A convite dos distinctos cavalheiros srs. coronel Taborda Ribas e C. Schilling, directores da Companhia Fabrica de Chitas, fomos hoje visitar este estabelecimento, que já se acha funccionando.
Para significar a importancia da fabrica, vamos transmittir ao publico os apontamentos que tomámos, os quaes valerão mais do que as nossas palavras.
Tres são as secções da fabrica: a de branqueamento, a de tinturaria e estamparia e a de fixação das tintas e preparo final da fazenda.
O algo tão destinado á fabricacção da chita soffre mais ou menos este processo.
Passa para uma machina que tem no centro um cylindro de cobre incandescente afim de chamuscar a felpa da fazenda e d'ahi a uma outra, onde leva um banho de vapor, afim de prevenir qualquer incendio.
Em seguida, submettido a um banho accidulado e a outro de agua pura, é mettido em um wagonete, que comporta de 13 a 18000 metros de fazenda, e este impellido para uma grande caldeira, cuja porta abre se para recebel-o por meio de uma bomba hydraulica.
Na caldeira o algodão é mergulhado durante 8 horas em um banho fraco de soda caustica, banho esse que uma bomba centrifuga faz circular por todo o panno.
Recebe ainda o algodão dois banhos, um com acido sulphurico e outro com chlorureto de cal, intercalados de banhos de agua pura.
Passa em seguida á machina de espremer, depois á de seccar e está terminado o processo do branqueamento.
O algodão apresenta-se então de uma alvura de neve.
Quando o algodão é destinado a morim, vai elle á secção respectiva só para receber a gomma e o assetinado preciso.
Quando é para ser convertido em chita, vai a enrolar em uma machina, em rolos de 1000 metros, sendo estes depois levados á machina de estampar, que póde trabalhar em 4 côres ao mesmo tempo, mas que por emquanto só trabalha em duas.
Já transformado em chita, o algodão vai ter ao pavimento superior, onde estão as machinas destinadas á fixar as côres, engommar e lustrar o tecido.
D'ahi passa para uma machina de dobrar, medir e cortar os metros e está concluindo o trabalho.
Iamo-nos esquecendo:
O algodão antes de ser levado á machina de estampar, é submettido a uma outra munida de navalhas circulares que tosam a felpa levantada pelo processo de branqueamento, de maneira a deixar o tecido bem igual, o que é necessario para a nitidez da impressão.
Outras chitas são tingidas, como a azul escuro, que tem grande consumo na região colonial, passando á machina de estampar.
A fabrica n'essas chitas emprega sómente anil puro, e, si os nossos agricultores se dedicassem a cultura da planta que o produz, poderiam conseguir um bom resultado, pois o consumo agora vai ser grande.
Para se avaliar a importancia da secção de tinturaria, basta dizer que ella tem 14 machinas.
A fabrica tem 6 motores, dos quaes 2 são da força de 70 cavallos cada um. Todas sairam das officinas de Mather & Platt, de Manchester, e bem assim todas as machinas, á excepção da bomba que puxa a agua do rio, a qual é de uma fabrica norte-americana.
As outras machinas são em numero de quarenta e tantas e, com os motores, representam um capital de mais de 3000:000$.
A fabrica póde preparara diariamente 400 peças a 30 metros, e apresentar umas cem variedades de chita.
Tem cerca de 50 operarios de ambos os sexos, dos quaes apenas 4 são extrangeiros e estes são os directores das secções de branqueamento, tinturaria e estamparia e o superintendente technico geral.
Varios operarios e operarias já tomaram conta de algumas machinas, entre elles uma menina.
Na fabrica de chitas, como em outras, tem se verificado que o operario brasileiro possue grandes aptidões para a industria fabril.
O estabelecimento dirigido pelos srs. Taborda & Schilling tem já um deposito de 6000 peças de chita e cretone, no valor de cento e tantos contos de réis.
O publico poderá apreciar alguns especimens na loja de fazendas do sr. Amaro Candido de Souza, á rua dos Andradas, onde a chita rio grandense está sendo vendida a 800 réis o metro.
Si viesse do extrangeiro não custaria menos de 1$200, em vista de sua excellente qualidade.
Sabemos, porém, que os srs. Taborda & Schilling vão providenciar de modo a não exceder de 750 réis o preço para a venda a varejo, conciliando o interesse do negociante com o do consumidor.
No pavimento superior do edificio da Fabrica de Chitas ha varios salões desoccupados e que se destinavam ao estabelecimento da industria textil, mas disto tiveram de desistir os fundadores da fabrica por causa da elevação do cambio e de outras circumstancias.
Mais tarde é possivel que sejam aproveitados com a fundação de uma industria amnexa, - uma fabrica de camisetas ou qualquer outra.
Na fabrica tem-se trabalhado com materia prima legitimamente nacional - com algodão colhido em Pernambuco e tecido no Rio de Janeiro.
Terminando estas informações, resta-nos pedir aos negociantes e consumidores toda a protecção possivel em favor da Fabrica de Chitas Porto Alegrense, isto é, em favor da industria rio-grandense."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 29 de Dezembro de 1892, pág. 01, col. 06