo o mesmo com a criança recém-nascida que trazia. Quando ela se encostou suavemente ao tronco, uma sensação indescritível passou pela tamareira - desde a mais profunda raiz até a sua copa.

De repente, havia imagens de memórias distantes diante de si, memórias de coisas maravilhosas que ela já experimentou em sua longa vida. Exércitos de várias nações que já passaram por ali, grandes conquistadores, longas caravanas de mercadores, homens sábios que vinham tanto do Oriente quanto do Ocidente. Uma lembrança em especial lhe emocionou, lembrança esta vindo do mais recôndito canto de sua memória de árvore. Há muito tempo, duas pessoas radiantemente apaixonadas eram hóspedes deste oásis: a Rainha de Sabá acompanhada do Rei Salomão. Ela teve que voltar para sua casa e o Rei Salomão com seu séquito fez questão de acompanhá-la até ali. 

"Em memória de nosso amor, planto esta semente de tâmara no solo", disse a Rainha de Sabá. Ela tinha lágrimas nos olhos e balbuciando decretou: "Esta se tornará uma tamareira poderosa que crescerá e viverá até que um rei maior do que você nasça em Judá, meu querido Salomão." 

A lembrança fez a tamareira sorrir e ficar surpresa por ter que pensar sobre isso novamente hoje.

A mulher estava exausta e com a criança nos braços. Ao lado dela o homem, cansado e desesperado.

Ela ouviu os dois conversando. Eles falaram sobre Herodes, que mandou matar todos os meninos de até dois anos de idade por medo de que o grande e aguardado Rei dos Judeus pudesse ter nascido. A tamareira também ouviu que os dois temiam o deserto. O homem disse: "Talvez fosse melhor lutar em vez de fugir. Aqui estamos à mercê e não temos nem o que comer nem o que beber."

"Deus nos ajudará", disse a mulher, erguendo os olhos. No topo da árvore havia tâmaras, um número prodigioso de tâmaras maravilhosamente doces, o suficiente para sobreviver ali por dias ou mesmo por alguns meses. Exceto que os frutos estavam pendurados em uma altura estonteante que nenhuma mão humana poderia alcançar.

A mulher suspirou e fechou os olhos: "Nem todos os nossos desejos se realizou", pensou. "Mas Deus sabe o que é a necessidade."

E então algo maravilhoso aconteceu. A criança olhou para a copa da árvore e estendeu a mão - como se quisesse acenar. Ela sentiu o poder que emanava da criança, como o poder do criador do mundo no primeiro dia da criação. A tamareira foi se curvando, e curvando cada vez mais, como se fosse se curvar a um grande rei. Ela se abaixou no chão em um arco tremendo até que sua grande coroa tocou o chão. A criança não parecia assustada nem espantada, como se, apesar de sua humildade, tivesse um tamanho infinito.

Então a árvore sentiu o homem e a mulher escolherem as tâmaras cuidadosamente, uma por uma, até que parecessem ter o suficiente. A criança tocou a tamareira como se quisesse agradecer ou abençoar. A árvore se endireitou novamente e sentiu uma alegria que nunca havia conhecido antes. E essa alegria foi ainda maior do que quando a Rainha de Sabá deu sua vida.

Muitos, muitos anos depois, o povo do deserto falava à noite em redor da fogueira sobre aquela tamareira poderosa que uma vez esteve aqui perto do oásis e que a Rainha de Sabá havia profetizado que ela viveria até que ela conhecesse um rei que era maior do que o próprio Salomão.

Lenda recolhida por Andreas Jugener em 1922.

Imigração Chilena no Brasil

 


A presença de chilenos no exterior tornou-se um elemento estrutural desse país a partir da década de 1970. Argentina, Estados Unidos, Suécia, Canadá, Austrália, Brasil, Venezuela, Espanha, França e Alemanha são os dez países com maior número deles no mundo. Exilados, foragidos voluntários ou mesmo insatisfeitos com o contexto de então, no total cerca de 500 mil chilenos se deslocaram, durante as três últimas décadas do século XX, a diversos países. Considerando que em 2002 o Chile possuía cerca de 15 milhões de habitantes, é fácil imaginar o impacto disto naquele ambiente. 

No caso específico do Brasil, sua quantidade em 1960 era quase inexistente, não ultrapassando a cifra de 2.000. em 1980, houve um enorme aumento deste número, com quase 18.000 chilenos vivendo aqui. Na década de 1990 já eram 20.000, registrando uma pequena queda no ano 2000, com pouco mais de 17.000 chilenos vivendo no país. Nesse mesmo ano, constavam entre as dez nacionalidades que apresentavam a maior quantidade de imigrantes internacionais residentes no Brasil. 

O Chile passava por um difícil momento político, econômico e social, o que afetava diretamente a vida de seus cidadãos. Durante o período ditatorial chileno, que vigorou entre 1973 e 1990, muitas pessoas foram obrigadas pelo Estado a abandonar o país, pois estavam sendo duramente perseguidas e corriam risco de vida, os chamados “exilados políticos” ou “refugiados”. Ao contrário destes, forçados a deixar o país, muitos saíram voluntariamente, em busca de melhores condições de vida em outros países, tornando-se assim emigrantes/imigrantes: “como duas faces de uma mesma realidade, a emigração fica como a outra vertente da imigração”. 

A maioria dos chilenos exilados foi para países como Austrália, Canadá, França e Suécia, que tinham naquele momento programas governamentais de apoio à recepção de perseguidos políticos. O Brasil não possuía tais programas nessa época, pois também vivia aqui sob governos militares (1964-1985), mas o país apresentava ofertas de trabalho e anunciava o “milagre econômico brasileiro”, o que propiciou a entrada de milhares de estrangeiros, entre eles os chilenos. 

Fonte: FERNANDEZ, Vanessa Paola Rojas. História oral de chilenos em Campinas: dilemas da construção de identidade imigrante. Salvador/BA: Pontocom, 2013, pág. 17-19.

Catharina Pabst


"Fallecimento

O nosso co-religionario Augusto Pabst, empregado fundador das officinas typographicas d'esta folha, soffreu hontem irreparavel perda com o fallecimento de sua extremosa mãi a exma. sra. d. Catharina Pabst.

Quem, como nós, apreciou a intensidade do affecto que o desolado filho consagrava á sua progenitora, póde avaliar o quanto lhe punge a alma o facto lamentavel que assignalamos e pelo qual damos pezames á familia da morta."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 11 de Abril de 1891, pág. 01, col. 04
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