segunda-feira, 1 de maio de 2023

O caso da galinha de pirão de Caçapava



 Ficou famosa a sobriedade de D. Pedro II em matéria de comida. Seu prato predileto era a canja; mas nem só de canja vive o homem. Qualquer que fosse o cardápio, o Imperador comia depressa, como quem se despacha de um dever incômodo. E um narrador antimonarquista das coisas do Império chegou a contar que os camaristas viviam esfomeados, por falta de tempo para comer, e o Visconde de Itapagipe, o mais estimado deles, "trazia sempre provisões na algibeira".

Entre o Conde d'Eu, de apetite aberto para as delícias que Deus nos deu, e o Imperador, o contraste, na viagem militar ao Rio Grande do Sul em 1865, para assistir à rendição dos paraguaios em Uruguaiana, surge mais de uma vez.

No dia 27 de agosto, perto do arroio de Santa Bárbara, nas proximidades de Caçapava, conta o Conde: "a boa dona de casa encontra meio de acrescentar ao churrasco uma galinha cozida e uma tigela de pirão, massa de farinha de mandioca, sem sal, que eu acho sem sabor, mas que o Imperador declara deliciosa".

Mas nesse tempo o Imperador estava na força da vida, Depois... tinha tanto fastio de tudo, a começar por governar, que nem mais de canja gostava... Foi-se embora sem briga...

Fonte: COSTA FILHO, Odylo. Pequena história do Brasil guloso. In: Manchete, Rio de Janeiro/RJ, edição 235, 20 de Outubro de 1956, pág. 33.

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