Falleceu hontem, a 1 hora da tarde, de uma dilatação da aorta, o Sr. Barão de Sertorio, presidente do Tribunal da Relação da Côrte.
Antes de galgar tão elevado posto da magistratura, percorreu o finado todos os cargos da difficil carreira que abraçára, deixando de sua passagem, em cada um d'elles, um exemplo de virtudes como juiz, e a recordação de um caracter integro.
Nascido na cidade de S. Paulo aos 5 de março de 1819, fez os seus estudos de humanidades e formou-se em sciencias sociaes e juridicas na faculdade da mesma provincia em 1841.
Nomeado após a sua formatura promotor publico da comarca de Santos, foi tempos depois removido na mesma qualidade, para uma das comarcas do Rio Grande do Sul. Feito o quatriennio, foi nomeado juiz de direito da comarca de Bragança, em S. Paulo, sendo mais tarde removido para a de Magé, no Rio de Janeiro, e depois para a de S. Borja, no Rio Grande do Sul.
D'ahi foi removido para a 2a. vara commercial da côrte, que exerceu durante muito tempo, dando sempre as provas mais irrecusaveis da rectidão do seu elevado espirito.
Exerceu tambem os logares de juiz dos feitos da fazenda e o de chefe de policia da côrte interinamente, para que foi nomeado a 24 de Abril do anno de 1869.
Querendo aproveitar o seu espirito conciliador e justo, o governo nomeou-o presidente da provincia do Rio Grande do Sul, cargo em que se houve com muita habilidade.
Nomeado em 1878 desembargador da relação do Recife, partiu para aquella provincia, de onde foi pouco depois de um anno removido para a Relação da Côrte.
Ultimamente, na administração do Sr. Ferreira Vianna, estando vago o logar de presidente da Relação da Côrte, foi o desembargador Sertorio nomeado para esse elevado posto, e logo depois agraciado com o titulo de barão de Sertorio, com grandeza.
Era tambem condecorado com o officialato da Rosa e com a commenda da Conceição da Villa Viçosa.
O seu cadaver será hoje sepultado no cemiterio da Ordem Terceira da Penitencia, sahindo o feretro, da rua do Bispo n. 36 A, ás 4 horas da tarde.
Á familia do finado, especialmente ao seu digno genro Eduardo Augusto de Araujo Jorge, os nossos pesames.
Fonte: GAZETA DE NOTICAS (Rio de Janeiro/RJ), 20 de Outubro de 1888, pág. 01, col. 07