Diz um collega do sul que para a primeira vez que se realisa em Pelotas festa d'este genero, e pela escassez do tempo que houve para preparal-a, esteve imponente a batalha das flores de 3 do corrente, travada nas quadras da rua S. Miguel entre S. Jeronymo e Voluntarios.
Das 5 para as 6 horas da tarde, era deslumbrante o aspecto d'aquella rua.
Os passeios estavam atopetados de gente, dando a nota alegre o bello sexo trajando as mais vistosas toilettes.
Todas as janellas e portas de casas de commercio regorgitavam de espectadores.
As saccadas corridas dos sobrados dos srs. dr. Romano, Eduardo Gastal, Hotel Alliança, Antonio Leivas, mad. Bidan e outros apresentavam uma perspectiva lindissima apinhadas de senhoras e moças, agitando os lenços e recebendo os combatentes com a mais sympathica espectativa.
Pouco antes das 6 horas, entrou na rua S. Miguel a primeira fila de carros, debaixo de uma chuva copiosa de flores esfolhadas, de serpentinas, ramos e confetti, e retribuindo a fineza.
Seguiram-se logo outras carruagens, talvez em numero superior a 100, e estabeleceu-se o corso, com duas longas filas de carros, uma á direita e outra á esquerda, e travou-se a batalha, ficando a rua e os passeios juncados de flores e folhagens.
É incalculavel a quantidade de confetti e serpentinas que se empregaram durante hora e meia que durou a diversão.
No longo prestito figuraram carruagens muito bem ornamentadas, sobresaindo entre ellas a da familia Brusque, a do dr. Berchon des Essarts, familia Brutus Almeida e dos srs. dr. Joaquim Leite e Francisco Rodrigues e ainda muitas outras.
Rarissimos eram os carros que não estavam enfeitados com flores, colchas ou fitas, o que produzia um magnifico effeito.
Em alguns carros exibiram-se pessoas phantasiadas.
De quando em vez, para dar a nota comica, passavam pelo claro deixado pelos carros alguns mascaras muito mal arrumados, exhibindo a sua pilheria obrigada a golpe de bexiga.
Nada faltou.
Reinou durante todo o corso a mais completa ordem e, por intervallos, até um silencio muito em contraste com o caracter da festa que se fazia.
Apezar da agglomeração popular, que era enorme, e do ajuntamento de carros e pessoas a cavallo, na praça Regeneração, não houve a menor troca de palavras nem o mais ligeiro descontentamento.
Até hora adiantada da noite a rua S. Miguel conservou-se animadamente repleta de exmas. familias e cavalheiros, que gozavam da brisa da noite, após um dia de calor torrido.
E assim terminaram as festas carnavalescas de 1895 em Pelotas."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 14 de Março de 1895, pág. 01, col. 04